6 DE AGOSTO DE 2012 - 12H05
Há 67 anos, na manhã do dia 6 de agosto de 1945, o mundo assombrava-se ao conhecer o poder arrasador de um bomba atômica. A cidade de Hiroshima, no Japão, era alvo da primeira agressão nuclear da história. O ataque partiu dos Estados Unidos e matou cerca de 140 mil pessoas. Tanto tempo depois, o responsável por aquele momento de horror não foi punido e a ameaça nuclear ainda paira sobre a humanidade.
Hiroshima, 6 de agosto de 1945 / Foto: Museu Memorial da Paz/Efe
"O que houve em Hiroshima não pode jamais ser esquecido. Foi um crime contra a humanidade, que deixou uma cidade inteira destruída. As pessoas foram derretidas, outras sentem efeitos da radiação até hoje. E os Estados Unidos nunca foram punidos por esse crime", critica a presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP), Socorro Gomes.
Ela destaca que os EUA continuam com o controle sobre um arsenal atômico e se recusam a renunciar à possibilidade de lançar outra bomba. O CMP denuncia que os países detentores de armas atômicas as utilizam para chantagear povos e nações. Por outro lado, buscam impedir que outros países desenvolvam a tecnologia nuclear com fins pacíficos, concentrando, assim, o conhecimento e o lucro vindo desta atividade.
"Eles tentam impedir, de forma hipócrita, que outros países usem esta tecnologia para fins pacíficos, como na medicina ou na produção de energia elétrica. Querem ter lucro com essa indústria nuclear pacífica. É uma tecnologia de ponta, que desejam dominar sozinhos. Por isso usam o discurso da ameaça de bomba atômica em nações onde isso não existe, como no caso do Irã", diz Socorro.
Para o CMP, a eliminação das armas nucleares é uma prioridade. Tanto que, em assembleia geral realizada no mês passado no Nepal, o Conselho decidiu dar novo impulso à campanha pelo desarmamento, uma bandeira antiga mas ainda atual. "Na década de 1950 ainda, o movimento mundial pela paz lançou o 'Apelo de Estocolmo', que dizia que deveria ser proibido o uso e a fabricação de armas nucleares. Usar a bomba seria então considerado crime contra a humanidade. A iniciativa recolheu 600 milhões de assinaturas, o que demonstra a grande vontade no mundo de eliminar tais armas", conta Socorro.
"O único país que já usou uma bomba nuclear foram os Estados Unidos. De lá para cá, a luta dos povos tem ajudado o combate a esse tipo de armamento. Foram criados protocolos, há hoje a agência internacional de energia atômica. Mas a questão não pode ser apenas barrar a proliferação das armas atômicas, é preciso acabar com aquelas que já existem", defende.
Segundo ela, esse propósito ainda não foi alcançado por causa de uma "política de terror e guerra" utilizada pelas potências mundiais. "Há um sistema de governança que é imperialista, em que as potências buscam impor o seu poder através do medo. Os Estados Unidos não buscam dialogar, mas uma forma de dominar povos e nações. Para isso, utilizam armas cada vez mais sofisticadas, como drones, escudos antimísseis, armas cibernéticas. Não estão pensando em se desarmar", lamenta.
A ativista ainda destaca a solidariedade do movimento pela paz com a dor dos japoneses. "É um sofrimento que inclusive não acabou. Por isso fazemos um chamado a todos os defensores da paz para que continuem lutando contra todas as armas de destruição em massa", concluiu.
História
Hiroshima, 6 de agosto de 1945 / Foto: Museu Memorial da Paz/Efe
Naquela segunda-feira de agosto de 1945, muitas pessoas morreram instantaneamente. Outras seriam afetadas pela radiação, que provocou alterações sanguíneas, perturbou as funções da medula óssea e afetou órgãos internos, como fígado e pulmões, ao longo dos anos.
Ruas, residências, escolas e hospitais – quase uma cidade inteira – desapareceram do mapa. Antes da bomba, havia cerca de 90 mil construções em Hiroshima; somente 28 mil permaneceram de pé após o ataque.
Três dias depois, em 9 de agosto de 1945, outra bomba atômica era lançada sobre o Japão, desta vez na cidade de Nagasaki. Outras 80 mil pessoas foram pulverizadas naquele momento.
As explosões foram ordenadas pelo então presidente norte-americano Harry S. Truman, supostamente para pôr fim à 2ª Guerra Mundial, que estava em curso desde 1939. Ele havia sido alertado das consequências pelos cientistas, mesmo assim decidiu pelo bombardeio.
O fato é que a guerra no Pacífico já vivia seus momentos derradeiros e, um mês antes dos ataques, o Japão já planejava a rendição. O país estava cercado e destruído. Apesar do discurso construído de que as bombas apressaram o fim do conflito, o preço pago foi considerado alto demais e desnecessário.
"Naquela altura, o Japão já estava praticamente derrotado, a guerra estava decidida. A bomba serviu, na verdade, como uma demonstração de força dos Estados Unidos, para marcar o que seria o pós-guerra. Era uma exibição da hegemonia norte-americana no mundo", ressalta Ricardo Alemão Abreu, secretário de Relações Internacionais do PCdoB.
Alemão reitera as denúncias do CMP. "O que houve desde então foi o controle da tecnologia nuclear por alguns, que tentam evitar que outros países tenham acesso a esse conhecimento. As armas proliferaram entre aqueles países que eram de interesse das potências, como é o caso de Israel. Foi algo como 'podem ter armas nucleares os amigos, não os inimigos'. E estas armas têm sido usadas como instrumento de opressão e para reafirmar o poderio norte-americano", afirma.
Após o desastre, Hiroshima construiu museus e memoriais para honrar as vítimas. O local do epicentro da explosão abriga hoje o Parque Memorial da Paz, idealizado pelo renomado arquiteto japonês Kenzo Tange. O local tornou-se patrimônio mundial da Unesco, em 1996. Nesta segunda-feira, aquela tragédia sem precedentes na história da humanidade está sendo lembrada no Japão, à sombra do acidente nuclear de Fukushima, no ano passado.
As várias manifestações que acontecem no país para lembrar a bomba atômica têm como pano de fundo a crescente contestação à energia nuclear. Cerca de 50 mil pessoas participaram na cerimônia oficial e milhares de outras espalharam-se por numerosos atos, concertos e palestras organizados em Hiroshima.
As atividades reuniram sobreviventes de Hiroshima, hoje com mais de 70 anos, e habitantes do entorno da central nuclear de Fukushima, que foi evacuada depois do desastre de 11 de março de 2011.
A maioria dos sobrevientes da bomba, conhecidos pelo nome de hibakusha, também opõe-se firmemente a toda e qualquer utilização da energia atômica. “Queremos trabalhar com as pessoas de Fukushima. Juntar as nossas vozes para que o nuclear nunca mais faça vítimas”, disse Toshiyuki Mimaki, aos 70 anos – um sobrevivente do horror.
Da Redação,
Joana Rozowykwiat, com agências.
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