Não fosse por outros objectivos – que os próximos tempos se encarregarão de esclarecer – e algumas das muitas linhas de prosa que têm saído na imprensa sobre o deputado do PS Manuel Alegre (MA), um deles ter-nos-ia chamado a atenção, ao menos por um pormenor: mas porque é que alguém que tanto diz sofrer com as desigualdades, com as injustiças ou com a corrupção no nosso País, não utiliza a sua condição de deputado, para lá, na Assembleia da República, intervir e votar de acordo com as enormes dores de alma que tanto o atormentam? . Para dissipar qualquer dúvida, o registo no sítio oficial do PS sobre a actividade do seu deputado é claro. Desde Novembro de 2007, apenas se lhe ouviu uma intervenção no plenário, sendo que ao longo destes três anos a sua participação é conhecida em apenas quatro iniciativas legislativas e outros tantos requerimentos, o que, convenhamos, é poucochinho! MA votou ainda favoravelmente muitas das propostas da actual maioria PS, nomeadamente os três últimos Orçamentos de Estado. Orçamentos que executam e orientam a política de direita que fez baixar os salários dos trabalhadores da administração pública, privatizou empresas, cortou no investimento público, retirou meios ao serviço nacional de saúde e à escola pública e ampliou os benefícios fiscais, os negócios e o financiamento directo do grande capital e que, por isso mesmo, estão também na origem das injustiças, do desemprego, da pobreza que tanto parecem preocupar MA. .
Não faltaram também oportunidades ao deputado MA para que, com o seu voto, tivesse dado força a centenas de propostas apresentadas pelo PCP na AR, que, a terem sido aprovadas, teriam evitado a dramática situação social em que o País se encontra. .
Sublinhe-se, entretanto, que não é seguramente de agora que o PS se apresenta como fiel intérprete da política de direita, como aliás demonstra a sua história ao longo de mais de trinta anos, como também os gritos de alma de MA não são propriamente uma originalidade dos últimos meses. Na verdade, sempre que se agudizam as contradições no seio do PS e se torna amplamente visível o isolamento do Governo e da sua política, há sempre uns «paladinos» que fazem coro em rebates de consciência, sem que tal signifique uma verdadeira ruptura com estas políticas. .
Ora, é precisamente aí, na ruptura com a política de direita, que cada vez mais se define a fronteira entre aqueles – e são cada vez mais – que realmente aspiram a uma nova política e os que, apresentando-se intermitentemente ao lado do governo, dirigem a sua intervenção sobretudo para soluções que, no essencial, abrem espaço para a perpetuação do actual rumo do país. . . Nº 1802 12.Junho.2008 . .
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