A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, fevereiro 23, 2007





CANTAR ALENTEJANO

Vicente Campinas*
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
* Este poema foi musicado por José Afonso, no álbum «Cantigas de Maio», editado no Natal de 1971

RETRATO DE CATARINA EUFÉMIA
José Carlos Ary dos Santos

Da medonha saudade da medusa
que medeia entre nós e o passado
dessa palavra polvo da recusa
de um povo desgraçado.
Da palavra saudade a mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo
da língua portuguesa fiz a fita encarnada
que ponho no cabelo.
Trança de trigo roxo
Catarina morrendo alpendurada
do alto de uma foice.
Soror Saudade Viva assassinada
pelas balas do sol
na culatra da noite.
Meu amor. Minha espiga. Meu herói
Meu homem. Meu rapaz. Minha mulher
de corpo inteiro como ninguém foi
de pedra e alma como ninguém quer.


CATARINA EUFÉMIA
Sophia de Mello Breyner Anderson

O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E
a busca da justiça continua


Catarina Eufémia (1928 – 1954)
Personifica o exemplo de coragem e tenacidade na luta pela liberdade. Trabalhadora rural, Catarina Eufémia reivindicava pão e melhores salários quando foi assassinada em terras de Baleizão pelas forças do regime salazarista. Viviam-se tempos difíceis no Alentejo. Com condições de vida precárias, os camponeses saíram à rua para protestar. Catarina Eufémia - que se supõe ter sido militante comunista - liderava o movimento. Era o símbolo da dedicação aos ideais, como a justiça e a igualdade, um símbolo da resistência do proletariado rural alentejano à repressão e à exploração do salazarismo e, ao mesmo tempo, um símbolo do combate pela liberdade e da emancipação da mulher portuguesa. A sua trágica história tornou-se numa lenda e inspirou vários poetas ao longo de décadas.
Todo o país estava em luta. Os trabalhadores sofriam a repressão e a exploração económica. Lutavam por condições mais dignas e melhores salários. Sentiam na pele o regime ditatorial de Salazar. No Alentejo, os trabalhadores agrícolas estavam em greve. Já se recorria a mão-de-obra de outras zonas do País que se sujeitava às condições precárias que ofereciam os empresários. A década de 50 foi um período de grandes tensões sociais. E a PIDE estava à espreita, assim como a GNR, que tinha postos nas próprias herdades.
Em 19 de Maio de 1954, a situação agravou-se. Os assalariados rurais de Baleizão abordaram abertamente um grupo de trabalhadores recém-chegados para que, também eles, reivindicassem melhores condições de trabalho. Os ânimos aqueceram. Catarina Eufémia, uma ceifeira analfabeta, estava à frente do movimento. Mulher de coragem e determinação, lutava por uma sociedade mais justa e, como a própria afirmava, por “pão e trabalho”. Ao ser abordada pelo tenente Carrajola, da GNR, Catarina respondeu com autoridade. No mesmo momento levou vários tiros e morreu. Tinha 26 anos e três filhos. Crê-se que estava grávida. A notícia chocou o País. Catarina Eufémia morreu como uma resistente, exigindo mais dignidade para os trabalhadores agrícolas. (...)
retirado do site da RTP - Concurso Os Grandes Portugueses
Foto de Catarina
litogravura de José Dias Coelho, dirigente do PCP assassinado pela PIDE em 1961

Um dossier sobre Catarina Eufémia pode ser encontrado em:
.

2 comentários:

Anónimo disse...

At 21 Maio, 2007, Anónimo said…

Victor Nogueira Diz:
Maio 20th, 2007 at 2:28 pm

Viva
De vez em quando dou uuma olhadela ao teu blog. E verifiquei que no meu, em 23.02.2007 publicara estes mesmos poemas, sob o título Cantar Alentejano, com uma gravura e uma pequena biografia de José Dias Coelho.
Victor Nogueira
joaovalenteaguiar Diz:
Maio 20th, 2007 at 2:39 pm

Confesso que nunca tinha reparado nisso. Vi estes poemas no blog O Cheiro da Ilha e publiquei-os. Coloquei um link para o teu blog.

Abraço

Retirado do blog As Vinhas da Ira

Anónimo disse...

At 21 Maio, 2007, Anónimo said…

Victor Nogueira disse...

Viva
De vez em quando dou uuma olhadela ao teu blog, calmo e sensível. E verifiquei que no meu, em 23.02.2007 publicara estes mesmos poemas, sob o título Cantar Alentejano, com uma gravura e uma pequena biografia de José Dias Coelho.
Saudações
Victor Nogueira

3:26 PM

Maria disse...

victor nogueira

Não conhecia o teu blog.
Deu uma olhada rápida, e fiquei agradavelmente surpreendida.
Já o coloquei nos favoritos para "viajar", mais tarde e com mais tempo, pois há ali muito para ler.
Não há coincidências?...

Saudações C.

7:58 PM

Retirado do blog O Cheiro da Ilha