Fados do Tempo da Outra Senhora (2)
Não venhas tarde ou o "fado da mulher resignada"
Não venhas tarde,Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde,
Do que me pedes baixinho.
Não venhas tarde,
E eu peço a Deus que no fim,
Teu coração ainda guarde,
Um pouco de amor por mim.
Tu sabes bem,
Que eu vou para outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.
Tu estás sentindo,
Que te minto e sou cobarde,
mas sabes dizer sorrindo,
meu amor, não venhas tarde.
Não venhas tarde,
Dizes-me sem azedume,
Quando o teu coração arde,
Na fogueira do ciúme.
Não venhas tarde,
Dizes-me tu da janela,
E eu venho sempre mais tarde,
Porque não sei fugir dela.
Tu sabes bem,
Que eu vou para outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.
Sem alegria,
Eu confesso tenho medo,
Que tu me digas um dia,
Meu amor, não venhas cedo.
Por ironia,
Pois nunca sei onde vais,
Que eu chegue cedo algum dia,
E que seja, tarde de mais.
Intérprete: Carlos Ramos
Letra: João Nobre
Música: Aníbal Nazaré
João Nobre parecia desde o dia do seu nascimento estar fadado a ser músico e compositor: a 5 de Outubro de 1916, comemorando o sexto aniversário da implantação da República, uma banda filarmónica de Faro foi tocar o hino nacional, a Portuguesa, à porta do distinto republicano João da Silva Nobre, precisamente no momento em que o seu filho, João Nobre, vinha ao mundo.
Este compositor algarvio frequentou Direito e Letras mas a sua vocação musical nunca foi menosprezada: com cinco anos já tocava piano e com doze dirigia a Tuna Académica do liceu de Faro. Ainda adolescente, compunha já material para pequenas revistas e actuações amadoras algarvias. Em 1933 chega a Lisboa para continuar os estudos superiores e a sua estreia profissional ocorreu em 1936. O escritor Ferreira de Castro apresentou-o ao empresário de revista Luís de Oliveira Guimarães, que lhe pediu um número para a revista Balance, cuja música estava já toda pronta. Quando a revista estreou, todos os números tinham sido escritos propositadamente por João Nobre, tal fora o agrado com o que o seu número fora recebido.
Foi o início de uma longa carreira onde se incluíram êxitos como O Amor é Louco, Não Venhas Tarde ou Canção do Ribatejo.
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