A mulemba secou.
No barro da rua,
Pisadas, por toda a gente,
Ficaram as folhas
Secas, amareladas
A estalar sob os pés de quem passava.
Depois o vento as levou...
Como as folhas da mulemba
Foram-se os sonhos gaiatos
Dos miúdos do meu bairro.
(De dia,
Espalhavam visgo nos ramos
E apanhavam catituis,
Viúvas, siripipis
Que o Chiquito da Mulemba
Ia vender no Palácio
Numa gaiola de bimba.
De noite,
Faziam roda, sentados,
A ouvir, de olhos esbugalhados
A velha Jaja a contar
Histórias de arrepiar
Do feitiçeiro Catimba.)
Mas a mulemba secou
E com ela,
Secou tambem a alegria
Da miúdagem do bairro;
O Macuto da Ximinha
Que cantava todo o dia
Já não canta.
O Zé Camilo, coitado,
Passa o dia deitado
A pensar em muitas coisas.
E o velhote Camalundo,
Quando passa por ali,
Já ninguém o arrelia,
Já mais ninguém lhe assobia,
Já faz a vida em sossego.
Como o meu bairro mudou,
Como o meu bairro está triste
Porque a mulemba secou...
Só o velho Camalundo
Sorri ao passar por lá!...
Aires Almeida dos Santos (1922-1991)
Nasceu em 1922 no Chinguar, província do Bié. Passou a infância em Benguela e a adolescência no Huambo. Em Benguela fez os estudos primários e no Liceu do Lubango concluíu o 7º ano. Exerceu jornalismo em Luanda, tem colaboração literária dispersa nos vários jornais publicados em Angola, como Jornal de Benguela, Jornal de Angola e A Província de Angola. Morreu em 1991, na cidade de Benguela. Publicou: Meu Amor da Rua Onze (1987).
Desenho de Neves e Sousa
Aires Almeida dos Santos (1922-1991)
Nasceu em 1922 no Chinguar, província do Bié. Passou a infância em Benguela e a adolescência no Huambo. Em Benguela fez os estudos primários e no Liceu do Lubango concluíu o 7º ano. Exerceu jornalismo em Luanda, tem colaboração literária dispersa nos vários jornais publicados em Angola, como Jornal de Benguela, Jornal de Angola e A Província de Angola. Morreu em 1991, na cidade de Benguela. Publicou: Meu Amor da Rua Onze (1987).
Desenho de Neves e Sousa
Sem comentários:
Enviar um comentário