Mortos com os «safanões» ordenados por Salazar e Caetano (1)
* Victor Nogueira
A guerra não é uma partida de xadrez ou damas calma e bucolicamente disputada à sombra dum imbondeiro, dum coqueiro ou duma azinheira.
Entre os mortos e outras vítimas há os «profissionais» da guerra e aqueles que lhe sofreram as consequências, por estarem livre ou conscientemente ou não dum dos lados em confronto, quaisquer que sejam as razões que assistam a cada um deles.
Não tenho e não sei se existe o balanço das vítimas do «corporativismo» português de Salazar e Caetano, designadamente dos civis ditos «portugueses» negros (sem direitos de cidadania no Portugal do Minho a Timor) que foram mortos pela polícia política (leia-se PIDE/DGS, Flechas e similares) e pelas Forças Armadas Portuguesas nos teatros de guerra ou não a partir de 1960.
Quantas vítimas de chacinas como a de Wiriamu (Moçambique - Dezembro de 1972 - cerca de 400 mortos segundo a revista Time de Jul. 30, 1973) houve
Duas notas:
Em 9 de Junho de 1961 o Conselho de Segurança do ONU aprovou uma «resolução deplorando profundamente os massacres e demais medidas de repressão da população angolana, podendo comprometer a persistência desta situação a manutenção da paz e segurança internacionais» Em 31 de Julho de 1963 o Conselho de Segurança da ONU aprova uma Resolução «que rejeita o conceito português de «províncias ultramarinas», decidindo que a situação perturbava seriamente a paz e a segurança em África, apelando a Portugal para reconhecer o direito de autodeterminação e independência»
Prosseguindo:
Falando em sangue», quantos «refugiados» que combateram pela legítima República Espanhola foram entregues pelo Governo de Salazar às tropas insurrectas de Franco, que os fuzilaram sem julgamento? Quantos «judeus» POBRES que pretendiam fugir da Alemanha Hitleriana e dos países por ela ocupados foram impedidos de entrar em Portugal pelo católico Governo de Salazar, sendo deste modo condenados aos campos de extermínio?
Convém recordar o sucedido ao cônsul Aristides de Sousa Mendes que, desobedecendo a Salazar, concedeu por «razões humanitárias» vistos a milhares de refugiados judeus, sendo demitido por este, morrendo na miséria, e só foi reabilitado depois do 25 de Abril? Note-se que em 1967 Yad Vashem, autoridade estatal israelita para a recordação dos mártires e heróis do Holocausto, homenageou Aristides de Sousa Mendes com a sua mais alta distinção: uma medalha com a inscrição do Talmude «Quem salva uma vida humana é como se salvasse um mundo inteiro».
Mas salvar vidas humanas não era o objectivo prioritário do Governo de Salazar e dos interesses económicos que o apoiavam e que ele consequentemente defendia. Já aqui no PortugalClub** foi publicado um texto no qual se refere que o Governo de Salazar fora avisado dos massacres que iriam ocorrer em Angola a 15 de Março de 1961, desencadeados pela UPA com o apoio dos EUA, nada tendo feito para evitá-los, a fim de arranjar um pretexto para a intervenção das Forças Armadas Portuguesas com a finalidade de tentar contrariar os chamados «ventos da história» soprados desde os EUA à URSS passando pelos países nórdicos, França e Reino Unido, que defendiam a «independência» de todas as colónias.
Em 15 de Março de 1961 foram mortos pela UPA no Norte de Angola cerca de sete mil civis brancos e negros do Bailundo, enquanto a Guerra naquele território até à independência provocou cerca de trezentos mil mortos civis «negros» «portugueses»
Para que o PortugalClub não registe apenas os mortos dum dos lados, transcrevo o texto:
Assassinados pela PIDE [e pela GNR]
9 de Dezembro de 2005
- 1931, o estudante Branco é morto pela PSP, durante uma manifestação no Porto;
- 1932, Armando Ramos, jovem, é morto em consequência de espancamentos; Aurélio Dias, fragateiro, é morto após 30 dias de tortura; Alfredo Ruas, é assassinado a tiro durante uma manifestação em Lisboa;
- 1934, Américo Gomes, operário, morre em Peniche após dois meses de tortura; Manuel Vieira Tomé, sindicalista ferroviário morre durante a tortura em consequência da repressão da greve de 18 de Janeiro; Júlio Pinto, operário vidreiro, morto à pancada durante a repressão da greve de 18 de Janeiro; a PSP mata um operário conserveiro durante a repressão de uma greve em Setúbal
- 1935, Ferreira de Abreu, dirigente da organização juvenil do PCP, morre no hospital após ter sido espancado na sede da PIDE (então PVDE);
- 1936, Francisco Cruz, operário da Marinha Grande, morre na Fortaleza de Angra do Heroísmo, vítima de maus tratos, é deportado do 18 de Janeiro; Manuel Pestana Garcez, trabalhador, é morto durante a tortura;
- 1937, Ernesto Faustino, operário; José Lopes, operário anarquista, morre durante a tortura, sendo um dos presos da onda de repressão que se seguiu ao atentado a Salazar; Manuel Salgueiro Valente, tenente-coronel, morre em condições suspeitas no forte de Caxias; Augusto Costa, operário da Marinha Grande, Rafael Tobias Pinto da Silva, de Lisboa, Francisco Domingues Quintas, de Gaia, Francisco Manuel Pereira, marinheiro de Lisboa, Pedro Matos Filipe, de Almada e Cândido Alves Barja, marinheiro, de Castro Verde, morrem no espaço de quatro dias no Tarrafal, vítimas das febres e dos maus tratos; Augusto Almeida Martins, operário, é assassinado na sede da PIDE (PVDE) durante a tortura ; Abílio Augusto Belchior, operário do Porto, morre no Tarrafal, vítima das febres e dos maus tratos;
- 1938, António Mano Fernandes, estudante de Coimbra, morre no Forte de Peniche, por lhe ter sido recusada assistência médica, sofria de doença cardíaca; Rui Ricardo da Silva, operário do Arsenal, morre no Aljube, devido a tuberculose contraída em consequência de espancamento perpetrado por seis agentes da Pide durante oito horas; Arnaldo Simões Januário, dirigente anarco-sindicalista, morre no campo do Tarrafal, vítima de maus tratos; Francisco Esteves, operário torneiro de Lisboa, morre na tortura na sede da PIDE; Alfredo Caldeira, pintor, dirigente do PCP, morre no Tarrafal após lenta agonia sem assistência médica;
- 1939, Fernando Alcobia, morre no Tarrafal, vítima de doença e de maus tratos;
- 1940, Jaime Fonseca de Sousa, morre no Tarrafal, vítima de maus tratos; Albino Coelho, morre também no Tarrafal; Mário Castelhano, dirigente anarco-sindicalista, morre sem assistência médica no Tarrafal;
- 1941, Jacinto Faria Vilaça, Casimiro Ferreira; Albino de Carvalho; António Guedes Oliveira e Silva; Ernesto José Ribeiro, operário, e José Lopes Dinis morrem no Tarrafal;
- 1942, Henrique Domingues Fernandes morre no Tarrafal; Carlos Ferreira Soares, médico, é assassinado no seu consultório com rajadas de metralhadora, os agentes assassinos alegam legítima defesa (?!); Bento António Gonçalves, secretário-geral do P. C. P. Morre no Tarrafal; Damásio Martins Pereira, fragateiro, morre no Tarrafal; Fernando Óscar Gaspar, morre tuberculoso no regresso da deportação; António de Jesus Branco morre no Tarrafal;
- 1943, Rosa Morgado, camponesa do Ameal (Águeda), e os seus filhos, António, Júlio e Constantina, são mortos a tiro pela GNR; Paulo José Dias morre tuberculoso no Tarrafal; Joaquim Montes morre no Tarrafal com febre biliosa; José Manuel Alves dos Reis morre no Tarrafal; Américo Lourenço Nunes, operário, morre em consequência de espancamento perpetrado durante a repressão da greve de Agosto na região de Lisboa; Francisco do Nascimento Gomes, do Porto, morre no Tarrafal; Francisco dos Reis Gomes, operário da Carris do Porto, é morto durante a tortura;
- 1944, general José Garcia Godinho morre no Forte da Trafaria, por lhe ser recusado internamento hospitalar; Francisco Ferreira Marques, de Lisboa, militante do PCP, em consequência de espancamento e após mês e meio de incomunicabilidade; Edmundo Gonçalves morre tuberculoso no Tarrafal; assassinados a tiro de metralhadora uma mulher e uma criança, durante a repressão da GNR sobre os camponeses rendeiros da herdade da Goucha (Benavente), mais 40 camponeses são feridos a tiro.
- 1945, Manuel Augusto da Costa morre no Tarrafal; Germano Vidigal, operário, assassinado com esmagamento dos testículos, depois de três dias de tortura no posto da GNR de Montemor-o-Novo; Alfredo Dinis (Alex), operário e dirigente do PCP, é assassinado a tiro na estrada de Bucelas; José António Companheiro, operário, de Borba, morre de tuberculose em consequência dos maus tratos na prisão;
- 1946, Manuel Simões Júnior, operário corticeiro, morre de tuberculose após doze anos de prisão e de deportação; Joaquim Correia, operário litógrafo do Porto, é morto por espancamento após quinze meses de prisão;
- 1947, José Patuleia, assalariado rural de Vila Viçosa, morre durante a tortura na sede da PIDE;
- 1948, António Lopes de Almeida, operário da Marinha Grande, é morto durante a tortura; Artur de Oliveira morre no Tarrafal; Joaquim Marreiros, marinheiro da Armada, morre no Tarrafal após doze anos de deportação; António Guerra, operário da Marinha Grande, preso desde 18 de Janeiro de 1934, morre quase cego e após doença prolongada;
- 1950, Militão Bessa Ribeiro, operário e dirigente do PCP, morre na Penitenciária de Lisboa, durante uma greve de fome e após nove meses de incomunicabilidade; José Moreira, operário, assassinado na tortura na sede da PIDE, dois dias após a prisão, o corpo é lançado por uma janela do quarto andar para simular suicídio; Venceslau Ferreira morre em Lisboa após tortura; Alfredo Dias Lima, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Alpiarça;
- 1951, Gervásio da Costa, operário de Fafe, morre vítima de maus tratos na prisão;
- 1954, Catarina Eufémia, assalariada rural, assassinada a tiro em Baleizão, durante uma greve, grávida e com uma filha nos braços;
- 1957, Joaquim Lemos Oliveira, barbeiro de Fafe, morre na sede da PIDE no Porto após quinze dias de tortura; Manuel da Silva Júnior, de Viana do Castelo, é morto durante a tortura na sede da PIDE no Porto, sendo o corpo, irreconhecível, enterrado às escondidas num cemitério do Porto; José Centeio, assalariado rural de Alpiarça, é assassinado pela PIDE;
- 1958, José Adelino dos Santos, assalariado rural, é assassinado a tiro pela GNR, durante uma manifestação em Montemor-o-Novo, vários outros trabalhadores são feridos a tiro; Raul Alves, operário da Póvoa de Santa Iria, após quinze dias de tortura, é lançado por uma janela do quarto andar da sede da PIDE, à sua morte assiste a esposa do embaixador do Brasil;
- 1961, Cândido Martins Capilé, operário corticeiro, é assassinado a tiro pela GNR durante uma manifestação em Almada; José Dias Coelho, escultor e militante do PCP, é assassinado à queima-roupa numa rua de Lisboa;
- 1962, António Graciano Adângio e Francisco Madeira, mineiros em Aljustrel, são assassinados a tiro pela GNR; Estêvão Giro, operário de Alcochete, é assassinado a tiro pela PSP durante a manifestação do 1º de Maio em Lisboa;
- 1963, Agostinho Fineza, operário tipógrafo do Funchal, é assassinado pela PSP, sob a indicação da PIDE, durante uma manifestação em Lisboa;
- 1964, Francisco Brito, desertor da guerra colonial, é assassinado em Loulé pela GNR; David Almeida Reis, trabalhador, é assassinado por agentes da PIDE durante uma manifestação em Lisboa;
- 1965, general Humberto Delgado e a sua secretária Arajaryr Campos são assassinados a tiro em Vila Nueva del Fresno (Espanha), os assassinos são o inspector da PIDE Rosa Casaco e o subinspector Agostinho Tienza e o agente Casimiro Monteiro;
- 1967, Manuel Agostinho Góis, trabalhador agrícola de Cuba, more vítima de tortura na PIDE;
- 1968, Luís António Firmino, trabalhador de Montemor, morre em Caxias, vítima de maus tratos; Herculano Augusto, trabalhador rural, é morto à pancada no posto da PSP de Lamego por condenar publicamente a guerra colonial; Daniel Teixeira, estudante, morre no Forte de Caxias, em situação de incomunicabilidade, depois de agonizar durante uma noite sem assistência;
- 1969, Eduardo Mondlane, dirigente da Frelimo, é assassinado através de um atentado organizado pela PIDE;
- 1972, José António Leitão Ribeiro Santos, estudante de Direito em Lisboa e militante do MRPP, é assassinado a tiro durante uma reunião de apoio à luta do povo vietnamita e contra a repressão, o seu assassino, o agente da PIDE Coelha da Rocha, viria a escapar-se na "fuga-libertação" de Alcoentre, em Junho de 1975;
- 1973, Amilcar Cabral, dirigente da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde, é assassinado por um bando mercenário a soldo da PIDE, chefiado por Alpoim Galvão;
- 1974, (dia 25 de Abril), Fernando Carvalho Gesteira, de Montalegre, José James Barneto, de Vendas Novas, Fernando Barreiros dos Reis, soldado de Lisboa, e José Guilherme Rego Arruda, estudante dos Açores, são assassinados a tiro pelos pides acoitados na sua sede na Rua António Maria Cardoso, são ainda feridas duas dezenas de pessoas.
A PIDE acaba como começou, assassinando. Aqui não ficam contabilizadas as inúmeras vítimas anónimas da PIDE, GNR e PSP em outros locais de repressão. Mas ainda podemos referir, duas centenas de homens, mulheres e crianças massacradas a tiro de canhão durante o bombardeamento da cidade do Porto, ordenada pelo coronel Passos e Sousa, na repressão da revolta de 3 de Fevereiro de 1927. Dezenas de mortos na repressão da revolta de 7 de Fevereiro de 1927 em Lisboa, vários deles assassinados por um pelotão de fuzilamento, à ordens do capitão Jorge Botelho Moniz, no Jardim Zoológico. Dezenas de mortos na repressão da revolta da Madeira, em Abril de 1931, ou outras tantas dezenas na repressão da revolta de 26 de Agosto de 1931. Um número indeterminado de mortos na deportação na Guiné, Timor, Angra e no Cunene. Um número indeterminado de mortos devido à intervenção da força fascista dos "Viriatos" na guerra civil de Espanha e a entrega de fugitivos aos pelotões de fuzilamento franquistas. Dezenas de mortos em São Tomé, na repressão ordenada pelo governador Carlos Gorgulho sobre os trabalhadores que recusaram o trabalho forçado, em fevereiro de 1953. Muitos milhares de mortos durante as guerras coloniais, vítimas do Exército, da PIDE, da OPVDC, dos "Flechas", etc.
25 de Abril de 2002
(*) Algumas destas mortes maciças foram referidas por mim em artigo publicado no PortugalClub, embora faltem outras. Por isso, desse texto transcrevo «Portugal e o Governo de Salazar foram incapazes de aceitar a independência das suas colónias e as propostas de um reconhecimento pacífico da sua autodeterminação.
Ao diálogo responderam de novo com as prisões e à força das armas como sucedeu com o assassinato de cerca de mil camponeses em S. Tomé, que se recusavam ao trabalho escravo (Batepá - 3 Fevereiro 1953), o fuzilamento de algumas dezenas de estivadores
Quanto a Marcelo Caetano, ideólogo do «corporativismo» que defendia a existência dum Portugal uno do Minho a Timor, havia escrito que "os indígenas são súbditos portugueses mas sem fazerem parte da Nação"; "os cruzamentos ocasionais ou familiares são fonte de perturbações graves na vida social de europeus e indígenas"; "os pretos têm de ser dirigidos e enquadrados por europeus, e olhados como elemento produtivo enquadrado ou a enquadrar numa economia dirigida por brancos".
A talhe de foice e segundo o jornal «Público» de 4 de Fevereiro de 2004 «O Papa Paulo VI solidariza-se com os missionários que revelaram a chacina de Wiriamu, o então secretário-geral da ONU, Kurt Waldheim, recebe o padre Hastings, Willy Brandt [Alemanha Federal] reconhece a FRELIMO e a Suécia duplica o seu financiamento a este movimento».
** Fórum de discussão na internet
Publicado nos blogs «25 de Abril - O antes e o agora» e «Macua.blog.com/Moçambique para todos» bem como nos sites «PortugalClub» e «PortugalNotícias»
1 comentário:
Comentário colocado no Portugal Club a este texto:
Caro Victor Nogueira
A elaboração das suas listas, trabalho para reunir e coligir tão exaustiva soma de dados deve ter sido uma uma tarefa capaz de fazer empalidecer de inveja os próprios Trabalhos Hércules. Sim senhor. Estou banzado, aturdido com tão gigantesca tarefa para tornar Portugal numa coisa que faz do que se passou (para não irmos mais longe) recentemente na "Bósnia-Herzgovina" ou no "Kosovo", uma espécie de Disneylândia para crescidos!
Realmente, nós os Portugueses (aqueles que ainda sentem qualquer coisa de gratificante pela Pátria, bem entendido) devemos, de hora àvante, andar enfiados debaixo de um enorme cartucho de papel pardo que nos cubra da cabeça até aos pés, para evitar os olhares de repulsa do resto da Humanidade (Al-Qaeda incluída) e ocultarmos o opróbrio da nossa torpe condição de fedegosdos algozes portugueses (agora com letra pequena).
Francamente, caro Nogueira, veja só como são as coisas. Dos crimes cometidos pelo tal "fascismo" português ainda se consegue arrolar uma lista detalhada de seis folhas que cabem numa página de e-mail! Mas para elaborar uma lista tão exaustiva e detalhada como a sua é para nos comparar com aquilo que o regime soviético praticou - e fiquemo-nos apenas pelo que aconteceu ao povo soviético, não contabilizemos o resto - não chegavam várias listas telefónicas da cidade de São Paulo. As vítimas que aponta são, em 99,9% dos casos, membros ou afins do PC, que foi quem verdadeiramente sofreu (e pagou bem caro pelas suas actividades!) às mãos da Polícia Política, PIDE-DGS. Mas o PC, nessa altura, tenhamos isso em conta, tinha como meta, não a instauração de um Regime Democrático em Portugal, mas sim o arrastar do nosso país para a esfera soviética e contribuir para a ³Vitória Final² no comunismo em todo o Planeta Terra. Os famosos e tão exaltados "Amanhãs Que Cantam". E hoje, quem sabe, Lisboa era já bem capaz de ter mudado o seu nome para "Cunhalgrado".
Tratava-se de uma "Guerra Surda", onde o conflito Leste/Oeste tinha, também em Portugal, uma linha de combate. Ora a Guerra é a Guerra, meu caro Nogueira. Na Guerra, quem não procurar causar o maior número de baixas às fileiras do inimigo não passará de um frouxo ou, pelo menos, de um traidor. E na Guerra vale tudo, até "tirar olhos", não é mesmo?
O governo da altura - o fascismo - até fez certamente menos do que sofreria no caso do adversário (leia-se PC) vencesse:- tiro na nuca a cada um dos "faxos", pelo menos, um pouco ao jeito do massacre de Katyn, onde o grosso dos oficiais polacos da abertura da II Guerra Mundial foi eficazmente eliminado pela NKVD, mais tarde KGB, num obscuro bosque da Russia, perto de Smolensko. Quais julgamentos fantoches nem Tribunais Plenários, qual nada. Se faltassem munições, haveriam sempre candeeiros públicos e cordas para pendurar os "faxos" pelo ganete. Disso nem tenha dúvidas, caro Nogueira. Campos do Tarrafal na Ilha do Sal? Disparate! Que desperdício!! Tiro e queda e acabou-se.
Quanto ao resto, o que se passou durante as guerras coloniais (como vocês tanto gostam de as designar) não era mais do que Guerra, e o que eu disse lá atrás sobre a Guerra, serve aqui perfeitamente. Mas segundo as suas declarações, os mortos - só em Angola - contabilizados durante as guerras que por ali lavraram após a saída dos portugueses foram uma gota de água no oceano quando comparadas como os horrendos massacres praticados pelos soldados colonialistas portugueses, verdadeiros serial killers. Vários angolanos meus conhecidos e amigos dizem precisamente o contrário, veja lá. (Com tanto morto, nem sei como é que os angolanos se arranjaram para conseguir formar uma equipa de futebol para o Campeonato do Mundo na Alemanha!)
E o comandante Alpoim Calvão - apenas o militar português mais condecorado - não fez mais do que o seu dever. Guerra é Guerra, e quem vai à Guerra dá e leva, não é assim que reza o rifão?
Mas repare que no que toca a Eduardo Mondlane (isto são apenas boatos, fica desde já ressalvado) chegaram-me rumores às orelhas de que se tratou, fundamentalmente, de uma luta interna entre quadros da Frelimo, que proporcionaram (se é que não executaram mesmo) a eliminação de Mondlane para que Samora Machel ficasse com as mãos livres para tomar as rédeas da Organização, como veio de facto a acontecer.
E pronto. Do so called fascismo português aponto a Salazar os erros que não ter, logo após o fim da II Guerra Mundial, não restabelecido as Liberdades Fundamentais e Formais, não ter acabado com a Censura e não ter permitido o normal desenrolar das instituições democráticas. E já não é pouco.Tudo seria diferente se isto tem sido, então, posto em prática. Mas não nos esqueçamos que a Guerra Fria, nessa altura bem acesa, fazia pender a ameaça da expansão comunista sobre os quatro cantos do planeta. E Portugal estava bem exposto a tudo isso. Nem dos dramas que uma distensão política em Portugal poderia causar aos nossos vizinhos espanhóis, recentemente escarmentados por uma sangrenta e dolorosa guerra civil cujo ecos ainda hoje chegam até nós. Os sarilhos e os conflitos que daí adviriam seriam mais do que muitos. Convenhamos que era difícil tomar uma opção. De qualquer modo, continuo a achar que a opção certa mesmo era seguir a via das democracias europeias. Não foi assim. Infelizmente. Bad choices, bad luck!
E para teminar, quanto ao nosso fascismo de pacotilha, já estou como dizia o defunto almirante Pinheiro de Azevedo: "Vão b...... mais o fascismo!" Com amizade José Pires
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