O veterano senador Arlen Specter anunciou na última terça-feira (28) que abandonou o Partido Republicano para integrar-se ao Partido Democrata, mudando instantâneamente o equilíbrio de poder em Washington e provocando um tremor na cúpula política do país.
Por David Brooks, para o La Jornada
A surpresa foi um presente para Barack Obama e para os democratas, e também um golpe para a cúpula republicana, que deixa mais debilitada ainda. Specter não só anunciou sua mudança de lado, mas conclamou seus ex-correligionários a realizar uma rebelião contra os ultraconservadores de seu, agora, ex-partido.
O anúncio provocou a convocação de uma reunião de emergência pelo líder da bancada republicana no Senado a seus colegas, enquanto que Obama, seu vice-presidente Joe Biden — amigo de Specter e que durante anos tentou convencê-lo a tomar essa decisão — e a liderança legislativa democrata o chamaram para dar as boas vindas com os "braços abertos".
A virada de casaca teria sido dramática em qualquer momento, pelo perfil destacado de Spectar, líder do Senado e um dos parlamentares mais antigos da casa. Mas nesta conjuntura é um fato com enormes implicações para ambos os partidos.
Com a mudança de Specter, os democratas no Senado poderão obter — dependendo de como resultar uma disputa eleitoral em Minnesotta (tudo indica que a seu favor) – o número mágico de 60 votos. Isso é o necessário para superar a curiosa manobra parlamentar do Senado, que emprega a minoria para criar obstáculos às iniciativas da casa.
As implicações são enormes para a agenda política de Obama, que até a data enfrentou esse obstáculo em uma gama de iniciativas prioritárias para o novo governo, que nesta quarta-feira cumpre 100 dias de mandato, entre elas as reformas da saúde, energia e educação.
"Me encontrava cada vez mais em desacordo com a filosofia republicana e cada vez mais alinhado com a filosofia democrata", afirmou Specter em uma coletiva de imprensa, na qual afirmou que, depois de 29 anos no Senado, não estava disposto a arriscar sua carreira em busca de uma reeleição como republicano, em um partido que havia ilhado e cercado cada vez mais os moderados como ele.
Specter é considerado independente em vários assuntos — foi um dos três republicanos que desafiou a liderança de seu partido para votar a favor do programa de estímulo econômico promovido por Obama —, e advertiu que não será um voto automático a tudo que desejar a liderança democrata.
Para o líder de seu partido no Senado, Mitch McConnnell, não foi apenas uma surpresa, mas "uma ameaça ao país", explicando que o assunto tem relação com fazer com que o partido majoritário tenha o poder de fazer o que quiser, sem restrições. Mas o argumento é um pouco oco, já que é justamente o que fez o Partido Republicano quando tinha o monopólio político no Congresso e na Casa Branca.
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