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 | Jorge Cordeiro
 
 Membro da Comissão  Política
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 A fome só se pode explicar pela  falta de direitos, não pela escassez de bens
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| As faces do capitalismo - | Avante Nº 1888 04.Fevereiro.2010
 
 
 
 |  | As notícias sobre uma nova edição do Fórum  Social Mundial e, em particular a realização da Cimeira de Davos que lhe  sucedeu, reacenderam na agenda mediática o tema da globalização.  Notícias vindas do Brasil, dando conta da expressão que ali conflui de  indignação e oposição ao processo de globalização, ainda que sem  encontrar correspondência plena ao nível da tomada de consciência da  natureza económica que a percorre, do carácter imperialista da sua  expressão à escala planetária e da essência capitalista que a enforma na  sua fase actual. 
 Notícias  que nos acabam de chegar de Davos, procurando apresentar o actual  processo como inevitável e imutável, carecido sobretudo daqueles  mecanismos de regulação, mais uma vez defendidos pelos responsáveis do  Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu, que o  tornariam humanamente suportável e de uma quantas filantrópicas decisões  capazes de aliviar a míngua de muitos e assegurar a fausta acumulação  de alguns.
 A globalização neoliberal, que tem no capitalismo o seu  fundamento ideológico, é expressão do carácter desumano e explorador do  seu desenvolvimento enquanto sistema. Fenómeno complexo e de múltiplas  expressões (filosóficas, ideológicas, culturais) é no terreno económico  que se encontra a chave para a compreensão e projecção da globalização.  Na sua acepção, a globalização não é uma «novidade», uma «ruptura» com o  já longo percurso do capitalismo, mas sim o próprio capitalismo na sua  profunda essência. Expressão máxima da dominação capitalista, cujos  eixos políticos e económicos universalizam a exploração, a globalização  revela na fase actual do desenvolvimento do capitalismo contradições  mais graves e consequências mais gravosas nas relações humanas, sociais e  de produção.
 A globalização neoliberal é, pois, uma expressão  actual do capitalismo e do seu percurso natural de desenvolvimento, das  contradições e premissas inerentes ao modo e relações de produção  próprias do respectivo sistema. E não um acidente, uma degenerescência,  uma etapa conjuntural ditada por uma má condução de políticas. O  neoliberalismo é cada vez mais inconciliável com os direitos sociais,  políticos e democráticos. A afirmação do neoliberalismo desenvolve-se  assente no retrocesso dos direitos sociais conquistados pelos  trabalhadores ao longo de mais de um século, no ataque a direitos  políticos fundamentais, na instalação de um clima de insegurança  internacional e de guerras, na ameaça crescente à democracia e à  liberdade.
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 Três condições
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 A luta contra o  neoliberalismo e a globalização capitalista e a possibilidade de  tornar  consequente o amplo movimento que une, na indignação e na crítica,   milhões de homens e mulheres de todo o mundo perante os efeitos  devastadores da sua imposição aos povos, são inseparáveis de três  condições: da apreensão das razões e origens económicas e políticas que  explicam a crua realidade de desigualdades, miséria e fome que alastra  pela mão do neoliberalismo; da indispensável identificação e unificação  na acção do objectivo político em torno do qual se deve alargar e  agregar a base social da luta, afirmando a necessidade imprescindível da  liquidação do capitalismo e da afirmação do socialismo enquanto sistema  alternativo; da afirmação e reforço de organizações e partidos  revolucionários e de classe capazes de dar expressão e força material às  ideias e objectivos políticos alternativos ao capitalismo, de  protagonizar a luta pela transformação revolucionária das estruturas e  do sistema capitalista.
 A  fome que atinge e mata milhões de seres  humanos só se pode explicar pela falta de direitos, não pela escassez de  bens. É indesmentível que a capacidade de produzir alimentos é superior  às necessidades humanas. O declínio acentuado do nível de vida das  populações não resulta da escassez dos recursos produtivos.
 O  problema está na organização da sociedade e na essência da lógica  capitalista. É evidente a mais completa falência do capitalismo na  mobilização, ao serviço dos povos e da  melhoria das suas condições de  vida, dos recursos humanos e materiais que o desenvolvimento das forças  produtivas possibilitou. Como Engels o evidenciou, só uma nova sociedade  assente em novas relações de produção poderá assegurar que a produção  alargada, ou sobreprodução (a «epidemia da sobreprodução», como a  designou), seja, não um factor de miséria, mas de satisfação das  necessidades.
 O capitalismo não é o fim da história ou uma  fatalidade. A luta pela sua superação revolucionária e a construção de  uma nova sociedade mais justa e democrática, o socialismo, apresenta-se  como a mais importante e consequente tarefa que se coloca perante os  povos. É a luta pelo socialismo que poderá conduzir a um mundo de paz, a  uma afirmação soberana de cada país e de cada povo e a um  desenvolvimento que respeite a dignidade humana e esteja ao serviço da  satisfação das suas necessidades básicas.
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