Eleições legislativas 2009
Sócrates admite aliança
Eleições legislativas 2009
Sócrates admite alianças à esquerda
por Ana Sá Lopes, Publicado em 16 de Setembro de 2009
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Sócrates admite alianças à esquerda
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Eleições legislativas 2009
Sócrates admite alianças à esquerda
por Ana Sá Lopes, Publicado em 16 de Setembro de 2009 no «i»
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Cenário de um entendimento parlamentar com o Bloco de Esquerda em cima da mesa
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Em 2005, um homem preocupado com a "governabilidade" andou a convencer José Sócrates a falar com o Bloco de Esquerda. Chamava-se António Costa e acreditava firmemente que só seria possível aguentar um governo minoritário com um acordo com os bloquistas em ascensão. A chaga dos governos guterristas de geometria variável que redundaram no "pântano" estava demasiado próxima para que a repetição da aventura passasse pelas cabeças dos socialistas mais experientes.
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José Sócrates aceitou a estratégia e convenceu-se que se o PS tinha que fazer pontes para algum lado, o Bloco de Esquerda seria o parceiro mais realista. Como o CDS tinha estado no governo com o PSD, estava fora de questão. Fazer um bloco central era inimaginável. À excepção do acordo autárquico em Lisboa, as relações PS-PCP foram sempre difíceis. O Bloco apareceu a Sócrates como uma hipótese de aliança, mas não foi preciso: conseguiu a primeira maioria absoluta da história do PS e não precisou de falar com mais ninguém.
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E agora? Pela primeira vez na vida, o cenário regressa, embora todos os contendores fujam de falar nele em público. Óbvio: qualquer palavra a mais pode prejudicar um voto no próprio partido e ninguém é suicida. Mas, esta semana, em entrevista à Antena 1, José Sócrates pela primeira disse essa palavra a mais. "Eu aprendi desde cedo que a democracia é o reino do compromisso, impõe compromissos". O PS procurará "um compromisso" em nome de uma "solução estável para assegurar a governabilidade". Foi isso que Maria Flor Pedroso lhe arrancou a ferros: inicialmente, o secretário-geral do PS não estava disponível para abandonar a cassete do "não antecipar cenários", que acabam por ser "um desrespeito pelos portugueses".
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O mesmo se passa com o Bloco de Esquerda. Não pode haver uma palavra a mais e o BE tudo fará para ser dissociado daquele que entre o eleitorado mais à esquerda aparece quase "monstrificado": José Sócrates, ele mesmo. Francisco Louçã tem repetido que o Bloco de Esquerda é "um partido responsável" e a estratégia está definida: se o PS vencer as eleições sem maioria absoluta, não será o Bloco de Esquerda a rejeitar o programa do governo. Os programas de governo, segundo a Constituição, não precisam de ser aprovados, mas podem ser rejeitados. Ora, o Bloco de Esquerda não tenciona matar um governo PS à nascença e nunca aprovará qualquer moção de rejeição do programa do governo que possa ser apresentado por outros partidos.
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Este é o primeiro passo. O resto acontecerá em sequência: os dirigentes do Bloco de Esquerda sabem perfeitamente que não irão conseguir reorientar os fundamentos da política económica do país, mas estão preparados para viabilizar o governo minoritário do PS, aprovando os orçamentos se, em troca, conseguirem ver renegociadas a dimensão e a escala das políticas públicas. Esta é a questão que, se o PS ganhar as eleições, vai estar em cima da mesa, como alternativa ao Bloco Central que, apesar de ser mais fácil - atendendo à comunhão entre socialistas e sociais-democratas em políticas essenciais - é muito fracturante no interior do PS, aliás como dentro do próprio PSD.
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As negociações entre o PS e o Bloco de Esquerda não nasceram ontem. Em 1999, durante o governo minoritário de António Guterres, o Bloco de Esquerda esteve quase a aprovar o orçamento de Estado, depois de uma negociação que parecia bem sucedida relativamente ao imposto sobre as grandes fortunas. Estava quase tudo arrumado, mas a dois dias da aprovação do orçamento, António Guterres optou pelo voto do queijo limiano - que marcou, de resto, o início da imersão do guterrismo no pântano.
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Acresce a isto uma razão fundamental para que o Bloco de Esquerda não fuja a entendimentos com o governo minortiário PS - não poderá ser responsabilizado, se se mantiver inflexível, de voltar a atirar o país para os braços da direita, caso o governo PS caia a curto prazo e o PSD apareça então finalmente reforçado. Para um partido que agora definiu como estratégia a prazo "disputar o governo do país", não seria grande cartão de visita aparecer daqui a seis meses como o responsável pelo regresso da direita à governação. O PRD fez esse trajecto e acabou mal.
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Falar em público sobre o futuro apoio do Bloco de Esquerda a um governo PS minoritário é quase um tabu, tanto para dirigentes bloquistas como para dirigentes socialistas. Os socialistas querem captar o máximo de voto útil da esquerda para o PS, travando a transferência de votos para o partido coordenado por Francisco Louçã. Os bloquistas morrem de medo que o eleitorado os associe, ainda que remotamente, a José Sócrates, catalisador de vários ódios por estes dias, tanto à esquerda como à direita. "Um governo minoritário não pode governar de olhos fechados à correlação de forças. Utilizaremos os nossos deputados para favorecer as medidas de esquerda", diz o dirigente João Semedo ao i.
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Foi no seu estilo habitual que Jerónimo de Sousa comentou a anunciada abertura de José Sócrates a "compromissos" com a esquerda: "A minha alma está parva", disse o secretário-geral do PCP, evocando os quatro anos e meio em que o PS "não se esforçou".Tentando afujentar o voto útil e colando o rótulo de "partido de protesto" ao Bloco, por meias palavras, o PCP tem insistido na sua responsabilidade: "Este não é um programa de uma força que se limita ao protesto e à contestação. É um programa de uma força que não só está apta ao exercício do poder, como está pronta para assumir as mais elevadas responsabilidades no país", disse Jerónimo. "Temos dito que seremos governo, se e quando o povo português quiser", afirmou.
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José Sócrates aceitou a estratégia e convenceu-se que se o PS tinha que fazer pontes para algum lado, o Bloco de Esquerda seria o parceiro mais realista. Como o CDS tinha estado no governo com o PSD, estava fora de questão. Fazer um bloco central era inimaginável. À excepção do acordo autárquico em Lisboa, as relações PS-PCP foram sempre difíceis. O Bloco apareceu a Sócrates como uma hipótese de aliança, mas não foi preciso: conseguiu a primeira maioria absoluta da história do PS e não precisou de falar com mais ninguém.
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E agora? Pela primeira vez na vida, o cenário regressa, embora todos os contendores fujam de falar nele em público. Óbvio: qualquer palavra a mais pode prejudicar um voto no próprio partido e ninguém é suicida. Mas, esta semana, em entrevista à Antena 1, José Sócrates pela primeira disse essa palavra a mais. "Eu aprendi desde cedo que a democracia é o reino do compromisso, impõe compromissos". O PS procurará "um compromisso" em nome de uma "solução estável para assegurar a governabilidade". Foi isso que Maria Flor Pedroso lhe arrancou a ferros: inicialmente, o secretário-geral do PS não estava disponível para abandonar a cassete do "não antecipar cenários", que acabam por ser "um desrespeito pelos portugueses".
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O mesmo se passa com o Bloco de Esquerda. Não pode haver uma palavra a mais e o BE tudo fará para ser dissociado daquele que entre o eleitorado mais à esquerda aparece quase "monstrificado": José Sócrates, ele mesmo. Francisco Louçã tem repetido que o Bloco de Esquerda é "um partido responsável" e a estratégia está definida: se o PS vencer as eleições sem maioria absoluta, não será o Bloco de Esquerda a rejeitar o programa do governo. Os programas de governo, segundo a Constituição, não precisam de ser aprovados, mas podem ser rejeitados. Ora, o Bloco de Esquerda não tenciona matar um governo PS à nascença e nunca aprovará qualquer moção de rejeição do programa do governo que possa ser apresentado por outros partidos.
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Este é o primeiro passo. O resto acontecerá em sequência: os dirigentes do Bloco de Esquerda sabem perfeitamente que não irão conseguir reorientar os fundamentos da política económica do país, mas estão preparados para viabilizar o governo minoritário do PS, aprovando os orçamentos se, em troca, conseguirem ver renegociadas a dimensão e a escala das políticas públicas. Esta é a questão que, se o PS ganhar as eleições, vai estar em cima da mesa, como alternativa ao Bloco Central que, apesar de ser mais fácil - atendendo à comunhão entre socialistas e sociais-democratas em políticas essenciais - é muito fracturante no interior do PS, aliás como dentro do próprio PSD.
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As negociações entre o PS e o Bloco de Esquerda não nasceram ontem. Em 1999, durante o governo minoritário de António Guterres, o Bloco de Esquerda esteve quase a aprovar o orçamento de Estado, depois de uma negociação que parecia bem sucedida relativamente ao imposto sobre as grandes fortunas. Estava quase tudo arrumado, mas a dois dias da aprovação do orçamento, António Guterres optou pelo voto do queijo limiano - que marcou, de resto, o início da imersão do guterrismo no pântano.
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Acresce a isto uma razão fundamental para que o Bloco de Esquerda não fuja a entendimentos com o governo minortiário PS - não poderá ser responsabilizado, se se mantiver inflexível, de voltar a atirar o país para os braços da direita, caso o governo PS caia a curto prazo e o PSD apareça então finalmente reforçado. Para um partido que agora definiu como estratégia a prazo "disputar o governo do país", não seria grande cartão de visita aparecer daqui a seis meses como o responsável pelo regresso da direita à governação. O PRD fez esse trajecto e acabou mal.
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Falar em público sobre o futuro apoio do Bloco de Esquerda a um governo PS minoritário é quase um tabu, tanto para dirigentes bloquistas como para dirigentes socialistas. Os socialistas querem captar o máximo de voto útil da esquerda para o PS, travando a transferência de votos para o partido coordenado por Francisco Louçã. Os bloquistas morrem de medo que o eleitorado os associe, ainda que remotamente, a José Sócrates, catalisador de vários ódios por estes dias, tanto à esquerda como à direita. "Um governo minoritário não pode governar de olhos fechados à correlação de forças. Utilizaremos os nossos deputados para favorecer as medidas de esquerda", diz o dirigente João Semedo ao i.
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Foi no seu estilo habitual que Jerónimo de Sousa comentou a anunciada abertura de José Sócrates a "compromissos" com a esquerda: "A minha alma está parva", disse o secretário-geral do PCP, evocando os quatro anos e meio em que o PS "não se esforçou".Tentando afujentar o voto útil e colando o rótulo de "partido de protesto" ao Bloco, por meias palavras, o PCP tem insistido na sua responsabilidade: "Este não é um programa de uma força que se limita ao protesto e à contestação. É um programa de uma força que não só está apta ao exercício do poder, como está pronta para assumir as mais elevadas responsabilidades no país", disse Jerónimo. "Temos dito que seremos governo, se e quando o povo português quiser", afirmou.
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