Sem Rodeios
Iguais à Grécia?
Ou temos muito cuidado ou daqui a poucos meses seremos iguais à Grécia.
Por:Luís Marques Mendes, Conselheiro de Estado
1- Os últimos dias foram uma perfeita loucura. Declarações, entrevistas, reuniões, comentários, manifestações. Tudo a suceder-se a um ritmo vertiginoso. Tudo a mover-se num autêntico frenesi. Para os mais velhos, tudo isto faz lembrar o PREC. Para todos, mais novos e mais velhos, violência à parte, percebe-se que há no ar qualquer coisa de Grécia.
2- Mais cedo do que se imaginava, eis que surgem divergências na coligação. Para já, não são de molde a abrir uma crise política. Mas minam a autoridade e a credibilidade do Governo. Quando o País mais precisa de um poder político forte, ele toma a iniciativa de se fragilizar. Também na Grécia sucedeu o mesmo. Até houve eleições. Sem qualquer vantagem para o país.
3- As manifestações anti-troika aí estão. Embora com atraso, acabamos sempre por importar as modas alheias. Daí não vem mal ao mundo. As pessoas têm o direito de se queixar. Mas convém pensar: a troika não invadiu Portugal. Ela está cá porque Sócrates a requereu depois de deixar o país falido. E se não for a troika mais ninguém nos empresta dinheiro. Também na Grécia esqueceram isto. Com os resultados que se conhecem.
4- De repente, toda a gente resolveu dar palpites sobre a dureza daterapia para a crise. Até aqui tudo normal. A terapia é mesmo dura e o desabafo inteiramente legítimo. Mas já é um crime surgirem pessoas responsáveis a criarem na população a ilusão da facilidade. É que todos sabem que não há ajustamentos sem dor. Os gregos também esqueceram isto. E quando tal sucedeu, a austeridade não diminuiu. Agravou-se.
5- Não tenho uma dúvida: ou temos muito cuidado ou daqui a poucos meses seremos iguais à Grécia. Nessaaltura, deitaremos tudo a perder: o consenso político, o diálogo social, os avanços realizados e, sobretudo, os sacrifícios das pessoas. Sem ganhar nada em troca. Evitar isto é uma obrigação dos responsáveis políticos. Em particular de Cavaco Silva, Passos Coelho e António José Seguro. Pedir-lhes que dêem as mãos pelo País será pedir-lhes muito? É nestes momentos que nos lembramos de sentido de Estado. Não tanto para falar dele mas sobretudo para exigir o seu exercício. Tempos excepcionais requerem comportamentos excepcionais!
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