Coisas do circo
* Emídio Rangel, jornalistaAborto ou traição?
“É inaceitável que Alegre (...) se porte como cáustico adversário do seu partido”.Num livro de memórias esparsas, Manuel Alegre lembra Piteira Santos (meu saudoso professor) e fala do muito que aprendeu com ele. De Argel a Lisboa. Alegre diz num dos textos de evocação que Piteira Santos repetia com frequência uma frase de Romain Rolands: "Um pensamento que não age ou é um aborto, ou uma traição." E sublinha que nunca esquecerá Piteira, que foi para ele um mestre e um amigo, que viveu e combateu sempre "pensando e agindo". Socorro-me das palavras e convicções desse texto para exprimir o meu espanto com o comportamento político de Alegre. Não faz sentido. É confuso e titubeante. Mas causa danos irreparáveis no PS.
Eu esperava que Alegre, depois de tanto desagrado em relação ao PS e ao seu Governo, tivesse a frontalidade e a coragem de PENSAR E AGIR. É que se pensa o que diz e não age, "ou é um aborto, ou uma traição". Poucos entendem o comportamento de Alegre e a maioria acha até, por uma questão de "higiene política e moral", que a única saída é o pedido de demissão do PS e a formação de um novo partido, ou então a "reforma" no âmbito de uma cultura de "reserva da Nação", tal como fez Soares, que continua a agir e a ser "uma força tranquila" ao serviço do País. Alegre não devia pisar terrenos movediços, por mais "alegres" que sejam as vozes dos que o empurram para combates contra os seus próprios camaradas e para uma estratégia de auto- -isolamento no seio do seu partido de sempre, com atitudes de rebeldia que ferem todos os protocolos, retalham todas as tramas da solidariedade porventura existentes e o levam à prática de actos que não estão em conformidade com a conduta e trabalho de qualquer deputado.
É ética e moralmente inaceitável que Alegre se porte como o mais cáustico adversário do seu partido e daqueles que legitimamente o dirigem, por vontade maioritária do povo e dos militantes. Releva da mais completa irresponsabilidade que Alegre não participe em nenhuma iniciativa política do PS, nem sequer compareça às reuniões do grupo parlamentar, e se abstenha de aí, o lugar próprio, criticar o partido e o Governo, expor as suas ideias, propor soluções alternativas de política global ou sectorial.
Alegre já não faz críticas à direita, antes ajuda como pode na actual conjuntura, por acção ou omissão, e fala da necessidade do diálogo das esquerdas mas deixa de lado as maiores forças da esquerda em Portugal – o PS e o PCP. Enfim, deplorável. Ou é aborto, ou traição...
CM 07 Junho 2008 - 09h00 .
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um país fica sempre além do comentário.Se o cronista nos falasse das relações do poder político com o poder económico e financeiro que o bloco central dos interesses (PS-CDS)protegem,avalisam e auferem, talvez Rangel fosse credível. Mas o tabu das corrupções à custa do sacrifício das populações nunca impediram os almoços do Gambrinus ou do Tavares Rico. Daí que o comentador me não seja credível.
Quem pensava ainda não ter visto tudo, pode assistir agora ao espectáculo de Emídio Rangel enquanto advogado (ou comissário?) ideológico do PS, passados que estão os seus tempos áureos como advogado (ou comissário?) do consumismo mais galopante e devorador.
Não terá passado pela cabeça do comentador Sr Rangel, que o que Alegre está a fazer é um exemplar serviço aos portugueses, dando voz ao que centenas de milhar de portugueses pensam e não têm tribuna para o poderem dizer. Já agora porque é que o Sr. Rangel não adere ao PS, já que tão sistemáticamente assume a defesa dessa organização que exerce o poder sobre todos nós, por vezes discricionariamente
Plenamente de acordo! Como diz, sabiamente, o nosso povo: "quem não gosta não come". Quem deve a quem? Alegre deve tudo ao PS; Ps pouco deve ao poeta. Manuel Alegre anda a fazer uma figura de sendeiro! A pesar de tudo Zita Seabra, dentro da sua desventura, foi mais digna!
Manuel Alegre está a dar eco às preocupações dos que estão a sofrer com as políticas de Sócrates. Este país está miseravelmente miserável. Os temas centrais do governo é : défice, impostos, défice, impostos, défice, imposto, não acha que já não basta sr. Emídio Rangel? Onde esta o investimento privado seja ele nacional ou internacional? Com a carga fiscal portuguesa é difícil. Porto
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