A Internacional

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quarta-feira, maio 28, 2008

A realidade de sangue nada tem a ver com as mentiras de Bush


icarabe - Instituto da Cultura Árabe





29/1/2008

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Oriente Médio
The Independent, em 16/01/2008

José Farhat comenta as atitudes de Bush*
Robert Fisk, 55 anos, é jornalista britânico, veterano correspondente internacional do jornal londrino The Independent, cobriu a guerra do Afeganistão e outras guerras levadas a cabo no Oriente Médio pelos norte-americanos e seus capachos. Seu posicionamento crítico com relação aos estadunidenses lhe valeu até mesmo um ameaça de linchamento, no Afeganistão, levada a cabo por etnias afegãs. No entanto, Fisk tem por admiradores e incentivadores todos aqueles que concordam com ele ou são vítimas das atrocidades dos vorazes consumidores de petróleo. O lingüista norte-americano Noam Chomsky, em entrevista à Folha de São Paulo, em setembro de 2007, testemunhou: "Nenhum observador estrangeiro conhece melhor a região do que o veterano correspondente britânico Robert Fisk".

Neste artigo, ele não decepcionou, muito pelo contrário, provou ser digno do elogio de Chomsky.

George W. Bush não aprendeu com seu pai George H. Bush (quem sabe por razões familiares que talvez Freud explicasse), mas poderia mirar-se nos exemplos de alguns de seus antecessores. Se ele verdadeiramente quisesse a paz entre palestinos e israelenses bastaria imitar Dwight D. Eisenhower o qual, quando da invasão do Egito por Israel (e seus comparsas de então, França e Grã Bretanha, interessadas em reaver o Canal de Suez nacionalizado quatro meses antes), em outubro de 1956, cancelou todo tipo de ajuda, inclusive militar, a Israel e garantiu o apoio de seu governo a qualquer resolução das Nações Unidas impondo sanções ao Estado judeu. Israel não titubeou, capitulou e se retirou dos territórios que ocupara. Esta é uma lição histórica.

Outro antecessor do atual presidente, o presidente Jimmy Carter, no verão de 1980 enviou um diplomata a Israel (não era vice-presidente e nem tampouco secretário de Estado) com um recado ao primeiro-ministro israelense Menachem Begin (aquele do massacre de Deir Yassin) ameaçando cortar toda ajuda estadunidense a Israel se os ataques aéreos ao Líbano persistissem. Begin entendeu o recado de Carter e, sem demora, na frente mesmo do enviado americano, passou a mão no telefone e ordenou a seu Chefe da Força Aérea para parar os ataques. Esta é outra lição histórica.

Se George W. Bush fosse sincero, e não o mentiroso que é, como muito bem o qualifica Fisk, e quisesse resolver os problemas do Oriente Médio, era só fazer como Eisenhower e Carter. Alguém pode pensar que é fácil dizer, não é fácil fazer. A estes, há uma resposta: Eisenhower fez o que fez às vésperas das eleições que o reconduziriam ao segundo mandato e, apesar do lobby judeu, venceu as eleições. Carter não foi reeleito, mas isto nada teve a ver com o lobby judeu que à época das eleições o estava apoiando.

Em 27 de novembro de 2007, Bush reuniu mais de 20 países em Annapolis para, nas palavras do comunicado do Departamento de Estado, “sinalizar o amplo apoio aos corajosos esforços dos líderes palestinos e israelenses e se tornar um marco do lançamento das negociações que levarão ao estabelecimento de um Estado palestino e a realização da paz israelo-palestina”. Esta foi a maior e mais concorrida reunião para tratar deste assunto desde a última realizada no Egito em 1996.


A solução para o problema palestino, todo mundo sabe, só os governantes estadunidenses atuais fingem não saber e já passaram por cima das propostas desse mesmo monarca saudita, que foi visitado por Bush, repetida diversas vezes e, na última, em nome da Liga dos Estados Árabes, oferecendo a Israel relações normais em troca de recuo às fronteiras de 1967, a aceitação de Jerusalém como capital também do Estado palestino e uma solução justa para o problema dos refugiados.

Entrevistado à época, declarei à CBN que a reunião resultaria em absolutamente nada e, de fato, esta viagem de Bush a países da região é mais uma prova de que nada acontecerá de objetivo, a não ser garantir mais petróleo e vender mais armas.

Em Annapolis, não houve negociações, só blablabás e rega-bofes. Como dois meses depois nada mais aconteceu, salvo mais palestinos mortos e agressões não só a estes, mas também a países árabes e muçulmanos em geral, Bush foi fazer mais uma tentativa de aparecer que só resultará naquilo que Fisk afirma em seu artigo: mentiras!


* José Farhat é cientista político



por Robert Fisk*

Enquanto uma bomba explode em Beirute e Israel mata 19 em ataques a Ghaza, Bush leva sua missão de paz à Arábia Saudita (e fecha negócio de 20 bilhões de dólares em armas para esse regime repressor).

Entre lençóis de seda - num quarto de paredes também revestidas de seda -, e no próprio palácio do Rei Abdullah da Arábia Saudita, George Bush acordou hoje cedo num Oriente Médio que nada tem a ver com as políticas de seu governo nem com o que ele repete incansavelmente aos reis e emires e oligarquias do Golfo: que o inimigo não é Israel, mas o Irã.

Ontem, Bush sentou-se como se estivesse em casa ao lado de um rei caricatamente amistoso, metido num paletó azul que combinaria, no máximo, com seu rancho no Texas; até recebeu uma balançante medalha de "Ordem do Mérito" - parecida com o colar do Lord Chancellor inglês -, embora não se saiba que mérito teria valido a Bush aquele presente de
rei. Talvez, o mérito hipócrita de fornecer bilhões em armas, para serem usadas contra inimigos imaginários do regime saudita.

Tudo fantasia e mentiras, é claro, como as palavras que os árabes ouviram dos americanos durante os últimos sete dias, desde que o presidente em final de mandato começou sua rodada turística pelo Oriente Médio.

Mas parecia 'de verdade', a quem visse aquela figura ridícula e sem sentido, de braços dados com o rei, em passos que, presumo, deveriam ser alguma espécie de dança, brandindo uma enorme e fulgurante espada saudita, espécie de Saladino fora de hora, que
deixaria embasbacado o líder curdo que destruiu os cruzados, no local ao qual hoje Bush refere-se como "a disputada margem oriental".

É isto um "lame duck"? É esta a imagem que querem mostrar ao mundo os presidentes norte-americanos em final de mandato? Esta pergunta deve estar em todas as cabeças, no Oriente Médio, depois de assistir àquela cena espantosa. Desde a revolução iraniana de 1979, o Oriente Médio está sendo devastado por uma Guerra Fria muçulmana - mas... será este o modo pelo qual Bush supõe que se deva lutar pela alma do Islã?

Na mesma noite, o mundo de Bush voava pelos ares em Beirute, quando um enorme carro-bomba explodiu perto de uma caminhonete que conduzia funcionários da embaixada norte-americana, matando quatro libaneses e ferindo gravemente, pelo que se sabe, um motorista da embaixada. E enquanto Bush descansava na casa de campo do rei saudita, em Al Janadriyah, o exército de Israel matou 19 palestinos na Faixa de Gaza, a maioria dos quais membros do Hamas, um dos quais filho de Mahmoud Zahar, um dos líderes do movimento. Zahar falou, para dizer que Israel não teria atacado - no dia em que um israelense foi morto por um foguete palestino - se não tivesse sido encorajado a agir por George Bush.

A diferença entre a realidade e os delírios do governo dos Estados Unidos não poderia ser mais selvagem e mais claramente ilustrada. Depois de prometer aos palestinos "um Estado soberano e contíguo" para antes do final do ano, e pregando "segurança" para Israel - embora não tenha falado, como os árabes observaram, de segurança "para os palestinos" -
Bush chegou ao Golfo para aterrorizar os reis e oligarcas de impérios encharcados de petróleo, sobre o perigo de uma agressão iraniana. Como sempre, trouxe as sempre repetidas oferendas de armas norte-americanas para proteger regimes e estados conhecidos em todo o mundo por serem antidemocráticos, para que combatam contra a mais poderosa nação do “eixo do mal”.

Foi exemplo potente - embora perverso - da perambulação de Bush pelo Oriente Médio árabe a "volta à política do medo" que Washington regularmente requenta para os líderes do Golfo. Concordou em fornecer aos sauditas pelo menos 41 milhões de libras em armas, valor que deve chegar a mais de 10 bilhões de libras em armas para os potentados do
Golfo, em negócios anunciados no ano passado - armas que se espera que os blindem contra supostas ambições territoriais do fanático Mahmoud Ahmadinejad. Como sempre, Washington prometeu aos israelenses preservar "o padrão qualitativo" do armamento mais moderno, na hipótese de que os sauditas - que nunca fizeram guerra senão contra Saddam Hussein depois que invadiu o Kuwait em 1990 - decidam embarcar num ataque suicida contra o único real aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Nada, evidentemente, foi exposto nestes termos aos árabes. Bush deixou-se fotografar beijando ostensivamente as bochechas do rei Abdullah e de mãos dadas com o tirano cujo Estado muçulmano recentemente "perdoou" uma mulher saudita acusada de adultério depois de ter sido estuprada sete vezes no deserto nos arredores de Riad. Os sauditas, desnecessário lembrar, sabem que o reinado de Bush está terminando, afundado no caos no Paquistão, em desastrosa guerrilha contra o ocidente no Afeganistão, enfrentando feroz resistência em Gaza, à beira da guerra civil no Líbano e tendo de sobreviver no inferno que criou no Iraque.

A bomba em Beirute, pouco antes das 5h da tarde, deve ter sido um duro golpe contra o discursante presidente que é amigo tão próximo do regime saudita que - embora seja saudita a maioria dos que perpetraram os crimes contra a humanidade de 11/9/2001 - permitiu que os príncipes sauditas que viviam nos Estados Unidos voltassem imediatamente para casa depois dos ataques. Duas visitas do rei Abdullah ao rancho de Bush no Texas bastaram, aparentemente, para custear uma noite de hospedagem no palácio-rancho do rei saudita, cercado de jardins luxuriantes e colinas gramadas.

Com explosão que foi ouvida em quase toda a capital do Líbano, a bomba destruiu prédios de uma rua estreita na área leste da cidade pela qual o veículo passava, exatamente quando o embaixador dos EUA - por outro percurso na cidade - dirigia-se a uma recepção num hotel central em Beirute, antes de partir para Washington. Porta-voz do Departamento de Estado, contudo, garantiu que nenhum cidadão norte-americano fora ferido. O carro que foi atingido, da embaixada dos Estados Unidos, entrara por uma viela próxima da ponte Karantina, na direção do norte de Beirute, junto à margem do único rio que há na cidade, quando a bomba explodiu. Esta coincidência levou os militares libaneses a perguntar-se se os atacantes teriam recebido informação sobre o trajeto dos norte-americanos.

Houve rumores sobre um 'falso' comboio para confundir possíveis assaltantes e afastá-los da rota que o embaixador Jeffrey Feltman percorreria até a recepção, num hotel do centro da cidade. Uma fábrica de tapetes foi destruída pela explosão que arrancou telhados e
rebentou janelas num raio de mais de meia milha.

Para os líderes árabes, a mensagem de Bush aos líderes do Golfo nada traz de novidade. Nos anos 80, quando Reagan apoiou Saddam Hussein na invasão do Irã, Washington consumiu horas em advertências aos líderes do Golfo sobre o perigo que o Irã representaria. Depois que Saddam invadiu o Kuwait, o discurso dos Estados Unidos mudou: o maior perigo, então, passou a ser o Iraque. Mas tão logo o emirado foi libertado, os milionários do petróleo, outra vez, foram informados de que, outra vez, o inimigo era o Irã.

Os árabes já não se deixam enganar por esta fábula de "o bem contra o mal", tanto quanto tampouco acreditam nas promessas de Bush de que ajudará a criar um Estado palestino até o final do ano, promessas feitas apenas um dia antes de Israel admitir publicamente que planeja construir mais prédios para alocar colonos em terras palestinas, além das colônias ilegais já existentes em território palestino.

Para entender a natureza deste extraordinário relacionamento com os monarcas do Golfo, é preciso lembrar que desde que Bush-pai prometeu criar "um oásis de paz, sem armas" no Golfo, Washington - além da Inglaterra, França e Rússia - jamais parou de fazer chover
armas na região.

Ao longo da última década, os árabes do Golfo trocaram bilhões de petro-dólares por armamento norte-americano. As estatísticas são claras. Só em 1998 e 1999, os militares árabes do Golfo gastaram 40 bilhões de libras. Entre 1997 e 2005, os sheikhs dos Emirados Árabes Unidos - que receberam Bush antes de ele partir para Riad - assinaram contratos de compras de armas equivalentes a 9 bilhões de libras com fornecedores ocidentais. Entre 1991 e 1993 - quando "o inimigo" era o Iraque - a Missão de Treinamento Militar do Estados Unidos administrava negócios de mais de 14 bilhões de libras relativos a armas sauditas e 12 bilhões de compras de novas armas norte-americanas. Nesta época, os sauditas já possuíam 72 aviões-bombardeiros F-15 norte-americanos e 114 Tornados ingleses.

Pouca coisa mudou nos últimos 17 anos. Dia 17/5/1991, por exemplo, Bush-pai disse que então havia "razões reais para sermos otimistas" sobre a paz no Oriente Médio. "Continuaremos a trabalhar no processo [de paz]", disse então, "Não desistiremos."

James Baker, então Secretário de Estado, declarou, dia 23/5/1991, que continuar a construir prédios nas colônias israelenses, em território palestino, "ameaça gravemente uma futura paz no Oriente Médio", exatamente o que disse, semana passada, a atual Secretária de
Estado. Em 1991, era Dick Cheney quem garantia, em nome dos EUA, a "segurança" de Israel.

O Ocidente tem memória curta. Os árabes, não. Os árabes vivem na área de propriedade privada que conhecemos como Oriente Médio e não são idiotas. Eles entendem perfeitamente o que Bush está fazendo.

Depois de muito pregar "a democracia" na região - pregação que resultou em vitórias eleitorais democráticas dos xiitas no Iraque, do Hamas em Gaza e importante ganho de poder político para a irmandade muçulmana no Egito - até Washington já percebeu que alguma coisa não deu muito certo no modelo de prioridades de Bush.

Em vez de insistir em algum "Novo Oriente Médio", Bush, refestelado nos lençóis de seda do palácio do rei saudita, está falando, hoje, sobre todos voltarem ao "Velho Oriente Médio", ao tempo das polícias secretas, das câmaras de tortura - nas quais os prisioneiros podem ser proveitosamente "convencidos" - e aos presidentes e monarcas ditatoriais e "moderados". Quem, dos déspotas do Golfo, teria alguma objeção contra isto?

*tradução de Caia Fittipalti

por Robert Fisk*
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