12 DE JULHO DE 2008 - 18h38
O FMI e a crise do capitalismo internacional
por Umberto Martins*
O Fundo, porém, evita fazer um diagnóstico sobre as causas da crise e alinhavar recomendações de política econômica para a grande potência imperialista, num contraste marcante com o comportamento adotado frente às crises financeiras que abalaram os países mais pobres nos anos 1980 e 1990, decorrentes do endividamento externo e da liberalização do fluxo de capitais.
Desequilíbrios
Por trás da atual crise residem os formidáveis desequilíbrios cultivados pela economia estadunidense, que acumula déficits gigantescos no comércio e em conta corrente e ostenta a maior dívida externa do planeta. Para curar o mal, na lógica do FMI, seria o caso de aplicar um ajuste interno semelhante ao que foi receitado aos países da América Latina, inclusive o Brasil - um conjunto de medidas que sacrificaram o desenvolvimento nacional, reduziram as dimensões do mercado interno (arrochando salários) e resultaram em pelo menos duas décadas de estagnação.
O FMI não ousa propor uma receita parecida aos Estados Unidos, dando razão com isto a críticos como o economista norte-americano Joseph Stigritz, que considera a instituição financeira proveniente dos acordos de Bretton Woods em 1944, pretensamente multilateral, como um braço direito do Departamento de Estado americano e das potências capitalistas.
Ajuste interno
Para muitos economistas é patente a necessidade dos EUA reprimirem o consumo e elevar a taxa de poupança para reduzir os desequilíbrios que originam a crise atual. A crise está estimulando também a persistente queda do dólar frente a outras moedas (como o euro, o iene japonês, o yuan chinês, a libra britânica e o real brasileiro), que tem sido apontada com razão como uma das
principais causas da inflação mundial.
O ajuste da taxa de consumo e conseqüentemente dos chamados déficits público e em conta corrente) poderia começar pela diminuição do déficit público e uma boa iniciativa nesta direção seria pôr fim às guerras imperialistas no Iraque e no Afeganistão e cortar os gastos cavalares com segurança, que estimulam uma perigosa corrida armamentista no mundo.
Economia real
O diretor-gerente do FMI afirmou que os efeitos da crise sobre a economia real "ainda vão chegar". Em outras palavras, o pior ainda está por vir. Até agora a crise abalou principalmente os mercados financeiros, em que pese a estagnação e os desdobramentos dos problemas hipotecários nos Estados Unidos. A recessão, com todos os seus ingredientes (falências, desemprego e outros), é que se insinua para o segundo tempo.
"Ninguém pode dizer que a economia global está em uma boa temperatura.
Estamos entre o gelo da recessão e o fogo da inflação", ponderou Dominique
Strauss-Kahn. Compreensivelmente, ele também evitou associar a alta dos
preços à queda do dólar, como fez a Organização dos Países Produtores de
Petróleo (Opep), em relatório divulgado sexta-feira (11-7).
Inflação do dólar
A Opep tem razão e não é a única instituição a apontar a decomposição dólar como causa do desalinhamento dos preços internacionais. A decadente moedaimperial funciona como meio de pagamento e unidade de medida dos preços das commodities e de um amplo conjunto de mercadorias que circulam pelo mundo. Por definição, sua desvalorização significa inflação mundial e esta, por diferentes fatores, não se manifesta de forma homogênea sobre os produtos ara os quais o dólar serve de padrão de preços.
Ignorar a contribuição da decomposição do padrão dólar para a inflação mundial não revela apenas desconhecimento das leis econômicas. É também muito conveniente aos interesses imperialistas dos Estados Unidos, uma vez que conduz o debate sobre a inflação mundial para outros rumos, conferindo aos tenebrosos e milenares especuladores um papel provavelmente excessivo para escamotear o principal, que é a emergência da necessidade de uma nova ordem monetária internacional.
O papel do dólar como moeda internacional se esgotou e já está passando da hora de discutir alternativas. O relatório da Opep, divulgado no dia em que o preço do petróleo (*brent)*, ultrapassou a barreira dos 147 dólares na Europa, é um sinal de que não vai ser possível a peneira. No momento em que a organização decidir substituir o dinheiro do Tio Sam como padrão de preços e meio de pagamento para o ouro negro estará também abrindo o caminho para mudanças mais profundas na (des)ordem monetária internacional.
*Umberto Martins, Jornalista, membro da Secretaria Sindical Nacional do PCdoB.
in Vermelho
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