Agências de rating na guerra económica: o contra-ataque da UE « Raiz Política
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ABRIL 1, 2011
A Comissão Europeia não pode recuar no ataque às agências de rating para que estas se tornem responsáveis juridicamente pelas notações atribuídas, como noticiado no Público.
Estas contra-atacam alegando que deixarão de atribuir notação aos países «periféricos», ficando assim fora das rotas de investimento. Ou seja, Portugal, Grécia e Irlanda ficarão ao nível de um país como o Uganda ou o Senegal.
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Mais questões levantam-se a partir deste confronto:
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- Se as agências de rating não aceitam ser responsabilizadas, então é porque duvidam da qualidade dos seus próprios critérios de notação?
- Até que ponto é racional que meia-dúzia de analistas, que provavelmente nem sequer conhecem os países que avaliam, ditem o destino de milhões pessoas e dos Estados?
- Há cada vez mais indícios de que as agências de rating funcionam em cartel – todos os cortes são sincronizados – onde está a autoridade de supervisão sobre a actividade de rating?
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- Quem e como foram responsabilizadas as agências de rating que falharam redondamente na avaliação da Lehman Brothers e da Islândia?
- Porque é que as agências de rating não previram a crise de dívida soberana nos últimos outlooks de Portugal, Grécia e Irlanda?
- Quais são os actores que estão a ganhar dinheiro com a crise da dívida soberana europeia?
- Porque é que os países europeus deram uma volta de 180º na política de estímulo económico depois das casas financeiras «estarem fora de perigo»?
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As agências de rating na guerra económica e da informação
MARÇO 31, 2011
As agências de rating operam no mercado com o intuito de reduzir a assimetria de informação entre quem pede e quem concede dinheiro emprestado. Fruto da vaga do Consenso de Washington, a desregulação financeira operada na década de 90 entregou esta função crítica na sua totalidade ao sector privado.
Com efeito, estas agências são financiadas pelos bancos de investimento, equity e hedge funds que fazem as «apostas» no sobe e desce do mercado. Estas agências exercem uma função que devia ser executada por uma entidade internacional participada pelos vários Estados. Desta forma, a função de rating está totalmente à mercê dos interesses dos actores mais poderosos do sector financeiro.
Ou seja, as agências de rating são financiadas pelos actores mais interressados em manter asssimetria de informação no mercado.
E é do interesse das super-elites do sector financeiro – agora ideologicamente neoliberal, porque na altura do sub-prime bradou pela mão visível do contribuinte – que o Estado «Social» europeu seja desmembrado. Por isso, a guerra económica e de informação (conceito há muito propalado meu amigo José Mateus) aos países europeus mais vulneráveis movida pelas agências de rating é só o primeiro passo nesse sentido. Porquê?
Porque todas as funções sociais do Estado que forem privatizadas terão que se financiar não com base em impostos, mas em preços mais elevados para os serviços prestados. E isso significa criação de mais mercado para serviços «financeiros» (como empréstimos predatórios para pagar cirurgias, como acontece nos EUA).
Será esta argumentação demagógica? Vejamos:
Não caiamos em mais ilusões – depois de Portugal, o próximo campo de batalha é Espanha.
É que esta super-elite do sector financeiro não se importa com o sofrimento das pessoas e dos países. Só têm um alvo: o seu lucro predatório baseado na manipulação da informação.
Então o que fazer? Como combater esta guerra económica e de informação em rede?
Primeiro, Portugal, Irlanda e Grécia têm de se unir e negociar em conjunto a reestruturação da dívida.
Segundo, os Estados interessados têm de organizar um contra-ataque informacional direcionado à falta de transparência, de isenção e fiabilidade das análises das agências de rating.
Terceiro, é necessário que nos países europeus emerjam lideranças sem medo e não comprometidas com a super-elite dos mercados financeiros, que lutem por uma verdadeira regulação da globalização e implementem um programa de crescimento económico baseado na «economia real».
Os EUA tiveram essa liderança na Grande Depressão com Franklin Roosevelt (autor da lei que separava a banca comercial da de investimento – o Glass-Steel Act – e que aumentou a intervenção do Estado na economia devido à assimetria de informação) que no seu discurso inaugural categorizou Wall Street da seguinte forma:
«So, first of all, let me assert my firm belief that the only thing we have to fear is fear itself—nameless, unreasoning, unjustified terror which paralyzes needed efforts to convert retreat into advance»(…)
(…)«Primarily this is because the rulers of the exchange of mankind’s goods have failed, through their own stubbornness and their own incompetence, have admitted their failure, and abdicated. Practices of the unscrupulous money changers stand indicted in the court of public opinion, rejected by the hearts and minds of men.
True they have tried, but their efforts have been cast in the pattern of an outworn tradition. Faced by failure of credit they have proposed only the lending of more money. Stripped of the lure of profit by which to induce our people to follow their false leadership, they have resorted to exhortations, pleading tearfully for restored confidence. They know only the rules of a generation of self-seekers. They have no vision, and when there is no vision the people perish.
The money changers have fled from their high seats in the temple of our civilization. We may now restore that temple to the ancient truths. The measure of the restoration lies in the extent to which we apply social values more noble than mere monetary profit.
Happiness lies not in the mere possession of money; it lies in the joy of achievement, in the thrill of creative effort. The joy and moral stimulation of work no longer must be forgotten in the mad chase of evanescent profits. These dark days will be worth all they cost us if they teach us that our true destiny is not to be ministered unto but to minister to ourselves and to our fellow men» (…)
A diferença da descrição não é muito diferente da actual. E a magnitude do desafio também não.
E a única forma de o vencer é sem medo!
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