Monangamba
Naquela roça que não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;
Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado,
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado!
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem trás pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de déndén?
Quem capina e em paga recebe desdém
fubá podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
porrada se refilares?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
— Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter a barriga grande — ter dinheiro?
— Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
— Monangambéée...
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
— Monangambéée...
António Jacinto nasceu no Golungo Alto (Angola), em 28 de Setembro de 1924. Conclui seus estudos liceais em Luanda, passando a trabalhar como funcionário de escritório. Destaca-se como poeta e contista da geração Mensagem e, em consequência de seus envolvimentos políticos, é preso no campo de concentração do Tarrafal, Cabo Verde, onde cumpriu pena de
ilustração de Jean Baptiste Debret
1 comentário:
O primeiro poema de António Jacinto
que conheci, foi dito por um Amigo e ex colega de trabalho (como eu reformado) o Amilcar Mendes, que anda, desde há muitos anos por vários lugares do Porto e arredores dizendo muitos Poetas; chama-se o Poema "Carta dum contratado" e apaixonou-me!
Obrigada por relembrares.
Maria Mamede
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