* Manuel Miranda - Coimbra
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A campanha eleitoral aproxima-se do fim. Os resultados das eleições vão determinar a nossa vida.
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Os políticos fazem promessas para esquecer depois de contados os votos.
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Agora, são promessas de não aumentar impostos, promessas de mais justiça social, de mais atenção à situação dos reformados e idosos, à saúde, à educação, e por aí fora.
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Já nos habituaram a este fadário de promessas. Mas também nos habituaram que o discurso a seguir vai ser o do défice, o da dívida externa e o de tudo submeter aos ditames das contas públicas, às imposições vindas de Bruxelas.
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Nas campanhas eleitorais há técnicas de manipulação dos eleitores. É sempre assim, a mentira e as habilidades para esconder verdades.
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Os cidadãos eleitores votam candidatos a deputados em listas por distrito. E é frequente as listas serem encabeçadas por arrivistas que não são nem conhecem o distrito. E a verdade é escondida pelos cartazes que nos colocam à frente dos olhos, onde predominam figuras que não são do nosso distrito.
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Nos cartazes vêem-se políticos que são candidatos por Lisboa, por Castelo Banco, por outros distritos. Arrivistas.
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Outra verdade escondida é a de que não votamos para primeiro-ministro. Votamos numa lista de um partido e do resultado nacional dos votos expressos vai surgir um governo que vai ser deste ou daquele partido, ou coligação de partidos. Governo formado pela correlação de forças dependente dos votos nas urnas expressos.
Esta campanha centrou-se num assunto que até não é prioritário para o comum dos cidadãos.
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Foi assunto recriado no debate entre José Sócrates e Manuel Ferreira Leite e fez-se disso assunto primeiro. Desemprego, saúde, educação, agricultura e pescas, pensões dos idosos tudo ficou silenciado para dar passagem aos comboios de alta velocidade, os TGVs.
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Encontraram nos comboios que não passam assunto para divertir e esquecer outros mais importantes para o comum das pessoas. Tudo calado pelo apito dos comboios.
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Eles, os dois, sabem o jeito que lhes dá calar saúde, educação, défice, economia, porque os dois têm culpas na situação que vivemos.
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E o apito dos TGVs ecoou em Espanha.
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E as explicações são compreensivas.
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Há muito dinheiro vindo de Bruxelas para investir em linhas de alta velocidade.
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É que de Bruxelas vem dinheiro para investir na rede de linhas para comboios a grande velocidade. Mas não nos chega dinheiro para investir nas linhas dos comboios que circulam pelo interior do País. E as linhas que temos pelo interior do País degradam-se e tornaram-se obsoletas. Muitas fecharam.
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E os investimentos nas linhas de alta velocidade vão endividar o País e aumentar a dívida externa, que já é pesada.
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Os investimentos nas linhas de alta velocidade não vão ter rentabilidade futura, porque não vão ter passageiros em número que as façam sustentáveis, pelo que vão ser os contribuintes, com os seus impostos, a pagar um luxo ao serviço de uma reduzida classe de executivos.
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Os investimentos na alta velocidade vão encurtar uns 15 minutos numa viagem entre Lisboa e Porto, cidades já luxuosamente bem servidos pelos comboios rápidos, Alfa e Intercidades.
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Antes das linhas de alta velocidade seria vantajoso duplicar as linhas ainda em via simples e investir para que nessas linhas se pudesse circular a outras velocidades e com mais segurança.
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As linhas de alta velocidade serão financiadas por dinheiros vindos de Bruxelas. O que merece fortes reservas, porque os burocratas da Comissão Europeia sedeada em Bruxelas não devem, não deveriam levar seus poderes tão longe e a tanta velocidade.
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E estas políticas de Bruxelas despertam reservas, porque deixam no ar a suspeição de que quem de facto ganha com a alta velocidade não são os cidadãos. Tudo sugere que vão ser os bancos, que financiam, e as grandes empresas, que constroem e que ganham com projectos megalómanos e com orçamentos de arromba.
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E obras dessa envergadura já cá temos que cheguem para aprender.
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Foi há poucos anos que fomos arrastados para a loucura dos estádios de futebol, agora encargos pesados para as câmaras municipais onde poisam para utilidade passageira quando Benfica, Porto, Sporting descem a esses relvados. E no resto do ano os relvados pedem água e tratamento, escondidos e inúteis, embalados por aplausos silenciosos.
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E são os apitos dos comboios que marcam as diferenças entre os dois grandes partidos.
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E os eleitores esperam a ver passar comboios.
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in PortugalClub
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