A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, fevereiro 07, 2007



"Canção para Luanda"


A pergunta no ar
no mar
na boca de todos nós:
- Luanda onde está?

Silêncio nas ruas
Silêncio nas bocas
Silêncio nos olhos

- Xé
mana Rosa peixeira
responde?

-Mano
Não pode responder
tem de vender
correr a cidade
se quer comer!

"Olá almoço, olá almoçoeee
matona calapau
ji ferrera ji ferrereee"

- E você
mana Maria quintandeira
vendendo maboques
os seios-maboque
gritando, saltando
os pés percorrendo
caminhos vermelhos
de todos os dias?
"maboque, m'boquinha boa
doce docinha"

- Mano
não pode responder
o tempo é pequeno
para vender!

Zefa mulata
o corpo vendido
baton nos lábios
os brincos de lata
sorri
abrindo o seu corpo
- seu corpo cubata!
Seu corpo vendido
viajado
de noite e de dia.
- Luanda onde está?

Mana Zefa mulata
o corpo cubata
os brincos de lata
vai-se deitar
com quem lhe pagar
- precisa comer!

- Mano dos jornais
Luanda onde está?
As casa antigas
o barro vermelho
as nossas cantigas
tractor derrubou?

Meninos das ruas
cacambulas
quigosas
brincadeiras minhas e tuas
asfalto matou?

- Manos
Rosa peixeira
quitandeira Maria
você também
Zefa mulata
dos brincos de lata
- Luanda onde está?

Sorrindo
as quindas no chão
laranjas e peixe
maboque docinho
a esperança nos olhos
a certeza nas mãos
mana Rosa peixeira
quitandeira Maria
Zefa mulata
- os panos pintados
garridos, caidos
mostraram o coração:
- Luanda está aqui!

Luandino Vieira

Pseudónimo literário do escritor angolano José Vieira Mateus da Graça que nasceu na Lagoa do Furadouro (Vila Nova de Ourém, Portugal, a 4 de Maio de [[1935}}. Tornou-se cidadão angolano por combater ao lado do MPLA contra o domínio português naquela colónia e por ter contribuindo para a criação da República Popular de Angola. . Foi preso pela PIDE, em 1959, acusado de ligações ao movimento independentista (Processo dos 50), tendo sido libertado pouco tempo depois. Em 1961, a Sociedade Portuguesa de Autores, então presidida por Manuel da Fonseca, decide atribuir-lhe o Prémio Castelo Branco, pela sua obra Luuanda. Tal acção fez com a PIDE/DGS levasse a cabo uma acção de "desmantelamento" da SPA. Nesse mesmo ano, voltaria a ser detido sendo condenado a 14 anos de prisão. Cumpriu a pena no Tarrafal, em Cabo Verde. Regressou a Portugal em 1972 em liberdade condicional e com residência fixa em Lisboa. Em 1975, com a Independência regressou a Angola onde ficou até 1992. Com o fiasco das primeiras eleições livres e com o recomeço de uma nova guerra civil decide regressar a Portugal e isola-se de tudo e de todas na herdade de um amigo no Minho, onde se torna agricultor. Vencedor do Prémio Camões 2006, o maior galardão literário para a língua portuguesa, que recusou "por motivos íntimos e pessoais" segundo o que alegou num comunicado de imprensa. Contudo sabe-se por entrevistas dadas sobretudo ao JL, (Jornal de Letras Artes & Ideias), que não aceitou o prémio por se considerar um escritor morto e que como tal o Prémio deveria ser entregue a alguém que continuasse a produzir. Tal facto veio-se alterar pois já havia rumores que Luandino Vieira estava a preparar uma nova obra, que iria sair a lume em 2006.

FONTE: Wikipedia

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