2007-02-13
Durante 30 segundos o pânico instalou-se e levou para as ruas centenas de pessoas. O maior tremor de terra dos últimos 38 anos no Continente português não deixou marcas para a História, mas criou um rasto de muitas histórias que falam de medo. Em seis distritos e no Sul de Espanha, foram poucos os que não sentiram o chão a fugir debaixo dos pés.
O sismo que abalou ontem de manhã o Centro e Sul do País, “assustou” quem durante 30 segundos sentiu a terra tremer. A magnitude de 5.8 graus na escala de Richter não chegou para provocar vítimas, mas foi suficientemente forte para abalar também algumas zonas de Espanha e Marrocos. Em Portugal, apenas na Nazaré uma parede cedeu à força do tremor e sete pessoas – das quais cinco crianças – foram assistidas no Algarve. Um pouco por toda região, o pânico levou centenas de pessoas para as ruas.
O sismo registado às 10h36 teve o epicentro a 160 quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente (no Banco de Gorringe), região onde é presumível que tenha tido origem o sismo de 1755 e, dois séculos mais tarde, o de Fevereiro de 1969 (ver caixa). Classificado como o maior tremor de terra dos últimos 38 anos no Continente português, o abalo de ontem foi sentido com intensidade máxima V (na escala de Mercalli modificada) especialmente no Barlavento algarvio, mas atingiu ainda os distritos de Lisboa, Beja, Évora, Santarém Leiria e Setúbal. Catorze minutos depois ocorreu a primeira réplica, seguida de outra às 13h30. Ambas com magnitude 2.5 na escala de Richter, não foram sentidas pelas populações.
Por essa altura, já as histórias que tinham em comum “o medo” se atropelavam por ruas e cafés. “Acordei com a cama a tremer, abri a janela e vi os prédios da frente a balançar. Foi muito forte e durou mais tempo do que é normal”, contou ao CM Bruno Cortes, morador na Baixa farense. Enquanto o baterista de 32 anos vivia sozinho os longos segundos de aflição, a alguns metros de distância dezenas de pessoas partilhavam o pânico.
(...) Na Andaluzia, Espanha, o sismo atingiu a magnitude de 4 na escala de Richter. Foi o maior dos últimos dez anos naquela região.(..)
EPICENTRO COMUM
O sismo ontem registado tem em comum com os de 1969 (que, com 7,5 graus na escala de Richter, foi o mais violento do século passado, em Portugal) e de 1755 – o maior de sempre no País e o maior da Europa desde então – a sua zona de origem.
O epicentro ocorreu no chamado banco de Gorringe, uma montanha subaquática com cerca de 200 quilómetros de extensão, a pouco mais de 50 metros de profundidade e cerca de 200 quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente (junto a Sagres).
Mas, enquanto ontem não se registaram vítimas nem danos materiais significativos, o terramoto de 1755 devastou Lisboa e levou à construção de uma cidade nova, em especial na Baixa.Já do sismo ocorrido em 1969 não há registo de vítimas mortais, mas foram avultados os danos materiais, em especial na região algarvia.
Para ajudar ao realojamento dos que perderam casa e à reconstrução das habitações parcialmente destruídas, o então presidente do Conselho, Marcello Caetano, criou um fundo especial de emergência para auxílio aos mais prejudicados.
Incluindo as ilhas, o sismo mais violento dos últimos anos, com 6,1 graus na escala de Richter, foi sentido em 1998, nos Açores, com epicentro a 15 quilómetros a noroeste da cidade da Horta (na ilha do Faial), provocando enormes estragos materiais e inúmeros desalojados. (...)
FENÓMENO SUPERFICIAL SEM RISCO DE TSUNAMI
Contrariamente aos sismos de 1755 e de 1969, o de ontem não provocou alterações do fundo marinho, condição para a criação de um tsunami, esclareceu ao CM Alveirinho Dias, geólogo e coordenador do Centro de Investigação dos Ambientes Costeiros e Marinhos da Universidade do Algarve. De acordo com o especialista, embora superficial, o fenómeno foi registado a cerca de 30 km de profundidade, não afectando a topografia submarina. Alveirinho Dias salienta, no entanto, que a região corre o risco de uma repetição da catástrofe de há 38 anos e alerta para a necessidade de uma fiscalização rigorosa da construção na região algarvia: “Temos uma regulamentação anti-sísmica bastante restritiva mas o ónus do cumprimento cabe aos construtores o que não me deixa muito tranquilo”, admite.(...)
O TERRAMOTO DE LISBOA
Foi em 1755. Faz no próximo dia 1 de Novembro 252 anos que a cidade de Lisboa foi devastada por um dos maiores terramotos conhecidos na História do planeta. O terramoto que deu ao Marquês de Pombal a oportunidade de reconstruir a baixa da capital atingiu os 8,7 graus de Richter (escala criada, em 1935, com o limite nos 9 graus).
in Correio da Manhã
Nota - Ao contrário do de 1969, este sismo foi por mim menos sentido, embora me tenha apercebido pelo ligeiro ruído dos objectos a balançarem
Sem comentários:
Enviar um comentário