Fala Ferreira
Assim me saúdam os amigos de Guatemala.
Greve, polícias e falsos radicais
A greve geral de quarta-feira passada foi um sucesso. Esse sucesso não está tanto na adesão expressiva de certos sectores da função pública e dos transportes de passageiros (ver aqui também), mas sobretudo na adesão, tímida mas inusitada, do setor privado (ver aqui também). Tão inusitada que chegou a preocupar o Director do jornal Económico(ouvir os comentários após as imagens da carga policial). Resultado muito importante, tanto mais que a classe trabalhadora tem estado dividida entre entre trabalhadores do Estado e trabalhadores do sector privado – e o governo tem-se servido disso para impor as suas políticas.
Mas hoje, só se houve falar da carga policial frente à Assembleia da República. Perdeu-se o eco na comunicação social necessário para reforçar o passo dado pela unidade da classe operária. Neste sentido, alguns arruaceiros e os comandantes da polícia juntaram-se para mitigar os efeitos da greve. Não admira que os partidos do arco do poder (PS,PSD e CDS) se deem por satisfeito com a atuação da polícia. Só se esqueceram de agradecer aos provocadores.
A atuação da polícia não tem justificação, e por isso subscrevo inteiramente este texto. E acho incompreensível que alguém possa justificar a atuação policia por uma “uma tensão enorme durante horas“. A polícia devia ter atuado mais cedo detendo os líderes da zaragata em vez de, uma hora depois, distribuir cacetada por todos os manifestantes. De qualquer modo, a esquerda não pode lavar as mãos da situação e ignorar a presença destes falsos radicais que atiraram pedras aos policias. Quanto mais não seja porque o que se fala hoje reduz o impacto político da greve geral de quarta-feira passada.
Mas tudo isto sinaliza algo mais profundo: a convicção, de certa esquerda falsamente radical, de que a polícia é de direita! Falsos radicais porque confundem violência com radicalismo. Basta pensar que estivadores impedindo a saída dos deputados da Assembleia, ou anarquistas incendiando caixotes do lixo, é muito menos radical que (imaginemos) o encerramento de 50% das lojas do Pingo Doce por motivos de greve! Radical não é a violência; radical é a unidade. A violência só tenderá a isolar os grupos violentos da classe operária… que, sem o apoio dos outros trabalhadores, serão depois facilmente contidos pela burguesia. Violência executada por grupos isolados é, portanto, o contrário de radicalismo.
Por seu turno, continua a ser certo que os polícias estão integrados no aparelho repressor do Estado burguês. Mas é igualmente certo que são também trabalhadores. E somente o pensamento dogmático das religiões pode dizer que um fator é mais importante que o outro. Quando vemos, de um lado, os polícias distribuindo cacetada por manifestantes pacíficos e, por outro, cantando a Grândola Vila Morena, só podemos concluir que a disputa entre essas duas determinações (para além de outras, como ser pai de família) está em aberto. Radical não é assumir, à partida, que os polícias são de direita e atuar como se eles fossem. A consequência deste falso radicalismo é empurrar a polícia, de facto, para a direita e transformá-la, como na Grécia, na base do fascismo. (O PNR agradece.) Ser Radical é trazer a polícia para a esquerda; lembrar-lhe que os seus inimigos estão do outro lado!
http://falaferreira.wordpress.com/2012/11/16/greve-policias-e-falsos-radicais/
16 de Novembro de 2012 - Publicado por Jose Ferreira
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