A Internacional

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sábado, novembro 07, 2009

Sessenta anos da Revolução Chinesa: Lições para a classe trabalhadora


Por John Chan
7 de outubro de 2009
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Publicado originalmente em inglês no WSWS no dia 1 de outubro de 2009
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No dia primeiro de outubro fez 60 anos que o Partido Comunista Chinês (PCC), liderado por Mao Zedong, tomou o poder e proclamou a República Popular da China.
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A agitação revolucionária na China fez parte de um levante mundial da classe trabalhadora e das massas oprimidas, após o fim da II Guerra Mundial. Como em outras partes da Ásia, América Latina e África, milhões de trabalhadores e camponeses estavam determinados a libertar-se das algemas do regime colonial, que na China, na década de 1930, assumiu a forma de uma brutal ocupação militar japonesa. Apesar da imensa escala da luta, no entanto, a revolução de 1949 não foi socialista ou comunista. Ela não trouxe a classe trabalhadora ao poder, mas sim, o exército camponês de Mao.
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Hoje, é óbvio que a China, apesar de suas pretensões "comunistas", está plenamente integrada à economia capitalista mundial assim como à sua plataforma de trabalho barato. De que outra forma se pode explicar as felicitações enviadas à Pequim por dois presidentes conservadores norte-americanos — Bush pai e Bush filho — no 60º aniversário da Revolução Chinesa, ou a decoração do Empire State em Nova York com luzes vermelhas e amarelas — as cores revolucionárias da China — para marcar o evento? Wall Street aprecia muito a contribuição do Estado policial chinês ao mobilizar milhões de trabalhadores para trabalhar para as corporações globais, para não mencionar suas enormes aquisições de títulos americanos.
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Estas celebrações não estão em desacordo com o maoísmo e a Revolução Chinesa de 1949, mas são o seu resultado lógico. O PCC foi formado em 1921, influenciado pela Revolução Russa de 1917 com base no marxismo. No entanto, foi rapidamente impactado pela ascensão do stalinismo na União Soviética. Sob condições em que o primeiro estado operário estava isolado, o grupo de Stalin, representando os interesses de um aparato burocrático conservador, usurpou o poder após a morte de Lenin, em 1924, com base na rejeição do internacionalismo socialista.
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Stalin atacou especificamente a "Teoria da Revolução Permanente" de Leon Trotsky, que considera que, em países de desenvolvimento capitalista atrasado como a Rússia e a China, apenas a classe trabalhadora seria capaz de cumprir as tarefas democráticas nacionais. Tendo tomado o poder como direção das massas oprimidas, o proletariado aplicaria medidas socialistas como parte de uma ampla luta pelo socialismo em nível internacional. Para Stalin, a "Revolução Permanente" de Trotsky, que tinha provado ser um guia de tal precisão teórica para os eventos de 1917, tornara-se uma ameaça intolerável para a posição privilegiada da burocracia, cujos interesses foram resumidos na teoria reacionária stalinista do "socialismo num só país".
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Na China, para continuar a sua própria aliança oportunista com o partido nacionalista Kuomintang (KMT), Stalin forçou o jovem PCC a juntar-se a esse partido burguês. Em um repúdio direto das lições da Revolução Russa, ele declarou que a revolução chinesa envolveria duas fases — primeiro, a realização das tarefas democráticas nacionais pela burguesia chinesa, depois, o socialismo, em um futuro distante. No decorrer da revolução de 1925-27, no entanto, a classe capitalista chinesa foi ainda mais mercenária do que a sua correspondente russa. Aterrorizado com o levante revolucionário, o KMT afogou o PCC e a classe trabalhadora em sangue — uma derrota que só fortaleceu a mão de ferro da burocracia em Moscou.
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Como resultado de 1927, surgiram duas tendências dentro do PCC. Uma virou-se para a Oposição de Esquerda, que tinha avisado sobre o desastre preparado por Stalin, e abraçou a "Revolução Permanente" de Trotsky. A outra, liderada por Mao, concluiu que o problema não era o stalinismo, mas a incapacidade orgânica da classe trabalhadora para dirigir a revolução. O PCC expulsou os trotskistas e, sob a liderança de Mao, abandonou a classe trabalhadora urbana e voltou-se para os camponeses e as guerras de guerrilha.
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Em um artigo notavelmente revelador de 1932, Trotsky assinalou que o "Exército Vermelho" de Mao foi um movimento de pequenos proprietários hostis à classe operária. Seu antagonismo estava enraizado na diferente perspectiva de classe existente entre proletariado e campesinato — o primeiro representa uma produção socializada em larga escala, o segundo, uma seção da "classe média" decadente, oposta à industria urbana e à cultura urbana. Ao entrar nas cidades, Trotsky advertiu, o exército camponês reprimiria qualquer movimento independente dos trabalhadores, com seções do comando, ao longo do tempo, tornando-se parte da burguesia.
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Esta análise foi confirmada em 1949. Assim como fizeram os partidos stalinistas internacionalmente depois da Segunda Guerra Mundial, o PCC inicialmente tentou formar um governo de coalizão com o KMT burguês, mas não conseguiu. Incentivado pelo aparecimento da Guerra Fria contra a União Soviética, o líder do KMT, Chiang Kai-shek lançou uma guerra civil desesperada contra o PCC. O resultado não foi determinado pela superestimada capacidade militar de Mao, mas pela profunda debilidade econômica e política do regime do KMT, que quase implodiu. Como Trotsky havia advertido, o novo governo “comunista” de Mao suprimiu toda e qualquer iniciativa independente da classe operária e protegeu a propriedade privada. Nada como os conselhos de trabalhadores eleitos democraticamente ou sovietes da revolução russa foi estabelecido. O medo permanente do regime da classe trabalhadora foi expresso na prisão de trotskistas chineses em 1952.
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A perspectiva de orientação do novo regime não foi o socialismo, mas a "nova fase democrática" de Mao, que envolveu uma coligação com partidos capitalistas e figuras que não haviam fugido com Chiang para Taiwan. Suas reformas limitadas — a nacionalização da terra e a reforma agrária, medidas básicas de bem-estar e a proibição de males sociais como a prostituição e abuso de ópio — foram medidas burguesas. Do mesmo modo, a onda de nacionalizações em meio à crise econômica gerada pela Guerra da Coréia não foi "socialista", mas, equiparou-se às políticas de regulação econômica nacional em países como a Índia. O PCC simplesmente realizou de forma mais consistente o programa implementado por líderes burgueses do movimento anti-colonial como Nehru, da Índia.
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Nítidas divisões emergiram dentro do regime maoísta. O PCC foi obrigado a confiar em ex-capitalistas e profissionais urbanos para manter a indústria, visto que a maioria de seus quadros camponeses não sabia nada da produção moderna. Esse fato continha as sementes do futuro conflito entre o radicalismo de Mao — que refletia o antagonismo dos camponeses em relação à indústria e cultura urbanas e, sobretudo, à classe trabalhadora — e os chamados seguidores da via capitalista, que concluíram que a grande indústria e os mercado tinham que andar com a rédea solta. Ambas as facções permaneceram enraizadas no contexto nacionalista do "socialismo num só país" e foram organicamente hostis à alternativa socialista para superar o isolamento da China — voltar-se para a classe trabalhadora internacional sobre o programa da revolução socialista mundial.
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Os esquemas utópico de Mao para o socialismo rural, comunidades camponesas e indústrias familiares produziu um desastre após outro, culminando com a Grande Revolução Cultural Proletária, que lançou contra facções rivais em 1966. Quando os trabalhadores começaram a tomar os problemas em suas próprias mãos, uma burocracia aterrorizada rapidamente enterrou suas diferenças e colocou o exército para reprimir a classe trabalhadora. A partir de então, na medida em que a liderança do PCC expandiu enormemente um culto em torno de Mao para justificar suas medidas repressivas, o seu programa de radicalismo camponês foi enterrado. Depois que Mao morreu, em 1976, o regime prendeu o conhecido "Bando dos Quatro" e abandonou os slogans da Revolução Cultural.
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Enquanto os radicais de classe média dos anos 1960 e 1970 glorificaram a Revolução Cultural, os representantes mais conscientes do imperialismo americano reconheceram que o caráter de classe da "China Vermelha" e da União Soviética não foram os mesmos. Este último manteve-se um estado dos trabalhadores, ainda que degenerado. No auge da "Revolução Cultural", em Outubro de 1967, Richard Nixon escreveu na revista Foreign Affairs que sua presidência futura puxaria a "China de volta para a comunidade mundial, mas como uma grande e progressista nação, não como o epicentro da revolução mundial".
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Na mesma edição do Foreign Affairs, outro analista observou que o regime de Mao não era tão diferente de governos burgueses levados ao poder pelos movimentos anti-coloniais. A única diferença era "a eficácia superior do comunismo chinês em promover os objetivos historicamente associados ao modo de produção capitalista e da ordem social construída sobre ele (...) A originalidade do maoísmo reside nos métodos de mobilização de massas em nome do comunismo para a conquista dos objetivos inerentes a qualquer movimento nacional-revolucionário: a industrialização da China e a aquisição de meios militares (inclusive nucleares) adequados para a execução das políticas das grandes potências".
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Na sua essência, foi isso o que ocorreu nos últimos 30 anos. Nixon se encontrou com Mao, em 1972, estabelecendo as bases para uma aliança anti-soviética e abertura inicial da China ao capital estrangeiro. Em 1978, Deng Xiaoping acelerou os investimentos estrangeiros e o restabelecimento do mercado capitalista. Isso coincidiu com uma volta pelo capitalismo mundial na década de 1970 para a globalização da produção e a criação das plataformas de trabalho barato. A entrada de capital estrangeiro tornou-se uma inundação depois que o massacre da Praça Tiananmen, em 1989, demonstrou a vontade do regime em utilizar os métodos mais cruéis para reprimir a classe operária.
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Que resultados estão sendo comemorados hoje? As reformas limitadas da revolução de 1949 foram derrubadas, assim como o regime do PCC. A gananciosa burguesia chinesa que ele representa domina sobre um abismo aprofundado entre ricos e pobres. Mas, quando os burocratas do PCC deram as mãos aos representantes do capitalismo global para brindar a República Popular da China, eles estavam lançando um olhar nervoso sobre os ombros de uma classe trabalhadora chinesa que tem expandido enormemente e está intimamente integrada com os trabalhadores em todo o mundo.
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Acima de tudo, em meio à pior crise mundial do capitalismo desde a década de 1930, eles temem que a classe operária comece a tirar lições políticas da revolução de 1949, rejeitar o beco sem saída do stalinismo e do maoísmo e voltar-se para o caminho da revolução socialista mundial. Na China, isso significa construir a seção do Comitê Internacional da Quarta Internacional, o movimento trotskista mundial, para fortalecer a direção revolucionária.
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[traduzido por movimentonn.org]
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