A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, dezembro 29, 2011

João Marques de Almeida ~ Vinte anos depois


Diário Económico

 
Vinte anos depois28 | Dezembro | 2011 
João Marques de Almeida
Guerra


Diário Económico, 28|Dezembro|2011
Nas suas memórias da II Guerra Mundial, cuja versão reduzida foi recentemente publicada em português, Winston Churchill afirma que o conflito de 1939-1945 “acabou por destruir o que o anterior conflito tinha deixado de pé”.

Não pretendo comparar a actualidade com a primeira metade do século XX (há comparações que são tão falsas como desnecessárias), mas a afirmação de Churchill ajuda a entender muito do que se passou em 2011. Embora as grandes mudanças não ocorram apenas num só ano, 2011 mostrou de um modo muito nítido o desaparecimento daquilo que o fim da Guerra Fria "tinha deixado de pé". Entre 1989 e 1991, acabou a Guerra Fria, mas não começou uma nova ordem; iniciou-se apenas um momento de transição. Os vinte anos de transição acabaram, e o mundo que aí vem será completamente diferente daquele que foi construído desde o pós-Guerra e durou até ao início do século XXI.

Em primeiro lugar, a distribuição do poder mundial está a alterar-se dramaticamente. Os historiadores do futuro escreverão que a seguir à ordem bipolar da segunda metade do século XX, veio um mundo multipolar. O "momento unipolar", dominado pelos Estados Unidos, passará à história como um breve período de transição. Percebemos agora que a unipolaridade norte americana foi apenas um dos restos da Guerra Fria. A ordem global do futuro será composta por várias grandes potências. Os Estados Unidos serão uma entre outras, como a China, a Índia, o Brasil e a Rússia. E no mundo multipolar, os países europeus serão os grandes derrotados. Segundo a maior parte das previsões, em 2050, nenhum país europeu estará entre as seis maiores economias do mundo (China, EUA, Índia, Japão, Brasil e Rússia, por esta ordem). No entanto, a União Europeia no seu conjunto, estará entre as três maiores (uma razão por si só suficientemente poderosa para fortalecer a União).

Há ainda duas observações a fazer em relação ao mundo multipolar. Além das potências globais, é necessário contar com a influência das potências regionais. Em termos relativos, estas últimas terão mesmo mais poder do que durante a ordem bipolar da Guerra Fria. Dito de outro modo, a influência das potências globais será menor do que era a dos Estados Unidos e da União Soviética durante a segunda metade do século XX. Por outro lado, está na altura de esquecer os BRICS em termos de coligação entre potências emergentes. Todos eles serão importantes, mas o alinhamento entre eles tornar-se-á menos frequente e mais precário. O objectivo comum foi acabar com o "momento unipolar". Com o fim do objectivo comum, a rivalidade entre eles acabará por prevalecer. Não escaparão á lógica da competição multipolar, o que de resto já começou a ser claro durante 2011. Qualquer analista asiático observará que a segurança regional é cada vez mais determinada pela rivalidade entre a China e a Índia. Em termos económicos, a "ameaça chinesa" domina as notícias e os comentários no Brasil.

Tal como no plano global, também na Europa, se assistiu à consolidação de uma dramática alteração na distribuição de poder. Mas ao contrário do mundo, onde o "momento unipolar norte americano" chegou ao fim, na Europa assiste-se ao "momento unipolar alemão". Vinte anos depois, concluíram-se as transformações de 1990-1991. A Alemanha reunificada está no topo da hierarquia de poder na Europa e será necessário concluir um Pacto Orçamental para completar o Tratado de Maastricht. E os dois processos estão intimamente ligados. O que está em jogo é saber se Berlim vai aceitar a institucionalização do seu poder. A questão decisiva para 2012 será a seguinte: irá a Alemanha aceitar que o aumento do seu poder signifique igualmente o reforço do método comunitário e do papel das instituições da União?

Para aqueles que favorecem as regras comunitárias e os métodos institucionais, como os médios e pequenos países, os sinais são relativamente positivos. Até à data, a transferência de competências para a União, no âmbito da governação económica, tem reforçado as instituições e nomeadamente a Comissão Europeia. Há um ponto que tem a ver com as regras não-escritas da política europeia que é necessário entender. Por razões históricas e políticas, a Alemanha tem que prosseguir uma dupla estratégia. Por um lado, tem que conceder uma aparente liderança à dupla Berlim-Paris. Mas por outro lado, não só aceita como procura, no plano substancial, um reforço das competências das instituições.

Esta dupla estratégia procura responder a um dos maiores dilemas da diplomacia alemã: a conciliação entre a gestão da relação bilateral com Paris e a liderança de uma União de 27 países. Tendo em conta o "momento unipolar" germânico, Berlim tem que gerir a relação com Paris com muita cautela. A França será sempre o país que sentirá mais dificuldades para lidar com a liderança alemã (ainda mais do que o Reino Unido). Ora, será necessário impedir o surgimento de uma França ressentida (e quem quiser observar os primeiros sinais do ressentimento gaulês, acompanhe com atenção a campanha eleitoral que aí vem). A construção da figura mediática "Merkozy" tem sido a forma de impedir o crescimento do ressentimento francês, criando-se a aparência de uma liderança a dois (apesar do termo "Merkely" capturar melhor a realidade). O risco será obviamente a emergência de outros ressentimentos na Europa, nacionais e não só, para evitar o ressentimento francês. O que mostra a natureza extremamente delicada e difícil da estratégia alemã.

Ao mesmo tempo, existe uma desconfiança em Berlim em relação à capacidade e vontade reformistas francesas nos planos económico e social. E esta desconfiança tende a transformar-se numa relutância em relação ao método intergovernamental. Berlim quer regras e mecanismos institucionais claramente definidos, precisamente porque não confia inteiramente na cultura económica dos seus principais parceiros europeus. Por isso, é provável que à aparência "Merkozy" se junte a consolidação da substância comunitária e institucional, através da conclusão do Pacto Orçamental.

Em termos da "grande história", 2011 foi o ano que veio depois de 1991: terminou o "momento unipolar" dos Estados Unidos, e a crise da zona Euro expôs os limites do Tratado de Maastricht e evidenciou a liderança alemã na Europa, destruindo a ilusão da relação igual entre Berlim e Paris. Uma coisa é certa: 2012 não será como 1992. O que será, ninguém sabe.

Jorge Messias - Bem aventurados os mais ricos da Terra! (1)



Avante!

N.º 1987 
29.Dezembro.2011

  • Jorge Messias

Bem aventurados os mais ricos da Terra! (1)
«Dinheiro é poder. O poder enlaçou-se com a política. A partir deste ponto, os problemas políticos fundem-se com a influência financeira do Vaticano na administração monetária» (Estebam Torres/Internet)
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«A Igreja está a tornar-se para muitos no principal obstáculo à fé. Nela não conseguem ver mais que a ambição humana pelo poder... » (Joseph Ratzinger, 1977, como Prefeito do ex-Tribunal do Santo Ofício)antes de ser papa
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«A constituição de uma Autoridade Pública Mundial ao serviço do bem comum é o único horizonte compatível com as realidades globais… dando vida a alguma forma de controlo monetário para gerir o mercado financeiro… mesmo que à custa da transferência gradual e equilibrada de uma parte das atribuições (de soberania) nacionais» («Nota sobre a reforma do sistema financeiro e monetário mundial»,Comissão Pontifícia Justiça e Paz, Outubro 2011)
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O Vaticano abandonou o seu silêncio «de chumbo» para mostrar como está atento à crise geral do capitalismo e como se empenha em salvar o sistema. Não é sem razão de ser que isto acontece. A Igreja católica é actualmente o mais poderoso grupo financeiro mundial. Embora seja impossível dar sequer uma ideia aproximada das dimensões reais do seu poderio – sobretudo político, económico e financeiro – façamos no entanto uma incursão no que é praticamente desconhecido.
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Temos visto pelos jornais como o preço dos metais preciosos, nomeadamente o oiro, tem crescido em flecha nos recentes tempos da crise. Pois a Igreja mundial, reconhecida como a mais importante detentora de metais preciosos, tem recolhido a maior parte dos lucros destas oscilações cambiais. Nos anos 80 do século vinte, antes da galopada dos preços começar, calculava-se que em todo o mundo o Vaticano detivesse nos seus cofres lingotes num valor superior a 6 mil milhões de dólares. Isso, só em «oiro sólido» (oiro em barras, com exclusão de outros metais preciosos trabalhados ou não (pepitas, objectos de oiro, moedas, peças incrustadas em altares, etc.).
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Também, tanto quanto se sabe, por alturas dos finais do século XX e só nos bancos suíços e ingleses o Vaticano detinha em acções, pedras preciosas, objectos de arte, etc., etc., reservas superiores a 11 biliões de dólares. Os poucos dados conhecidos permitem, igualmente, calcular que os bens eclesiásticos num só país – os EUA – considerado espelho da prosperidade capitalista, a Igreja administrava valores em bens imobiliários, acções, depósitos financeiros e outros investimentos que excediam a soma dos capitais sociais dos dez principais grupos económicos norte-americanos.
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Na declaração da «Comissão Pontifícia Justiça e Paz» a que à margem deste texto se alude, reconhece-se que actualmente, em todo o mundo, um trilião de seres humanos sobrevive com um rendimento de 1 dólar por dia. Por outro lado, admite-se que uma tal situação resulta de deficiências da gestão política e da prática de um liberalismo «tecnocrático». Mas não se fala no papel activo que o Vaticano tem desempenhado na construção deste quadro político e social.
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A complexa rede financeira dirigida pela Santa Sé depende directamente do Papa, da Cúria Romana e do IOR – Instituto para Obras Religiosas, correntemente conhecido comoBanco do Vaticano. Aparentemente, desempenha as funções que são comuns a qualquer banco. Na realidade, a rede vai muito mais além e é a sede da mais importante central financeira mundial. Giram na sua órbita bancos extremamente poderosos como o Pax, o J.P. Morgan ou oDeutsch Bank. Domina extensos impérios bancários, através da compra directa de grandes lotes de acções. Domina, por intervenção de terceiros, interesses que determinam as orientações dos verdadeiros centros de decisão mundial, tais como o G20, o Clube de Bilderberg,o Foreign Council norte-americano ou os Illuminati. Desenvolve constantes actividades criminosas, nomeadamente as lavagens de dinheiros, os desfalques, o contrabando e a corrupção, como está demonstrado pelos permanentes escândalos que envolvem o IOR (Ambrosiano, P2, falsas fundações, IPSS ou Fundos de Caridade, desvio de subsídios do Estado, operação «Mãos Limpas», etc., etc.).
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Em Itália, como em Portugal, aos responsáveis por estes crimes nada acontece.
.Estão protegidos pelos escudos invisíveis das «Concordatas».
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É o princípio de uma longa história. Mas, por hoje, temos de ficar por aqui.

terça-feira, dezembro 27, 2011

O nosso mundo melhor não é o mundo melhor da coca-cola

 

Anúncio do Jornal American Druggist: Coca-Cola já estava sendo comercializada em cinco estados americanos.


Uma das marcas mais famosas do mundo, a Coca-Cola, acusada de chantagem pelo presidente da Dolly, empresa fabricante brasileira de refrigerantes
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Coca-Cola_vs._Dolly
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Enviado por em 26/12/2011
A versão corrigida de uma campanha publicitária deste inverno de 2011.


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Enviado por em 28/02/2011
http://twitter.com/#!/RevolutionZGZ boikot a coca cola basta ya de abusos e hipocresía , de asesinatos y persecución a sindicalistas
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¿Y esto no es hipocresía? ¿dónde están los datos que confirman todo lo que dice este video? Pues lo digo yo: sacados de la manga. No defiendo coca cola para nada, he visto el spot original y se que los datos que aparecen son falacias que buscan el cariño y el aplauso fácil de los telespectadores, pero lo mismo hace este video, busca el aplauso de aquellos que defienden todo lo que el creador expone. Un saludo y no os creais nada, ni de un lado ni del otro, todos manipulan.

sábado, dezembro 24, 2011

Tempo de Antena do PCP de 23 de Dezembro de 2011


Tempo de Antena do PCP de 23 de Dezembro de 2011
No último ano, as condições de vida dos trabalhadores e do Povo português agravaram-se. Milhares de trabalhadores foram empurrados para o desemprego e a pobreza, o subsídio de Natal foi roubado, os salários reduzidos, serviços públicos encerrados, o custo de vida aumentou. No tempo de antena exibido hoje na RTP1, o PCP afirma que é cada vez mais evidente que a solução para a crise é o caminho de democracia e socialismo para Portugal

PCP - Privatização da EDP: um golpe na soberania nacional

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Conferência de Imprensa, Vasco Cardoso, Comissão Política do CC do PCP , Lisboa



1. O anúncio da entrega dos 21,35% que o Estado detinha no capital social da EDP à empresa chinesa Three Gorges constitui um acto de gestão danosa, por parte do Governo, contrário aos interesses nacionais, que dá um passo significativo no criminoso processo de privatização da EDP iniciado na década de 90 pelo Governo PSD de Cavaco Silva, e que terá de ser revertido tão cedo quanto possível.
2. Trata-se de uma privatização que, há semelhança de outras, se insere na transferência de empresas estratégicas para a economia e para a soberania nacional, para mãos estrangeiras. Uma lógica que – inserindo-se no Pacto de Agressão que PS, PSD e CDS assumiram com o FMI e a UE - acentua o carácter dependente e subalterno do país. Com esta privatização, a EDP, que já hoje é, em larga medida, detida e gerida a partir do estrangeiro, deixará de ser na prática, uma empresa nacional.
3. A EDP – Energias de Portugal, SA, é uma empresa estratégica de valor incalculável. Embora não sendo já a única empresa a actuar no sector eléctrico, tem um papel central na produção – mais de 10 mil MW de potência instalada – e na distribuição e venda – quase 6,5 milhões de clientes – de energia eléctrica em Portugal, actuando enquanto Comercializador de Último Recurso (CUR), ou seja, enquanto entidade que unifica a venda de electricidade aos consumidores finais, mesmo quando produzida por outros produtores.
Para além disto, a EDP detém no estrangeiro significativos activos no domínio da produção de electricidade, designadamente em Espanha, EUA, Brasil, França, Roménia, Polónia, Bélgica, Itália e China (Macau). Ao longo dos últimos dez anos o grupo EDP gerou lucros líquidos no valor de 9,3 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 140 % daquilo que o Estado encaixou até ao momento em todas as sete fases de privatização da empresa. Acresce que, dos 4551 milhões de euros de dividendos distribuídos aos accionistas nesse período, mais de mil milhões entraram entretanto nos cofres do Estado.
4. O povo português e os trabalhadores da empresa conhecem bem as consequências da privatização. Se com o sector nacionalizado, após o 25 de Abril, se alcançou, designadamente, a completa electrificação do país e o desenvolvimento de um plano de importantes aproveitamentos hidroeléctricos, após a privatização e a segmentação da EDP, que levou à criação da REN e outras empresas e da liberalização do sector energético, assistiu-se a um desinvestimento e desaproveitamento de recursos nacionais em contraste com investimentos de carácter duvidoso no estrangeiro, a despedimentos e o ataque aos direitos a milhares de trabalhadores, a uma persistente subida das tarifas energéticas que sufocam a vida das famílias e estrangulam a economia nacional. Com a perda do controlo nacional, o país perderá soberania, o Estado perderá receitas (impostos e dividendos), os trabalhadores perderão emprego e direitos, os riscos de segurança e fiabilidade do abastecimento aumentarão, a fuga de capitais acentuar-se-à, a competitividade da economia será reduzida, o povo português e as PME's pagarão uma energia mais cara.
Não há por isso razões de interesse nacional que justifiquem esta privatização.
5. O PCP reafirma que o programa de privatizações que está em curso constitui um verdadeiro saque ao país. A somar à destruição do nosso aparelho produtivo, à dimensão colossal dos juros cobrados em função da dívida pública, à permanente fuga de capitais, está a entrega de empresas e sectores estratégicos como a energia, mas também os transportes, a água, o serviço postal, os seguros, ou importantes infraestruturas nacionais. Aquilo que chamam de “ajuda externa” é na verdade um roubo organizado que conta com a colaboração activa – tal como no passado - de PS, PSD e CDS, que tem de ser derrotado.
6. O PCP assume, no quadro de uma política patriótica e de esquerda que propõe para o país, a necessidade de recuperar o controlo público dos sectores básicos e estratégicos da economia, incluindo na energia, colocando-os ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país, e não dos interesses dos grupos económicos e financeiros. Nesse sentido, ao mesmo tempo que não deixará de requerer a apreciação parlamentar desta privatização, apela à intensificação da luta pela pela rejeição do Pacto de Agressão, por um Portugal com futuro.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Eduardo Cabritta ~ Natal sem chama


Correio da Manhã
Brisa dos Dias

Natal sem chama

A despesa será paga pelas gerações futuras sem qualquer contrapartida na melhoria das condições de vida
Por:Eduardo Cabrita, deputado do PS

Em tempos de dificuldades e desafios, cabe aos Governos falar verdade e liderar o caminho da esperança e mobilização dos povos para encontrar a luz ao fundo do túnel.
Enquanto a Europa se desmorona após mais uma cimeira histórica que não resistiu a uma semana de mercados, o Governo português confirma o desígnio fatalista de ter por referência os fundamentalistas financeiros finlandeses, apontados co-mo exemplo por Passos Coelho no último debate parlamentar, e como desígnio a imigração desordenada.
A verdade orçamental para troika ver são sete mil milhões de receitas extraordinárias somando o desvio de metade do subsídio de Natal à Scut financeira que é a operação dos fundos de pensões. A despesa será paga pe-las gerações futuras sem qualquer contrapartida na melhoria das condições de vida.
Portugal era uma referência na utilização de energias renováveis e a mobilidade eléctrica um símbolo dessa aposta de futuro. A má fé revanchista leva à diabolização das eólicas e à eliminação dos benefícios fiscais aos veículos ambientalmente inovadores com efeito no abandono da fábrica de baterias da Nissan.
É surreal o apelo à emigração de professores para o espaço lusófono pelo Governo que despediu dezenas de professores de Português na diáspora.
Só um místico ardente da redenção pelo sacrifício espera motivação e paz social quando, depois de reduzir em 14% o salário dos funcionários públicos e propor ao sector privado o trabalho gratuito nos feriados, vem defender a redução de 30 para 8 dias por ano de actividade da indemnização por um despedimento Simplex.
Quanto à reforma do Estado, oscila entre o regresso aos defuntos distritos na organização judiciária e o marco histórico que são os 16 subdiretores da nova Autoridade Tributária.
Entre indicadores de consumo de há 30 anos e a confirmação de que a nossa recessão em 2012 será superior à da Grécia aguarda-se que a estrela de Natal possa iluminar o caminho da Europa e possa reencontrar os portugueses com a esperança aliviando o tom do ano mais negro da nossa democracia.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

João Marques de Almeida ~ A origem das Nações Unidas


  

 

João Marques de Almeida
 
A origem das Nações Unidas
Diário Económico, 19|Dezembro|2009

Mark Mazower, professor de história internacional na Universidade de Columbia, escreveu um livro magnífico.

O tempo e a escassa curiosidade histórica resultaram numa ignorância relativamente generalizada sobre as origens das Nações Unidas. A organização é muito discutida, mas a história da sua criação é pouco conhecida. Como diz o autor na introdução, a versão oficial conta que "as Nações Unidas emergiram depois da Segunda Guerra Mundial puras e descontaminadas em relação ao passado da política mundial". Marcariam uma espécie de ‘novo começo' da história do mundo. O autor argumenta que, ao contrário das teses da ruptura, a origem das Nações Unidas deve ser colocada no contexto dos debates sobre os impérios europeus, nomeadamente o Império Britânico, e a experiência da Sociedade das Nações. Para Mazower, há duas dimensões centrais, paralelas e opostas, nas Nações Unidas. Para uns, a organização deveria promover a "missão civilizadora" dos impérios europeus. Para outros, deveria legitimar as lutas anti-coloniais de libertação nacional. Essas duas tendências, ainda hoje, explicam muitas das contradições da organização.

As Nações Unidas e o ‘internacionalismo imperial'
Os dois primeiros capítulos discutem as contribuições de um político, o sul-africano Jan Smuts, e de um académico, o inglês Alfred Zimmern, para a criação das Nações Unidas. Embora representassem visões distintas, foram ambos educados pela ideologia imperial britânica. Smuts defendeu a ‘superioridade racial branca' na África do Sul. Zimmern pertencia a meios mais cosmopolitas e progressistas dos sectores liberais britânicos. Mas ambos olhavam para a tradição imperial britânica como uma forma de progresso histórico ("the white man's burden").
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Jan Smuts, primeiro-ministro sul-africano, era um dos delegados mais experientes na Conferência de São Francisco, após ter participado na Conferência de Paris que estabeleceu a SDN, em 1919. Tendo em conta o papel das Nações Unidas na luta contra o regime sul-africano do ‘apartheid', quem diria que um antigo primeiro-ministro da África do Sul teria um papel de relevo na criação da organização em 1945. Smuts via na ONU a garantia da preservação do Império Britânico em África, atribuindo ao governo sul-africano a papel de agente civilizador entre as populações locais. Ironicamente, na cabeça de um dos Pais Fundadores da organização, "as Nações Unidas começaram a sua vida não como um instrumento para acabar com o colonialismo, mas como um meio para o preservar". E Smuts, de certo modo, não estava enganado. A Carta da ONU é de uma neutralidade absoluta em relação aos impérios coloniais e, mais tarde, foi devido aos interesses de Washington e de Moscovo e através de Resoluções da Assembleia Geral que a organização combateu o colonialismo.
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Não se julgue que a ligação entre as organizações universais e os Impérios era um exclusivo dos políticos mais conservadores. Intelectuais radicais, como J.A. Hobson, um crítico feroz do "imperialismo", defendia a construção de uma "federação de Estados civilizados" com o objectivo de promover a missão civilizadora dos Impérios europeus. Nos meios intelectuais e académicos, o principal defensor do "internacionalismo imperial" foi Alfred Zimmern. Professor de Relações Internacionais na Universidade de Oxford e, mais tarde, na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.
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Zimmern, uma das figuras mais respeitadas e influentes no mundo anglo-saxónico no período entre as Guerras, herdou duas ideias centrais do pensamento liberal do século XIX. Em primeiro lugar, a Grécia clássica e Roma representavam os modelos dos Impérios civilizadores, cujos exemplos deveriam ser seguidos pelos europeus no século XX. Em segundo lugar, recuperou a distinção, desenvolvida nos séculos XVII e XVIII, entre os ‘bons' e os ‘maus' impérios. De um lado estavam os ‘impérios comerciais' e do outro os ‘impérios de conquista' (na linguagem usada por Montesquieu, Hume e Adam Smith). A partir do século XIX, a oposição passou a ser entre ‘impérios liberais' (defendidos por Tocqueville e Stuart Mill) e ‘impérios militaristas'. A Alemanha nazi constituía o exemplo mais recente (e mais terrível) dos últimos; e o Império Britânico representava o último sobrevivente dos primeiros.
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Zimmern viu mais longe que Smuts e percebeu que o Império britânico estava condenado como resultado das relações de poder provocadas pela Segunda Guerra Mundial. À semelhança do governo britânico trabalhista do pós-Guerra, Zimmern olhava para os norte-americanos como os herdeiros da missão civilizadora liberal. Já a viver nos Estados Unidos, Zimmer tentou convencer o Departamento de Estado a apresentar um "programa americano para consolidar a civilização ocidental" através das Nações Unidas. Acabou desapontado pelo facto do Plano Marshall e da Doutrina Truman ignorarem a ONU e limitarem-se à Europa.
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A ligação entre imperialismo e internacionalismo aponta, ao contrário do que dizem as teses dominantes, para a continuidade entre a Sociedade das Nações e as Nações Unidas. Tanto em Washington como em Londres, os grupos de trabalho que, ainda durante a Guerra, pensaram as Nações Unidas eram compostos por figuras que tinham desempenhado um papel importante na construção da Sociedade das Nações (Keynes é talvez o exemplo mais conhecido). Nas palavras de Mazower, "o exemplo da Sociedade das Nações dominou as discussões sobre a Carta das Nações Unidas". A SDN fora uma "instituição Vitoriana" empenhada numa "missão civilizadora global", herdeira das ideologias imperiais europeias. Para Smuts e Zimmern, a ONU deveria prosseguir a missão civilizadora da sua antecessora, mas obviamente com mais sucesso.

A ambiguidade original das Nações Unidas
O livro conta, igualmente, a outra história sobre a origem e a evolução das Nações Unidas: a defesa do princípio da auto-determinação nacional e da libertação anti-colonial. É a história mais conhecida e a que tem marcado grande parte da vida da organização. Esteve igualmente presente no momento de criação da ONU. O capítulo terceiro explica a contribuição do pensamento de dois emigrantes judeus na Palestina, Raphael Lemkin e Joseph Schechtman, para a afirmação do princípio da auto-determinação das minorias nacionais, a partir do caso de Israel. Neste ponto, também se nota a continuidade entre a SDN e a ONU. A defesa da auto-determinação das nações que pertenciam aos Impérios europeus foi um dos pontos definidores da SDN, confirmada pela vaga de independências nacionais que se seguiu ao colapso dos Impérios Otomano, Russo e Austro-Húngaro, após a primeira Guerra Mundial. A criação do Estado de Israel marca a expansão do princípio da auto-determinação para fora da Europa, e a sua transformação na luta contra os impérios coloniais.
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Jawaharlal Nehru, conta-nos o autor no capítulo quarto, reforçou a visão anti-colonial com a sua proposta sobre umas "nações unidas globais", onde a Ásia e África ocupariam um lugar ao lado das "potências ocidentais". As últimas décadas constituem a história da emergência da ONU global e o fim dos impérios. O que, em larga medida, deu razão a Nehru. No entanto, o desfecho da história não nos deve levar a ignorar o seu início.´
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A ambiguidade original reflecte uma tensão histórica entre tolerância e civilização; ou, usando outros termos, entre nacionalismo e cosmopolitanismo. Durante o pós-Guerra, o conceito de civilização perdeu a natureza discriminatória, em termos raciais, e adquiriu uma identidade política, adoptando, pelo caminho, o nome de ‘democracia e direitos humanos'. A versão contemporânea da tensão histórica entre tolerância e civilização transformou-se na tensão entre respeito pela soberania nacional e a promoção da democracia e dos direitos humanos.
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 A "Agenda para a Paz" de Boutros-Boutros Ghali, o documento fundador da "ONU pós-Guerra Fria", constitui um dos exemplos mais recentes da tensão permanente que habita a organização. A excelente contribuição de Mazower ajuda a entender muito melhor não só a natureza das contradições da ONU, mas também as razões porque continuaremos a viver com elas.