MP compara explicações de Vara às dadas por traficantes de droga
por CARLOS RODRIGUES LIMAHoje
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O Ministério Público de Aveiro considera que as explicações que Armando Vara deu sobre algumas escutas telefónicas do processo "Face Oculta" "fazem lembrar" outros casos "para explicar as encomendas de lençóis da branca e da escura como encomendas de materiais têxteis". Ou seja, justificações que ocorrem nas investigações de tráfico de droga. A opinião do procurador João Marques Vidal foi expressa na resposta deste ao recurso da defesa do banqueiro.
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O procurador utilizou tal expressão para tentar desmontar os argumentos apresentados pelos advogados Nuno Godinho de Matos e Tiago Bastos quanto a uma escuta telefónica, em que Manuel Godinho pergunta a Armando Vara se quer para agora "os 25 quilómetros" (a que Vara responde que "fica para mais tarde"). Segundo o MP, trata-se de 25 mil euros que o empresário de Ovar deu a Vara. Ora, a defesa deste argumenta que "o universo empresarial não é só composto pelas empresas do PSI-20, com gestores formados na Universidade Católica, de gravata Hermès, jaquetão azul-marinho (...) e, em alguns casos (de pior gosto, mas mais sentido de exibição), com gel na cabecinha e barba de três dias, meticulosamente aparada para exibir o contraste". Ou seja, Vara tem de falar com todo o tipo de pessoas.
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Para João Marques Vidal, o facto de Armando Vara ter recorrido "à utilização de uma linguagem cifrada" nos contactos com Manuel Godinho é porque "estava bem ciente dos problemas e intenções" do empresário de Ovar, o único arguido em prisão preventiva. Nos autos do processo, estão documentados oito encontros entre Manuel Godinho e Armando Vara. Sendo que ao empresário também foi apreendida uma lista, na qual Vara figurava como a pessoa que, nos anos de 2004 e 2006, recebeu as "prendas de maior importância". "O arguido [Armando Vara] era considerado por Manuel Godinho uma pessoa importante para o desenvolvimento dos seus negócios", concretizou o procurador. O magistrado, porém, está com uma dificuldade: demonstrar que Armando Vara recebeu 25 mil euros.
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É que o próprio juiz de instrução, António Gomes, não deu aque- le facto como indiciado. Por isso, João Marques Vidal sustenta na resposta ao recurso que Vara terá, pelo menos, aceitado a promessa de ser retribuído por eventuais favores que tenha feito a Manuel Godinho.
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João Marques Vidal também aproveita escutas telefónicas entre terceiros (como Manuel Godinho e Paulo Penedos) para associar Armando Vara aos negócios de Manuel Godinho. Numa conversa, Godinho disse a Penedos: "Vou telefonar para o nosso amigo, a ver se ele dá um empurrão aqui, um empurrão acolá, a ver se me arranja algum trabalho."
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Por outro lado, a investigação sustenta que um contrato entre uma empresa de Manuel Godinho e a EDP Imobiliária, na ordem dos 700 mil euros, só foi possível devido à intervenção de Armando Vara junto de Paiva Nunes, vogal daquela empresa do grupo EDP e também arguido no processo. Por isso, João Marques Vidal até admite que, além de tráfico de influências, o ex-administrador do Millennium bcp possa ser indiciado por corrupção.
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O recurso de Vara está a ser analisado por juízes desembargadores do Tribunal da Relação do Porto. Recorde-se que o banqueiro ficou, como medida de coacção, sujeito ao pagamento de uma caução de 25 mil euros e proibido de contactar com alguns dos arguidos do processo "Face Oculta".
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