Presidenciais 2011 Francisco Lopes
- Jorge Cordeiro
O leme e o naufrágio
Cavaco Silva revelou-se candidato. Nada que a bem sucedida intervenção eleitoral que vinha construindo a partir das suas funções presidenciais não deixasse prever. O que estaria mais arredado de algumas mais ingénuas previsões seria a forma e os conteúdos expressos. Desde logo, temos de regresso o homem do leme, aquela providencial figura sem a qual o país não sobreviveria, nem o sol nasceria. Na modéstia majestática do candidato temos ali sinónimo de «mais»: o mais experiente, o mais formado, o mais influente, o mais capaz de tudo incluindo da proeza de Portugal não estar pior. O que em si legitima a interrogação de saber se quem lhe escreveu o texto está por cá. Descontado que seja o pormenor de não se perceber onde é que a sua formação económica entra em consideração perante o naufrágio económico do país; de procurar saber onde, para lá dos principais círculos do capital financeiro e dos grupos económicos, se fez sentir a sua magistratura de influência; de se tentar perceber porque é invocável como boa, uma experiência feita de um percurso demolidor para o país em mais de uma década de funções governativas que não só deram à luz nutrido défice como comprometeram o desenvolvimento – admitamos que o que resta, descontos feitos, é pouco para tanta pretensão.
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Ousado no conteúdo, a forma não o inveja. O enquadramento temporal do anúncio; a gestão da encenada negociação entre governo e PSD e respectiva concretização; e a laboriosa construção, a pretexto da eminência de uma «crise política», do papel de salvador – são apenas episódios em torno da divulgação de uma candidatura há muito conhecida. E que terá tido na convocação do Conselho de Estado, na inédita comunicação pessoal que dirigiu e na cirúrgica divulgação do não menos previsível acordo entre Catroga e Teixeira dos Santos, a primeira grande iniciativa da sua campanha eleitoral.
O que para lá de tudo o resto, permitirá mais facilmente levar cada um a perceber porque Cavaco Silva apregoou a dispensa nesta campanha eleitoral de «Out-door's»!
.- Filipe Diniz
O partido de Cavaco
Cavaco anunciou aquilo que há longo tempo era sabido: que se iria recandidatar à presidência da República. Diz ele que após profunda reflexão, na companhia da esposa.
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Nem nisto este «homem de palavra» acerta. Não se lembra pelos vistos de que quando se candidatou há cinco anos, entre as suas «ambições» - se fosse eleito - figurava «exercer mais do que um mandato». Mas esta questão não passa de um detalhe no conjunto da declaração de candidatura que apresentou.
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Mesmo para todos nós que sabemos que não é pelo brilho intelectual que Cavaco se destaca esta declaração tem momentos particularmente penosos. Nuns casos, pela grosseira hipocrisia. Noutros, porque trazem à memória outro ocupante do palácio de Belém, um almirante cujas declarações caricatas constituíam saborosos momentos de humor involuntário.
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Um dos momentos altos, que Tomás não desdenharia, é a afirmação de que não tem partido: o «seu partido é Portugal».
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Cavaco sabe - porque também o fez - que tomar partido é escolher. E sabe que nem do ponto de vista social, nem económico, nem regional há só um Portugal. Não só há vários, como alguns deles são antagónicos. Alguns representam, inclusivamente, a longa linha antinacional na qual as classes dominantes sempre se inseriram, e são esses, no fundamental, o Portugal que Cavaco escolheu.
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O Portugal de Cavaco primeiro-ministro e de Cavaco presidente: o Portugal do retrocesso económico e social, no «pelotão da frente» a caminho da retaguarda; o Portugal dos «pacotes legislativos» anti-laborais e anti-sociais; o Portugal da desindustrialização e da financeirização da economia; o Portugal «bom aluno» da UE, abdicando aceleradamente da soberania e do interesse nacional, cada vez mais dependente e periférico; o Portugal do interior sem agricultura e do mar sem frota pesqueira; o Portugal inculto e reaccionário que hostilizou Saramago em vida e o desrespeitou na morte.
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Há outro Portugal que não é nem será nunca o Portugal de Cavaco.
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É o Portugal de Abril, cuja Constituição Cavaco jurou cumprir e fazer cumprir mas que sempre violou – tanto no governo como na presidência.
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Este Portugal está presente e tem candidato nas eleições presidenciais.
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Chama-se Francisco Lopes.
.- José Casanova
O pai da política de direita
«Nunca tive dúvidas de que o Orçamento de Estado passaria», confessou Mário Soares.
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E explicou porquê: porque se trata de uma «imposição do Banco Central Europeu e da própria Comissão Europeia» - e ordens são para cumprir...
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Soares pensa, também, que a ida «dos dois líderes a Bruxelas», para o necessário puxão de orelhas, foi decisiva para pôr as coisas nos eixos.
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Soares pensa, ainda, que sem o OE aprovado estaríamos perante «um desastre nacional»
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É certo que, o próprio Soares o diz, o Orçamento é «muito duro para os portugueses, em especial os de menores rendimentos»; e que «algumas das suas medidas cortam o coração»; e que isto vai ser uma desgraça ainda maior do que a já existente, mas... sem OE aprovado, estaríamos perante «um desastre nacional»... e isso é coisa que Soares não quer nem admite.
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Reconheça-se, aliás, que desastre nacional é matéria em que Soares é perito...
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Vale a pena lembrar – quanto mais não seja para que não caia no esquecimento – que Soares é um dos grandes responsáveis pelo desastre nacional a que a política de direita conduziu o País. Foi ele que a iniciou em 1976, dando os primeiros passos da ofensiva contra-revolucionária que, de então para cá, todos os governos prosseguiram, com raivosos ataques às conquistas da Revolução de Abril; chamando para aqui o FMI (e correndo de cá com o MFA...), e enfiando a cabeça no cepo da UE; roubando aos trabalhadores e ao povo direitos fundamentais alcançados pela luta e consagrados nas leis de Abril; recorrendo á repressão brutal sobre as massas trabalhadoras; tirando o poder ao povo e colocando-o nas garras dos grandes grupos económicos e financeiros (quer dos que haviam sido sustentáculo do fascismo quer dos que a política de recuperação capitalista viria a criar); fazendo a vida num inferno aos trabalhadores e oferendo o paraíso ao grande capital; rasgando e espezinhando a Lei Fundamental do País e entregando a soberania e a independência nacional ao imperialismo norte-americano e à sua sucursal que dá pelo nome de União Europeia.
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Ora este OE 2011 é bem o espelho dessa política de desastre nacional de que Soares é o pai.
..Avante 2010 11 05
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