A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, novembro 23, 2012

BPN - A maior burla de sempre em Portugal

Portuguese TimesEurico Mendes - EXPRESSAMENDES

A maior burla de sempre em Portugal

Parece anedota, mas é autêntico: dia 11 de abril do ano corrente, um homem 
armado assaltou a dependência do Banco Português de Negócios, ou 
simplesmente BPN, na Portela de Sintra, arredores de Lisboa e levou 22 mil euros. 
Trata-se de um assalto histórico: foi a primeira vez que o BPN foi assaltado por 
alguém que não fazia parte da administração do banco.

O BPN tem feito correr rios de tinta e ainda mais rios de dinheiro dos 
contribuintes.

Foi a maior burla de sempre em Portugal, qualquer coisa como  
9.710.539.940,09 euros.

Com esses nove biliões e setecentos e dez milhões de euros, li algures, 
podiam-se comprar 48 aviões Airbus A380 (o maior avião comercial do mundo), 16 
plantéis de futebol iguais ao do Real Madrid, construir 7 TGV de Lisboa a 
Gaia, 5 pontes sobre o Tejo ou distribuir 971 euros por cada um dos 10 milhões 
de portugueses residentes no território nacional (os 5 milhões que vivem no 
estrangeiro não seriam contemplados).

João Marcelino, diretor do Diário de Notícias, de Lisboa, considera que “é 
o maior escândalo financeiro da história de Portugal. Nunca antes houve um 
roubo desta dimensão, “tapado” por uma nacionalização que já custou 2.400 
milhões de euros delapidados algures entre gestores de fortunas privadas em 
Gibraltar, empresas do Brasil, offshores de Porto Rico, um oportuno banco de 
Cabo Verde e a voracidade de uma parte da classe política portuguesa que se 
aproveitou desta vergonha criada por figuras importantes daquilo que foi o 
cavaquismo na sua fase executiva”.

O diretor do DN conclui afirmando que este escândalo “é o exemplo máximo da 
promiscuidade dos decisores políticos e económicos portugueses nos últimos 
20 anos e o emblema maior deste terceiro auxílio financeiro internacional em 
35 anos de democracia. Justifica plenamente a pergunta que muitos 
portugueses fazem: se isto é assim à vista de todos, o que não irá por aí?”

O BPN foi criado em 1993  com a fusão das sociedades financeiras Soserfin e 
Norcrédito e era pertença da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), que 
compreendia um universo de empresas transparentes e respeitando todos os requisitos 
legais, e mais de 90 nebulosas sociedades offshores sediadas em distantes 
paraísos fiscais como o BPN Cayman, que possibilitava fuga aos impostos e 
negociatas.

O BPN tornou-se conhecido como banco do PSD, proporcionando tachos para 
ex-ministros e secretários de Estado sociais democratas. O homem forte do banco 
era José de Oliveira e Costa, que Cavaco Silva foi buscar em 1985 ao Banco 
de Portugal para ser secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e assumiu a 
presidência do BPN em 1998, depois de uma passagem pelo Banco Europeu de 
Investimentos e pelo Finibanco.

O braço direito de Oliveira e Costa era Manuel Dias Loureiro, ministro dos 
Assuntos Parlamentares e Administração Interna nos dois últimos governos de 
Cavaco Silva e que deve ser mesmo bom (até para fazer falcatruas é preciso 
talento), entrou na politica em 1992 com quarenta contos e agora tem mais de 
400 milhões de euros.

Vêm depois os nomes de Daniel Sanches, outro ex-ministro da Administração 
Interna (no tempo de Santana Lopes) e que foi para o BPN pela mão de Dias 
Loureiro; de Rui Machete, presidente do Congresso do PSD  e dos ex-ministros 
Amílcar Theias e Arlindo Carvalho.

Apesar desta constelação de bem pagos gestores, o BPN faliu. Em 2008, 
quando as coisas já cheiravam a esturro, Oliveira e Costa deixou a presidência 
alegando motivos de saúde, foi substituido por Miguel Cadilhe, ministro das 
Finanças do XI Governo de Cavaco Silva e que denunciou os crimes financeiros 
cometidos pelas gestões anteriores. 

O resto da história é mais ou menos conhecido e terminou com o colapso do 
BPN, sua posterior nacionalização e descoberta de um prejuízo de 1,8 mil 
milhões de euros, que os contribuintes tiveram que suportar. 

Que aconteceu ao dinheiro do BPN? Foi aplicado em bons e em maus negócios, 
multiplicou-se em muitas operações “suspeitas” que geraram lucros e que 
Oliveira e Costa dividiu generosamente pelos seus homens de confiança em 
prémios, ordenados, comissões e empréstimos bancários. 

Ainda não se sabe o que levou o governo PS de José Sócrates a salvar um 
banco que era uma coutada do rival PSD. Não seria o primeiro nem o último banco 
a falir, mas Sócrates decidiu intervir e o BPN passou a fazer parte da 
Caixa Geral de Depósitos, um banco estatal liderado por Faria de Oliveira, outro 
ex-ministro de Cavaco e membro da comissão de honra da sua recandidatura 
presidencial, lado a lado com Norberto Rosa, ex-secretário de estado de Cavaco 
e também hoje na CGD.

Outro social-democrata com ligações ao banco é Duarte Lima, ex-líder 
parlamentar do PSD, que está a ser investigado pela polícia brasileira pelo 
assassinato de Rosalina Ribeiro, companheira e herdeira do milionário Tomé Feteira 
e que, em 2001, comprou a EMKA, uma das offshores do banco por três milhões 
de euros, tornando-se também acionista do BPN.

Em 31 de julho, o ministério das Finanças anunciou a venda do BPN, por 40 
milhões de euros, ao BIC, banco angolano de Isabel dos Santos, filha do 
presidente José Eduardo dos Santos e de Américo Amorim, que tinha sido o primeiro 
grande acionista do BPN.

O BIC é dirigido por Mira Amaral, que foi ministro nos três governos 
liderados por Cavaco Silva e é o mais famoso pensionista de Portugal devido à 
reforma de 18.156 euros por mês que recebe desde 2004, aos 56 anos, apenas por 
18 meses como administrador da CGD.

O Estado português queria inicialmente 180 milhões de euros pelo BPN, mas o 
BIC acaba por pagar 40 milhões (menos que a cláusula de rescisão de 
qualquer craque da bola)  e os contribuintes portugueses vão meter ainda mais 550 
milhões de euros no banco, além dos 2,4 mil milhões que já lá foram 
enterrados. O governo suportará também os encargos dos despedimentos de mais de 
metade dos atuais 1.580 trabalhadores (20 milhões de euros).

As relações de Cavaco com antigos dirigentes do BPN foram muito criticadas 
pelos seus oponentes durante a campanha das eleições presidenciais de 
janeiro último.  Cavaco Silva defendeu-se dizendo que apenas tinha sido 
primeiro-ministro de um governo de que faziam parte alguns dos trafulhas. Mas os 
responsáveis pela maior fraude de sempre em Portugal não foram apenas 
colaboradores políticos do presidente, tiveram também negócios com ele. 
Cavaco também beneficiou da especulativa e usurária burla que levou o BPN à 
falência. Em 2001, ele e a filha compraram (a um euro por ação, preço feito 
por Oliveira e Costa) 255.018 ações da SLN, o grupo detentor do BPN e, em 
2003, venderam as ações com um lucro de 140%, mais de 350 mil euros.
Por outro lado, Cavaco Silva possui uma casa de férias na Aldeia da Coelha, 
Albufeira, onde é vizinho de Oliveira e Costa e alguns dos administradores 
que afundaram o BPN. O valor patrimonial da vivenda é de apenas 199. 469,69 
euros e resultou de uma permuta efetuada em 1999 com uma empresa de 
construção civil de Fernando Fantasia, acionista do BPN e também seu vizinho no 
aldeamento.

Para alguns portugueses são muitas coincidências e alguns mais divertidos 
consideram que Oliveira e Costa deve ser mesmo bom economista: num ano fez as 
ações de Cavaco e da filha quase triplicarem de valor e, como tal, poderá 
ser  o ministro das Finanças certo para salvar Portugal na atual crise 
económica. Quem sabe, talvez Oliveira e Costa ainda venha a ser condecorado em vez 
de ir parar à prisão.

O julgamento do caso BPN já começou, mas os jornais nem sequer têm falado 
nisso. Há 15 arguidos, acusados dos crimes de burla qualificada, falsificação 
de documentos e fraude fiscal, mas nem sequer se sentam no banco dos réus. 
Os acusados pediram dispensa de estarem presentes em tribunal e o Ministério 
Público deferiu os pedidos. Se tivessem roubado 900 euros, o mais certo era 
estarem atrás das grades, deram descaminho a nove biliões e é um problema 
político.

Nos EUA, Bernard Madoff, autor de uma fraude de 65 biliões de dólares, já 
está a cumprir 150 anos de prisão, mas os 15 responsáveis pela falência do 
BPN estão a ser julgados por juizes amigos, vão apanhar talvez pena suspensa e 
ficam com o produto do roubo, já que puseram todos os bens em nome dos 
filhos e netos ou pertencentes a empresas sediadas em paraísos fiscais.
Oliveira e Costa colocou as suas propriedades e contas bancárias em nome da 
mulher, de quem se divorciou entretanto após 42 anos de casamento. Se 
estivessemos nos EUA, provavelmente a senhora teria de devolver o dinheiro que o 
marido ganhou em operações ilegais, mas no Portugal dos brandos costumes 
talvez não aconteça.

Dias Loureiro também não tem bens em seu nome. Tem uma fortuna de 400 
milhões de euros e o valor máximo das suas contas bancárias são apenas cinco mil 
euros.

Não há dúvida que os protagonistas da fraude do BPN tinham-na fisgada, 
preveniram eventuais consequências e seguiram a regra de Brecht: “Melhor do que 
roubar um banco é fundar um”.

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