A ver vamos
A crer nas sondagens, nos Presidentes da República e nos notáveis do regime, a hora é de unidade e consenso. Até o engº Sócrates, essa verdadeira força de bloqueio, se apresenta, agora, como um campeão do diálogo, disposto a todos os entendimentos que nunca quis fazer no passado.
- 29 Abril 2011
Como é evidente, há sempre alguém que discorda. Perante este hipotético cenário, o dr. Passos Coelho fez, desde logo, saber que, ao contrário de alguns "fascistas" como Mário Soares ou Jorge Sampaio, não embarcava numa nova "união nacional" que teria o condão de suspender a democracia, varrendo para parte incerta as diferenças de uma alternativa que tarda em aparecer ao País. À unidade, apregoada pelas forças vivas da nação, o PSD parece optar pelos méritos da "clarificação" em torno de dois projectos distintos quanto ao modelo económico e ao papel do Estado na sociedade. Infelizmente, esta opção – genuinamente democrática – está longe de se conjugar com a dura realidade dos factos.
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A um mês das legislativas, o debate eleitoral oscila entre meia dúzia de vacuidades e uma longa série de equívocos. Entre o PS e o PSD, não se vislumbra uma ideia de fundo, quanto mais um projecto alternativo. Os dois partidos dividem-se entre um discurso eficaz, embora descosido da realidade, e uma amálgama de propostas avulsas que amanhecem florescentes e anoitecem no meio dos mais variados desmentidos.
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Se o programa apresentado, esta semana, pelo PS é um verdadeiro hino ao vazio, a alternativa do PSD define-se pelas constantes trapalhadas em torno de um programa que ainda não conseguiu ver a luz do dia. É sempre agradável saber que um candidato a primeiro-ministro sabe fazer farófias e tem quatro caniches num andar de Massamá mas seria, com certeza, mais útil saber como é que o mesmo candidato tenciona pôr o País a crescer três por cento, durante os próximos dois anos, como, aliás, já foi prometido. Perante este quadro de miséria, os apelos ao consenso levantam também sérias dúvidas. Consenso em torno de quê? De ideias que não existem? De projectos que ninguém conhece? De políticos que primam pela insignificância? Como não é possível fazer consensos em torno de coisa nenhuma, o único consenso que nos resta é aquele que nos vai ser imposto por fora, por uma Europa em vias de desagregação. Mas, tendo em conta a campanha em curso, a Europa parece ser uma questão secundária com a qual não temos que nos preocupar. A ver vamos.
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