A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Fé, Esperança e Caridade


* Jorge Messias
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Fé, Esperança e Caridade
É conhecida a devoção quase idólatra que a hierarquia católica portuguesa nutre pelo papa em funções. Por este papa, por ser o que está. Por outro papa, quando outro vier. Por isso – e só por isso – devemos prestar atenção às cartas encíclicas que Ratzinger vai publicando. Essencialmente, elas são como que um barómetro dos próximos comportamentos da igreja de D. José Policarpo.
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Bento XVI (Ratzinger) tem um passado de teólogo e de professor de teologia. Ao longo de toda a sua vida ligou-se às teses conservadoras de uma ortodoxia que tenta construir, à sua maneira, o corpo de uma relação entre a razão e «a ciência do conhecimento de Deus». Por outro lado, descreve-se a si próprio como «guardião da fé». Parece, pois, natural que um papa com tais antecedentes procure inaugurar o seu magistério publicando encíclicas sobre matérias que já conhece de cor. É esse o caso das chamadas «virtudes teologais»: Fé, Esperança e Caridade.
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Em duas recentes cartas doutrinais, Ratzinger abordou sucessivamente os temas da Fé (Janeiro de 2006) e da Esperança (Novembro de 2007). Como seria de esperar de um papa-teólogo, Bento XVI divagou metafisicamente acerca da condição humana, furtando-se deste modo às questões mais polémicas da vida da igreja. Iniciou a abordagem desta trilogia com as matérias de mais elevado grau de abstracção, deixando para o fim a publicação da sua terceira encíclica sobre a «virtude natural da Caridade», um terreno escorregadio que confunde os teólogos mais sabidos e oculta mal os interesses e as ambições do Vaticano. Tal como se verifica nas duas encíclicas aqui referidas, Ratzinger continua igual a si mesmo – fundamentalista, irracionalista e fanaticamente antimarxista, um verdadeiro Cruzado das batalhas contra o ateísmo e contra os movimentos dialécticos da história. Acerca do «erro fundamental de Marx», Ratzinger produziu, mesmo, afirmações totalmente descabidas e insensatas.
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O Papa e os bispos portugueses
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O badalado «puxão de orelhas» com que Ratzinger teria eventualmente castigado os bispos portugueses foi pura imaginação. Tão certo que assim foi que ninguém mais nisso falou. Porque se tornou evidente que, afinal, a reprimenda apenas se destinava a estimular a passagem à acção por parte dos bispos. Na realidade, Ratzinger aprova, compreende e abençoa os planos do episcopado português em relação ao Estado e ao Poder. São cumplicidades que ninguém pode negar. Os canais de comunicação entre o Governo, a Igreja, o Patronato e o Estado do Vaticano, continuam a funcionar muito bem.
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Nesta rede de enlaces da igreja e do grande capital têm sobressaído, recentemente, os acontecimentos na área da Saúde. Mas também se poderiam citar em paralelo o Ensino, a Segurança Social, as ONGS, as IPSS, os bancos filantrópicos, as Fundações, etc., etc.. Toda a vastíssima área onde a Igreja procura reconquistar terrenos perdidos e os investimentos privados do capital financeiro aspiram a substituir-se às funções do Estado. As estratégias adoptadas têm um modelo comum. O governo abandona terrenos que a Constituição assinala como seus, descapitaliza os serviços públicos, abre de par em par as portas aos investimentos estrangeiros e ele próprio – o Governo – subsidia o capital privado através do Orçamento público e do uso generoso dos dinheiros comunitários. Ganham os ricos, os privados e os grupos económicos da igreja. Perde o povo, a democracia e perdem os mais pobres.
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Dos muitos exemplos que neste sentido podiam ser invocados, atente-se na reforma hospitalar. A rede hospitalar civil transforma-se, cada vez mais, num negócio chorudo. Aproxima-se o termo da etapa de «esvaziamento» dos esquemas do Serviço Nacional de Saúde: «deslocalizou-se» serviços, «flexibilizou-se» carreiras, encerrou-se urgências, cortou-se verbas essenciais, etc.. O SNS ficou indigente e deserto. Logo avançaram os privados e a igreja, as seguradoras e as misericórdias, os grandes projectos de novas clínicas e as exigências, por parte das misericórdias, de novas transferências para a área caritativa da igreja de mais hospitais públicos. Tudo caminha no sentido da extinção gradual mas rápida do SNS. Dois milhões de portugueses contrataram seguros de saúde privados. As clínicas particulares têm em curso 22 projectos diferentes de construção e modernização de grandes hospitais, num total de 5000 camas. A igreja prepara o lançamento de uma rede de «centros de vida» dirigidos para a maternidade e para a juventude. Os serviços de medicina privados vão ocupando o espaço vazio deixado pelo encerramento das urgências: praticaram, em 2006, mais de 750 000 actos clínicos, o que corresponde a um crescimento anual de 10%. Em Portugal está a ser escrito o mapa futuro da assistência hospitalar: tudo a favor dos ricos, nada a favor dos pobres. A Segurança Social dos pobres, topo de gama das conquistas de Abril, enfrenta a ameaça de recolher novamente às fronteiras medievais da Caridade da Igreja.
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in Avante 2007.12.13
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Quadro - Candido Portinari - Crianças Mortas (1944)

1 comentário:

A OUTRA disse...

Fé em quem?
Esperança do quê?
Caridade onde está?

Dinheiro e mais dinheiro para os que já nem sabem o que têm, os outros nada.
E agora vai ser pior, quando os médicos começarem a ganhar segundo as intervenções feitas.
Ninguém abre os olhos!...
Bj
Maria