Reconstrução na Madeira pode demorar dez anos e custar mil milhões
26.02.2010 - 07:40 Por Tolentino de Nóbrega
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A toda a velocidade, prosseguem os trabalhos de limpeza na baixa do Funchal, para acolher os turistas. Mas a reconstrução das zonas afectadas pela catástrofe de sábado, quer na capital madeirense quer no resto da Madeira, se for planeada e executada numa perspectiva de futuro, poderá demorar uma década, segundo especialistas ouvidos pelo PÚBLICO.
Quatro mil turistas desembarcam domingo no Funchal com "circuitos alternativos" à sua espera (Enric Vives-Rubio (arquivo))
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Os prejuízos provocados pela enxurrada rondam os mil milhões de euros e esse número, essencial para accionar os apoios da República e o fundo de solidariedade europeu, será apresentado hoje pelo Executivo liderado por Alberto João Jardim. Também o número de mortos, 42 já confirmados, poderá subir nos próximos dias aos 60, como admitiu ontem o presidente do governo regional.
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Na baixa da capital madeirense, a operação de limpeza avança a grande ritmo e ficará concluída este fim-de-semana, a tempo de receber os 4.500 turistas que desembarcam domingo em dois navios de cruzeiro. Serão os primeiros a pisar o porto do Funchal depois da tragédia e, a pensar neles, o governo criou "circuitos alternativos, em colaboração com os agentes turísticos", bem distantes das zonas mais problemáticas. É a face mais visível da operação de marketing lançada pelo Turismo madeirense para evitar mais cancelamentos de reservas e que passará também por acções de promoção da ilha no exterior. Nas zonas altas, longe do centro do Funchal, a realidade é bem diferente: há localidades que continuam isoladas e a ajuda tarda em chegar.
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"A Madeira não pode ser a mesma depois de 20 de Fevereiro. Tem que ser estrategicamente planeada para fazer face a este tipo de catástrofes", diz o engenheiro Danilo Matos, ex-director do gabinete de planeamento da Câmara do Funchal. "O perigo é continuar o estilo e o método de trabalho da Madeira "nova" e não querer parar para pensar."
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Tal como o geógrafo Raimundo Quintal, Danilo Matos aponta como exemplo a reconstrução de Angra de Heroísmo, após o sismo de 1980. A catástrofe potenciou a maior operação de regeneração urbana alguma vez empreendida em Portugal, com o financiamento do Estado confiado a um Gabinete de Apoio à Reconstrução, cuja acção preparou a candidatura à inclusão na lista dos locais Património da Humanidade da UNESCO, concretizada em 1983. Mas o modelo açoriano não deverá ser seguido pelo governo da Madeira, que nunca abdicou de gerir directamente os fluxos financeiros canalizados pelo Estado e União Europeia para a região. "Não vamos criar novas estruturas", garantiu ontem Conceição Estudante, porta-voz do governo nesta crise.
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Prejuízos avultados
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Danilo Matos reforça que a reconstrução deve ser entregue "a quem sabe, pondo um ponto final no aproveitamento político e no oportunismo de alguns". Os políticos, acrescenta, devem distanciar-se e dar lugar a uma equipa técnica e científica, multidisciplinar, que agarre não apenas os trabalhos de reconstrução imediata mas, sobretudo, "prepare a Madeira para o futuro".
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Aproveitando a onda de solidariedade pós-catástrofe, a Madeira está a intensificar os contactos com o governo da República e instituições da União Europeia para angariar o máximo de meios financeiros para fazer face à reconstrução. Os prejuízos da destruição de 100 quilómetros de estardas (um quinto da rede regional), 500 viaturas, 60 habitações e centenas de equipamentos rondam os mil milhões de euros, o que representa metade do orçamento regional. Será este o número que o governo regional apresentará hoje, após um levantamento preliminar elaborado pelos departamentos governamentais e autarquias.
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Mas a avaliação financeira da catástrofe não deverá incluir apenas os prejuízos de bens e infra-estruturas, mas também os custos de um conjunto de obras e planos que têm de ser feitos para minimizar consequências no futuro. "O perigo é querer reconstruir tudo para que tudo volte à mesma. Há coisas que não só não devem ser reconstruídas como terão que ser alteradas ou simplesmente destruídas", diz Matos.
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Para o geógrafo Raimundo Quintal, "mais laurissilva significará menor risco de aluvião" e a recuperação da floresta indígena, para além dos benefícios no domínio da biodiversidade, garantirá uma maior infiltração de água e uma protecção mais eficaz dos solos. Além disso, para minimizar os efeitos das cheias, diz ser necessária uma gestão cuidada dos canais de escoamento e políticas urbanas que impeçam a instalação de explorações agrícolas, habitações e armazéns nos leitos de cheia. Até porque "parte do que agora aconteceu é o resultado de 33 anos de Madeira "nova" - uma Madeira sem modelo, sem planeamento e governada para ganhar eleições".
Os prejuízos provocados pela enxurrada rondam os mil milhões de euros e esse número, essencial para accionar os apoios da República e o fundo de solidariedade europeu, será apresentado hoje pelo Executivo liderado por Alberto João Jardim. Também o número de mortos, 42 já confirmados, poderá subir nos próximos dias aos 60, como admitiu ontem o presidente do governo regional.
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Na baixa da capital madeirense, a operação de limpeza avança a grande ritmo e ficará concluída este fim-de-semana, a tempo de receber os 4.500 turistas que desembarcam domingo em dois navios de cruzeiro. Serão os primeiros a pisar o porto do Funchal depois da tragédia e, a pensar neles, o governo criou "circuitos alternativos, em colaboração com os agentes turísticos", bem distantes das zonas mais problemáticas. É a face mais visível da operação de marketing lançada pelo Turismo madeirense para evitar mais cancelamentos de reservas e que passará também por acções de promoção da ilha no exterior. Nas zonas altas, longe do centro do Funchal, a realidade é bem diferente: há localidades que continuam isoladas e a ajuda tarda em chegar.
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"A Madeira não pode ser a mesma depois de 20 de Fevereiro. Tem que ser estrategicamente planeada para fazer face a este tipo de catástrofes", diz o engenheiro Danilo Matos, ex-director do gabinete de planeamento da Câmara do Funchal. "O perigo é continuar o estilo e o método de trabalho da Madeira "nova" e não querer parar para pensar."
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Tal como o geógrafo Raimundo Quintal, Danilo Matos aponta como exemplo a reconstrução de Angra de Heroísmo, após o sismo de 1980. A catástrofe potenciou a maior operação de regeneração urbana alguma vez empreendida em Portugal, com o financiamento do Estado confiado a um Gabinete de Apoio à Reconstrução, cuja acção preparou a candidatura à inclusão na lista dos locais Património da Humanidade da UNESCO, concretizada em 1983. Mas o modelo açoriano não deverá ser seguido pelo governo da Madeira, que nunca abdicou de gerir directamente os fluxos financeiros canalizados pelo Estado e União Europeia para a região. "Não vamos criar novas estruturas", garantiu ontem Conceição Estudante, porta-voz do governo nesta crise.
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Prejuízos avultados
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Danilo Matos reforça que a reconstrução deve ser entregue "a quem sabe, pondo um ponto final no aproveitamento político e no oportunismo de alguns". Os políticos, acrescenta, devem distanciar-se e dar lugar a uma equipa técnica e científica, multidisciplinar, que agarre não apenas os trabalhos de reconstrução imediata mas, sobretudo, "prepare a Madeira para o futuro".
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Aproveitando a onda de solidariedade pós-catástrofe, a Madeira está a intensificar os contactos com o governo da República e instituições da União Europeia para angariar o máximo de meios financeiros para fazer face à reconstrução. Os prejuízos da destruição de 100 quilómetros de estardas (um quinto da rede regional), 500 viaturas, 60 habitações e centenas de equipamentos rondam os mil milhões de euros, o que representa metade do orçamento regional. Será este o número que o governo regional apresentará hoje, após um levantamento preliminar elaborado pelos departamentos governamentais e autarquias.
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Mas a avaliação financeira da catástrofe não deverá incluir apenas os prejuízos de bens e infra-estruturas, mas também os custos de um conjunto de obras e planos que têm de ser feitos para minimizar consequências no futuro. "O perigo é querer reconstruir tudo para que tudo volte à mesma. Há coisas que não só não devem ser reconstruídas como terão que ser alteradas ou simplesmente destruídas", diz Matos.
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Para o geógrafo Raimundo Quintal, "mais laurissilva significará menor risco de aluvião" e a recuperação da floresta indígena, para além dos benefícios no domínio da biodiversidade, garantirá uma maior infiltração de água e uma protecção mais eficaz dos solos. Além disso, para minimizar os efeitos das cheias, diz ser necessária uma gestão cuidada dos canais de escoamento e políticas urbanas que impeçam a instalação de explorações agrícolas, habitações e armazéns nos leitos de cheia. Até porque "parte do que agora aconteceu é o resultado de 33 anos de Madeira "nova" - uma Madeira sem modelo, sem planeamento e governada para ganhar eleições".
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