A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, junho 04, 2008

Ainda Fátima e o Turismo...


Os bispos católicos e os Serviços do Santuário de Fátima debatem actualmente entre si uma curiosa questão formal: como distinguir, por entre as multidões de peregrinos, aqueles que fazem «turismo religioso» - isto é, que vêm a Fátima por impulsos da Fé católica – dos outros (a maioria) que se limitam a aproveitar a boleia dos preços baixos cobrados pelas empresas de viagens por altura das celebrações e raramente permanecem no santuário ou passam por ele e logo se dispersam por outras regiões do país? A questão é importante porque envolve perdas religiosas e materiais.
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Por exemplo: face ao número das reservas registadas nas empresas de viagens com destino às celebrações de Fátima em 2008, aguardava-se que na grande missa da Cova da Iria estivessem, no mínimo, meio milhão de crentes. A previsão não se confirmou e as contas finais apontam para a presença na cerimónia litúrgica de apenas 200 mil peregrinos. Pode parecer que seria muita gente junta mas a leitura das estimativas descreve, em relação aos outros anos, uma curva decrescente cuja a análise deve respeitar os critérios da própria hierarquia: a importância de um santuário mede-se pela sua capacidade de atracção e fixação das multidões. Certo é, no entanto, que o magnetismo dos lugares santos católicos tem vindo a decair. É o que acontece em relação a Fátima. O prejuízo, neste caso, é de natureza doutrinal, resulta da perda de credibilidade dos mistérios da igreja junto das populações.
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A derrocada dos mitos
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Por outro lado, impõe-se prestar atenção aos efeitos materiais deste declínio de audiências. Sabe-se, em termos práticos, que sem compradores não há investimento que resista. E é certo e seguro que as instituições sociais católicas têm robustos e arrojados planos para novos investimentos lucrativos. No turismo, nas energias renováveis, no imobiliário, na saúde, nas reservas de caça, nas redes de museus, nos fundos de pensões dos países nórdicos, etc., etc. Ainda há poucas semanas, o presidente da União das Misericórdias, Manuel de Lemos ( a União das Misericórdias «vale» 600 milhões de euros por ano dos quais 30% são subsídios do Estado), dizia com grande afastamento das realidades: «Este será o século do lazer e temos um vasto património que podemos rentabilizar, vocacionando-o para o turismo. Falo, por exemplo, de palacetes e hotéis que poderão ser reconvertidos.» Depois, este quadro superior da União das Santas Casas aproveitou a oportunidade para referir os Fundos de Pensões como um interessante «nicho de mercado», uma área de negócio pouco explorada mas com enorme potencial. Trata-se sobretudo – disse - de dar resposta aproveitar a graves problemas da Segurança Social dos países desenvolvidos do Norte da Europa no que respeita aos seus pensionistas e idosos. O problema gira à volta da gestão racional dos encargos com as pensões e reformas. Manter os pensionistas nos países ricos é financeiramente incomportável. Mas é sempre possível «exportá-los» para os países do Sul, de climas amenos, mantendo uma boa margem de lucro. Para Portugal, esta será uma oportunidade a não perder. Observou argutamente Manuel de Lemos: «As Misericórdias no Algarve, Minho e Sudoeste Alentejano, podem aproveitar as potencialidades deste mercado ... temos mantido a este respeito um diálogo muito profícuo com o ministro Vieira da Silva» E para atenuar os aspectos mais crus do negócio, Manuel de Lemos definiu-o candidamente como «apoios domiciliários».
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O Turismo parece constituir para a igreja católica uma verdadeira paixão. É o caso dos Salesianos, também eles atraídos pelo imobiliário e pelo grande turismo. Segundo se conta, um latifundiário mais ou menos anónimo terá deixado aos fiéis seguidores de S. Francisco de Sales (que fazem voto de pobreza) uma enorme parcela de terrenos em Vendas Novas, logo a seguir ao 25 de Abril. Os Salesianos pensaram, então, rentabilizar o terreno construindo nele moradias para venda e aluguer. Elaboraram o plano mas constataram que não tinha mercado na região, já com centenas de andares por alugar. O projecto ficou anos em suspenso até que surgiu a decisão do governo de construir o novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, situado a 20 minutos, por estrada, da propriedade dos padres. O projecto da urbanização, já dotado com 5 milhões de euros, irá, portanto, em frente e reforçará o peso da Ordem na construção civil e no turismo onde iniciativas salesianas do mesmo tipo progridem, também, em Évora, Manique do Intendente e noutros terrenos seus da área da Ota. Aliás, os freires de S. Francisco, estão longe de ficarem isolados nesta linha de negócios. Outras instituições católicas dedicam-se à construção e exploração comercial da hotelaria, transacção de terrenos e estabelecimento de infra-estruturas, como é o caso do funicular de Braga, do teleférico da Penha, das urbanizações de Moscavide ou dos hotéis de luxo no Santuário do Bom Jesus, como os do Elevador, Parque, Templo e Hotel do Lago ou a Albergaria do Sameiro.
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Embora os tempos sejam de fomes, as IPSS católicas prometem investir, igualmente, em coutadas no Alentejo e na construção e comercialização de centrais fotovoltaicas. Para não se referirem, já, os fabulosos lucros garantidos pelas lotarias e jogos das Santas Casas.
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Por entre todo este nevoeiro denso, os bispos rezam pelos miseráveis do Darfur, apelam à Europa que partilhe com outros as suas riquezas e substituem-se ao Estado (que se mantém impávido e sereno perante os dramas da miséria em Portugal) com as boas intenções canónicas da Caridade cristã.
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Nº 1800 - Avante
29.Maio.2008
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