A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, maio 26, 2011

A Crise Académica de Coimbra, 1969, inspirações e aspirações.




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A Crise Académica de Coimbra, 1969, inspirações e aspirações.


 
    Para que possamos introduzir este subcapítulo, optamos por gizar um pequeno comentário em relação ao nome que lhe atribuímos à hora de abordar o caso português.
    Nesta alínea do trabalho, iremos defender a ideia de que o processo de contestação juvenil, que Portugal conheceu durante os anos 60, mais concretamente em 1969, com a crise académica de Coimbra, foi beber muitas das suas características ao que já havia acontecido na Europa, em que os estudantes portugueses ter-se-ão inspirado.
    Paris, Maio de ’68. Coimbra, Abril de ’69. A distância de um ano não anulou o alinhamento dos processos, sendo estes bastante semelhantes. Tal como o caso de França, estas contestações não surgiram espontaneamente, foram sim, uma herança de outras manifestações de esquerda, em que clamaram e reivindicaram incessantemente. Rock (ié-ié, nome que os estudantes portugueses atribuíram à adaptação do rock bem presente no pais durante esta década), rebeldia, afronto às autoridades, foram algumas das características que marcaram esta crise académica, tal como os movimentos de França.
    Tal como podemos ver, este episódio da história de Portugal viveu muito da contestação feita a partir de cartazes, e para que melhor possamos sustentar a ideia que é enunciada a partir do “mote” que o título anuncia, iremos fazer, através dos muitos cartazes a que tivemos acesso a um pequeno descritivo do que foi a crise académica de ’69.
    Com a entrada nos anos 60, os jovens começaram a ser uma das maiores preocupações da sociedade portuguesa. Queria preparar-se as gerações adultas para a vida profissional, melhorando a educação, e desse modo, no ano de 1964, Salazar decreta que a escolaridade obrigatória seria alargada, passando de 4 para 6 anos. No ponto de vista actual muitas pessoas não entenderão a diferença, mas naquela época era algo importante. Era um meio de fazer com que os estudantes prolongassem os seus estudos, permitindo-lhes chegar a uma universidade, e desse meio aumentar o número de jovens licenciados (e no fundo um meio para escapar da Guerra Colonial, visto que muitos jovens fora da escolaridade eram recrutados à força). Graças a isso, o número de licenciados disparou para o dobro entre os anos 60 e 70. Mas aconteceu algo que o governo salazarista não esperava: as universidades e academias abriram portas a quase todos os tipos de jovens, desde grupos de alunos excluídos de escolas superiores a jovens de classe média, e estes eram normalmente mais radicais e mais descontentes.
    Ainda havia dificuldades para os académicos. Durante vários anos não houve uma associação de estudantes para organizar ou apoiar os jovens, a polícia e a PIDE reprimia e expulsava qualquer acto de revolta entre os académicos (sendo muitos deles detidos) e havia relatos de uso das universidades para contexto político.
    Os académicos portugueses recebiam influências da cultura francesa desde os anos 50, sendo muitos deles fiéis às tendências musicais daí vindas. Mas com a chegada dos anos 60, e o aparecimento da beatlemania e da geração hippy, os jovens viraram-se para os anglicanismos muitas vezes longe dos olhares dos professores, adultos ou outros que os reprimissem. No entanto não era estranho ver jovens com trajes considerados berrantes, ou aparecimento de bandas de ié-ié (rock) nas academias. Não demorou muito até começarem a aparecer iniciativas culturais, sessões musicais de “música-protesto” (copiando as tendências hippies) e manifestações.
    Em 1968, dois meses após Marcelo Caetano subir ao poder, os académicos têm uma surpresa quando o ano lectivo começou (a Novembro desse ano). As associações de estudantes voltam a ser legais, normalizando a vida académica. Infelizmente não foi duradouro. No mês seguinte o Instituto Superior Técnico de Lisboa é fechado por ser considerado um centro subversivo, tudo por causa da produção e transmissão de panfletos com exigências dos estudantes. A Janeiro de 1969, a Faculdade de Direito de Lisboa e a Academia do Porto são também encerrados por situações idênticas.
    O acréscimo da contestação juvenil no início do ano de ‘69 não foi um caso originário de Portugal. Os estudantes portugueses basearam-se no movimento francês do Maio de ’68, seguindo muito dos ideais revolucionários que os jovens franceses usaram para conseguir o seu objectivo. Eram jovens cultos e, apesar de censura, sabiam o que se passava “lá fora”.
    A gota de água foi a 17 de Abril de 1969. Durante a inauguração do edifício da matemática da Academia de Coimbra, Alberto Martins, presidente da AAC (Associação Académica de Coimbra) pede a palavra ao presidente Américo Tomás, que tinha comparecido para fazer a inauguração. Alberto Martins deseja falar pelos alunos, mas o seu pedido é negado, e a cerimónia de inauguração é abruptamente encerrada. Nessa mesma noite, Alberto Martins é detido à porta da AAC. Com ele são também alvos de perseguição da polícia e da PIDE centenas de alunos que ficaram do seu lado. Nos dias seguintes dão-se episódios de luta entre estudantes e a PSP, à mistura de actos de solidariedade e de unidade entre alunos.
    A 30 de Abril desse ano o ministro da educação nacional, José Hermano Saraiva, através de um comunicado televisivo, acusa os estudantes de desrespeito e insultos ao chefe de estado. Nesse contexto cerca de 4000 alunos juntaram-se numa assembleia magna a 1 de Maio para reafirmarem a convicção em criar uma universidade nova. No mês seguinte faz-se a maior assembleia magna da história da Academia de Coimbra, onde 6000 alunos se juntam e decretam a abstenção aos exames (a que 85% dos universitários aderiram). É também organizada a “Operação Balão” e a “Operação Flor”, com o objectivo de distribuir flores e balões em forma de protesto contra a detenção e suspensão de alunos e professores, exigindo também que não fossem marcadas faltas durante o protesto e o luto académico.
    Houve um grande choque a 22 de Junho quando, na final do campeonato com jogo entre Benfica e Académica, os jogadores do Académica entraram em jogo com a capa académica, mostrando o seu luto. Durante este acto foram distribuídos 35 mil comunicados à sociedade civil, onde estavam expostas as razões para a luta estudantil. O jogo não foi transmitido na televisão. No mês seguinte a lei de adiamento militar foi revista e alterada de maneira a que os estudantes detidos fossem chamados a serviço militar obrigatório.
    Em Agosto de 1969 o Governo encerra a AAC e demite todos os seus corpos gerentes, e em Setembro do mesmo ano uma assembleia magna é proibida, sendo depois dispersa com violência a manifestação que lhe seguiu. Quase meia centena dos membros do movimento são chamados para serviço militar obrigatório e são enviados para África.
    Nos anos que se seguiram a ’69 a agitação juvenil radicalizou-se (exemplo disso foi a ocupação do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras por estudantes, onde foram administrados “cursos livres” e onde se editavam anti-sebentas com teses marxistas e outros textos proibidos). Desde que se deu o eclodir da crise de ‘69 registou-se um agravar da situação em que os estudantes continuavam a lutar pelos direitos que exigiam, protestando cada vez mais intensamente. A falta de uma solução imediatapara a resolução deste problema por parte de José Hermano Saraiva, levou a que este fosse substituído por Veiga Simão, a 15 de Janeiro de 1970.
    As lutas estudantis eram organizadas em torno da autonomia universitária, do direito à livre associação, da reforma do ensino (no ano de 1970, Portugal só tinha 2% de PNB gastos na educação. Era muito baixo, mesmo em comparação com outros países, como por exemplo, a Grécia, que tinha 2,2% de PNB), e claro, do descontentamento geral dos alunos, que era pretexto para iniciar muitas vezes movimentos estudantis. Deste modo as universidades formaram tanta oposição como quadros, onde participaram milhares de estudantes, dezenas destes foram detidos, outros exilados e outros enviados para África para participarem na Guerra Colonial (mas neste ponto final, foram os estudantes que levaram os soldados portugueses a perguntarem-se qual era realmente o objectivo da luta armada com as colónias).
    Em suma, podemos afirmar que Portugal não foi um caso isolado, mas que aconteceu como uma repercussão dos acontecimentos na Europa, com o aparecimento dos jovens como classe contestatária. A música, as formas de reacção rebelde contra as autoridades, os reitores, são alguns dos exemplos que podemos levantar. Temos, claro de ter em conta que todos os movimentos que se deram durante esta crise foram de alguma forma inspirados no Maio de ’68 e em parte da Primavera de Praga, (onde os jovens foram buscar inspiração.)
    Enquanto em processos como o Vietname a liberdade de imprensa e o jornal são parte grande integrante do processo, no caso Português, a censura não permitiu que o movimento juvenil contaminasse tanto quanto desejaria o resto da sociedade Portuguesa. Os estudantes compreenderam bem. Por isso foram ao estádio (mas o jogo foi proibido de ser transmitido) mas a emissão televisiva foi cortada. Na sequência da greve universitária souberam distribuir flores à população numa operação de charme em tempos de Guerra.
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http://grupo68.webnode.com/a%20crise%20academica%20de%20coimbra,%201969,%20inspira%C3%A7%C3%B5es%20e%20aspira%C3%A7%C3%B5es-/

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