A Internacional

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sexta-feira, janeiro 25, 2008

Eleições nos Estados Unidos e o Iraque

por Lejeune Mirhan*


Desde setembro do ano passado não abordava a situação do Iraque. Não que algo novo tenha ocorrido naquele país que merecesse minha abordagem semanal neste Portal. Pelo contrário. Estava me programando para tratar do cerco israelense à Gaza. Mas, como é a maior ocupação que os americanos fazem desde meados do século passado e a mais duradoura, com as eleições de novembro próximo e as primárias que estão ocorrendo, seria preciso entender e conhecer as posições dos pré-candidatos.


Hilary ou Obama: qual o melhor candidato para os árabes?

Democratas e Republicanos, duas faces de uma só moeda?


Não vou entrar aqui nesse debate, que quase não tem fim. Pessoalmente, não tenho dúvidas que hoje, no cenário atual de correlação de forças no mundo, são pequenas as diferenças que separam os Democratas dos Republicanos, especialmente em economia. Na política externa, ampliam-se as diferenças, mas nada significativo. No entanto, esse é outro debate.


O sistema americano de votação presidencial é completamente diferente do nosso no Brasil. Lá, ocorrem as chamadas eleições primárias, onde todos os eleitores filiados ou não a partidos políticos podem votar em prévias que definem dos candidatos dos partidos. Claro que, ao final, apenas um candidato disputará pelos partidos. E a grande mídia faz crer que existem apenas dois partidos. Nada mais falso. De fato, são dois grandes, mas legalizados são mais de 50 partidos americanos. Há até dois candidatos que pregam abertamente o socialismo no berço do capitalismo. São eles Brian Moore, do Partido Socialista e Roger Calero, do Partido dos Trabalhadores da América. Mas, visto de conjunto, apenas dos dois grandes aparecem.


Tenho acompanhado as primárias. Acompanho especialmente a posição de cada dos pré-candidatos sobre sua política externa. Mais particularmente sobre a Palestina e sobre o Iraque, onde os Estados Unidos possuem grandes interesses, como no Oriente Médio em geral. Tenho dito em palestras sobre geopolítica internacional que andei fazendo, bem como escrevendo alguns artigos sobre o assunto. Acho que mesmo ganhando as eleições os Democratas, as tropas americanas não sairão do Iraque tão cedo. Do lado dos Democratas, Hillary e Obama são os que mais visibilidade da mídia tem tido. Tanto um como outro sabem que não possuem forças suficientes para retirar as tropas americanas bruscamente. Os mais otimistas falam em dez a 16 meses para a retirada total.


Em recente viagem de oito dias por cinco países do Oriente Médio, indagaram a George Bush sobre a retirada das tropas. Um dos repórteres brincou com o presidente americano e lhe disse “as tropas estadunidenses vão ficar cem anos no Iraque”. Sabe qual foi a sua resposta? Bush disse “cem anos é muito tempo, mas pelo menos uns dez anos ficaremos por lá”.


Isso pode não se concretizar e até acho que elas sairão antes disso, mas não muito menos que isso. A ocupação vai completar cinco anos agora no próximo dia 19 de março (espero que façamos atos pela retirada imediata em várias localidades). Logo depois da invasão/ocupação, o combativo escritor e jornalista de esquerda Tariq Ali deu uma entrevista onde dizia que os americanos ficariam pelo menos dez anos no Iraque. Corre o sério risco de acertar em cheio suas previsões.


A posição dos pré-candidatos


O jornal que tem dado maior cobertura das eleições americanas é O Estado de São Paulo, como, aliás, tem se mostrado uma jornal mais sério e competente do que a Folha. Uma reportagem do último dia 10 de janeiro apresentava um pequeno resumo do posicionamento dos candidatos sobre esse tema controverso, com o qual compartilho com meus leitores.


É preciso dizer, antes de tudo, que a posição de todos os pré-candidatos democratas, quando a pátria americana vestiu roupas de guerra e literalmente foi para a guerra, era de claro apoio à invasão para a derrubada de Saddam Hussein. Ou seja, todos eles, com poucas exceções, votaram na Câmara e no Senado, pelo apoio à ocupação. De um ano para cá, as coisas vem se modificando. A guerra já esta beirando ao um trilhão de gastos militares e mais de quatro mil soldados já voltaram para casa em caixões metálicos. A opinião pública vai se modificando e a manipulação da mídia vai perdendo seu efeito desastroso inicial.


1. Os Pré-candidatos Democratas


Barak Obama – Fala em iniciar imediatamente o que chama de “retirada gradual”, que poderia ser completada em 16 meses após janeiro de 2009, quando tomaria posse na presidência. Isso joga a retirada completa para 2010. Defende a convocação de uma nova constituinte no Iraque, organizada pela ONU;


Hilary Clinton – Apesar de ter votado pela ocupação no senado, hoje defende a revogação da autorização para a guerra conquistada por Bush nessa casa legislativa. Fala contrário à instalação no Iraque de bases permanentes dos Estados Unidos. É a que defende a volta mais rápido para a casa das tropas. Menciona 60 dias. Ela mesmo sabe que isso não seria cumprido se fosse eleita.


John Edwards – Fala em retirar de imediato um terço dos soldados (50 mil de 150 mil que os americanos matem estacionados no Iraque). Depois, o restante, dá um prazo até final de 2008 para a volta total para casa das tropas. Defende a presença militar americana no golfo Pérsico-Arábico e no Kuwait.


2. Os Pré-candidatos Republicanos


John McCain – Não menciona prazo específico para a retirada, mas apoiou todos os reforços de tropas para o Iraque. Quer colocar maior pressão sobre a Síria e sobre o Irã, para que estes países parem de influenciar a luta pela libertação do Iraque ocupado.


Mitt Romney – Sempre apoiou todos os esforços de guerra americanos, especialmente o de reforço de tropas no início do ano passado (como também os democratas o fizeram). Fala em uma vaga “retirada gradual, condicionada aos progressos alcançados”, que não define bem o que é isso.


Mike Huckabee – é o que mais se bate contra a fixação de qualquer calendário pela retirada das tropas de ocupação. Diz que uma retirada imediata enfraqueceria os Estados Unidos e seus aliados no país e na região. Fala em conseqüências catastróficas para os iraquianos. Defende uma reunião regional para tentar estabilizar o Iraque.


Rudolph Juliani – Também se coloca contra a retirada imediata e mesmo gradual das tropas estadunidenses do Iraque. Mas, defende uma maior transferência de poder para as forças iraquianas. Defende uma longa permanência dos Estados Unidos no Iraque.


Fred Thompson – Apóia e apoiou sempre o envio das tropas, mas esta mais afinado com Bush, que menciona em retirada gradual, a partir do segundo semestre deste ano, mas sem mencionar retirada total.


Como podemos observar, seja entre Democratas ou Republicanos, há muita semelhança. Claro que reconheço que os Democratas, pelo seu passado, são mais sensíveis à opinião pública e um pouco mais “progressistas”. Mas, haverá ainda muitas lutas e manifestações para que todas as tropas sejam finalmente retiradas desse país árabe sob ocupação e que o poder volte às mãos dos árabes. Mas, é nosso desejo sincero, qualquer que seja o presidente eleito na maior potência militar e econômica do planeta. Seguiremos acompanhando esse processo eleitoral e informando nossos leitores.





*Lejeune Mirhan, sociólogo da Fundação Unesp, arabista e professor. Presidente do Sindicato dos Sociólogos, membro da Academia de Altos Estudos Ibero-árabe de Lisboa e da
International Sociological Association



* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.

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in Vermelho - 24 DE JANEIRO DE 2008 - 14h25

1 comentário:

vieira calado disse...

Não me cheira que haja um, melhor.
O que pode é haver um, menos mau.