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* Francisco Moita Flores,
Docente Universitário
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Os ‘seguranças’, verdadeiros bandos de rufias musculados, [...] são meros peões de brega na disputa pela partilha dos territórios.
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O surto de violência que está a ocorrer, desde o Verão, pelo controlo dos negócios clandestinos das noites de Lisboa e do Porto, não significa, do ponto vista estatístico e da actividade criminosa em geral, o disparo da criminalidade violenta e nem representa, no que respeita à comparação com outros países, uma alteração significativa daquilo que são os factores objectivos de diferenciação dos níveis de insegurança.
Mas esta tranquilidade estatística que logo contamina o discurso político para que os acontecimentos sejam desvalorizados, elegendo-se uma narrativa que desdramatiza as situações que estão a ocorrer, é perigosa e falsa.
Na verdade, o conjunto de crimes de homicídio que vemos noticiados é revelador de um nível acrescentado de profissionalismo do banditismo como há muito não ocorria em Portugal. São acções preparadas, bem executadas, com níveis de sofisticação elevados, como foi o caso do atentado à bomba contra o dono do bar Avião. Porém, mais grave do que isto é que o conjunto de homicídios que estão a ocorrer nas noites de Lisboa e do Porto é um acto criminoso que se esgota na sua própria violência. É a face mais alarmante de verdadeiras organizações criminosas que controlam o tráfico de droga, o negócio sexual, o negócio de armas ilegais, que se dedicam à extorsão, à chantagem, à violência física contra quem não se submete aos ditames dos barões do crime. Os ‘seguranças’, verdadeiros bandos de rufias musculados e capazes da maior brutalidade, são meros peões de brega nesta disputa pela partilha dos territórios de domínio, sendo já perceptível que alguns dos homicídios são indissociáveis dessa procura de controlo de mercados do crime.
Não espanta, no meio de tudo isto, que agora emerge com tanta evidência que as polícias andam às aranhas. Quando se fez a partilha da investigação criminal há sete anos, libertando a PJ dos crimes de menor gravidade penal, a reforma ficou incompleta. Recordo-me daquilo que então escrevi e de como foi entendido por alguns como profecias da desgraça. Mas o resultado está à vista. A PSP e a GNR ficaram com a turbulência criminal de menor monta. Porém, quem legislou não percebeu que os grandes sistemas de informação especulativa (bufos, marginais, prostitutas, porteiros nocturnos), que são a trave mestra da investigação criminal de maior envergadura, ficavam na mão destas polícias e que a PJ iria perder o capital mais rico e mais poderoso para agilizar a descoberta dos crimes violentos da sua competência. Seria curioso comparar as folhas de serviço de uma brigada de homicídios, de assaltos à mão armada ou de furto qualificado da década de noventa com as actuais. De certeza que durante a noite, envolvidos na mixórdia dos lupanares, recolhendo informação, não andará um décimo dos inspectores da PJ de então. E pese o facto de a lei ter sete, continua sem existir uma mediação transversal de informação. Assim não admira que o futuro seja preocupante. Muito preocupante.
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in Correio da Manhã 2007.12.09
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O surto de violência que está a ocorrer, desde o Verão, pelo controlo dos negócios clandestinos das noites de Lisboa e do Porto, não significa, do ponto vista estatístico e da actividade criminosa em geral, o disparo da criminalidade violenta e nem representa, no que respeita à comparação com outros países, uma alteração significativa daquilo que são os factores objectivos de diferenciação dos níveis de insegurança.
Mas esta tranquilidade estatística que logo contamina o discurso político para que os acontecimentos sejam desvalorizados, elegendo-se uma narrativa que desdramatiza as situações que estão a ocorrer, é perigosa e falsa.
Na verdade, o conjunto de crimes de homicídio que vemos noticiados é revelador de um nível acrescentado de profissionalismo do banditismo como há muito não ocorria em Portugal. São acções preparadas, bem executadas, com níveis de sofisticação elevados, como foi o caso do atentado à bomba contra o dono do bar Avião. Porém, mais grave do que isto é que o conjunto de homicídios que estão a ocorrer nas noites de Lisboa e do Porto é um acto criminoso que se esgota na sua própria violência. É a face mais alarmante de verdadeiras organizações criminosas que controlam o tráfico de droga, o negócio sexual, o negócio de armas ilegais, que se dedicam à extorsão, à chantagem, à violência física contra quem não se submete aos ditames dos barões do crime. Os ‘seguranças’, verdadeiros bandos de rufias musculados e capazes da maior brutalidade, são meros peões de brega nesta disputa pela partilha dos territórios de domínio, sendo já perceptível que alguns dos homicídios são indissociáveis dessa procura de controlo de mercados do crime.
Não espanta, no meio de tudo isto, que agora emerge com tanta evidência que as polícias andam às aranhas. Quando se fez a partilha da investigação criminal há sete anos, libertando a PJ dos crimes de menor gravidade penal, a reforma ficou incompleta. Recordo-me daquilo que então escrevi e de como foi entendido por alguns como profecias da desgraça. Mas o resultado está à vista. A PSP e a GNR ficaram com a turbulência criminal de menor monta. Porém, quem legislou não percebeu que os grandes sistemas de informação especulativa (bufos, marginais, prostitutas, porteiros nocturnos), que são a trave mestra da investigação criminal de maior envergadura, ficavam na mão destas polícias e que a PJ iria perder o capital mais rico e mais poderoso para agilizar a descoberta dos crimes violentos da sua competência. Seria curioso comparar as folhas de serviço de uma brigada de homicídios, de assaltos à mão armada ou de furto qualificado da década de noventa com as actuais. De certeza que durante a noite, envolvidos na mixórdia dos lupanares, recolhendo informação, não andará um décimo dos inspectores da PJ de então. E pese o facto de a lei ter sete, continua sem existir uma mediação transversal de informação. Assim não admira que o futuro seja preocupante. Muito preocupante.
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in Correio da Manhã 2007.12.09
1 comentário:
Olá
Será que não podemos vislumbrar uma luzinha ao fundo do túnel!
Sinto-me triste com tantas incertezas!
Será que não há umas estrelinhas que nos possam dar uma ajuda!
Eu acredito que sim!
Beijos estrelados
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