A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, fevereiro 13, 2007


Vitória do SIM

* Victor Nogueira

Para o Público, jornal dito de referência, «dirigido» por Belmiro de Azevedo, um dos homens mais ricos do mundo, os protagonistas da vitória são pessoas: Sócrates, sobretudo este, mas também Francisco Louçã do Bloco e movimentos cívicos ligados ao PS e ao PSD. Os grandes derrotados são a Igreja Católica e personalidades ligadas ao PSD e ao CDS, como Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa ou ao CDS como Bagão Félix. Mas, «encapotadamente» o «Público» aponta como vencedor o PS.

Sobre a campanha e os projectos do PCP, nicles. PCP e partidos não existem. Mas afinal o referendo confirmou aquilo que o PCP sempre defendeu: que o problema se podia resolver no quadro da maioria «favorável» existente na Assembleia da República.

Mas a vitória do SIM resolverá tudo face à rançosa política «neo-liberal» de quem destrói o Serviço Nacional de Saúde, fechando maternidades, centros de saúde, hospitais e serviços de urgência? A vitória do SIM dá esperança face á política de Sócrates/PS. Mendes/PSD ou Ribeiro e Castro/CDS baseada na flexiilização do trabalho, precarização dos vínculos laborais, o desmprego, o trabalho à hora ou à peça, a marginalização social ou com a desestruturação familiar, com a desertificação do interior e a concentração desordenada no litoral, designadamente na Grande Lisboa e no Grande Porto?

A vitória do SIM é compatível com a destruição de Serviços e da Administração Públicas que asseguram funções sociais do Estado que a Constituição de Abril consagrou e que têm vindo a ser desvirtuados pelos governos de alterne entre PS/PSD/CDS juntos ou separados, mas irmãos na mesma política?

Sabendo-se qual a política sexual e de controle da fertilidade da Igreja Católica, Apostólica e Romana, qual será o sentido do «aconselhamento» dessa instituição religosa cujo Código de Direito Canónico excomunga automáticamente as mulheres que façam desmanchos e ameaçou com a excomunhão quem votasse a favor da despenalização da IVG ou desmanchos até às dez semanas? E já agora pergunto: se a excomunhão das mulheres católicas que façam «desmanchos» é automática, seja ela rica ou pobre, colocando a mulher fora da Igreja e da Salvação, quem tem direito para levantar a excomunhão, salvando aquela alma do «fogo do inferno»?

A vitória do SIM é um passo importante e a análise da abstenção por regiões merece um estudo sério para tentar saber qual o seu verdadeiro significado. Mas o passo importante, essencial, é lutar por uma nova política onde a humanidade, a paz e a justiça social sejam o princípio e o fim da organização socio-económica.

Victor Nogueira


Declaração de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP nos resultados do referendo sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez


1. Com a compreensível satisfação de quem como nós, o PCP, se bate há mais anos por esta relevante causa e tem dado uma contribuição decisiva para o êxito desta luta, quero saudar esta importante vitória do Sim e o seu profundo significado.

A vitória do Sim constitui uma afirmação de valores progressistas e civilizacionais, uma manifestação de tolerância e de respeito pela convicção de cada um e de todos os portugueses, uma importante vitória da mulher e do direito à defesa da sua dignidade e saúde.

A vitória do Sim afirma-se como um iniludível acto democrático e de liberdade, que honra os valores e património de Abril.

2. É agora tempo de, sem mais demoras, fazer respeitar e cumprir os resultados do referendo e a opinião expressa pelos portugueses e portuguesas. É tempo de todos e de cada um, daqueles que se pronunciaram e defenderam o Sim, assumirem sem hesitações as responsabilidades que decorrem deste resultado e de honrarem os compromissos assumidos.

3. Num momento em que o respeito pelos resultados obtidos se traduz na imperiosa e urgente necessidade de se concluir o processo legislativo iniciado na Assembleia da República, o PCP chama a atenção para as manobras e pressões que os partidários do Não, a pretexto do carácter não vinculativo do referendo (e contraditoriamente com tudo o que, em sentido inverso, argumentaram em 1998 para recusar a plena legitimidade do Parlamento na aprovação de uma lei de despenalização) não deixarão de desenvolver, animados pelo longo percurso de cedências e vacilações, que o processo de despenalização da interrupção voluntária da gravidez tem encontrado no campo dos que se pronunciam em sua defesa.

4. O PCP pronuncia-se assim pela rápida concretização do processo legislativo, que contribua para não prolongar o tempo perdido e para adoptar as decisões que respeitem integralmente o sentido e conteúdos do referendo e do seu resultado.

5. Num quadro em que a figura do referendo foi sucessivamente usada como instrumento para impedir e adiar a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, a vitória do Sim põe termo a um prolongado processo dilatório, e deixa sem pretextos o campo dos que, sempre com recurso a manobras artificiais, a tentaram impedir.

É assim absolutamente claro e inquestionável, e os cidadãos eleitores quiseram afirmá-lo, o poder que a Assembleia da República sempre teve para a resolução da questão e que a partir de agora sem rodeios deve assumir.

Alcançado que foi um resultado para o qual o PCP, em coerência com a sua luta de sempre se empenhou activamente, é necessário deixar registada a comprovada inadequação do recurso à figura do referendo em matéria que a Assembleia da Republica não só podia, como devia, ter assumido.

Uma decisão que se traduziu não só em tempo perdido como numa oportunidade dada à direita para retomar, com um fôlego que havia perdido, o cortejo dos mais retrógrados argumentos e a exploração sem escrúpulos dos sentimentos morais e religiosos, que animaram na sociedade portuguesa clivagens e valores conservadores e reaccionários, que a direita não deixará de utilizar no quadro da luta mais geral em torno dos direitos, das liberdades e do regime democrático.

6. Os expressivos resultados obtidos em zonas de maior influência do PCP, que neste momento já é possível conhecer, são expressão do empenhamento e da contribuição decisivos dados pela acção e campanha de informação e esclarecimento que o Partido desenvolveu.

Às organizações, aos militantes, simpatizantes e amigos do Partido, aos nossos aliados da CDU e a todos os que, genuína e sinceramente, se empenharam nesta luta, pondo acima dos seus interesses individuais ou de grupo o valor maior do respeito pela dignidade da mulher, quero deixar uma palavra de saudação e firme compromisso do PCP de prosseguir, sem hesitações, o percurso até à aprovação de um regime legal, compatível com os valores de democracia e liberdade, que defendemos e pelos quais lutamos.

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