Domingo, 3 de Março de 2013
1
– Um fenómeno novo surgiu, nos últimos 10 anos, no panorama político europeu e
sul-americano: a utilização da luta política parlamentar para sacudir, de
maneira propagandística e certeira, a insípida, repetitiva e desacreditada
governação do Estado, em democracia, pelos partidos, que se dizem de esquerda,
ou de direita, mas que agem como meras correias de transmissão dos programas
económicos da grande burguesia capitalista.
Desde
os finais da Segunda Grande Guerra, no rescaldo da estrondosa derrota do grande
capital imperial e trauliteiro, representado pelos governos de Adolf Hitler na
Alemanha e Benito Mussolini, em Itália, que se pensava num avanço estrondoso do
movimento revolucionário no Mundo.
A
denúncia e as informações que surgiam do papel da União Soviética, no plano
interno, como poder contra-revolucionário já instalado, e, externo, ao
aproveitar a sua acção corajosa e vitoriosa nessa guerra, para desprezar os
direitos nacionais dos povos e instalar, militar e ditatorialmente, novos
poderes em muitos países europeus, facto este alicerçado num “acordo mais ou
menos secreto” com os Estados Unidos da América, para a divisão de uma clara
zona de influência na Europa e de disputa no restante território internacional,
fizeram estremecer e definhar o movimento revolucionário que parecia
imparável.
Os
resistentes internos franceses, maioritariamente orientados pelo chamado Partido
Comunista francês, que, na prática, dominavam de armas na mão, o poder
“interino” gaulês (ainda não havia governo legal), foram obrigados pelos seus
líderes como Maurice Thorez, a desarmar-se e a submeter-se ao poder executivo do
general de Gaulle.
(Tal
facto provocou uma cisão de grande envergadura no secretariado daquele partido,
em especial no responsável pelos “franco-atiradores”, Charles Tillon, que não
queriam cumprir as ordens de Moscovo).
Igualmente
sucedeu na Itália.
O
PCI, embora tivesse uma estrutura militar “secreta” de envergadura,
possivelmente mais de 100 mil homens em armas, entrou para o governo liderado
pelo democrata cristão De Gaspari (um filho querido do Papado e onde teve um
cargo, pela primeira vez, de subsecretário, Giulio Andreotti, o aríete do
Vaticano e da Máfia), teve de ceder aos ditames dos acordos de Ialta.
Mais grave, ocorreu na Grécia, onde o Partido Comunista (KKE), através do seu braço fortemente armado entrou numa guerra declarada com a monarquia, apoiada por norte-americanos e ingleses, guerra esta que durou de 1946 a 49, mas na prática já iniciada em 1943, contra a regência pró-monárquica, foi completamente abandonado por Moscovo, que deixou os guerrilheiros à sua sorte.
Mais grave, ocorreu na Grécia, onde o Partido Comunista (KKE), através do seu braço fortemente armado entrou numa guerra declarada com a monarquia, apoiada por norte-americanos e ingleses, guerra esta que durou de 1946 a 49, mas na prática já iniciada em 1943, contra a regência pró-monárquica, foi completamente abandonado por Moscovo, que deixou os guerrilheiros à sua sorte.
De Gaspari e Togliatti unidos em Itália
2
– Com a entrada maciça de dinheiro norte-americano na Europa, através do plano
Marshall, houve um impulso enorme na indústria e uma reorganização em larga
escala da agricultura, transformando-a rapidamente em agro-indústria, e fez
desaparecer, com rapidez, os resquícios da pequena propriedade, em países como a
França, a Alemanha, toda a região da Áustria, e grande parte de Itália do
norte.
Este
incremento capitalista no centro da Europa, que, além da França e da Alemanha,
alcançava a Holanda, a Bélgica, o Luxemburgo, e, noutra escala, a Inglaterra,
fez acorrer a esses Estados a primeira grave vaga de emigração dos países
periféricos ocidentais, principalmente, Portugal, Espanha e
Itália.
As
derrotas das forças guerrilheiras, o crescimento industrial e a recomposição da
grande burguesia financeira já na década de 50 fizeram mudar radicalmente a
capacidade reivindicativa das classes trabalhadoras.
Que
perdeu energias, embora as forças que se diziam comunistas conseguissem ainda
uma certa expressão política nas eleições que se efectuaram tanto em França,
como em Itália.
Neste
país, concretamente, o PCI, liderado por Palmiro Togliatti, em 1949, renunciou à
revolução, considerando que a via eleitoral do sistema instituído era a única
que aquele partido considerada correcta para tomar o poder.
À
medida que evoluía o crescimento industrial e comercial europeu, que se traduziu
na constituição da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, predecessora da
Comunidade Económica Europeia, começou a dar-se uma estagnação eleitoral dos
próprios partidos que se apelidavam de comunistas, seguindo as orientações da
antiga União Soviética, e surgiam sintomas, entre as classes assalariadas, de
afastamento desses partidos e um declínio do movimento laboral frontal e
reivindicativo.
Desde
os anos 50, foram dezenas de anos de dispersão ideológica, de descrédito, na via
revolucionária, para ascender ao poder.
O
centro da gravidade de todos os partidos, que no princípio do século, se regiam
por programas revolucionários, passou para a utilização, única, exclusiva e sem
perspectivas de rupturas políticas radicais, para conseguir “unidades de
esquerda” para fazer executivos com os partidos socialistas e social-democratas,
como sucedeu, de maneira evidente, em França e Itália.
Muitos
desses partidos ditos revolucionários tornaram-se social-democratas e, depois da
queda da antiga URSS, transformaram-se em meras formações da burguesia
liberal.
(Apenas
com o Maio de 1968, em França, com sequelas, maiores ou menores, em Itália,
Estados Unidos e Inglaterra, se colocou num durante um período de tempo pequeno,
a perspectiva de uma via revolucionária, mas sem programa estabelecido e, tendo
contra si, o movimento das forças organizadas dos antigos PC – caso de França e
Itália).
3
– Já no final do século XX, e pequena década do século XX, com o descrédito
quase total do sistema democrático parlamentar “tecido” pelos partidos –
conservadores, liberais sociais-democratas - que serviu de apoio político aos
negócios fraudulentos do sector lúmpen da grande burguesia financeira, que
domina a vida económica, social e política dos Estados, em particular dos
grandes Estados chamados potências mundiais, germinam correntes apelidadas
incorrectamente de "populistas" e "anarquistas".
Desde
os Estados Unidos da América, e do agrupamento Unidade Europeia, bem como da
Rússia e em outro sistema política, a China, gerida pelos negociantes e
especuladores capitalistas que controlam a hierarquia do chamado Partido
Comunista chinês, o sufrágio universal tem sido, no entanto, aproveitado por
“movimentos apelidados de anti-partidos”, mas com programas de ruptura
revolucionária da sociedade para ascenderem a lugares de destaques e mesmo de
“quase poder” em alguns dos principais países, em primeiro lugar, da Europa, e,
em escala, mais reformista na América Latina.
Esses
partidos, embora sem uma clara demarcação programática e esclarecida de tomada
de poder, com um conteúdo classista e revolucionário descoordenado, têm o mérito
de terem sabido aproveitar o direito de voto, que a burguesia procura
“assustadoramente" considerar como único válido e legal, como forma de se manter
no poder real, para exigir uma ruptura radical com o sistema
enclausurado.
O essencial é que os sectores mais esclarecidos
politicamente das classes laboriosas saibam aproveitar esse meio de alavanca
para forjar o programa revolucionário socialista, que é preciso fazer renascer
nesta fase ainda obscura de uma nova sociedade em mudança.
Quer
em Itália, que os partidos representantes do capital financeiro, como o de
Berlusconi e o Partido Democrático, de Bersani, que fazem “chacota” com as
propostas do partido, que individualmente foi o mais votado, o Movimento cinco
estrelas de Beppe Grillo, mas que, cinicamente, dizem poder vir a aprovar, para
o meter na carroça do seu circo, quer na Grécia, onde o partido Syriza, se
mantêm como o partido da “ruptura”, ambos, todavia, sem um fio de prumo fixo
sobre a importância revolucionária de uma Unidade Europeia, com uma moeda única,
uma diplomacia única e umas Forças Armadas únicas, afastadas da tutela
norte-americana, e indefinidas quando à necessidade de controlar, sem receio, o
capital financeiro, como “arma” de um novo Estado, estão a ser dadas
oportunidades de consciencializar largas massas das classes laboriosas para uma
revolução social.
Este
novo vento que surge na História europeia está a obrigar todos os partidos,
especialmente os defensores acérrimos do sistema actual e do capital financeiro,
a mostrar a sua face e a sua pequena política, como é o caso do saloio líder do
SDP alemão, Peer Steinbruck, a considerar que Grillo é um
palhaço.
É
um sintoma de desgaste político, de desnorte.
A guerra eleitoral das forças de ruptura nos parlamentos
devem dar corpo a um novo tipo de
programa político.
Que
a propaganda e a presença parlamentar sirvam para intensificar as movimentações
populares extra-parlamentares.
Estejemos atentos aos próximos anos.
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