A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, maio 02, 2008

Como a mídia forma as ditaduras da maioria



* Luiz Weis

.

Do colunista Clóvis Rossi, na Folha (de S.Paulo) de hoje (22): “Não vejo nenhum capanga armado obrigando o telespectador (ou leitor) a ficar sintonizado nos programas policialescos ou, agora, no noticiário sobre a menina morta. Há público — e grande - para isso. Alguns são apenas portadores da normal curiosidade humana. Outros têm gosto de sangue na alma, não nos iludamos.” Sim e não. Sim para o gosto de sangue de tantos. Não para a necessidade do capanga armado.

Por Luiz Weis, no Observatório da Imprensa


.

A tese — formalmente verdadeira — de que ninguém é obrigado a ver ou ler seja lá o que a mídia mostre ou escreva deixa de levar em conta os poderosos mecanismos de indução, na própria mídia e na sociedade, para que se veja ou leia o que a mídia e os formadores de opinião entre os espectadores e leitores consideram um imperativo social.

.

Desinteressar-se pelo noticiário sobre a menina morta acaba sendo visto nos ambientes em que o desinteressado freqüenta e que lhe abrem as portas da integração social — família, trabalho, escola, vizinhança, círculo de amizades — como uma esquisitice, ou, pior, um desvio de caráter: que raio de pessoa é essa que não liga a mínima para tamanha monstruosidade?

.

Quem fica na contramão do interesse avassalador daqueles com os quais convive ou se relaciona passa a imagem de que “não é bom da cabeça ou doente do pé”. E muitíssimo poucos não se importam de ser vistos assim.

.

É como se formam e operam as pressões conformistas, germes das ditaduras da maioria, engendradas e sancionadas pela mídia.

.

Da mesma forma que na economia e ao contrário do que parece, não é a procura que cria a oferta, mas o contrário. Batendo quase o tempo todo numa mesma tecla — e quando essa tecla, o assassínio de uma criança, presumivelmente pelo pai, ressoa como raras outras que se possam imaginar —, o espetáculo de som e fúria da mídia de massa fabrica um mercado de consumo do qual só não se participa ao preço da reprovação social.

.

E a participação vai além de se manter antenado no caso. É engrossar a multidão que desde a primeira a hora foi convencida pela aliança espúria da polícia e da imprensa a acreditar que as coisas se passaram exatamente como a primeira diz e a segunda repassa.

.

”Foram eles”, berra a imprensa de esgoto. E quem ousará observar aos parentes, colegas, amigos e vizinhos: “Peraí. Vamos esperar o que a Justiça vai dizer”?

.
in Vermelho -
23 DE ABRIL DE 2008 - 15h11
.
.

Sem comentários: