O maior português de todos os tempos (4) - Uma opinião
Coisas do circo
Um saque público
Poucas vezes a televisão usou tanta ‘artilharia’ para promover um programa tão caricaturalmente formal.
RTP levou muito a sério a sua missão de escolher “o maior português de todos os tempos”. Páginas inteiras de publicidade nos jornais e nas revistas, uma intensa campanha de autopromoção em antena, cartazes em grande formato nas ruas das principais cidades.
RTP levou muito a sério a sua missão de escolher “o maior português de todos os tempos”. Páginas inteiras de publicidade nos jornais e nas revistas, uma intensa campanha de autopromoção em antena, cartazes em grande formato nas ruas das principais cidades.
Poucas vezes a televisão usou tanta ‘artilharia’ para promover um programa tão caricaturalmente formal. É o provincianismo mais abstruso, “à moda portuguesa”.
O grito da RTP parece ser – “o País precisa de saber quem é o maior”. Enfim. A RTP começa a desviar-se do caminho que foi traçado há dois ou três anos e os resultados não são muito animadores.
Uma novela em prime-time, muito mal feita e com resultados de audiência muito maus. E agora, a assunção deste projecto nacionalista desesperado, à procura de uma referência.
Toda a gente sabe que o formato é da BBC e para os parolos que na RTP decidem estas coisas basta isso. Esqueceram-se de verificar que a BBC passa coisas boas e más e que há programas que são pacíficos num país e inadequados noutros. É por isso que a televisão é um fenómeno iminentemente nacional. Falou mais alto o provincianismo português. E então, de uma forma pouco transparente, lá anda o serviço público a brincar com coisas sérias.
Foram buscar a desgraçada da Elisa para apresentar esta palhaçada que ainda vai durar mais de um mês. A Elisa, pelos métodos inconsistentes que lhe puseram pela frente, lá desenterrou dez nomes, de Afonso Henriques a Vasco da Gama, com Salazar e Cunhal de permeio, e agora vive-se “dramaticamente”, emocionadamente como convém nas etapas finais destes concursinhos, a dizer que só há lugar para um. “O tal do gostinho especial”.
Que grau de seriedade tem esta eleição? Sem dúvida inferior à da escolha da Miss Amadora ou da Miss T-Shirt Molhada. Porquê? Porque nestas eleições de misses há um júri que dá a cara pelos votos que distribui pelas meninas. Nesta circunspecta e institucional escolha do melhor português, o método de votação é por chamadas de valor acrescentado. Por cada telefonema 0,60 e + IVA.
Não vale a pena sequer lembrar os truques que já foram praticados durante a primeira fase deste ‘inolvidável’ concurso, como dizem os locutores de circo, com o esquema dos ‘call me’ para marcar votos. Mas é importante que se diga que qualquer resultado é um logro, não tem significado nenhum e não é representativo de nada, nem dos habitantes do meu bairro. ‘Os grandes portugueses’ não é um programa de serviço público. Quando muito é uma acção de saque público, isso sim.
PS: Bom programa vi há dias na SIC. Uma brilhante reportagem do Pedro Coelho sobre uma menina pastora que quer estudar mas está impedida pelos próprios pais que precisam dela para o pastoreio.
Emídio Rangel
Correio da Manhã - 2007-02-10
Emídio Rangel
Correio da Manhã - 2007-02-10
Sem comentários:
Enviar um comentário