A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

«Consenso de Pequim» por Serge Halimi




«Consenso de Pequim»

por Serge Halimi

Parafraseando uma formulação célebre de Mao Zedong, proferida a de 1 de Outubro de 1949, o presidente Hu Jintao, seu longínquo (e distanciado) sucessor, afirmou sessenta anos depois: «A China encontra se hoje de pé graças às realizações do socialismo». O restabelecimento é notável; há muito que o país não é humilhado nem esquartejado pela Europa nem pelo Japão. Melhor ainda, uma parte da sua população tornou se próspera. Mas o socialismo, isso é outra questão… E uma questão tão estranha à realidade que se pode mesmo avançar que o crescimento chinês (de 9,6 por cento em 2008, de 8,7 por cento em 2009) veio em certa medida substituir uma locomotiva americana avariada. Contribuiu, assim, para a convalescença de um sistema capitalista que acabava de sofrer a sua principal borrasca desde 1929. A globalização, ferida em Wall Street, restabeleceu se em Xangai.
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Quando o ar do tempo era vermelho, a fórmula «o vento de leste vencerá o vento de oeste» anunciava algo diferente da elevação da China ao lugar de primeiro exportador mundial e do eldorado das cadeias de supermercados. Hoje o Carrefour possui cinquenta e seis lojas no país, o britânico Tesco tem setenta e duas e o gigante norte americano Wall- Mart seria menos poderoso sem a sobrexploração dos trabalhadores chineses que lhe permite esmagar os preços (e os concorrentes).
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Se avaliarmos as viragens verificadas no mundo pela bitola destas transformações, não há nenhuma razão para que certos meios de negócios ocidentais se assustem. Aliás, o The Wall Street Journal até lambe os beiços: «A China continua a ser um mercado extremamente atractivo para as empresas ocidentais em busca de crescimento. Toda a gente reconhece que são os mercados emergentes que tiram o mundo da recessão» [1]. Singularmente menos entusiasta, o Sindicato americano dos Metalúrgicos pediu a Washington que processasse a China por dumping
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O «modelo chinês» já não pode, contudo, ser resumido a uma plataforma de exportação alimentada por baixos salários. O país está a procurar orientar o seu desenvolvimento para o mercado interno e multiplicar as ligações com as economias regionais. Está já a surgir uma zona comercial comparável ao Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA) ou à União Europeia. Essa zona vai favorecer, como costuma acontecer, os sectores mais poderosos do país dominante. Ora, ultrapassando o Japão, certamente muito menos povoado, a China deverá tornar se este ano a segunda economia do mundo. E a primeira até 2026, segundo o banco americano Goldman Sachs.
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De que forma vai a China usar o seu poder? Nem as cimeiras do G20 nem a de Copenhaga permitiram, até agora, vislumbrar o país como advogado dos pobres ou dos países do Sul. O seu modelo de desenvolvimento é sedutor, mas sobretudo para os que quiserem conciliar crescimento económico, liberalismo comercial e estabilidade no poder de uma oligarquia que é meio política, meio industrial [2]. Encontram se cada vez mais defensores do «Consenso de Pequim» nas fileiras do patronato ocidental…
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sexta-feira 5 de Fevereiro de 2010

Notas

[1] Patience Wheatcroft, «Don’t Begrudge China’s Exports Coup», The Wall Street Journal, Nova Iorque, 12 de Janeiro de 2010.
[2] Em 2005, mais de um terço dos patrões do sector privado eram membros do Partido Comunista Chinês.
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