por Gregory Elich
Apesar de toda a propaganda sensacionalista relativa à admissão nortecoreana de um programa de armas nucleares, um facto importante foi ignorado: Isto nunca aconteceu. Nenhum responsável nortecoreano fez em qualquer momento uma tal declaração.
Os relatos ocidentais repetem infindavelmente a afirmação de que um responsável nortecoreano admitiu um programa de armas nucleares numa reunião em Outubro com James Kelly, secretário de Estado Assistente dos EUA. Nenhuma outra evidência foi apresentada além da afirmação de Kelly. Acerca deste assunto, a palavra da administração Bush foi aceite como evidência suficiente — a mesma administração Bush que tem mentido sistematicamente acerca de quase tudo. Mas sobre a Coreia do Norte a sua palavra foi evidência suficiente.
Se a Coreia do Norte não confessou ter um programa de armas nucleares, então o que aconteceu realmente durante a malfadada reunião de Outubro? Para entender o que aconteceu em Outubro e a confrontação resultante, os acontecimentos devem ser encarados no contexto mais vasto das relações americano-nortecoreanas e da questão nuclear. Este contexto também é importante para explicar porque a administração Bush deliberadamente enganou a opinião pública mundial, utilizando a questão nuclear como um pretexto para impor medidas económicas e políticas numa tentativa de provocar o colapso da Coreia do Norte.
Chegar à beira da guerra e recuar
O conflito nas relações norteamericano-norteacoreanas sobre a questão nuclear principiou em 26/Jan/1993, quando o presidente Clinton anunciou que as forças armadas americanas conduziriam jogos de guerra na Coreia do Sul. A isto seguiram-se no mês seguintes notícias de que algumas das armas nucleares anteriormente apontadas à União Soviética seriam redirigidas para a Coreia do Norte. Em Março, os enormes jogos de guerra Team Spirit que envolviam bombardeiros, mísseis de cruzeiro e vasos navais foram iniciados. Interpretando isto como uma provocação, a Coreia do Norte respondeu avisando que se retiraria do Tratado de Não Proliferação (TNP) nuclear. Contudo, conversações com responsáveis americanos em Junho de 1993 levaram a Coreia do Norte a prescindir da sua intenção declarada de abandonar o TNP. Mas surgiram novas dificuldades quando a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) insistiu em inspeccionar sítios nucleares não declarados na Coreia do Norte, algo que a agência nunca exigira a qualquer outra nação. Tal exigência foi efectuada por instigação de responsáveis norte-americanos, que estiveram a pressionar a AIEA a efectuar inspecções mais intrusivas e de âmbito mais vasto, com a esperança de descobrir um pretexto para efectuar pressão sobre a Coreia do Norte e aumentar as oportunidades para colher dados de inteligência. Por estas altura, a Coreia do Norte descobriu que os inspectores da AIEA nos sítios declarados da Coreia do Norte estavam a transmitir dados de inteligência a responsáveis americanos. [1] Encorajados por novos relatórios que provocavam respostas emocionais, a administração Clinton denunciou que o plutónio extraído da instalação nuclear de Yongbyon, na Coreia do Norte, estava a ser utilizada no desenvolvimento de armas nucleares. Nenhuma evidência foi apresentada para tal acusação, mas ela obteve uma vasta aceitação à força de ser repetida.
Em Novembro daquele ano, o presidente Clinton apareceu no "Meet the Press", insistindo em que "não se pode permitir à Coreia do Norte desenvolver uma bomba nuclear". Por volta de 1994, as conversações entre os EUA e a Coreia do Norte foram rompidas, e os Estados Unidos estavam a exercer pressão no Conselho de Segurança da ONU no sentido de impor sanções. Em Junho de 1994, os EUA submeteram formalmente à ONU um projecto de resolução acerca de sanções graduadas, mas nos bastidores a administração Clinton já havia decidido a guerra. O secretário da Defesa William Perry e o secretário da Defesa Assistente Ashton Carter "gastaram grande parte do primeiro semestre de 1994 preparando a guerra na península coreana". Segundo Perry e Carter, "preparámos um plano pormenorizado para atacar a instalação de Yongbyon com bombas guiadas com precisão. Estávamos altamente confiantes em que aquilo seria destruído sem causar uma fusão nuclear (meltdown) que libertaria radioactividade para o ar". Parece altamente duvidoso que uma libertação de radioactividade pudesse ter sido evitada, mas o ataque destinava-se provavelmente a desencadear devastação muito maior. Perry e Carter previram que a Coreia do Norte responderia, como eles disseram, "violentamente", ou para dizer isto com mais precisão, combatendo a agressão americana. "Na eventualidade de um ataque norte coreano", disseram eles, "as força americanas, trabalhando lado a lado com o Exército sul coreano e utilizando bases no Japão, rapidamente destruiriam o Exército da Coreia do Norte e o regime da Coreia do Norte. Mas ao contrário da Tempestade do Deserto, que foi travada no deserto da Arábia, o combate em outra Guerra da Coreia teria lugar nos populosos subúrbios de Seul". Perry e Carter admitem que "o preço seria pesado", estimando que "milhares de soldados americanos e dezenas de milhares de soldados sul coreanos seriam mortos, e milhões de refugiados inundariam as estradas. As perdas norte coreanos seriam mesmo mais elevadas. A intensidade do combate seria maior do que qualquer outra guerra que o mundo tenha testemunhado desde a última Guerra da Coreia". Observe-se a ausência de qualquer menção ao número de civis que poderiam morrer na sua guerra. Deveria ser relembrado que 4 milhões de coreanos perderam as suas vidas na Guerra da Coreia de 1950-1953, e que uma nova guerra com armas modernas tem o potencial para espalhar a morte em escala maciça. As centenas de milhares ou talvez os milhões de coreanos comuns que perderiam as suas vidas em não preocupavam a administração Clinton de modo algum. [2]
O presidente sul coreano, Kim Young-Sam, não era tão indiferente como os responsáveis americanos ao sacrifício de vidas coreanas. "Naquele momento a situação estava realmente perigosa", recorda ele. "O governo Clinton estava a preparar-se para a guerra", com um porta-aviões junto à costa e navios de guerra a planearem um bombardeamento naval. Como as forças americanas concentravam-se para um assalto, Kim advertiu o embaixador americano James Laney de que uma outra guerra resultaria transformaria toda a Coreia numa piscina de sangue e que a Coreia do Sul não moveria "nem um único soldado" em apoio à guerra americana. Kim telefonou então ao presidente Clinton e discutiu com ele durante 32 minutos. "Disse-lhe não haveria qualquer guerra inter-coreano enquanto eu fosse presidente", afirmou Kim. "Clinton tentou persuadir-me a mudar de ideia, mas eu critiquei os Estados Unidos por planearem encenar uma guerra com o Norte sobre a nossa terra". Finalmente, Clinton abrandou, mas ele considerava a oposição da Coreia do Sul apenas um empecilho temporário, e os responsáveis americanos continuaram a planear a guerra. [3]
Não foram feitas quaisquer iniciativas diplomáticas do lado americano, e as conversações interromperam-se. Alarmado com o movimento em direcção à guerra, o antigo presidente Jimmy Carter preferiu intervir pessoalmente, voando para Pyongyang num missão não oficial para abrir negociações. Segundo Carter, na sua primeira reunião conjunta, o presidente nortecoreano Kim Il-Sung "estava pronto para congelar o seu programa nuclear durante as conversações e considerar um congelamento permanente se os seus antigos reactores pudessem ser substituídos por outro modernos e mais seguros". O presidente Kim também exigiu uma garantia dos EUA de que não atacariam o seu país com armas nucleares. Naquela noite Carter telefonou à Casa Branca, interrompendo um conselho de guerra que estava reunido. Carter transmitiu as notícias de que o presidente Kim concordara num congelamento a ser monitorado pela AIEA e em entrar em negociações com os EUA sobre uma solução final da questão. Sabendo que a Casa Branca poderia estar inclinada a ignorar a perspectiva de um acordo negociado, Carter disse-lhes que ele havia combinado com uma equipe de filmagem da CNN transmitir uma entrevista ao vivo imediatamente após o telefonema na qual ele anunciaria o resultado da reunião daquele dia. Quando as notícias da intenção de Carter foram passadas aos demais participantes do conselho de guerra na Casa Branca, eles reagiram com indignação. Sintonizando a CNN, os responsáveis da administração Clinton ficaram consternados quando viram Carter anunciar "O compromisso que recebi é de que todos os aspectos do programa nuclear da Coreia do Norte seriam resolvidos por meio de conversações com boa fé". Carter chegou a dizer que sob tais circunstâncias, prosseguir com a imposição de sanções seria um erro. "Nada deveria ser feito para agravar a situação agora. A razão porque vim aqui foi para tentar impedir um erro irreconciliável". Furiosos com o afundamento da sua guerra, os responsáveis da administração Clinton foram deixados sem qualquer opção senão responder à abertura diplomática. Eles assim o fizeram mas colocando imediatamente exigências adicionais à Coreia do Norte e insistindo em prosseguir com esforços para ganhar a aprovação da ONU para a imposição de sanções. Novas negociações no dia seguinte entre Carter e o presidente Kim Il-Sung resultaram em que a Coreia do Norte concordou em não reprocessar o seu combustível gasto, esvaziando a última desculpa do lado americano para rejeitar uma solução diplomática. Um responsável do Departamento de Estado reflectiu posteriormente: "A coisa chocante em relação à visita de Carter não foi as pessoas terem ficado desapontadas por alguém ter ido lá. Foi o facto de que quando ele conseguiu o congelamento, as pessoas terem ficado deprimidas". [4] Segundo outro responsável do Departamento de Estado naquela época, "Aquilo esteve por um fio. O povo americano nunca saberá quão próximo estivemos da guerra. Se (a Coreia do Norte) não tivesse aceite, tínhamos 50 mil soldados na fronteira. Estávamos muito pouco desejosos de pará-lo". [5]
As negociações oficiais entre os dois lados abriram-se em 08/Julho/1994 em Genebra, e conduziram à assinatura da Estrutura de Acordo (Agree Framework) em 21 de Outubro. Nos termos do acordo, a Coreia do Norte era obrigada a congelar o seu reactor moderado a grafite em Yongbyon e parar a construção de mais dois reactores. O congelamento deveria ser monitorado pela AIEA. À Coreia do Norte também era exigido que se desfizesse do combustível gasto do reactor de Yongbyon "de uma maneira segura que não envolvesse reprocessamento". Em troca, os Estados Unidos concordaram em "responsabilizar-se pela medidas necessárias para o fornecimento" à Coreia do Norte de um projecto de reactor de água leve (LWR) "com uma capacidade geradora total de aproximadamente 2000 MW(e) numa data apontada de 2003". Um consórcio internacional seria organizado sob a liderança dos EUA para financiar e fornecer o projecto. Os reactores de água leve não têm o mesmo potencial daqueles moderados a grafite para a produção de plutónio que possa ser reprocessado para utilização no desenvolvimento de armas nucleares. Como medida temporária, enquanto os reactores de água leve estivessem em construção, os Estados Unidos eram obrigados a fornecer à Coreia do Norte meio milhão de toneladas de petróleo por ano de "óleo pesado para aquecimento e produção de electricidade". [6] Pretendia-se que os carregamentos de óleo servissem como compensação parcial à Coreia da Norte por ser forçada a abandonar esforços para atender às suas necessidades.
Confrontada com uma aterradora escassez de energia, com a Estrutura de Acordo a Coreia do Norte era com efeito obrigada a abrir mão da recuperação económica até que os reactores de água leve fossem completados. Uma vez que os reactores de água leve estivessem operacionais, eles seriam capazes de gerar de longe mais potência do que aqueles moderados a grafite que a Coreia do Norte foi compelida a congelar. Enquanto a escassez de energia na Coreia do Norte continuava a piorar sob a pressão das sanções americanas e de uma série de desastres naturais, os EUA deliberadamente atrasaram a construção dos novos reactores. Embora a Estrutura do Acordo de 1994 obrigassem o consórcio a completar a construção de ambos os reactores de água leve até 2003, os anos passavam-se sem qualquer outra acção senão a construção da infra-estrutura necessária para suportar o projecto de construção. Os EUA calcularam que a Coreia do Norte não sobreviveria muito tempo às suas dificuldades económicas, e que se a construção dos reactores pudesse ser atrasada tempo suficientes, eles nunca precisariam ser construídos. O recém eleito presidente Bush exprimiu abertamente o seu desprezo pela Estrutura de Acordo de 1994. Somente em Agosto de 2002 o cimento foi finalmente despejado nas fundações do primeiro reactor, em Kumho, na costa oriental. Seriam precisos no mínimo oito anos para completar o projecto, assegurando que na melhor das hipóteses a Coreia do Norte teria alívio à sua escassez de energia 16 anos após a assinatura da Estrutura de Acordo.
"Até à conclusão do contrato de oferta para o fornecimento do projecto LWR", lê-se na Estrutura de Acordo, "inspecções ad hoc e de rotina serão efectuadas ... relativamente a instalações não sujeitas ao congelamento". Inspecções das instalações de plutónio encerradas continuaram regularmente desde 1994, mas o programa de inspecções mais generalizado e intrusivo que os EUA desejavam não podiam ser implementados nos termos do acordo até que o contrato de fornecimento do LWR estivesse completo. Os EUA não estavam inclinados a esperar. Queriam tais inspecções agora. Na cerimonia de marcação do lugar da fundação da primeira planta, James Pritchard, delegado americano do consórcio, insistiu em que a Coreia do Norte devia permitir imediatamente um programa de inspecção ampliado. [7]
Ameaça nuclear
O compromisso de completar a construção dos reactores de água leve até 2003 não foram as únicas disposições desrespeitadas pelos EUA. O artigo 2 apelava a um "movimento em direcção à plena normalização das relações políticas e económicas", e o artigo 3 declarava claramente: "Os EUA proporcionarão garantias formais à RDPC (República Democrática e Popular da Coreia — Coreia do Norte) contra a ameaça ou utilização de armas nucleares pelos EUA" [8] Apesar de tais compromissos, os EUA nunca abandonaram a sua postura nuclear agressiva em relação à RDPC. Menos de quatro anos depois de assinar o acordo de Genebra de 1994, na Primavera de 1998, aviões de guerra americanos com base na Seymour Johnson Air Base na Carolina do Norte efectuaram um exercício para simular uma missão de longo alcance para despejar bombas nucleares sobre a Coreia do Norte. Aviões da 4th Fight Wing transportando imitações em betão de bombas que pretendiam representar as bombas nucleares B61 voaram para o Avon Park Bombing Range, na Florida, onde despejaram suas cargas. Segundo o brigadeiro general Randall K. Bigum, "Nós simulamos combater uma guerra na Coreia, utilizando um cenário coreano" que "simulou uma decisão do National Command Authority de considerar a utilização de armas nucleares... Identificámos aviões, tripulações e carregadores de armas para transportar armas nucleares tácticas nos nossos aviões. Quando aquela fase terminou, a última fase do exercício, a fase do emprego, começou. Isto exigiu-nos que conduzíssemos aqueles aviões baixo e lançássemos um modelo em betão (concrete blivet) . O modelo (blivet) tem o mesmo perfil aerodinâmico de uma bomba, mas está cheio de betão". [9]
O presidente George W. Bush não estava mais disposto a respeitar o artigo 3 da Estrutura de Acordo do que o seu antecessor. Durante o seu discurso sobre o Estado da União em 29/Jan/2002, o presidente Bush apontou a Coreia do Norte, juntamente com o Iraque e o Irão, como pertencendo ao seu ridículo conceito de um "eixo do mal", acusando a Coreia do Norte de "armar-se com mísseis e armas de destruição em massa". [10] Os responsáveis na Coreia do Norte não estavam cegos. Eles podiam ver Bush a preparar-se para travar uma guerra de agressão com o Iraque, a primeira da lista das assim chamadas nações "más". Não era mistério que nação estava em segundo lugar. Menos de três meses depois, a administração Bush ordenou ao Pentágono que desenvolvesse planos para uma política mais flexível na utilização de armas nucleares, autorizando a sua utilização em três cenários potenciais. De agora em diante as armas nucleares podia ser empregadas em "retaliação por ataques com armas nucleares, biológicas ou químicas" e "contra objectivos capazes de resistir a ataques não nucleares", uma referência aparente às instalações industriais e subterrâneas da Coreia do Norte. Uma terceira categoria convocada para o ataque nuclear "no caso de desenvolvimentos militares surpreendentes", uma frase suficientemente vaga para permitir interpretações para quaisquer fins. A política direccionou o Pentágono a preparar-se para a utilização de armas nucleares contra sete países: Rússia, China, Iraque, Irão, Coreia do Norte, Líbia e Síria. [11]
Os nortecoreanos tem muitos motivos para temer tal postura agressiva, com base nas amargas memórias da sua última experiência com as forças armadas dos EUA durante a Guerra da Coreia de 1950-53. No primeiro ano daquela guerra, em 05/Nov/1950, o general Douglas MacArthur ordenou a destruição de "todos os meios de comunicação, toda instalação, fábrica, cidade e aldeia" na área que vai do Rio Yalu até à linha de batalha. A primeira cidade a ser arrasada foi Sinuiju, e o napalm começou a seguir a ser empregado durante os raids de bombardeamento contra civis. Mais de 2300 galões (8625 litros) de napalm foram despejados sobre Pyongyang apenas num raid, em Julho de 1952. Bombardeamentos em massa sistematicamente arrasaram uma cidade após a outra, e os aviões americanos também apontaram para centrais eléctricas e barragens de rega que apoiavam campos de arroz. Na medida em que as barragens de rega eram destruídas, as aldeias a jusante eram varridas em resultado de inundações, infligindo enorme destruição e morte. Em vários momentos durante a guerra os EUA consideraram mesmo a utilização de armas nucleares tácticas. O correspondente húngaro Tibor Meray testemunhou a "destruição e coisas horríveis cometidas pelas forças americanas". Tudo o que se movia na Coreia do Norte era um objectivo militar, camponeses a trabalhar eram muitas vezes metralhados pelos pilotos" motivados pelo que lhes parecia um divertimento. Meray viu a "devastação completa entre o Rio Yalu e a capital" da Coreia do Norte. "Não havia mais cidades na Coreia do Norte", relatou ele. Toda a cidade por onde passou Meray "era uma colecção de chaminés. Eu não sei porque as casas ruíam e as chaminés não, mas eu estive numa cidade de 200 mil habitantes e vi milhares de chaminés e aquilo era tudo o que restava". O general William Dean, feito prisioneiro durante a guerra, recordou-se de ficar admirado com a vista da cidade de Huichon. "A cidade que eu havia visto antes — dois edifícios com andares, uma importante rua principal — não estava mais ali", enquanto "a maior das cidades era apenas entulho ou espaço abertos cobertos de neve onde estiveram edifícios". Todas aquelas cidades, declarou ele, "outrora cheia de pessoas, eram conchas vazias. Os aldeões viviam em aldeias temporárias inteiramente novas, escondidos em gargantas de montanhas". Execuções de civis verificaram-se em escala maciça, tanto por tropas americanas como pelas forças do presidente Syngman Rhee instalado pelos EUA na Coreia do Sul. Na medida em que os soldados americanos eram expulsos da Coreia do Norte pelo avanço das tropas chinesas e nortecoreanas, eles deliberadamente destruíam tudo no seu caminho. O diário de guerra da 24ª Divisão de Infantaria relata: "A razia de aldeias ao longo das nossas rotas de retirada e a destruição de alimentos tornou-se a ordem do dia". Um soldado chinês recorda que virtualmente nenhuma casa foi deixada de pé e que a região estava cheia de pessoas sem abrigo durante o inverno de 1050-51 quando as temperaturas caíram a 40 abaixo de zero. Segundo o general Curtis LeMay, "Nós destruímos toda cidade tanto na Coreia do Norte como do Sul", e "matámos mais de um milhão de civis coreanos e expulsámos mais outros milhões dos seus lares". Durante a guerra, os norte coreanos responderam a tais tácticas de terror com a construção de fábricas e habitações subterrâneas em grande escala. [12] As preocupações nortecoreanas acerca das ameaças americanas são habitualmente afastadas como super-sensibilidade, mas uma tal visão só pode ser sustentada pela ignorância da história da Guerra da Coreia. Os nortecoreanos não esqueceram a experiência, construindo muitas fábricas e instalações militares subterrâneas no pós-guerra. Deveria ser destacado que tais instalações subterrâneas caem dentro da segunda categoria de objectivos que a administração Bush identifica como justificando a utilização de armas nucleares: alvos capazes de resistir a ataques não nucleares.
Estruturação nuclear e arrogância imperial
Assim que o presidente Bush tomou posse, rompeu imediatamente contactos entre os EUA e a Coreia do Norte. Cerca de um ano e meio decorreu antes de a administração Bush ter notificado a Coreia do Norte de que enviaria o secretário de Estado Assistente James Kelly para discutir uma retomada do diálogo. Esperando ansiosamente o que esperado ser uma discussão diplomática que conduzisse ao diálogo regular, os delegados nortecoreanos ficaram chocados durante as reuniões de 3-5/Out/2002 ao descobrirem que Kelly tinha uma diferente tarefa em mente. Em momento algum durante as conversações Kelly esteve desejoso de discutir a retomada das relações. Ao invés disso, Kelly iniciou a primeira reunião ignorando o protocolo habitual de cumprimentos, dizendo desafiadoramente que não viera para negociar. A seguir Kelly acusou a Coreia do Norte de violar os termos da Estrutura do Acordo efectuando um programa secreto de enriquecimento de urânio a fim de desenvolver armas nucleares. Além disso, acrescentou, não podia haver diálogo entre as duas nações até que este programa fosse desmantelado. Segundo os nortecoreanos, Kelly foi "muito rude" e apresentou as suas exigências de uma "maneira extremamente ameaçadora e arrogante". O vice ministro das Relações Exteriores nortecoreano, Kim Kye-Kwan, estava "estupefacto" pela demonstração de arrogância de Kelly. Durante a primeira pausa para café Kim comunicou as declarações de Kelly a responsáveis de alto nível. Quando a reunião reiniciou-se, Kelly continuou o seu ataque acusando a Coreia de Norte de "violações dos direitos humanos". Os nortecoreanos sentiram que Kelly "comportava-se como se fosse alguma espécie de investigador que viesse aqui para verificar se estávamos prontos a aceitar as exigências americanas e a mover-nos em concordância ou não". Os delegados nortecoreanos ficaram particularmente inquietos quando Kelly apresentou um ultimato: ou eles abandonariam o seu não-existente programa de armas nucleares ou os EUA terminariam o contacto. Pior ainda, Kelly advertiu que os EUA obrigariam a uma travagem das florescentes relações nortecoreanas com o Japão e a Coreia do Sul. A delegação nortecoreana reagiu às exigências de Kelly com a sugestão de que discutiriam as preocupações de segurança americanas se a administração Bush renunciasse à sua política hostil em relação à RDPC. A reunião do primeiro dia foi seguida por uma sessão que varou toda a noite entre altos responsáveis nortecoreanos. [13]
Se a administração Bush calculou que a sua abordagem diplomática de pressão e ameaça funcionaria com a RDPC, então errou seriamente. Altivamente independente, a Coreia do Norte baseia a sua filosofia política naquilo a que chama "juche sasang" — a ideologia da autoconfiança. Ao invés de inclinar-se a ameaças, a delegação nortecoreana respondeu previsivelmente com uma afirmação de dignidade. Durante o segundo dia de reuniões, o primeiro vice-ministro das Relações Exteriores, Kang Sok-Ju disse a Kelly que a RDPC tinha o direito de ter armas nucleares a fim de garantir a sua segurança se os EUA continuassem a ameaçá-la. Isto não constituía uma admissão de um programa de armas nucleares. Kang estava a enviar aos EUA uma mensagem que a Coreia do Norte não podia ser acuada e que se a ameaças nucleares da administração Bush continuasse, então a RDPC consideraria a tomada de medidas de autodefesa. Era de facto seu direito faze-lo, um direito assegurando pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear. O artigo X do tratado estipula que "Cada parte deverá no exercício da sua soberania nacional ter o direito de retirar-se do Tratado se decidir que eventos extraordinários, relacionados com a matéria deste Tratado, colocaram em risco os suprimos interesses do seu país". Claramente, a Coreia do Norte confronta-se com uma tal ameaça dos EUA. Segundo a estação de televisão estatal da Coreia do Norte, "Nós apenas explicámos a posição básica de que temos o direito de possuir armas nucleares se os Estados Unidos violarem o seu acordo nuclear e forçarem o país a entrar numa guerra nuclear. Contudo, a administração Bush utilizou isto para argumentar que estamos a desenvolver armas nucleares. Tal falsificação não será aceite". Enquanto enfatiza o seu direito de prosseguir o desenvolvimento de armas nucleares se pressionada demasiado duramente, os nortecoreanos preferem uma solução diplomática e repetidamente solicitaram a garantia de que os EUA cessariam as suas ameaças. A delegação nortecoreana ofereceu-se para negociar uma resolução da questão nuclear com os EUA com base em três condições: 1) que os EUA reconheçam a soberania da RDPC; 2) que os EUA não imponham medidas económicas punitivas; e 3) que os EUA proporcionem a garantia de que não atacariam a Coreia do Norte. Os nortecoreanos estavam penosamente conscientes da intenção hostil da administração Bush bem como dos seus planos para invadir o Iraque. As suas preocupações foram varridas para o lado pela delegação americana, que utilizou a acusação nuclear para pressionar pela sua exigência de que fosse permitido aos inspectores ocidentais perambular à vontade por toda a Coreia do Norte. [14] Do ponto de vista da administração Bush, tais inspecções prometem vários benefícios potenciais. O processo de inspecção pode descobrir algo que os EUA possam adulterar em seu proveito, proporcionando um pretexto para acção militar ou ameaças. Tal como com os inspectores da ONU no Iraque até 1998 e os monitores europeus no Kosovo antes da guerra da NATO, o processo podia confundir-se com uma missão de colheita de inteligência, ajudando os militares americanos a planearem futuras operações militares. E, finalmente, um programa de inspecção intrusivo proporcionaria uma pé na porta para a bisbilhotice ocidental na RDPC, conduzindo a novas exigências e pressões sobre os nortecoreanos para permitir outras formas de interferência.
A administração Bush sabia certamente que os nortecoreanos não se submeteriam, e portanto a actuação de Kelly foi provavelmente pretendida para cortar relações e permitir aos EUA retirarem-se dos seus compromissos assumidos na Estrutura de Acordo de 1994. A seguir às reuniões Kelly retornou a Seul, onde anunciou que havia comunicado a responsáveis nortecoreanos "nossas sérias preocupações e salientado as implicações da conduta nortecoreana", mas que "não havia decisões sobre reuniões adicionais no momento nem qualquer dos lados espera alguma". Nada foi mencionado acerca de um programa nortecoreano de armas nucleares. [15] No dia seguinte os nortecoreanos trouxeram a público a sua própria reacção às fracassadas reuniões, destacando que "a administração Bush continua a perseguir — ao invés do diálogo — numa política hostil de linha dura no sentido de tentar dominar-nos pela força e mão alta" [16] Passaram-se doze dias desde o fim da reunião até que os EUA subitamente proclamaram que a delegação nortecoreana havia admitido conduzir um programa nuclear secreto. A administração Bush havia aparentemente determinado que poderia alcançar melhor o seu objectivo de isolar a Coreia do Norte através da distorção das palavras de Kang. Podia-se contar com uma imprensa complacente para papagaiar a acusação, como se ela fosse um facto, e havia pouco risco de que algum repórter perguntasse acerca de evidências. Era uma expectativa que não foi frustrada.
Fora dos EUA, ninguém acreditou numa tal estória. O Ministério da Defesa da Coreia do Sul questionou a afirmação de que a Coreia do Norte já tivesse construído armas nucleares de plutónio e destacou que estas bombas — "se elas existissem, pesariam de 2 a 3 toneladas devido à falta de tecnologia para torná-las mais leves". O peso de tais armas excederia a capacidade de entrega dos mísseis e bombardeiros da Coreia do Norte. [17] Analistas militares russos concluíram que à Coreia do Norte falta o "potencial económico e militar" para produzir armas nucleares e que o "potencial militar existente da RDPC é total e definitivamente de natureza defensiva" [18] O subsecretário John Bolton visitou a Rússia e apresentou evidências americanas do programa nortecoreano de armas nucleares, esperando persuadir os russos a apoiarem a pressão americana sobre a Coreia do Norte. O vice-ministro russo dos Estrangeiros, Alexander Losyukov, ficou claramente pouco impressionado com a qualidade de tal evidência, declarando que "o lado russo ainda não recebeu qualquer evidência convincente da existência de um tal programa" [19] O ministro sulcoreano da Unificação, Jeong Se-Hyn, suspeitou que os EUA não estavam a ser inteiramente honestos. "Estou receoso de que as observações de Kang Sok-Ju tenha sido citadas foram do seu pleno contexto". Lim Dong-Won, conselheiro presidencial sulcoreano para a Segurança e a Unificação, comentou que os prazos (timing) eram suspeitos. "Os EUA notificaram-nos do programa secreto em Agosto, quando o primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi planeava visitar Pyongyang e as duas Coreias iniciavam a religação das ferrovias e estradas". [20] Havia uma razão acrescida para as suspeitas quanto ao prazo do anúncio, o qual deveria certamente ter um efeito na eleição presidencial sulcoreana prevista para 19 de Dezembro.
Abrindo salvas na campanha anti-RDPC
Uma vez que a imprensa estava recheada com a estória forjada do programa de armas nucleares, estava lançado o terreno de propaganda para os esforços diplomáticos destinados a isolar e pressionar a Coreia do Norte. James Kelly encontrou-se com responsáveis chineses e sulcoreanos, revelando depois que os EUA trabalhavam para aplicar a "máxima pressão internacional sobre a Coreia do Norte para abandonar a sua ambição de armas nucleares". Que os EUA pretendiam abolir a Estrutura de Acordo de 1994 foi indicado pela afirmação de Kelly de que os EUA não considerariam uma resolução diplomática tal como aquela de 1994. Bush estava determinado a matar o acordo, e responsáveis americanos em visita ao Japão e Coreia do Sul pressionaram pelo encerramento do projecto de construção de reactores de água leve. Enquanto Kelly estava a reunir-se com líderes asiáticos, o subsecretário americano de Estado John Bolton viajou à Rússia, França e Grã-Bretanha com a esperança de obter apoio para o isolamento da Coreia do Norte. Apesar de os esforços de Kelly e Bolton no sentido de persuadir responsáveis estrangeiros a concordarem com um embargo económico contra a Coreia do Norte terem fracassado, eles pretendem insistir. "Isto vai levar algum tempo", admitiu um responsável americano, "porque um bocado de países tem diferentes critérios com os nortecoreanos". Além de um fim ao não existente programa de armas nucleares, os responsáveis americanos também clamam pela "verificação", com o que querem dizer inspecções intrusivas na Coreia do Norte. Mas isto ainda não é tudo. "Desta vez", insistiu um responsável americano, "devemos também cuidar de outros problemas — transferência de mísseis, as forças convencionais que o Norte tem, e o modo abominável como trata o seu povo". Tudo palavras código para o que na realidade seria uma infindável série de exigências e pressões destinadas a conduzir à queda do governo da Coreia do Norte. "Nós controlamos as esperanças [da Coreia do Norte] quanto ao futuro e podemos manter estas esperanças como refém", ameaçou um responsável de alto nível do Departamento de Estado [21]
Em Outubro de 2002 o presidente Bush subiu a parada ao emitir uma ordem executiva classificada concedendo às forças especiais americanas autoridade para operarem clandestinamente em nações com as quais os EUA não estão em guerra e para destruírem "linhas de fornecimento de armas" a terroristas e nas três nações compreendidas no assim chamado eixo do mal. Os alvos das operações militares cobertas dos EUA podem incluir tanto armas como equipamento científico que os EUA julgarem poder potencialmente servir a uma finalidade dupla na fabricação de armas biológicas, químicas e nucleares. Como durante anos os EUA negaram permissão ao Iraque para importar equipamento médico com base em discutíveis afirmações de dupla utilização potencial, a ordem executiva pode permitir operações militares cobertas contra uma vasta variedade de firmas envolvidas no comércio normal com o Irão, Iraque e Coreia do Norte. [22]
O furor provocado pela acusação americana não se acalmou e a Coreia do Norte foi capturada num beco sem saída. Não pode abandonar um programa de armas nucleares que não tem. As exigências americanas foram perfeitamente articuladas para impedir uma solução diplomáticas, permitindo aos EUA levarem a cabo qualquer acto hostil que desejarem. O Ministério do Exterior da RDPC emitiu uma declaração salientando que a administração Bush havia listada a Coreia do Norte como membro de um "eixo do mal" e um alvo nuclear potencial. "Sua precipitada pressão política, económica e militar está a ameaçar seriamente o direito da RDPC à existência, criando uma grave situação na península coreana". Por esta razão, continuava a declaração, a Coreia do Norte informou Kelly que "ela tem direito a possuir não só armas nucleares como qualquer tipo de armas mais poderosas do que aquelas para defender a sua soberania e o seu direito à existência frente à cada vez maior ameaça nuclear dos EUA". Para os nortecoreanos, o comportamento beligerante de Kelly durante as reuniões de Outubro ofendeu as suas expectativas de que seriam tratados com respeito. Segundo a declaração do Ministério do Exterior, a delegação da Coreia do Norte insistiu em que tem o direito de desenvolver armas nucleares se assim optar porque não lhe foi "deixada nenhuma outra resposta adequada ao arrogando e impertinente comportamento americano. A RDPC não tem nem a necessidade nem o dever de explicar alguma coisa aos EUA que procuram atacá-la". O Ministério do Exterior concluiu apelando a um "tratado de não agressão entre a RDPC e os EUA". Com tal tratado, afirmou, a Coreia do Norte afastaria as preocupações americanas de segurança. [23]
Era claramente evidente que a Coreia do Norte tinha as suas próprias preocupações de segurança. No seu caso as preocupações baseavam-se em ameaças reais, não em imaginadas. Eram os EUA que ameaçavam a Coreia do Norte com armas nucleares, e não o inverso. Eram os EUA que estavam a impor um embargo económico à Coreia do Norte, foram os EUA que repetidamente demonstraram que bombardeariam ou invadiriam quem quer que seja, como o fizeram com a Líbia, Granada, Panamá, Iraque, Juguslávia e Afeganistão. Um observador desinteressado pode concluir que não só a Coreia do Norte tem o direito de desenvolver armas nucleares como, para assegurar a sua sobrevivência, deveria faze-lo. Mas não é isto que os nortecoreanos têm em mente. A afirmação daquele direito foi uma expressão de ressentimento ao ser tratado como uma criança desobediente ao ser censurada por um pai irado. A Coreia do Norte ofendeu-se por ser admoestado de maneira arrogante sobre um programa de armas nucleares não existente por um representante da nação que estava a ameaçá-la com armas nucleares. O que a Coreia do Norte realmente desejava era a simples garantia de que os EUA não lançariam uma guerra de agressão contra ela.
No princípio de Novembro, a Coreia do Norte abrandou a sua posição, abandonando a exigência de um tratado de não agressão como uma pré-condição para negociações. "Tudo é negociável", declarou o embaixador nortecoreano nas Nações Unidas, Han Song-Ryol. "Deve haver um diálogo contínuo. Se ambos os lados se sentarem juntos, o assunto pode ser resolvido de modo pacífico e rápido". Previsivelmente, Washington imediatamente recusou a oferta, pois o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, respondeu: "A Coreia do Norte saber o que precisa fazer. Precisa desmantelar o seu programa nuclear e honrar suas obrigações tratadas. Não é uma questão de conversar. É uma questão de acção" [24] Enquanto a administração Bush puder manter o seu rígido apego à exigência de que a Coreia do Norte desmantele um programa nuclear que não tem, poderá continuar a evitar a diplomacia.
Impondo o esmagamento energético da Coreia do Norte
Os EUA adoptaram uma posição dura na reunião do Grupo de Coordenação Trilateral e Supervisão, em Tóquio, em 9-10/Nov/2002, pressionando no sentido de que o navio transportando a quota de Novembro de óleo pesado para a Coreia do Norte retornasse. A Coreia do Sul e o Japão opuseram-se a esta exigência, argumentando que o programa de entrega de óleo pesado deveria continuar "porque o seu cancelamento somente agravará a situação". Washington tomou uma posição agressiva, advogando não só uma cessação dos embarques de óleo como também da construção de reactores de água leve. Os EUA também defenderam um reajustamento da Estrutura do Acordo. Incapazes de tratar do acordo, as três nações decidiram adiar a decisão até que se encontrassem outra vez em 14 de Novembro na reunião da comissão executiva da Korean Peninsula Energy Development Organization (KEDO). KEDO é o consórcio responsável pela construção dos reactores de água leve na Coreia do Norte [25]
Na noite anterior ao início da reunião do KEDO, o presidente Bush reuniu-se com os seus conselheiros de segurança nacional e tomou a decisão unilateral de que os embarques de óleo para a Coreia do Norte cessariam a partir de Dezembro, excluindo portanto o envolvimento da Coreia do Sul e do Japão nesta decisão. Permitir o carregamento de Novembro foi a sua única concessão às suas preocupações. A Coreia do Sul argumentou que os carregamentos deveriam continuar pelo menos até o embarque final do ano, em Janeiro. Diante de um facto consumado imposto por Washington, a Coreia do Sul e o Japão sentiram que não tinham qualquer outra opção senão alinhar-se. A reunião da comissão executiva do KEDO emitiu uma declaração anunciando a suspensão das entregas de óleo. "Futuros embarques dependerão de acções concretas e críveis da Coreia do Norte para desmantelar completamente o seu programa altamente enriquecido", disse. "A esta luz serão revistas outras actividades do KEDO com a Coreia do Norte". Um responsável do Ministério da Unificação sulcoreano admitiu posteriormente que, com a aquiescência à "posição dura americana", a posição do KEDO prejudicaria as relações Norte-Sul. "Esperávamos medidas mais moderadas", declarou. A decisão do KEDO provocou uma resposta aguda da Coreia do Norte. "Acreditamos que é tempo de tornar claro quem é verdadeiramente o responsável por romper o Pacto de Genebra. O KEDO, ao terminar o seu fornecimento de óleo, trapaceou as suas antigas promessas de fornecer energia substitutiva para produção e aquecimento". Para os EUA, parar as entregas de óleo em Novembro teria o mérito de infligir sofrimentos ao povo nortecoreano no momento em que o óleo era mais necessário — durante os meses frios de inverno. Os responsáveis americanos encaravam a decisão somente como um movimento de abertura de uma campanha para esmagar a Coreia do Norte. Os EUA também planearam endurecer sanções contra a Coreia do Norte pressionando outras nações a retirarem créditos comerciais da Coreia do Norte. "Vamos contê-los e isolá-los", anunciou com gozo um responsável americano. [26]
As entregas de óleo pesado à Coreia do Norte foram na verdade a única disposição da Estrutura de Acordo honradas pelos EUA. Os EUA durante anos atrasaram intencionalmente a construção dos dois reactores de água leve os quais a Estrutura do Acordo especificava que deveriam estar prontos na "data objectivo de 2003". Além disso, enquanto o acordo apelava a "ambos os lados a reduzirem barreiras ao comércio e ao investimento", os EUA preferiram ao contrário manter um embargo económico contra a Coreia do Norte. Os EUA também foram obrigados pela Estrutura do Acordo a "proporcionarem garantias formais à RDPC contra a ameaça ou utilização de armas nucleares pelos EUA" [27] Não só não o fizeram como a política militar americana especificamente apelou ao possível uso de armas nucleares contra a Coreia do Norte no caso de conflito. No momento em que os EUA abandonaram a última disposição da Estrutura do Acordo que não fora violada, a Coreia do Norte estava ainda a honrar plenamente o acordo.
Nas páginas editoriais dos jornais ocidentais, as obrigações americanas sob a Estrutura do Acordo foram retractadas como uma prenda super-generosa, na qual a Coreia do Norte nada dava. De facto, o caso era quase o oposto. Embora o financiamento do projecto de reactor de água leve viesse primariamente da Coreia do Sul e do Japão, a acordo entre o KEDO e a RDPC exigiu à Coreia do Norte que "repagasse o KEDO para cada unidade LWR em prestações iguais, semestrais, sem juros, num prazo de 20 anos". Apesar de os termos serem generosos, isto não era uma prenda, e a Coreia do Norte com dificuldades de divisas externas devido às sanções poderia ter dificuldade em pagar pelos reactores. Segundo o acordo, se a Coreia do Norte deixasse de "pagar toda a quantia de uma obrigação financeira vencida", então seria calculada uma penalidade a uma taxa igual às taxas geralmente disponíveis para empréstimos comerciais mais 2 a 3 porcento. Além disso, 30 dias após um pagamento parcial ou não pagamento, o KEDO podia "declarar todas ou parte" de quaisquer obrigações financeiras "serem imediatamente devidas e pagáveis". No cenário do pior caso, um único atraso ou pagamento em falta poderia resultar na exigência do pagamento imediato do custo total dos reactores. Também deveria ser notado que, tal como a Estrutura do Acordo, o acordo do KEDO estipulava que "o KEDO desenvolverá um calendários de entrega do projecto LWR destinado a alcançar uma data de finalização em 2003". Não surpreendentemente, nenhuma penalidade é especificada no acordo para a entrega tardia dos reactores. [28] O trabalho de construção dos reactores deveria ser proporcionado primariamente pelos trabalhadores nortecoreanos, mas quando a RDPC insistiu em que aos seus trabalhadores fossem pagos salários justos, o KEDO respondeu trazendo 700 trabalhadores uzbeques desejosos de aceitar salários baixos até que, tal como afirmou o director executivo do KEDO, "Pyongyang perceba o erro desta atitude". [29]
Para a RDPC, a Estrutura do Acordo representou vários anos de sacrifício, obrigando-a a congelar a construção dos seus reactores moderados a grafite que teriam fornecido a potência eléctrica que era urgentemente necessária. Uma vez que o acordo no essencial forçou a Coreia do Norte a colocar a recuperação económica em suspenso até a finalização dos reactores de água leve, os EUA podiam assegurar que a economia nortecoreana permaneceria entravada enquanto atrasasse a construção. Outro aspecto deste acordo infeliz para a Coreia do Norte foi que os seus reactores moderados a grafite podiam contar com os seus razoáveis depósitos naturais de urânio, ao passo que reactores de água leve teriam de depender das importações de combustível nuclear de nações ocidentais hostis que poderiam interromper o fornecimento a qualquer tempo [30]
A morte da União Soviética e a perda de parceiros comerciais na Europa Oriental teve um impacto devastador sobre a Coreia do Norte, a qual viu a sua economia contrair-se 30% nos cinco anos que se seguiram a 1991. Não tendo quaisquer reservas de petróleo ou gás natural, a Coreia do Norte tinha de confiar inteiramente em importações para atender às suas necessidades. Enquanto a União Soviética fornecera à Coreia do Norte petróleo a taxas subsidiadas, a Rússia pós-soviética fornecia petróleo só a taxas comerciais de mercado. Em 1993, o combustível importado da Rússia estava a apenas 10 por cento do seu nível de três anos antes, e aquela quantidade continuava a reduzir-se. Devido às sanções, a falta de acesso da Coreia do Norte a crédito e comércio exterior significava que ela não poderia mais importar suficientes quantidades de petróleo. Por volta de 1996 as importações totais de petróleo haviam caído para apenas 40 por cento do nível de 1990. A manutenção da infra-estrutura eléctrica da Coreia do Norte exigia peças sobressalentes que não podiam mais ser obtidas a preços subsidiados. Pior ainda, as sanções faziam com que a compra de peças de substituição fossem difíceis e muitas vez impossível a qualquer preço. A escassez de energia teve um efeito em ondas por toda a economia, levando a que fábricas e instalações encerrassem. Em 2000, os vários sectores da produção industrial permaneciam de 11 a 30 por cento dos seus níveis de 1990. Nos seis anos após 1990, o tráfego rodoviário caiu 70 por cento e o ferroviário 60 por cento, colocando novas dificuldades ao sector manufactureiro. A Coreia do Norte tem depósitos de carvão substanciais e este recursos proporcionou dois terços da sua energia no princípio da década de 1990. Infelizmente, muitas minas foram obrigadas a fechar devido a inundações a meio da década, bem como a escassez de peças de substituição e electricidade para mover o equipamento mineiro e a iluminação. Das 62 maiores centrais eléctricas, 20 são térmicas, baseadas primariamente no carvão, e as 42 restantes são hidráulicas. Em 1996 os danos provocados pelas inundações e secas reduziram a energia eléctrica produzida nas hidroeléctricas a apenas 38 por cento do nível de 1990. No fim da década de 1990 a oferta total de energia comercial na RDPC havia-se reduzido a dois terços. [31] Claramente, o acréscimo do nuclear ao sistema electroprodutor misto era uma tarefa urgente, a qual a Coreia do Norte foi forçada a abandonar em 1994 sob a ameaça de guerra por parte dos Estados Unidos.
O fornecimento anual de 500 mil toneladas de fuelóleo pesado pelos Estados Unidos representava somente dois por cento da energia total da Coreia do Norte e 8 por cento da sua oferta de fuel, segundo o Nautilus Institute for Security and Sustainable Development. Fontes da Coreia do Sul apresentam uma porcentagem mais alta, 15 por cento. O fuelóleo pesado era fornecido na forma de carvão líquido, o qual era utilizado basicamente para mover suas centrais termoeléctricas. O conteúdo de enxofre no carvão líquido, entretanto, tem o efeito nefasto de corroer os tubos das caldeiras, acabando por torná-los inoperantes, de modo que o impacto líquido do fuelóleo pesado sobre a produção é discutível. Os embarques de fuelóleo pesado adquiriram uma importância desproporcionada durante os meses de inverno quando congelam os rios e reservatórios que alimentam as centrais hidroeléctricas. O gelo geralmente acaba até Março, seguindo-se um período seco antes de as hidroeléctricas poderem retomar as operações. Durante aquele período de tempo a Coreia do Norte é particularmente dependente das suas centrais termoeléctricas. Cortar o fornecimento de fuelóleo pesado, salienta Peter Hayes do Nautilus Institute, "quando o inverno chega significa basicamente que pessoas que estão doentes, velhas, cansadas, passarão ainda mais frio e, na margem, ficarão mais expostas a morrer da doença ou realmente congelar até à morte em hospitais e casas". [32] "A escassez de potência na Coreia do Norte já é severa", observa Kim Kyoung-Sool do Korea Energy Economics Institute da Coreia do Sul. "As fábricas estão a operar numa base rotativa e mesmo responsáveis do governo mantiveram conversações à luz de velas num hotel de luxo. Um ou dois meses de atraso pode ser aguentado, mas uma suspensão completa das entregas do óleo seria um golpe fatal". [33]
Ao interromper as entregas de óleo precisamente no início do inverno, os EUA calcularam friamente promover os seus objectivos políticos infligindo dano ao povo da Coreia da Norte. As sanções americanas já haviam posto a economia nortecoreana de joelhos, forçando instalações a fecharem e a produção a reduzir-se. Sem os reactores de água leve prometidos para 2003 e constrangido à sanções, não havia possibilidade para a Coreia de Norte de produzir a energia que necessitava. Os apagões são frequentes na Coreia do Norte, e toda a nação está mergulhada na escuridão durante a noite. Ao longo do Inverno, os edifícios devem manter-se com pouco ou nenhum calor. Nada ilustra tão claramente a magnitude da catástrofe imposta pelos EUA como as fotografias da NASA tomadas à noite. As luzes abundam na Coreia do Sul, China e Japão. No meio desta panóplia de luzes situa-se uma área de quase total escuridão. Esta é a Coreia do Norte. [34] Referindo-se àquelas mesmas fotografias da NASA, o secretário americano da Defesa Donald Rumsfeld arrogantemente concluiu que a vítima deveria ser criticada. "É uma tragédia o que está a ser feito naquele país", disse ele. É preciso apenas a mudança de uma palavra para que a sentença de Rumsfeld retracte com precisão a política americana: É uma tragédia o que está a ser feito àquele país.
Desastres, naturais e feitos pelo homem
A escassez de energia também tem um efeito perigoso na oferta alimentar da Coreia do Norte. A escassez de electricidade inevitavelmente limitou a produtividade das fábricas de fertilizantes. Antes de 1990 a Coreia do Norte era capaz de cobrir a maior parte das suas necessidades de fertilizantes por meio da sua própria produção, avaliada em 600 a 800 mil toneladas por ano. Em resultado da crise de energia, desde 1995 a produção nortecoreana totaliza menos de 100 mil toneladas/ano. A falta de divisas externas fez com que pouco fertilizante adicional pudesse ser importado. Várias instalações fecharam totalmente ou operam a níveis reduzidos devido à falta de energia e peças sobressalentes. A precipitada queda na produção de carvão foi outro factor que contribuiu para o declínio, pois as fábricas de fertilizantes dependem do carvão tanto para energia como para produtos químicos. Além disso, o transporte de 1,5 a 2,0 toneladas de carvão exigido para atingir os antigos níveis de produção é simplesmente uma impossibilidade dada a falta de combustível. Devido à escassez na produção de fertilizante, as unidades agrícolas operam somente a 20 a 20 por cento dos seus níveis anteriores com fertilização da terra — o factor mais significativo na diminuição das colheitas.
Antes de 1990 a agricultura nortecoreana era altamente mecanizada, mas a crise de energia forjou uma penosa transformação. O equipamento agrícola da nação é movido primariamente pelo diesel, o qual é particularmente escasso, resultando numa redução de 70 a 80 por cento no uso de tractores e outras maquinarias. Uma missão da ONU visitando a Coreia do Norte em 1998 descobriu que uma "significativa proporção do equipamento agrícola motorizado está fora de serviço devido tanto ao facto de ter alcançado o fim da sua vida útil como à falta de peças sobressalentes". Além disso, "mesmo que todo o parque de máquinas pudesse voltar ao serviço rapidamente, o equipamento ainda assim não poderia ser operado a menos que também fosse possível restabelecer níveis adequados de abastecimento de combustível". Inevitavelmente, a agricultura na Coreia do Norte tornou-se mais trabalho e animal intensiva, o que reduz as colheitas. A missão da ONU relatou que "toda a colheita de arroz está a ser administrada este ano empregando só trabalho manual ou de animais, com excepção de uma operação inicial de aragem", e "toda a plantação de milho está a ser efectuada empregando só trabalho manual e animais de tracção". A irrigação depende da electricidade para mover as bombas de água. O arroz em particular é afectada, pois exige irrigação extensiva. Mais da metade da bombagem de rega ocorre durante o mês de Maio, exigindo níveis de potência eléctrica que simplesmente não podem ser proporcionados em tais circunstâncias. De forma alarmante, a procura por bombagem de irrigação excede um terço da potência total na Coreia do Norte, e esta porcentagem pode ser muito mais elevada em alguns bolsões. Segundo a missão de 1998 da ONU, "O inconfiável abastecimento de água é devido principalmente à bombagem inconfiável, a qual causada principalmente por uma oferta de electricidade inconfiável". Um exame dos registos das três maiores estações de bombagem "indicou que elas sofreram uma média de aproximadamente 600 falhas de potência por ano, mais de 2300 horas por ano sem energia", e que "frequentes falhas de potência resultam num considerável desperdício de água". Ao todo, concluiu a missão, "a escassez de água disponível para as plantações é estimada ser cerca de um quarto da exigência total". A falta de electricidade afectou outros aspectos da produção agrícola, inclusive o processamento de alimentos. O transporte rural é baseado cada vez mais no andar a pé e em carroças de animais, reduzindo a quantidade tempo disponível para os trabalhadores dedicarem à produção agrícola. [35]
Para agravar as suas aflições, a Coreia do Norte foi fustigada por uma série de ruinosos desastres naturais ao longo de vários anos. Enormes faixas de terras agrícolas foram arruinadas por inundações em 1995 e 1996 varrendo a camada superior de solo das áreas elevadas e depositando lama e areia nas terras de níveis mais baixos. No primeiro ano das enchentes, mais de 400 mil hectares de terras agrícolas foram destruídas exactamente quando as colheitas deveriam ser efectuadas, deixando mais de cinco milhões de pessoas sem casas segundo fontes nortecoreanas. Ao todo, as inundações causaram US$ 15 mil milhões de danos só no primeiro anos, pois mais da metade da colheita foi arrasada. Foi a pior inundação a atingir a Coreia em um século. A inundação também destruiu muitas barragens de irrigação e canais, resultando numa redução das colheitas no ano seguinte. No fim de 1996, mais de 90 mil hectares de terra de arroz paddy jaziam enterradas sob a areia e os resíduos depositados pelas inundações, e a falta de combustível fazia com que a recuperação da terra representasse um esforço assombroso. A inundação também prejudicou o abastecimento de energia a muitas minas de carvão, inclusive muitas daquelas ao longo da costa que produzem a melhor qualidade de carvão, pois ficaram cheias de água. As linhas de transporte de electricidade foram danificadas pelas inundações, assim como turbinas nas centrais hidroeléctricas. Em 1996, as inundações atingiram a Coreia do Norte pela segundo ano consecutivo, arrasando 20 por cento da colheita. Antes que pudesse recuperar-se destes golpes devastadores, a Coreia do Norte sofreu uma severa seca em 1997 que destruiu 70 por cento da colheita de milho. Naquele mesmo ano uma grande tempestade destruiu um dique junto à costa ocidental, inundando centenas de milhares de hectares de campos de arroz e destruindo mais de 700 mil toneladas de arroz. As calamidades continuaram a assolar a Coreia do Norte, como a seca em 2000. A seca foi seguida em Agosto e Setembro do mesmo ano por outro desastre, quando tufões e grandes tempestades atravessaram a Coreia do Norte, causando deslizamentos de terras e arrasando 29 mil habitações. Segundo a Cruz Vermelha, as tempestades provocaram os piores danos em 30 anos, retalhando estradas e ferrovias e demolindo 1930 pontes. Mas havia mais para vir. Em 2001 esta nação acossada experimentou a mais longa seca na história coreana já registada, reduzindo as suas colheitas em 10 por cento e a produção nas restantes áreas caindo para a metade. Na medida em que a seca progredia, as raízes das plantas de arroz apodreceram e os reservatórios secaram, em resultado das paragens nas hidroeléctricas. Um correspondente da Kyodo New Agency afirmou que a seca provocara a pior escassez de água em um milhar de anos. Cha Du-Hyok, administrador chefe da cooperativa agrícola Takan relatou: "Houve uma seca contínua durante a estação da plantação de arroz e as mudas secaram. Temos de plantar arroz três vezes. Ainda não acabámos um terço dos campos (paddies) planeados para o plantio. A produção de arroz está em declínio. Produzia-se sete a oito toneladas de arroz por hectare de campos dez anos atrás. A produção caiu para um a dois em anos recentes, com uma produção de 500 kg no pior momento. Precisamos de bombas para obter água, mas as bombas precisam electricidade e não temos energia eléctrica". Ainda outra tempestade acompanhada de furacões ocorreu em Outubro de 2001, inundando milhares de hectares de campos de arroz e destruindo muito do alimento armazenado na província de Kangwon. Oitenta e uma pessoas foram mortas pelas tempestades e 27 desapareceram. Isto foi uma espantosa progressão de destruição para uma nação que já estava a sofrer com as sanções americanas. Inevitavelmente, a combinação de incríveis desastres naturais e de um embargo económico resultou na fome e desnutrição para milhões de pessoas. [36]
Nenhum país poderia emergir ileso de tais catástrofes, e a Coreia do Norte não foi excepção. O défice global de alimentos ultrapassou um milhão de toneladas em todos os anos desde 1995. Embora a Coreia do Norte comece a recuperar-se dos desastres naturais, a situação ainda é difícil, particularmente para a população urbana que deve dedicar 75 a 85 por cento dos seus rendimentos à compra de alimentos. Estima-se que este ano a Coreia do Norte experimentará o seu melhor nível de produção alimentar desde 1995-6, mas isto ainda manterá a produção de cereais abaixo das necessidades mínimas do país. Chuvas normais elevaram o volume de água nos reservatórios de irrigação do país para 59 por cento da capacidade normal, ainda bem abaixo dos níveis necessários. O terreno da Coreia do Norte é sobretudo montanhosa, e apenas 20 por cento da sua área total de terra é adequada para agricultura. Além disso, muitas áreas do país não dispõem de bastantes dias livres de geadas que lhes permitam duplas colheitas. Consequentemente, é essencial que os agricultores nortecoreanos tenham maior acesso a fertilizantes, pesticidas, peças sobressalentes e combustível a fim de elevar os níveis de produtividade, de todo impossível enquanto os EUA continuarem a impor sanções. Embora o governo fosse capaz de aumentar substancialmente o nível das rações de comida em 2002, isto ainda proporciona menos da metade das exigências mínimas diárias de energia. Colmatar este défice é particularmente difícil para trabalhadores no norte industrial e nordeste, onde há menos produtos disponíveis nos mercados locais e a terras é menos boa para plantar comida em terrenos e áreas urbanas, como se faz em outros lugares. [37]
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 13,2 milhões de pessoas na Coreia do Norte estão agora desnutridas. O Programa Alimentar Mundial (WFP) tem trabalhado para aliviar o sofrimento do povo nortecoreano, fornecendo um total de 2 milhões de toneladas de ajuda alimentar desde 1995, avaliada em US$ 500 milhões. A ajuda alimentar é destinada às crianças, aos mais velhos, grávidas e mães que amamentam. O WFP também está envolvido na renovação e operação de 18 fábricas locais de alimentos. [38] A redução de donativos obrigou o WFP a anunciar em Setembro de 2002 que iria cessar a distribuição de alimentos a três milhões de pessoas e que sem compromissos adicionais mais 1,5 milhão de pessoas seriam a seguir afastadas do programa. "Tais cortes generalizados causariam sofrimento agudo numa escala maciça", advertiu Rick Corsino, Director da WFP para a RDPC. "Como vamos para o duro Inverno nortecoreano, os afectados terão muita dificuldade em enfrentá-lo. Eles já estão no limite". O Japão, que contribuiu com mais da metade do financiamento das operações do WFP na RDPC em 2001, optou por nada contribuir em 2002. Outro factor que contribuiu para a evaporação do financiamento foi a publicidade que atraiu donativos para o Afeganistão a expensas de outras áreas. "Do nosso ponto de vista, as coisas não têm sido fáceis", disse o porta-voz do WFP Gerald Bourke. "As necessidades são enormes. E o perigo de uma grande crise alimentar, se não obtivermos aquilo que pedimos, é considerável". Em 03/Dez/2002, o Programa Alimentar Mundial emitiu um apelo por US$ 201 milhões para financiar seu programa na RDPC em 2003, advertindo que sem financiamento adicional pode ser obrigado a encerrar totalmente sua operação na Coreia do Norte [39]
Percebendo a oportunidade, a administração Bush respondeu quase imediatamente a este apelo do WFP. Em 6 de Dezembro, Washington anunciou que deixaria de doar ao programa a menos que a RDPC permitisse monitores para os 13 por cento de receptores que vivem em áreas em que monitores ocidentais não são actualmente permitidos. Condições adicionais especificavam que quaisquer donativos estariam dependentes da disponibilidade de stocks alimentares americanos e considerações de necessidades alimentares competidoras em outros países. O anúncio era com efeito a mensagem de que os EUA não dariam mais apoio às operações do WFP na RDPC. Só a Itália e a União Europeia responderam ao apelo do WFP. "Somente temos compromissos firmes para 35 mil toneladas", disse o porta-voz do WFP Gerald Bourke. "Isto estará acabado no princípio de Fevereiro e então podemos ter de fechar a loja". O consultor em agricultura Tom McCarthy, que visita frequentemente a Coreia do Norte, comenta: "Ninguém negou que a maior da ajuda alimentar tenha ido para populações vulneráveis. Os EUA parecem prontos para politizar a ajuda alimentar". O Japão também permaneceu rígido na sua rejeição de ajuda. "O Japão não está a considerar qualquer coisa seja quando for", declarou o secretário do Gabinete Shinzo Abe. [40]
"Deixe-me conversar acerca da Coreia do Norte", disse o presidente Bush durante uma reveladora discussão com o jornalista Bob Woodward em Agosto de 2002. "Eu odeio Kim Jong-II [presidente da Coreia do Norte]. Tenho uma reacção visceral a este tipo porque ele está a esfaimar o seu povo. Dizem-me que não precisamos mover-nos demasiado rapidamente [contra a Coreia do Norte] porque os encargos financeiros sobre o povo serão imensos se o tentarmos — se este tipo fosse derrubado. Quem tomaria conta — eu simplesmente não compro aquilo". [41]
Uma eleição crucial
Aproxima-se a eleição presidencial sulcoreana e o candidato favorito da administração Bush, Lee Hoi-Chang, estava ligeiramente mais atrás nas sondagens. Num último esforço para inclinar a eleição em seu favor, Washington conseguiu uma exibição de puro teatro. Durante várias semanas os EUA tinham estado a seguir a progressão do navio nortecoreano Sosan, a caminho do Médio Oriente. A poucos dias de distância da eleição, responsáveis militares americanos pediram à Armada espanhola para interceptar o navio. No dia 9 de Dezembro um navio espanhol aproximou-se do Sosan e disparou da sua proa. Quando o Sosan se recusou a ceder, o navio espanhol empurrou-o de lado, sua tripulação disparava tiros para o Sosan e forçou-o a parar. Atiradores espanhóis dispararam cabos para o Sosan, cortando-o, para abrir o caminho para a abordagem do ar. Chegaram helicópteros a seguir e quando eles pairavam sobre o Sosan, comandos desceram para o tombadilho, enquanto outros abordavam-no com um bote de alta velocidade. "Depois de ocupar a sala de máquinas e a sala do leme", relatou depois o capitão do Sosan, Kang Chol-Ryong, "eles dispararam milhares de balas de grande e pequeno calibre, ameaçando seriamente as vidas da tripulação e pondo o navio sob o seu total controle. Eles deram pontapés nos marinheiros e bateram-nos com a coronha de rifles". Os comandos "prenderam e amarraram 18 dos nossos marinheiros", relembrou Kan, e os prisioneiros foram então levados para um navio da Armada espanhola e posteriormente transferidos para um navio americano. Ao todo, disse Kang, "Cinco rolos de arame, outros materiais e correntes foram destruídos. Outras salas foram danificadas muito seriamente". Os comandos vasculharam a cabinas e roubaram valores a marinheiros nortecoreanos. Uma frota de navios de guerra americanos enxameou em torno do Sosan depois de 15 mísseis scud terem sido encontrados a bordo. "Eu nunca tentei esconder os mísseis", disse Kang: "Eles estavam regularmente armazenados sob placas de cobertura. Não é bom colocá-los em espaço aberto". Os mísseis eram destinados ao Yemen, que se queixou da captura, dizendo que haviam sido comprados legalmente. Não desejando hostilizar o Yemen, um aliado com que estava a contar, Washington permitiu ao Sosan que continuasse o seu caminho. "Não temos nenhuma escolha senão obedecer à lei internacional", admitiu o porta-voz da Casa Branca Ari Fleischer. Se o Yemen não fosse um aliado, os EUA nem mesmo teriam mencionado a lei internacional, a qual proíbe a captura de navios. [42]
Para a Coreia do Norte, a exportação de mísseis era virtualmente o único caminho para conseguir divisas estrangeiras. A administração Bush adoptou uma pose de ultraje em relação às exportações de mísseis nortecoreanos, uma posição irónica uma vez que os EUA detêm 45 por cento do comércio global de armamento. "Até parecia que queriam proteger o seu território de recém-chegados como a Coreia do Norte", destacou Bruce Campbell do Center for Policy Alternatives, de Ottawa. "É um duplo padrão. O ultraje é sobre direitos de propriedade e não sobre o que está realmente a ser vendido". Para Richard Sander, coordenador da Coalition to Oppose the Arms Trade, a posição americana era "assombrosa. Os EUA vendem o maior volume mundial de armas para mais países do que quaisquer outros juntos, eles têm 1,5 milhão de soldados estacionados por todo o mundo, gastam mais de US$ 500 mil milhões for ano com o orçamento militar" e "eles apenas combatem uma guerra contra o Afeganistão e estão prontos para bombardear o Iraque. Imagino que esta não é a espécie de ironia para rir". Bastante curiosamente, se os EUA estivessem verdadeiramente preocupados com as exportações de armas nortecoreanas poderia ter respondido ao acordo nortecoreano do fim de 2000 para congelar o seu programa de mísseis de alcance médio e longo e para cessar de exportar mísseis e cancelar contractos existentes. Mas o presidente Clinton em fim de mandato estava receoso de viajar a Pyongyang para assinar o acordo por temer o criticismo de quadrantes conservadores, passando tal responsabilidade para o vindouro presidente Bush, que não tinha intenção de discutir qualquer questão com a Coreia do Norte [43]
Segundo um porta-voz da Casa Azul (o palácio presidencial sulcoreano), falando sob condição de anonimato, "Não estamos em posição de comentar acerca deste evento, mas tendo em vista o facto de que a Coreia do Norte tem estado a exportar mísseis há algum tempo, não é claro porque os EUA adoptaram uma posição forte neste ponto do tempo". O porta-voz também desmentiu afirmações americanas de que havia notificado o presidente sulcoreano Kim Dae Jung antes da captura. [44] Vindo poucos dias antes da eleição presidencial na Coreia do Sul, era um tempo oportuno para uma captura. Contrabalançando o efeito do esforço americano para inclinar o voto em favor do conservador Lee Hoi-Chang, verificou-se o choque generalizado provocado pela absolvição por um Tribunal Militar dos EUA, em Novembro, de dois soldados americanos estacionados na Coreia do Sul. Cinco meses antes, duas garotas de 14 anos passeando numa estrada a caminho de uma festa de aniversário esmagadas até à morte pelo caminhão 50 toneladas usado na desmontagem de minas quando este acelerava nos arrabaldes de Seul. As absolvições serviram como pára-raios à raiva coreana por anos de abusos da tropa americana, e protestos em massa explodiram por toda a Coreia do Sul exigindo uma revisão do acordo que administra os 37 mil soldados americanos ali estacionados.
O presidente sulcoreano Kim Dae-Jung firmou a sua reputação na melhoria das relações entre as duas Coreias, no que denominou a "Política do Sol brilhante". Lee Hoi-Chang pertencia ao Grande Partido Nacional, o qual encara a política do Sol brilhante com considerável cepticismo, e ele promete adoptar uma linha dura contra a Coreia do Norte se for eleito. O presidente Bush estava a guardar as suas acções mais cruéis para o período pós-eleitoral, apostando numa vitória de Lee que proporcionaria apoio mais entusiástico para medidas punitivas contra a Coreia do Norte. O seu opositor Roh Moo-Hyun pertencia ao Partido Democrático Milénio, no poder, e comprometera-se a continuar a política do Sol brilhante. Como destacou um analista americano bem antes da eleição, "Washington pode muito bem esperar os próximos quatro meses e combinar um acordo novo com o próximo governo em Seul". Um analisa sulcoreano comentou acerca de uma visita pré-eleitoral de uma delegação do Grande Partido Nacional (GPN) a Washington. "Estou bastante seguro que a mensagem da delegação do GPN para os responsáveis da administração Bush teriam sido 'Não balouce o barco' ", e que "quaisquer acções significativas prejudicariam Lee na corrida presidencial". Lee não só era favorável a uma atitude dura para com a Coreia do Norte como também agradava a administração Bush por advogar um maior avanço nas privatizações. Em contraste, os EUA estavam pouco à vontade com o passado de Roh como advogado trabalhista na década de 1980, quando defendeu estudantes e activistas sindicais presos pelo governo apoiado pelos militares americanos. Quando a eleição se aproximava, Roh advertiu: "Se aqueles poderes que desejam que uma Guerra Fria ganhe o poder nesta eleição presidencial, o estado de coisas na península coreana retornará à antiga condição de nações poderosas controlarem a península". [45] Na véspera da eleição, Roh prometeu que "se os EUA e a Coreia do Norte começarem uma guerra, nós a travaremos". Para consternação de Washington, quando os votos da eleição de 19 de Dezembro foram contados, o progressistas Roh emergiu como vencedor, prometendo trabalhar tanto com os EUA como com a Coreia do Norte. "Devemos ter diálogo com o Norte e com os EUA", anunciou. "Deste modo devemos assegurar que a disputa Norte-EUA não escalará numa guerra". "Isto é um voto pró-Coreia", observou Donald Gregg, presidente da Korea Society, em Nova York. "Os coreanos estão a cavalgar no topo da autoconfiança, e eles têm de decidir que a coisa mais importante para eles é a outra metade do seu país". Esta pode ter sido a mais importante eleição da história coreana, uma afirmação dos direitos dos coreanos a determinarem o seu próprio futuro e a terem uma palavra na resolução da disputa EUA-Norte. É mesmo possível que o resultado possa significar a diferença entre paz e guerra na península coreana, como a administração estava bem consciente. "Há um sentido real de luto aqui", revelou um responsável militar americano ao comentar o resultado da eleição. [46]
Escalando o conflito
Longe de procurar acalmar os temores nortecoreanos, em 10/Dez/2002 a administração Bush divulgou um novo documento de estratégia apelando a ataques preventivos e acção encoberta contra nações que possuíssem armas nucleares, biológicas e químicas. Num anexo secreto do relatório, a Coreia do Norte era listada entre as nações a que a estratégia era destinada. Era dada alta prioridade a travagem de embarques de componentes de armas tanto para dentro como para fora das nações alvo, e o documento reenfatizava o compromisso dos EUA em relação à utilização de armas nucleares como uma opção viável em qualquer conflito. "Os Estados Unidos continuarão a tornar claro que se reservam o direito de responder com força esmagadora — incluindo o recurso a todas as nossas opções — ao uso de WMD [weapons of mass destruction] contra os Estados Unidos, nos forças no exterior, e amigo e aliados". Segundo um não nomeado responsável americano, a porção classificada do documento era construída sobre a premissa de que "a não proliferação tradicional falhou, e agora estamos a ir para a interdição activa. Interdição activa é física — é interrupção, é destruição sob qualquer forma, quer cinética quer ciber". Outro responsável ilustrou o novo plano dando o exemplo de um navio baseado nas Filipinas com um ponto de transbordo para armas especiais destinadas à Líbia, uma das nações que o documento coloca na mesma categoria da Coreia do Norte. "Estamos indo interditar ou destruir ou interromper aquele carregamento ou, durante o processo de transbordo, ela pode misteriosamente desaparecer". [47]
Para os nortecoreanos, o último documento estratégico foi mais uma bofetada na cara, e eles não estavam inclinados a desempenhar um papel passivo. Os Estados Unidos violaram todas as disposições da Estrutura do Acordo e estavam claramente a apontar para o congelamento e a fome a fim de submeter a RDPC. Apesar de o trabalho nos reactores de água leve continuar oficialmente, era óbvio para todos que o ocidente não tinha intenção de permitir que o projecto fosse completado. Já em 24/Out/2002 o Parlamento da União Europeia votou pelo cancelamento da sua contribuição de US$ 20 milhões para o projecto em 2003, e os EUA estavam a fazer lobby junto a outros membros do KEDO para encerrar a construção dos reactores. "É extremamente improvável que ambos os reactores de água leve venham a ser produzidos", observou Robert Einhom, do Center for Strategic and International Studies. "Ninguém anunciará o desligamento real porque isso apenas encorajaria uma provocação nortecoreana como resposta". [48]
Dois dias depois de a administração Bush revelar o seu último documento estratégico, a Coreia do Norte anunciou a sua intenção de retomar a construção e operação dos seus reactores moderados a grafite. Uma declaração emitida pelo ministro do Exterior da RDPC afirmava: "A oferta de óleo pesado à RDPC não era nem ajuda nem cooperação mas a obrigação americana para compensar pela perda de electricidade em consequência do congelamento de centrais nucleares em operação e construção. O real abandono pelos EUA das suas obrigações levou a que a produção de electricidade da RDPC sofra agora de uma perda certa. Se a RDPC recongela ou não as suas instalações nucleares depende da atitude dos EUA" [49] O anúncio foi ouvido como músico pelos ouvidos da administração Bush, pois sabiam que haviam forçado a Coreia do Norte a tomar essa atitude. "O governo sulcoreano não gosta de dizer isso em público, mas eles culpam os americanos pelo que está a acontecer", revelou Moon Chung-In, um especialista em Coreia do Norte da Universidade Yonsei. "A administração Bush criou uma situação em que os nortecoreanos foram empurrados para um canto. E o seu mau comportamento tornou-se uma profecia auto-cumprida que permite à administração Bush dizer: 'Bem lhe disse' ". Suh Dae-Sook, um perito em Coreia do Norte da Universidade de Hawaii, sentiu que o anúncio nortecoreano foi uma tentativa de levar Washington a negociar. "Suponho que eles estão prontos a negociar", afirmou. "Esta é a única arma que têm, ou alternativa que têm". [50]
Era o momento que o presidente Bush estava à espera. Dentro de poucos dias ordenou às Forças Armadas dos EUA que instalasse os primeiros 10 mísseis de um sistema de defesa contra mísseis em Fort Greeley, Alasca, em 2004, e outros 10 mísseis na Vandenberg Air Force Base, na Califórnia, em 2005. Incluídas na instalação haverá seis radares, o que eleva o custo inicial para US$ 30 mil milhões. Os planos para o escudo de defesa anti-míssil finalmente chegarão a 250 mísseis, 15 radares e até 30 satélites. Este movimento seguiu-se à anulação por Washington do Tratado de Mísseis Anti-Balísticos no princípio de 2002, e a administração Bush sentiu que este era o momento certo para lançar o programa, esperando que o barulho dos media sobre a Coreia do Norte silenciaria as críticas. [51] Os críticos da couraça anti-míssil que argumentam que os teste não mostraram a validade do conceito não percebem o ponto essencial. O programa anti-míssil funcionará muito efectivamente para canalizar centenas de milhares de milhões de dólares para contratistas da defesa. Uma segunda vantagem do programa anti-míssil é o seu valor propagandístico, pois ajuda a aliviar preocupações apresentando a aparência de invulnerabilidade. Tal imagem poderia ajudar futuros responsáveis americanos a ganharem apoio público se optarem por travar guerra contra uma nação bem armada como a China.
Para a Coreia do Norte, a situação era simplesmente insustentável. Os responsáveis nortecoreanos consideraram correctamente que o KEDO não tinha intenção de completar o trabalho dos reactores de água leve, e eles ressentem a expectativa de serem obrigados a continuar a aderir aos termos da Estrutura do Acordo enquanto a outra parte não honrava nem uma única disposição. Enquanto se procedesse assim, o povo nortecoreano continuaria no frio e com fome. Em Pyongyang um porta-voz do Comité para a Reunificação Pacífica da Pátria Mãe emitiu uma declaração a dizer que a retomada do trabalho dos reactores moderados a grafite destinava-se "compensar a perda de electricidade causada pela cessão unilateral dos EUA no fornecimento de óleo pesado". Além disso, acrescentou, sob a Estrutura do Acordo, "sofremos uma grande perda de electricidade e o consequente dano feito à economia. Se as nossas instalações nucleares devessem ser acusadas, então todas as centrais electronucleares em outras regiões e países deveriam ser postas em causa. É ridículo asseverar que nossas bases energéticas nucleares apresentam uma ameaça enquanto centrais nucleares em outras regiões e países não levantam problemas". [52] A situação era desesperada mesmo antes do corte do óleo pesado, e uma vez que o projecto do reactor de água leve estava destinado a ser encerrado, era uma tarefa urgente para a Coreia do Norte desenvolver as suas próprias centrais nucleares. "Obviamente eles têm uma enorme crise de energia", salientou um operário ajudante que frequentemente trabalha na Coreia do Norte. "Lá você conduz pelos campos após o escurecer, ou em enormes cidades além de Pyongyang, e não vê nem uma lâmpada". [53] A resposta nortecoreana era previsível, dada a sua propensão para responder na mesma moeda: negociar quando abordada diplomaticamente e apresentar uma posição rígida quando ameaçada ou intimidada. Ainda assim, o movimento pode ter sido uma asneira. Os EUA não têm claramente qualquer interesse em diálogo ou diplomacia, mas uma abertura para uma solução negociada pode apresentar-se depois de o recém-eleito presidente Roh Moo-Hyn tomar posse em 23/Fev/2003. A retirada nortecoreana da Estrutura do Acordo constrange severamente as opções de Roh e irá colocá-lo numa posição difícil quando negociar com os EUA.
Depois de se retirar da Estrutura do Acordo, a Coreia do Norte procedeu à remoção dos selos e do equipamento de monitorização da AIEA nas suas instalações de Yongbyon, cobrindo as lentes das câmeras de monitorização, e exigindo que a AIEA monitorizasse a partida do pessoal até ao fim de Dezembro. A quantidade de desinformação relativa à retomada pela Coreia do Norte do seu desenvolvimento nuclear é monumental. O reactor de investigação de 5 megawatt de Yongbyon pode gerar 20-25 megawatts de potência térmica. É repetidamente salientado que este reactor é incapaz de proporcionar uma fonte significativa de potência para a Coreia do Norte. O que estas críticas muito repetidas ignoram é aquilo que os nortecoreanos dizem pretender. Segundo Ri Je-Son, director-geral do Departamento Geral da Agência de Energia Atómica [nortecoreana], a Coreia do Norte "retomará a construção interrompida das centrais de energia nuclear e preparar-se-á para operar o laboratório radioquímico a fim de garantir a armazenagem segura das grandes quantidades de varetas de combustível gasto que serão produzidas quando estas centrais estiverem em operação. É para esta finalidade que dentro em breve estaremos a preparar a operação do laboratório radioquímico". [54] Em Yongbyon, a Coreia do Norte está interessada basicamente e retomar a operação do laboratório radioquímico e a instalação de armazenagem para varetas de combustível, como preparação para o término da construção de centrais nucleares não acabadas. Além do reactor de 5 MW, existe também um reactor de 50 MW em Yongbyon, o qual exigirá pelo menos um ano de trabalho a fim de acabar a construção. Além disso, a Coreia do Norte planeia retomar a construção do seu reactor de 200 MW em Taechon, capaz de gerar 800 MW de potência térmica. Estima-se que este projecto levará dois anos para acabar. Não haverá qualquer alívio imediato para o défice energético da Coreia do Norte, mas espera-se que a conclusão dos dois reactores ajudará a elevar a oferta de energia no futuro relativamente próximo.
Outra acusação dúbia é de que a Coreia do Norte posiciona-se para desenvolver armas nucleares. Vários responsáveis sulcoreanos salientam que a remoção dos selos das instalações de Yongbyon não indica necessariamente que a Coreia do Norte reprocessará o combustível armazenado e que é incerto que as varetas possam mesmo ser reprocessadas para serem convertidas em material adequado para armas. Os peritos nucleares sulcoreanos também dizem que, mesmo que a Coreia do Norte retomasse as operações no seu reactor de 5 MW de Yongbyon, levaria mais de um ano antes de que o combustível gasto contido nas varetas pudesse ser extraído. O reactor teria de trabalhar a plena potência 75 por cento do tempo durante quatro anos a fim de produzir suficiente plutónio para uma única arma nuclear. [55] O analista russo de segurança nuclear Sergei Kazenov relata que "converter o átomo pacífico para o uso militar é um problema especial" e que "faltam à Coreia do Norte os componentes necessários, incluindo os sistemas de detonação e alguns outros". Aleksandr Rumyantsev, ministro da Energia Atómica da Rússia, concorda: "A criação industrial de materiais nucleares para fins militares é um processo complicado e a Coreia do Norte por enquanto não pode permitir-se isso". Além disso, acrescentou, a Coreia do Norte é "industrialmente subdesenvolvida" [56] A opinião pública mundial está a ser alimentada com uma mentira, destinada a manter a economia da Coreia do Norte amarrada a sanções e a negar-lhe o direito de desenvolver fontes de energia, com a esperança de que o seu sistema entre em colapso.
Os EUA encorajaram a AIEA a actuar como seu procurador e apresentaram a questão diante do Conselho de Segurança da ONU para assim evitar a impressão de actuar directamente e, por isso, antagonizar países já ofendidos com a política americana em relação ao Iraque. Os EUA esperam ganhar a aprovação do Conselho de Segurança para a imposição de sanções da ONU contra a Coreia do Norte. Responsáveis americanos planeiam abordar países vizinhos da Coreia do Norte e pressionam-nos no sentido de cortar ou reduzir as relações económicas. Numa política a que chamam "contenção sob medida" ("tailored containment") , os responsáveis americanos pretendem pressionar outros países a juntarem-se ao bloqueio económico. "Isto significa provocar tensão política e tensão económica", declarou um responsável [57] O assunto pode chegar ao ponto crítico em Março de 2003, o prazo final que a AIEA impôs à Coreia do Norte para submeter uma declaração do seu programa de armas nucleares não existente. O director da AIEA, Mohammed ElBaradei, disse que a sua agência levaria o assunto ao Conselho de Segurança da ONU se a Coreia do Norte não cumprisse. A falta da Coreia do Norte em declarar armas nucleares que não possui poderia então disparar sanções ou possivelmente medidas mesmo mais severas dos EUA. Contudo, a administração Bush preferiria não esperar esse tempo e está a pressionar o Conselho de Segurança da ONU no sentido de tratar do assunto em Janeiro. Fontes da ONU indicam que a AIEA também pode levar a questão perante o Conselho de Segurança ainda em Janeiro. As ameaças americanas e o movimento para impor sanções e pressionar países a restringir ligações económicas foi encarado com alarme em Seul. "Não podemos deixar-nos levar para a guerra com os nortecoreanos nem podemos permitir uma outra confrontação de Guerra Fria ou outras medidas extremas", anunciou o presidente sulcoreano Kim Dae-Jung. "Tudo deveria ser resolvido através do diálogo pacífico". O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte instou novamente os EUA a entabularem o diálogo. "É bastante auto-evidente que o diálogo é impossível sem sentar frente a frente e uma regulação pacífica da questão seria impensável sem diálogo" [58]
Tal como em relação ao Iraque, emergiram da Casa Branca mensagens conflitantes a respeito de acção militar, mas deveria ser recordado que no fim é a opção militar que geralmente prevalece. Um perito asiático recentemente declarou que nenhum dos responsáveis superiores americanos com que ele se encontrou afastou a acção militar contra a Coreia do Norte. [59] Richard Perle, presidente do Pentagon Defense Policy Board, painel de conselheiros, afirma que "o perigo a sermos expostos pelo desenvolvimento nuclear da Coreia do Norte é tão grande que resultará numa quarentena de abrangência sem precedentes" e que a opção militar "não deveria ser eliminada na negociação com a Coreia do Norte" [60] A indicação mais aberta de que era contemplada a força militar ocorreu em 23/Dez/2002, quando o secretário da Defesa Donald Rumsfeld declarou em resposta a uma pergunta sobre a Coreia do Norte: "Somos capazes de combater em dois grandes conflitos regionais. Somos capazes de vencer decisivamente num e rapidamente no outro. E não há dúvida nenhuma sobre isto" [61] O próprio presidente Bush sugeriu que os EUA podem considerar acções "não diplomáticas" contra a Coreia do Norte. [62]
A Rússia reagiu com horror à postura impaciente de Washington. O vice-ministro do Exterior Georgi Mamedov declarou: "A expressão 'eixo do mal' é muito infeliz, mesmo inflamatória... Imagine o que significa para um pequeno Estado dizerem-lhe que é virtualmente parte das forças bíblicas do mal, as quais devem ser combatidas até à destruição total. Os países incluídos no dito 'eixo do mal' provavelmente não permanecerão passivos". Mamedov rejeitou a abordagem americana. "Utilizar a difícil situação económica da Coreia do Norte para fazer chantagem é contraproducente e perigoso". [63] Outro vice-ministro russo do Exterior, Alexander Losyukov, concordou, declarando: "Você não pode conseguir o que quer que seja por meio de acusações, pressões ou exigências duras, para não mencionar ameaças. Isto só tornará as coisas piores".
Os EUA nunca honraram a Estrutura do Acordo, sem considerar a abordagem adoptada pela Coreia do Norte. A melhor opção para a Coreia do Norte é evitar inflamar a situação e esperar que as negociações com a Coreia do Sul resultem em arranjos alternativos que aliviem sua escassez de energia. Sem a obstrução dos EUA, talvez a conclusão dos reactores de água leve sob a égide sulcorena, com apoio da Rússia e da China, sejam possíveis. Enquanto os EUA se opuserem a uma solução, somente os coreanos poderão alcançar um acordo. Progressos substanciais entre as duas Coreias já se verificaram, pois eles trabalharam em conjunto para religar estradas e ferrovias, apesar da interferência dos EUA no processo. Há planos prontos para criar um complexo industrial de firmas sulcoreanas na província nortecoreana de Kaesong, 45 milhas a norte de Seul. O presidente eleito Roh Moo-Hyun instou a Coreia do Norte a "não tomar novos passos que agravassem a situação" e limita o papel que o novo governo possa desempenhar. Enquanto isso, a administração a ser empossada de Roh estabeleceu contactos com a Coreia do Norte "para descobrir o que ela realmente quer" [65] Como Washington mantém uma postura agressiva e ameaçadora em relação à Coreia do Norte, a Coreia do Sul está a procurar uma abertura diplomática. A fim de prevenir a ameaça de paz colocada pelas iniciativas sulcoreanas, os EUA planeiam internacionalizar a disputa obtendo autorização do Conselho de Segurança da ONU para medidas mais agressivas. Seja como for que a disputa seja resolvida, é o povo coreano que será afectado, e é o povo coreano que deveria ser central para descobri uma solução. Jeon Hyun-Joon, do Instituto Coreano de Unificação Nacional, exprimiu os sentimentos de muita gente na Coreia do Sul quando declarou: "Tanto a Coreia do Norte como os EUA estão num jogo duro de cabo-de-guerra, praticamente apelando a uma terceira parte para mediar a luta. Quem pode desempenhar melhor esse papel senão a Coreia do Sul?" [66]
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NOTAS
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© Greg Elich 2002. For fair use only / pour usage équitable seulement. Tradução de J. Figueiredo.
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Mais informações sobre a Coreia em:
Jornal The People's Korea : http://www.korea-np.co.jp/pk/
Rádio da RDPC: http://www.kcna.co.jp/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info
Os relatos ocidentais repetem infindavelmente a afirmação de que um responsável nortecoreano admitiu um programa de armas nucleares numa reunião em Outubro com James Kelly, secretário de Estado Assistente dos EUA. Nenhuma outra evidência foi apresentada além da afirmação de Kelly. Acerca deste assunto, a palavra da administração Bush foi aceite como evidência suficiente — a mesma administração Bush que tem mentido sistematicamente acerca de quase tudo. Mas sobre a Coreia do Norte a sua palavra foi evidência suficiente.
Se a Coreia do Norte não confessou ter um programa de armas nucleares, então o que aconteceu realmente durante a malfadada reunião de Outubro? Para entender o que aconteceu em Outubro e a confrontação resultante, os acontecimentos devem ser encarados no contexto mais vasto das relações americano-nortecoreanas e da questão nuclear. Este contexto também é importante para explicar porque a administração Bush deliberadamente enganou a opinião pública mundial, utilizando a questão nuclear como um pretexto para impor medidas económicas e políticas numa tentativa de provocar o colapso da Coreia do Norte.
Chegar à beira da guerra e recuar
O conflito nas relações norteamericano-norteacoreanas sobre a questão nuclear principiou em 26/Jan/1993, quando o presidente Clinton anunciou que as forças armadas americanas conduziriam jogos de guerra na Coreia do Sul. A isto seguiram-se no mês seguintes notícias de que algumas das armas nucleares anteriormente apontadas à União Soviética seriam redirigidas para a Coreia do Norte. Em Março, os enormes jogos de guerra Team Spirit que envolviam bombardeiros, mísseis de cruzeiro e vasos navais foram iniciados. Interpretando isto como uma provocação, a Coreia do Norte respondeu avisando que se retiraria do Tratado de Não Proliferação (TNP) nuclear. Contudo, conversações com responsáveis americanos em Junho de 1993 levaram a Coreia do Norte a prescindir da sua intenção declarada de abandonar o TNP. Mas surgiram novas dificuldades quando a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) insistiu em inspeccionar sítios nucleares não declarados na Coreia do Norte, algo que a agência nunca exigira a qualquer outra nação. Tal exigência foi efectuada por instigação de responsáveis norte-americanos, que estiveram a pressionar a AIEA a efectuar inspecções mais intrusivas e de âmbito mais vasto, com a esperança de descobrir um pretexto para efectuar pressão sobre a Coreia do Norte e aumentar as oportunidades para colher dados de inteligência. Por estas altura, a Coreia do Norte descobriu que os inspectores da AIEA nos sítios declarados da Coreia do Norte estavam a transmitir dados de inteligência a responsáveis americanos. [1] Encorajados por novos relatórios que provocavam respostas emocionais, a administração Clinton denunciou que o plutónio extraído da instalação nuclear de Yongbyon, na Coreia do Norte, estava a ser utilizada no desenvolvimento de armas nucleares. Nenhuma evidência foi apresentada para tal acusação, mas ela obteve uma vasta aceitação à força de ser repetida.
Em Novembro daquele ano, o presidente Clinton apareceu no "Meet the Press", insistindo em que "não se pode permitir à Coreia do Norte desenvolver uma bomba nuclear". Por volta de 1994, as conversações entre os EUA e a Coreia do Norte foram rompidas, e os Estados Unidos estavam a exercer pressão no Conselho de Segurança da ONU no sentido de impor sanções. Em Junho de 1994, os EUA submeteram formalmente à ONU um projecto de resolução acerca de sanções graduadas, mas nos bastidores a administração Clinton já havia decidido a guerra. O secretário da Defesa William Perry e o secretário da Defesa Assistente Ashton Carter "gastaram grande parte do primeiro semestre de 1994 preparando a guerra na península coreana". Segundo Perry e Carter, "preparámos um plano pormenorizado para atacar a instalação de Yongbyon com bombas guiadas com precisão. Estávamos altamente confiantes em que aquilo seria destruído sem causar uma fusão nuclear (meltdown) que libertaria radioactividade para o ar". Parece altamente duvidoso que uma libertação de radioactividade pudesse ter sido evitada, mas o ataque destinava-se provavelmente a desencadear devastação muito maior. Perry e Carter previram que a Coreia do Norte responderia, como eles disseram, "violentamente", ou para dizer isto com mais precisão, combatendo a agressão americana. "Na eventualidade de um ataque norte coreano", disseram eles, "as força americanas, trabalhando lado a lado com o Exército sul coreano e utilizando bases no Japão, rapidamente destruiriam o Exército da Coreia do Norte e o regime da Coreia do Norte. Mas ao contrário da Tempestade do Deserto, que foi travada no deserto da Arábia, o combate em outra Guerra da Coreia teria lugar nos populosos subúrbios de Seul". Perry e Carter admitem que "o preço seria pesado", estimando que "milhares de soldados americanos e dezenas de milhares de soldados sul coreanos seriam mortos, e milhões de refugiados inundariam as estradas. As perdas norte coreanos seriam mesmo mais elevadas. A intensidade do combate seria maior do que qualquer outra guerra que o mundo tenha testemunhado desde a última Guerra da Coreia". Observe-se a ausência de qualquer menção ao número de civis que poderiam morrer na sua guerra. Deveria ser relembrado que 4 milhões de coreanos perderam as suas vidas na Guerra da Coreia de 1950-1953, e que uma nova guerra com armas modernas tem o potencial para espalhar a morte em escala maciça. As centenas de milhares ou talvez os milhões de coreanos comuns que perderiam as suas vidas em não preocupavam a administração Clinton de modo algum. [2]
O presidente sul coreano, Kim Young-Sam, não era tão indiferente como os responsáveis americanos ao sacrifício de vidas coreanas. "Naquele momento a situação estava realmente perigosa", recorda ele. "O governo Clinton estava a preparar-se para a guerra", com um porta-aviões junto à costa e navios de guerra a planearem um bombardeamento naval. Como as forças americanas concentravam-se para um assalto, Kim advertiu o embaixador americano James Laney de que uma outra guerra resultaria transformaria toda a Coreia numa piscina de sangue e que a Coreia do Sul não moveria "nem um único soldado" em apoio à guerra americana. Kim telefonou então ao presidente Clinton e discutiu com ele durante 32 minutos. "Disse-lhe não haveria qualquer guerra inter-coreano enquanto eu fosse presidente", afirmou Kim. "Clinton tentou persuadir-me a mudar de ideia, mas eu critiquei os Estados Unidos por planearem encenar uma guerra com o Norte sobre a nossa terra". Finalmente, Clinton abrandou, mas ele considerava a oposição da Coreia do Sul apenas um empecilho temporário, e os responsáveis americanos continuaram a planear a guerra. [3]
Não foram feitas quaisquer iniciativas diplomáticas do lado americano, e as conversações interromperam-se. Alarmado com o movimento em direcção à guerra, o antigo presidente Jimmy Carter preferiu intervir pessoalmente, voando para Pyongyang num missão não oficial para abrir negociações. Segundo Carter, na sua primeira reunião conjunta, o presidente nortecoreano Kim Il-Sung "estava pronto para congelar o seu programa nuclear durante as conversações e considerar um congelamento permanente se os seus antigos reactores pudessem ser substituídos por outro modernos e mais seguros". O presidente Kim também exigiu uma garantia dos EUA de que não atacariam o seu país com armas nucleares. Naquela noite Carter telefonou à Casa Branca, interrompendo um conselho de guerra que estava reunido. Carter transmitiu as notícias de que o presidente Kim concordara num congelamento a ser monitorado pela AIEA e em entrar em negociações com os EUA sobre uma solução final da questão. Sabendo que a Casa Branca poderia estar inclinada a ignorar a perspectiva de um acordo negociado, Carter disse-lhes que ele havia combinado com uma equipe de filmagem da CNN transmitir uma entrevista ao vivo imediatamente após o telefonema na qual ele anunciaria o resultado da reunião daquele dia. Quando as notícias da intenção de Carter foram passadas aos demais participantes do conselho de guerra na Casa Branca, eles reagiram com indignação. Sintonizando a CNN, os responsáveis da administração Clinton ficaram consternados quando viram Carter anunciar "O compromisso que recebi é de que todos os aspectos do programa nuclear da Coreia do Norte seriam resolvidos por meio de conversações com boa fé". Carter chegou a dizer que sob tais circunstâncias, prosseguir com a imposição de sanções seria um erro. "Nada deveria ser feito para agravar a situação agora. A razão porque vim aqui foi para tentar impedir um erro irreconciliável". Furiosos com o afundamento da sua guerra, os responsáveis da administração Clinton foram deixados sem qualquer opção senão responder à abertura diplomática. Eles assim o fizeram mas colocando imediatamente exigências adicionais à Coreia do Norte e insistindo em prosseguir com esforços para ganhar a aprovação da ONU para a imposição de sanções. Novas negociações no dia seguinte entre Carter e o presidente Kim Il-Sung resultaram em que a Coreia do Norte concordou em não reprocessar o seu combustível gasto, esvaziando a última desculpa do lado americano para rejeitar uma solução diplomática. Um responsável do Departamento de Estado reflectiu posteriormente: "A coisa chocante em relação à visita de Carter não foi as pessoas terem ficado desapontadas por alguém ter ido lá. Foi o facto de que quando ele conseguiu o congelamento, as pessoas terem ficado deprimidas". [4] Segundo outro responsável do Departamento de Estado naquela época, "Aquilo esteve por um fio. O povo americano nunca saberá quão próximo estivemos da guerra. Se (a Coreia do Norte) não tivesse aceite, tínhamos 50 mil soldados na fronteira. Estávamos muito pouco desejosos de pará-lo". [5]
As negociações oficiais entre os dois lados abriram-se em 08/Julho/1994 em Genebra, e conduziram à assinatura da Estrutura de Acordo (Agree Framework) em 21 de Outubro. Nos termos do acordo, a Coreia do Norte era obrigada a congelar o seu reactor moderado a grafite em Yongbyon e parar a construção de mais dois reactores. O congelamento deveria ser monitorado pela AIEA. À Coreia do Norte também era exigido que se desfizesse do combustível gasto do reactor de Yongbyon "de uma maneira segura que não envolvesse reprocessamento". Em troca, os Estados Unidos concordaram em "responsabilizar-se pela medidas necessárias para o fornecimento" à Coreia do Norte de um projecto de reactor de água leve (LWR) "com uma capacidade geradora total de aproximadamente 2000 MW(e) numa data apontada de 2003". Um consórcio internacional seria organizado sob a liderança dos EUA para financiar e fornecer o projecto. Os reactores de água leve não têm o mesmo potencial daqueles moderados a grafite para a produção de plutónio que possa ser reprocessado para utilização no desenvolvimento de armas nucleares. Como medida temporária, enquanto os reactores de água leve estivessem em construção, os Estados Unidos eram obrigados a fornecer à Coreia do Norte meio milhão de toneladas de petróleo por ano de "óleo pesado para aquecimento e produção de electricidade". [6] Pretendia-se que os carregamentos de óleo servissem como compensação parcial à Coreia da Norte por ser forçada a abandonar esforços para atender às suas necessidades.
Confrontada com uma aterradora escassez de energia, com a Estrutura de Acordo a Coreia do Norte era com efeito obrigada a abrir mão da recuperação económica até que os reactores de água leve fossem completados. Uma vez que os reactores de água leve estivessem operacionais, eles seriam capazes de gerar de longe mais potência do que aqueles moderados a grafite que a Coreia do Norte foi compelida a congelar. Enquanto a escassez de energia na Coreia do Norte continuava a piorar sob a pressão das sanções americanas e de uma série de desastres naturais, os EUA deliberadamente atrasaram a construção dos novos reactores. Embora a Estrutura do Acordo de 1994 obrigassem o consórcio a completar a construção de ambos os reactores de água leve até 2003, os anos passavam-se sem qualquer outra acção senão a construção da infra-estrutura necessária para suportar o projecto de construção. Os EUA calcularam que a Coreia do Norte não sobreviveria muito tempo às suas dificuldades económicas, e que se a construção dos reactores pudesse ser atrasada tempo suficientes, eles nunca precisariam ser construídos. O recém eleito presidente Bush exprimiu abertamente o seu desprezo pela Estrutura de Acordo de 1994. Somente em Agosto de 2002 o cimento foi finalmente despejado nas fundações do primeiro reactor, em Kumho, na costa oriental. Seriam precisos no mínimo oito anos para completar o projecto, assegurando que na melhor das hipóteses a Coreia do Norte teria alívio à sua escassez de energia 16 anos após a assinatura da Estrutura de Acordo.
"Até à conclusão do contrato de oferta para o fornecimento do projecto LWR", lê-se na Estrutura de Acordo, "inspecções ad hoc e de rotina serão efectuadas ... relativamente a instalações não sujeitas ao congelamento". Inspecções das instalações de plutónio encerradas continuaram regularmente desde 1994, mas o programa de inspecções mais generalizado e intrusivo que os EUA desejavam não podiam ser implementados nos termos do acordo até que o contrato de fornecimento do LWR estivesse completo. Os EUA não estavam inclinados a esperar. Queriam tais inspecções agora. Na cerimonia de marcação do lugar da fundação da primeira planta, James Pritchard, delegado americano do consórcio, insistiu em que a Coreia do Norte devia permitir imediatamente um programa de inspecção ampliado. [7]
Ameaça nuclear
O compromisso de completar a construção dos reactores de água leve até 2003 não foram as únicas disposições desrespeitadas pelos EUA. O artigo 2 apelava a um "movimento em direcção à plena normalização das relações políticas e económicas", e o artigo 3 declarava claramente: "Os EUA proporcionarão garantias formais à RDPC (República Democrática e Popular da Coreia — Coreia do Norte) contra a ameaça ou utilização de armas nucleares pelos EUA" [8] Apesar de tais compromissos, os EUA nunca abandonaram a sua postura nuclear agressiva em relação à RDPC. Menos de quatro anos depois de assinar o acordo de Genebra de 1994, na Primavera de 1998, aviões de guerra americanos com base na Seymour Johnson Air Base na Carolina do Norte efectuaram um exercício para simular uma missão de longo alcance para despejar bombas nucleares sobre a Coreia do Norte. Aviões da 4th Fight Wing transportando imitações em betão de bombas que pretendiam representar as bombas nucleares B61 voaram para o Avon Park Bombing Range, na Florida, onde despejaram suas cargas. Segundo o brigadeiro general Randall K. Bigum, "Nós simulamos combater uma guerra na Coreia, utilizando um cenário coreano" que "simulou uma decisão do National Command Authority de considerar a utilização de armas nucleares... Identificámos aviões, tripulações e carregadores de armas para transportar armas nucleares tácticas nos nossos aviões. Quando aquela fase terminou, a última fase do exercício, a fase do emprego, começou. Isto exigiu-nos que conduzíssemos aqueles aviões baixo e lançássemos um modelo em betão (concrete blivet) . O modelo (blivet) tem o mesmo perfil aerodinâmico de uma bomba, mas está cheio de betão". [9]
O presidente George W. Bush não estava mais disposto a respeitar o artigo 3 da Estrutura de Acordo do que o seu antecessor. Durante o seu discurso sobre o Estado da União em 29/Jan/2002, o presidente Bush apontou a Coreia do Norte, juntamente com o Iraque e o Irão, como pertencendo ao seu ridículo conceito de um "eixo do mal", acusando a Coreia do Norte de "armar-se com mísseis e armas de destruição em massa". [10] Os responsáveis na Coreia do Norte não estavam cegos. Eles podiam ver Bush a preparar-se para travar uma guerra de agressão com o Iraque, a primeira da lista das assim chamadas nações "más". Não era mistério que nação estava em segundo lugar. Menos de três meses depois, a administração Bush ordenou ao Pentágono que desenvolvesse planos para uma política mais flexível na utilização de armas nucleares, autorizando a sua utilização em três cenários potenciais. De agora em diante as armas nucleares podia ser empregadas em "retaliação por ataques com armas nucleares, biológicas ou químicas" e "contra objectivos capazes de resistir a ataques não nucleares", uma referência aparente às instalações industriais e subterrâneas da Coreia do Norte. Uma terceira categoria convocada para o ataque nuclear "no caso de desenvolvimentos militares surpreendentes", uma frase suficientemente vaga para permitir interpretações para quaisquer fins. A política direccionou o Pentágono a preparar-se para a utilização de armas nucleares contra sete países: Rússia, China, Iraque, Irão, Coreia do Norte, Líbia e Síria. [11]
Os nortecoreanos tem muitos motivos para temer tal postura agressiva, com base nas amargas memórias da sua última experiência com as forças armadas dos EUA durante a Guerra da Coreia de 1950-53. No primeiro ano daquela guerra, em 05/Nov/1950, o general Douglas MacArthur ordenou a destruição de "todos os meios de comunicação, toda instalação, fábrica, cidade e aldeia" na área que vai do Rio Yalu até à linha de batalha. A primeira cidade a ser arrasada foi Sinuiju, e o napalm começou a seguir a ser empregado durante os raids de bombardeamento contra civis. Mais de 2300 galões (8625 litros) de napalm foram despejados sobre Pyongyang apenas num raid, em Julho de 1952. Bombardeamentos em massa sistematicamente arrasaram uma cidade após a outra, e os aviões americanos também apontaram para centrais eléctricas e barragens de rega que apoiavam campos de arroz. Na medida em que as barragens de rega eram destruídas, as aldeias a jusante eram varridas em resultado de inundações, infligindo enorme destruição e morte. Em vários momentos durante a guerra os EUA consideraram mesmo a utilização de armas nucleares tácticas. O correspondente húngaro Tibor Meray testemunhou a "destruição e coisas horríveis cometidas pelas forças americanas". Tudo o que se movia na Coreia do Norte era um objectivo militar, camponeses a trabalhar eram muitas vezes metralhados pelos pilotos" motivados pelo que lhes parecia um divertimento. Meray viu a "devastação completa entre o Rio Yalu e a capital" da Coreia do Norte. "Não havia mais cidades na Coreia do Norte", relatou ele. Toda a cidade por onde passou Meray "era uma colecção de chaminés. Eu não sei porque as casas ruíam e as chaminés não, mas eu estive numa cidade de 200 mil habitantes e vi milhares de chaminés e aquilo era tudo o que restava". O general William Dean, feito prisioneiro durante a guerra, recordou-se de ficar admirado com a vista da cidade de Huichon. "A cidade que eu havia visto antes — dois edifícios com andares, uma importante rua principal — não estava mais ali", enquanto "a maior das cidades era apenas entulho ou espaço abertos cobertos de neve onde estiveram edifícios". Todas aquelas cidades, declarou ele, "outrora cheia de pessoas, eram conchas vazias. Os aldeões viviam em aldeias temporárias inteiramente novas, escondidos em gargantas de montanhas". Execuções de civis verificaram-se em escala maciça, tanto por tropas americanas como pelas forças do presidente Syngman Rhee instalado pelos EUA na Coreia do Sul. Na medida em que os soldados americanos eram expulsos da Coreia do Norte pelo avanço das tropas chinesas e nortecoreanas, eles deliberadamente destruíam tudo no seu caminho. O diário de guerra da 24ª Divisão de Infantaria relata: "A razia de aldeias ao longo das nossas rotas de retirada e a destruição de alimentos tornou-se a ordem do dia". Um soldado chinês recorda que virtualmente nenhuma casa foi deixada de pé e que a região estava cheia de pessoas sem abrigo durante o inverno de 1050-51 quando as temperaturas caíram a 40 abaixo de zero. Segundo o general Curtis LeMay, "Nós destruímos toda cidade tanto na Coreia do Norte como do Sul", e "matámos mais de um milhão de civis coreanos e expulsámos mais outros milhões dos seus lares". Durante a guerra, os norte coreanos responderam a tais tácticas de terror com a construção de fábricas e habitações subterrâneas em grande escala. [12] As preocupações nortecoreanas acerca das ameaças americanas são habitualmente afastadas como super-sensibilidade, mas uma tal visão só pode ser sustentada pela ignorância da história da Guerra da Coreia. Os nortecoreanos não esqueceram a experiência, construindo muitas fábricas e instalações militares subterrâneas no pós-guerra. Deveria ser destacado que tais instalações subterrâneas caem dentro da segunda categoria de objectivos que a administração Bush identifica como justificando a utilização de armas nucleares: alvos capazes de resistir a ataques não nucleares.
Estruturação nuclear e arrogância imperial
Assim que o presidente Bush tomou posse, rompeu imediatamente contactos entre os EUA e a Coreia do Norte. Cerca de um ano e meio decorreu antes de a administração Bush ter notificado a Coreia do Norte de que enviaria o secretário de Estado Assistente James Kelly para discutir uma retomada do diálogo. Esperando ansiosamente o que esperado ser uma discussão diplomática que conduzisse ao diálogo regular, os delegados nortecoreanos ficaram chocados durante as reuniões de 3-5/Out/2002 ao descobrirem que Kelly tinha uma diferente tarefa em mente. Em momento algum durante as conversações Kelly esteve desejoso de discutir a retomada das relações. Ao invés disso, Kelly iniciou a primeira reunião ignorando o protocolo habitual de cumprimentos, dizendo desafiadoramente que não viera para negociar. A seguir Kelly acusou a Coreia do Norte de violar os termos da Estrutura do Acordo efectuando um programa secreto de enriquecimento de urânio a fim de desenvolver armas nucleares. Além disso, acrescentou, não podia haver diálogo entre as duas nações até que este programa fosse desmantelado. Segundo os nortecoreanos, Kelly foi "muito rude" e apresentou as suas exigências de uma "maneira extremamente ameaçadora e arrogante". O vice ministro das Relações Exteriores nortecoreano, Kim Kye-Kwan, estava "estupefacto" pela demonstração de arrogância de Kelly. Durante a primeira pausa para café Kim comunicou as declarações de Kelly a responsáveis de alto nível. Quando a reunião reiniciou-se, Kelly continuou o seu ataque acusando a Coreia de Norte de "violações dos direitos humanos". Os nortecoreanos sentiram que Kelly "comportava-se como se fosse alguma espécie de investigador que viesse aqui para verificar se estávamos prontos a aceitar as exigências americanas e a mover-nos em concordância ou não". Os delegados nortecoreanos ficaram particularmente inquietos quando Kelly apresentou um ultimato: ou eles abandonariam o seu não-existente programa de armas nucleares ou os EUA terminariam o contacto. Pior ainda, Kelly advertiu que os EUA obrigariam a uma travagem das florescentes relações nortecoreanas com o Japão e a Coreia do Sul. A delegação nortecoreana reagiu às exigências de Kelly com a sugestão de que discutiriam as preocupações de segurança americanas se a administração Bush renunciasse à sua política hostil em relação à RDPC. A reunião do primeiro dia foi seguida por uma sessão que varou toda a noite entre altos responsáveis nortecoreanos. [13]
Se a administração Bush calculou que a sua abordagem diplomática de pressão e ameaça funcionaria com a RDPC, então errou seriamente. Altivamente independente, a Coreia do Norte baseia a sua filosofia política naquilo a que chama "juche sasang" — a ideologia da autoconfiança. Ao invés de inclinar-se a ameaças, a delegação nortecoreana respondeu previsivelmente com uma afirmação de dignidade. Durante o segundo dia de reuniões, o primeiro vice-ministro das Relações Exteriores, Kang Sok-Ju disse a Kelly que a RDPC tinha o direito de ter armas nucleares a fim de garantir a sua segurança se os EUA continuassem a ameaçá-la. Isto não constituía uma admissão de um programa de armas nucleares. Kang estava a enviar aos EUA uma mensagem que a Coreia do Norte não podia ser acuada e que se a ameaças nucleares da administração Bush continuasse, então a RDPC consideraria a tomada de medidas de autodefesa. Era de facto seu direito faze-lo, um direito assegurando pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear. O artigo X do tratado estipula que "Cada parte deverá no exercício da sua soberania nacional ter o direito de retirar-se do Tratado se decidir que eventos extraordinários, relacionados com a matéria deste Tratado, colocaram em risco os suprimos interesses do seu país". Claramente, a Coreia do Norte confronta-se com uma tal ameaça dos EUA. Segundo a estação de televisão estatal da Coreia do Norte, "Nós apenas explicámos a posição básica de que temos o direito de possuir armas nucleares se os Estados Unidos violarem o seu acordo nuclear e forçarem o país a entrar numa guerra nuclear. Contudo, a administração Bush utilizou isto para argumentar que estamos a desenvolver armas nucleares. Tal falsificação não será aceite". Enquanto enfatiza o seu direito de prosseguir o desenvolvimento de armas nucleares se pressionada demasiado duramente, os nortecoreanos preferem uma solução diplomática e repetidamente solicitaram a garantia de que os EUA cessariam as suas ameaças. A delegação nortecoreana ofereceu-se para negociar uma resolução da questão nuclear com os EUA com base em três condições: 1) que os EUA reconheçam a soberania da RDPC; 2) que os EUA não imponham medidas económicas punitivas; e 3) que os EUA proporcionem a garantia de que não atacariam a Coreia do Norte. Os nortecoreanos estavam penosamente conscientes da intenção hostil da administração Bush bem como dos seus planos para invadir o Iraque. As suas preocupações foram varridas para o lado pela delegação americana, que utilizou a acusação nuclear para pressionar pela sua exigência de que fosse permitido aos inspectores ocidentais perambular à vontade por toda a Coreia do Norte. [14] Do ponto de vista da administração Bush, tais inspecções prometem vários benefícios potenciais. O processo de inspecção pode descobrir algo que os EUA possam adulterar em seu proveito, proporcionando um pretexto para acção militar ou ameaças. Tal como com os inspectores da ONU no Iraque até 1998 e os monitores europeus no Kosovo antes da guerra da NATO, o processo podia confundir-se com uma missão de colheita de inteligência, ajudando os militares americanos a planearem futuras operações militares. E, finalmente, um programa de inspecção intrusivo proporcionaria uma pé na porta para a bisbilhotice ocidental na RDPC, conduzindo a novas exigências e pressões sobre os nortecoreanos para permitir outras formas de interferência.
A administração Bush sabia certamente que os nortecoreanos não se submeteriam, e portanto a actuação de Kelly foi provavelmente pretendida para cortar relações e permitir aos EUA retirarem-se dos seus compromissos assumidos na Estrutura de Acordo de 1994. A seguir às reuniões Kelly retornou a Seul, onde anunciou que havia comunicado a responsáveis nortecoreanos "nossas sérias preocupações e salientado as implicações da conduta nortecoreana", mas que "não havia decisões sobre reuniões adicionais no momento nem qualquer dos lados espera alguma". Nada foi mencionado acerca de um programa nortecoreano de armas nucleares. [15] No dia seguinte os nortecoreanos trouxeram a público a sua própria reacção às fracassadas reuniões, destacando que "a administração Bush continua a perseguir — ao invés do diálogo — numa política hostil de linha dura no sentido de tentar dominar-nos pela força e mão alta" [16] Passaram-se doze dias desde o fim da reunião até que os EUA subitamente proclamaram que a delegação nortecoreana havia admitido conduzir um programa nuclear secreto. A administração Bush havia aparentemente determinado que poderia alcançar melhor o seu objectivo de isolar a Coreia do Norte através da distorção das palavras de Kang. Podia-se contar com uma imprensa complacente para papagaiar a acusação, como se ela fosse um facto, e havia pouco risco de que algum repórter perguntasse acerca de evidências. Era uma expectativa que não foi frustrada.
Fora dos EUA, ninguém acreditou numa tal estória. O Ministério da Defesa da Coreia do Sul questionou a afirmação de que a Coreia do Norte já tivesse construído armas nucleares de plutónio e destacou que estas bombas — "se elas existissem, pesariam de 2 a 3 toneladas devido à falta de tecnologia para torná-las mais leves". O peso de tais armas excederia a capacidade de entrega dos mísseis e bombardeiros da Coreia do Norte. [17] Analistas militares russos concluíram que à Coreia do Norte falta o "potencial económico e militar" para produzir armas nucleares e que o "potencial militar existente da RDPC é total e definitivamente de natureza defensiva" [18] O subsecretário John Bolton visitou a Rússia e apresentou evidências americanas do programa nortecoreano de armas nucleares, esperando persuadir os russos a apoiarem a pressão americana sobre a Coreia do Norte. O vice-ministro russo dos Estrangeiros, Alexander Losyukov, ficou claramente pouco impressionado com a qualidade de tal evidência, declarando que "o lado russo ainda não recebeu qualquer evidência convincente da existência de um tal programa" [19] O ministro sulcoreano da Unificação, Jeong Se-Hyn, suspeitou que os EUA não estavam a ser inteiramente honestos. "Estou receoso de que as observações de Kang Sok-Ju tenha sido citadas foram do seu pleno contexto". Lim Dong-Won, conselheiro presidencial sulcoreano para a Segurança e a Unificação, comentou que os prazos (timing) eram suspeitos. "Os EUA notificaram-nos do programa secreto em Agosto, quando o primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi planeava visitar Pyongyang e as duas Coreias iniciavam a religação das ferrovias e estradas". [20] Havia uma razão acrescida para as suspeitas quanto ao prazo do anúncio, o qual deveria certamente ter um efeito na eleição presidencial sulcoreana prevista para 19 de Dezembro.
Abrindo salvas na campanha anti-RDPC
Uma vez que a imprensa estava recheada com a estória forjada do programa de armas nucleares, estava lançado o terreno de propaganda para os esforços diplomáticos destinados a isolar e pressionar a Coreia do Norte. James Kelly encontrou-se com responsáveis chineses e sulcoreanos, revelando depois que os EUA trabalhavam para aplicar a "máxima pressão internacional sobre a Coreia do Norte para abandonar a sua ambição de armas nucleares". Que os EUA pretendiam abolir a Estrutura de Acordo de 1994 foi indicado pela afirmação de Kelly de que os EUA não considerariam uma resolução diplomática tal como aquela de 1994. Bush estava determinado a matar o acordo, e responsáveis americanos em visita ao Japão e Coreia do Sul pressionaram pelo encerramento do projecto de construção de reactores de água leve. Enquanto Kelly estava a reunir-se com líderes asiáticos, o subsecretário americano de Estado John Bolton viajou à Rússia, França e Grã-Bretanha com a esperança de obter apoio para o isolamento da Coreia do Norte. Apesar de os esforços de Kelly e Bolton no sentido de persuadir responsáveis estrangeiros a concordarem com um embargo económico contra a Coreia do Norte terem fracassado, eles pretendem insistir. "Isto vai levar algum tempo", admitiu um responsável americano, "porque um bocado de países tem diferentes critérios com os nortecoreanos". Além de um fim ao não existente programa de armas nucleares, os responsáveis americanos também clamam pela "verificação", com o que querem dizer inspecções intrusivas na Coreia do Norte. Mas isto ainda não é tudo. "Desta vez", insistiu um responsável americano, "devemos também cuidar de outros problemas — transferência de mísseis, as forças convencionais que o Norte tem, e o modo abominável como trata o seu povo". Tudo palavras código para o que na realidade seria uma infindável série de exigências e pressões destinadas a conduzir à queda do governo da Coreia do Norte. "Nós controlamos as esperanças [da Coreia do Norte] quanto ao futuro e podemos manter estas esperanças como refém", ameaçou um responsável de alto nível do Departamento de Estado [21]
Em Outubro de 2002 o presidente Bush subiu a parada ao emitir uma ordem executiva classificada concedendo às forças especiais americanas autoridade para operarem clandestinamente em nações com as quais os EUA não estão em guerra e para destruírem "linhas de fornecimento de armas" a terroristas e nas três nações compreendidas no assim chamado eixo do mal. Os alvos das operações militares cobertas dos EUA podem incluir tanto armas como equipamento científico que os EUA julgarem poder potencialmente servir a uma finalidade dupla na fabricação de armas biológicas, químicas e nucleares. Como durante anos os EUA negaram permissão ao Iraque para importar equipamento médico com base em discutíveis afirmações de dupla utilização potencial, a ordem executiva pode permitir operações militares cobertas contra uma vasta variedade de firmas envolvidas no comércio normal com o Irão, Iraque e Coreia do Norte. [22]
O furor provocado pela acusação americana não se acalmou e a Coreia do Norte foi capturada num beco sem saída. Não pode abandonar um programa de armas nucleares que não tem. As exigências americanas foram perfeitamente articuladas para impedir uma solução diplomáticas, permitindo aos EUA levarem a cabo qualquer acto hostil que desejarem. O Ministério do Exterior da RDPC emitiu uma declaração salientando que a administração Bush havia listada a Coreia do Norte como membro de um "eixo do mal" e um alvo nuclear potencial. "Sua precipitada pressão política, económica e militar está a ameaçar seriamente o direito da RDPC à existência, criando uma grave situação na península coreana". Por esta razão, continuava a declaração, a Coreia do Norte informou Kelly que "ela tem direito a possuir não só armas nucleares como qualquer tipo de armas mais poderosas do que aquelas para defender a sua soberania e o seu direito à existência frente à cada vez maior ameaça nuclear dos EUA". Para os nortecoreanos, o comportamento beligerante de Kelly durante as reuniões de Outubro ofendeu as suas expectativas de que seriam tratados com respeito. Segundo a declaração do Ministério do Exterior, a delegação da Coreia do Norte insistiu em que tem o direito de desenvolver armas nucleares se assim optar porque não lhe foi "deixada nenhuma outra resposta adequada ao arrogando e impertinente comportamento americano. A RDPC não tem nem a necessidade nem o dever de explicar alguma coisa aos EUA que procuram atacá-la". O Ministério do Exterior concluiu apelando a um "tratado de não agressão entre a RDPC e os EUA". Com tal tratado, afirmou, a Coreia do Norte afastaria as preocupações americanas de segurança. [23]
Era claramente evidente que a Coreia do Norte tinha as suas próprias preocupações de segurança. No seu caso as preocupações baseavam-se em ameaças reais, não em imaginadas. Eram os EUA que ameaçavam a Coreia do Norte com armas nucleares, e não o inverso. Eram os EUA que estavam a impor um embargo económico à Coreia do Norte, foram os EUA que repetidamente demonstraram que bombardeariam ou invadiriam quem quer que seja, como o fizeram com a Líbia, Granada, Panamá, Iraque, Juguslávia e Afeganistão. Um observador desinteressado pode concluir que não só a Coreia do Norte tem o direito de desenvolver armas nucleares como, para assegurar a sua sobrevivência, deveria faze-lo. Mas não é isto que os nortecoreanos têm em mente. A afirmação daquele direito foi uma expressão de ressentimento ao ser tratado como uma criança desobediente ao ser censurada por um pai irado. A Coreia do Norte ofendeu-se por ser admoestado de maneira arrogante sobre um programa de armas nucleares não existente por um representante da nação que estava a ameaçá-la com armas nucleares. O que a Coreia do Norte realmente desejava era a simples garantia de que os EUA não lançariam uma guerra de agressão contra ela.
No princípio de Novembro, a Coreia do Norte abrandou a sua posição, abandonando a exigência de um tratado de não agressão como uma pré-condição para negociações. "Tudo é negociável", declarou o embaixador nortecoreano nas Nações Unidas, Han Song-Ryol. "Deve haver um diálogo contínuo. Se ambos os lados se sentarem juntos, o assunto pode ser resolvido de modo pacífico e rápido". Previsivelmente, Washington imediatamente recusou a oferta, pois o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, respondeu: "A Coreia do Norte saber o que precisa fazer. Precisa desmantelar o seu programa nuclear e honrar suas obrigações tratadas. Não é uma questão de conversar. É uma questão de acção" [24] Enquanto a administração Bush puder manter o seu rígido apego à exigência de que a Coreia do Norte desmantele um programa nuclear que não tem, poderá continuar a evitar a diplomacia.
Impondo o esmagamento energético da Coreia do Norte
Os EUA adoptaram uma posição dura na reunião do Grupo de Coordenação Trilateral e Supervisão, em Tóquio, em 9-10/Nov/2002, pressionando no sentido de que o navio transportando a quota de Novembro de óleo pesado para a Coreia do Norte retornasse. A Coreia do Sul e o Japão opuseram-se a esta exigência, argumentando que o programa de entrega de óleo pesado deveria continuar "porque o seu cancelamento somente agravará a situação". Washington tomou uma posição agressiva, advogando não só uma cessação dos embarques de óleo como também da construção de reactores de água leve. Os EUA também defenderam um reajustamento da Estrutura do Acordo. Incapazes de tratar do acordo, as três nações decidiram adiar a decisão até que se encontrassem outra vez em 14 de Novembro na reunião da comissão executiva da Korean Peninsula Energy Development Organization (KEDO). KEDO é o consórcio responsável pela construção dos reactores de água leve na Coreia do Norte [25]
Na noite anterior ao início da reunião do KEDO, o presidente Bush reuniu-se com os seus conselheiros de segurança nacional e tomou a decisão unilateral de que os embarques de óleo para a Coreia do Norte cessariam a partir de Dezembro, excluindo portanto o envolvimento da Coreia do Sul e do Japão nesta decisão. Permitir o carregamento de Novembro foi a sua única concessão às suas preocupações. A Coreia do Sul argumentou que os carregamentos deveriam continuar pelo menos até o embarque final do ano, em Janeiro. Diante de um facto consumado imposto por Washington, a Coreia do Sul e o Japão sentiram que não tinham qualquer outra opção senão alinhar-se. A reunião da comissão executiva do KEDO emitiu uma declaração anunciando a suspensão das entregas de óleo. "Futuros embarques dependerão de acções concretas e críveis da Coreia do Norte para desmantelar completamente o seu programa altamente enriquecido", disse. "A esta luz serão revistas outras actividades do KEDO com a Coreia do Norte". Um responsável do Ministério da Unificação sulcoreano admitiu posteriormente que, com a aquiescência à "posição dura americana", a posição do KEDO prejudicaria as relações Norte-Sul. "Esperávamos medidas mais moderadas", declarou. A decisão do KEDO provocou uma resposta aguda da Coreia do Norte. "Acreditamos que é tempo de tornar claro quem é verdadeiramente o responsável por romper o Pacto de Genebra. O KEDO, ao terminar o seu fornecimento de óleo, trapaceou as suas antigas promessas de fornecer energia substitutiva para produção e aquecimento". Para os EUA, parar as entregas de óleo em Novembro teria o mérito de infligir sofrimentos ao povo nortecoreano no momento em que o óleo era mais necessário — durante os meses frios de inverno. Os responsáveis americanos encaravam a decisão somente como um movimento de abertura de uma campanha para esmagar a Coreia do Norte. Os EUA também planearam endurecer sanções contra a Coreia do Norte pressionando outras nações a retirarem créditos comerciais da Coreia do Norte. "Vamos contê-los e isolá-los", anunciou com gozo um responsável americano. [26]
As entregas de óleo pesado à Coreia do Norte foram na verdade a única disposição da Estrutura de Acordo honradas pelos EUA. Os EUA durante anos atrasaram intencionalmente a construção dos dois reactores de água leve os quais a Estrutura do Acordo especificava que deveriam estar prontos na "data objectivo de 2003". Além disso, enquanto o acordo apelava a "ambos os lados a reduzirem barreiras ao comércio e ao investimento", os EUA preferiram ao contrário manter um embargo económico contra a Coreia do Norte. Os EUA também foram obrigados pela Estrutura do Acordo a "proporcionarem garantias formais à RDPC contra a ameaça ou utilização de armas nucleares pelos EUA" [27] Não só não o fizeram como a política militar americana especificamente apelou ao possível uso de armas nucleares contra a Coreia do Norte no caso de conflito. No momento em que os EUA abandonaram a última disposição da Estrutura do Acordo que não fora violada, a Coreia do Norte estava ainda a honrar plenamente o acordo.
Nas páginas editoriais dos jornais ocidentais, as obrigações americanas sob a Estrutura do Acordo foram retractadas como uma prenda super-generosa, na qual a Coreia do Norte nada dava. De facto, o caso era quase o oposto. Embora o financiamento do projecto de reactor de água leve viesse primariamente da Coreia do Sul e do Japão, a acordo entre o KEDO e a RDPC exigiu à Coreia do Norte que "repagasse o KEDO para cada unidade LWR em prestações iguais, semestrais, sem juros, num prazo de 20 anos". Apesar de os termos serem generosos, isto não era uma prenda, e a Coreia do Norte com dificuldades de divisas externas devido às sanções poderia ter dificuldade em pagar pelos reactores. Segundo o acordo, se a Coreia do Norte deixasse de "pagar toda a quantia de uma obrigação financeira vencida", então seria calculada uma penalidade a uma taxa igual às taxas geralmente disponíveis para empréstimos comerciais mais 2 a 3 porcento. Além disso, 30 dias após um pagamento parcial ou não pagamento, o KEDO podia "declarar todas ou parte" de quaisquer obrigações financeiras "serem imediatamente devidas e pagáveis". No cenário do pior caso, um único atraso ou pagamento em falta poderia resultar na exigência do pagamento imediato do custo total dos reactores. Também deveria ser notado que, tal como a Estrutura do Acordo, o acordo do KEDO estipulava que "o KEDO desenvolverá um calendários de entrega do projecto LWR destinado a alcançar uma data de finalização em 2003". Não surpreendentemente, nenhuma penalidade é especificada no acordo para a entrega tardia dos reactores. [28] O trabalho de construção dos reactores deveria ser proporcionado primariamente pelos trabalhadores nortecoreanos, mas quando a RDPC insistiu em que aos seus trabalhadores fossem pagos salários justos, o KEDO respondeu trazendo 700 trabalhadores uzbeques desejosos de aceitar salários baixos até que, tal como afirmou o director executivo do KEDO, "Pyongyang perceba o erro desta atitude". [29]
Para a RDPC, a Estrutura do Acordo representou vários anos de sacrifício, obrigando-a a congelar a construção dos seus reactores moderados a grafite que teriam fornecido a potência eléctrica que era urgentemente necessária. Uma vez que o acordo no essencial forçou a Coreia do Norte a colocar a recuperação económica em suspenso até a finalização dos reactores de água leve, os EUA podiam assegurar que a economia nortecoreana permaneceria entravada enquanto atrasasse a construção. Outro aspecto deste acordo infeliz para a Coreia do Norte foi que os seus reactores moderados a grafite podiam contar com os seus razoáveis depósitos naturais de urânio, ao passo que reactores de água leve teriam de depender das importações de combustível nuclear de nações ocidentais hostis que poderiam interromper o fornecimento a qualquer tempo [30]
A morte da União Soviética e a perda de parceiros comerciais na Europa Oriental teve um impacto devastador sobre a Coreia do Norte, a qual viu a sua economia contrair-se 30% nos cinco anos que se seguiram a 1991. Não tendo quaisquer reservas de petróleo ou gás natural, a Coreia do Norte tinha de confiar inteiramente em importações para atender às suas necessidades. Enquanto a União Soviética fornecera à Coreia do Norte petróleo a taxas subsidiadas, a Rússia pós-soviética fornecia petróleo só a taxas comerciais de mercado. Em 1993, o combustível importado da Rússia estava a apenas 10 por cento do seu nível de três anos antes, e aquela quantidade continuava a reduzir-se. Devido às sanções, a falta de acesso da Coreia do Norte a crédito e comércio exterior significava que ela não poderia mais importar suficientes quantidades de petróleo. Por volta de 1996 as importações totais de petróleo haviam caído para apenas 40 por cento do nível de 1990. A manutenção da infra-estrutura eléctrica da Coreia do Norte exigia peças sobressalentes que não podiam mais ser obtidas a preços subsidiados. Pior ainda, as sanções faziam com que a compra de peças de substituição fossem difíceis e muitas vez impossível a qualquer preço. A escassez de energia teve um efeito em ondas por toda a economia, levando a que fábricas e instalações encerrassem. Em 2000, os vários sectores da produção industrial permaneciam de 11 a 30 por cento dos seus níveis de 1990. Nos seis anos após 1990, o tráfego rodoviário caiu 70 por cento e o ferroviário 60 por cento, colocando novas dificuldades ao sector manufactureiro. A Coreia do Norte tem depósitos de carvão substanciais e este recursos proporcionou dois terços da sua energia no princípio da década de 1990. Infelizmente, muitas minas foram obrigadas a fechar devido a inundações a meio da década, bem como a escassez de peças de substituição e electricidade para mover o equipamento mineiro e a iluminação. Das 62 maiores centrais eléctricas, 20 são térmicas, baseadas primariamente no carvão, e as 42 restantes são hidráulicas. Em 1996 os danos provocados pelas inundações e secas reduziram a energia eléctrica produzida nas hidroeléctricas a apenas 38 por cento do nível de 1990. No fim da década de 1990 a oferta total de energia comercial na RDPC havia-se reduzido a dois terços. [31] Claramente, o acréscimo do nuclear ao sistema electroprodutor misto era uma tarefa urgente, a qual a Coreia do Norte foi forçada a abandonar em 1994 sob a ameaça de guerra por parte dos Estados Unidos.
O fornecimento anual de 500 mil toneladas de fuelóleo pesado pelos Estados Unidos representava somente dois por cento da energia total da Coreia do Norte e 8 por cento da sua oferta de fuel, segundo o Nautilus Institute for Security and Sustainable Development. Fontes da Coreia do Sul apresentam uma porcentagem mais alta, 15 por cento. O fuelóleo pesado era fornecido na forma de carvão líquido, o qual era utilizado basicamente para mover suas centrais termoeléctricas. O conteúdo de enxofre no carvão líquido, entretanto, tem o efeito nefasto de corroer os tubos das caldeiras, acabando por torná-los inoperantes, de modo que o impacto líquido do fuelóleo pesado sobre a produção é discutível. Os embarques de fuelóleo pesado adquiriram uma importância desproporcionada durante os meses de inverno quando congelam os rios e reservatórios que alimentam as centrais hidroeléctricas. O gelo geralmente acaba até Março, seguindo-se um período seco antes de as hidroeléctricas poderem retomar as operações. Durante aquele período de tempo a Coreia do Norte é particularmente dependente das suas centrais termoeléctricas. Cortar o fornecimento de fuelóleo pesado, salienta Peter Hayes do Nautilus Institute, "quando o inverno chega significa basicamente que pessoas que estão doentes, velhas, cansadas, passarão ainda mais frio e, na margem, ficarão mais expostas a morrer da doença ou realmente congelar até à morte em hospitais e casas". [32] "A escassez de potência na Coreia do Norte já é severa", observa Kim Kyoung-Sool do Korea Energy Economics Institute da Coreia do Sul. "As fábricas estão a operar numa base rotativa e mesmo responsáveis do governo mantiveram conversações à luz de velas num hotel de luxo. Um ou dois meses de atraso pode ser aguentado, mas uma suspensão completa das entregas do óleo seria um golpe fatal". [33]
Ao interromper as entregas de óleo precisamente no início do inverno, os EUA calcularam friamente promover os seus objectivos políticos infligindo dano ao povo da Coreia da Norte. As sanções americanas já haviam posto a economia nortecoreana de joelhos, forçando instalações a fecharem e a produção a reduzir-se. Sem os reactores de água leve prometidos para 2003 e constrangido à sanções, não havia possibilidade para a Coreia de Norte de produzir a energia que necessitava. Os apagões são frequentes na Coreia do Norte, e toda a nação está mergulhada na escuridão durante a noite. Ao longo do Inverno, os edifícios devem manter-se com pouco ou nenhum calor. Nada ilustra tão claramente a magnitude da catástrofe imposta pelos EUA como as fotografias da NASA tomadas à noite. As luzes abundam na Coreia do Sul, China e Japão. No meio desta panóplia de luzes situa-se uma área de quase total escuridão. Esta é a Coreia do Norte. [34] Referindo-se àquelas mesmas fotografias da NASA, o secretário americano da Defesa Donald Rumsfeld arrogantemente concluiu que a vítima deveria ser criticada. "É uma tragédia o que está a ser feito naquele país", disse ele. É preciso apenas a mudança de uma palavra para que a sentença de Rumsfeld retracte com precisão a política americana: É uma tragédia o que está a ser feito àquele país.
Desastres, naturais e feitos pelo homem
A escassez de energia também tem um efeito perigoso na oferta alimentar da Coreia do Norte. A escassez de electricidade inevitavelmente limitou a produtividade das fábricas de fertilizantes. Antes de 1990 a Coreia do Norte era capaz de cobrir a maior parte das suas necessidades de fertilizantes por meio da sua própria produção, avaliada em 600 a 800 mil toneladas por ano. Em resultado da crise de energia, desde 1995 a produção nortecoreana totaliza menos de 100 mil toneladas/ano. A falta de divisas externas fez com que pouco fertilizante adicional pudesse ser importado. Várias instalações fecharam totalmente ou operam a níveis reduzidos devido à falta de energia e peças sobressalentes. A precipitada queda na produção de carvão foi outro factor que contribuiu para o declínio, pois as fábricas de fertilizantes dependem do carvão tanto para energia como para produtos químicos. Além disso, o transporte de 1,5 a 2,0 toneladas de carvão exigido para atingir os antigos níveis de produção é simplesmente uma impossibilidade dada a falta de combustível. Devido à escassez na produção de fertilizante, as unidades agrícolas operam somente a 20 a 20 por cento dos seus níveis anteriores com fertilização da terra — o factor mais significativo na diminuição das colheitas.
Antes de 1990 a agricultura nortecoreana era altamente mecanizada, mas a crise de energia forjou uma penosa transformação. O equipamento agrícola da nação é movido primariamente pelo diesel, o qual é particularmente escasso, resultando numa redução de 70 a 80 por cento no uso de tractores e outras maquinarias. Uma missão da ONU visitando a Coreia do Norte em 1998 descobriu que uma "significativa proporção do equipamento agrícola motorizado está fora de serviço devido tanto ao facto de ter alcançado o fim da sua vida útil como à falta de peças sobressalentes". Além disso, "mesmo que todo o parque de máquinas pudesse voltar ao serviço rapidamente, o equipamento ainda assim não poderia ser operado a menos que também fosse possível restabelecer níveis adequados de abastecimento de combustível". Inevitavelmente, a agricultura na Coreia do Norte tornou-se mais trabalho e animal intensiva, o que reduz as colheitas. A missão da ONU relatou que "toda a colheita de arroz está a ser administrada este ano empregando só trabalho manual ou de animais, com excepção de uma operação inicial de aragem", e "toda a plantação de milho está a ser efectuada empregando só trabalho manual e animais de tracção". A irrigação depende da electricidade para mover as bombas de água. O arroz em particular é afectada, pois exige irrigação extensiva. Mais da metade da bombagem de rega ocorre durante o mês de Maio, exigindo níveis de potência eléctrica que simplesmente não podem ser proporcionados em tais circunstâncias. De forma alarmante, a procura por bombagem de irrigação excede um terço da potência total na Coreia do Norte, e esta porcentagem pode ser muito mais elevada em alguns bolsões. Segundo a missão de 1998 da ONU, "O inconfiável abastecimento de água é devido principalmente à bombagem inconfiável, a qual causada principalmente por uma oferta de electricidade inconfiável". Um exame dos registos das três maiores estações de bombagem "indicou que elas sofreram uma média de aproximadamente 600 falhas de potência por ano, mais de 2300 horas por ano sem energia", e que "frequentes falhas de potência resultam num considerável desperdício de água". Ao todo, concluiu a missão, "a escassez de água disponível para as plantações é estimada ser cerca de um quarto da exigência total". A falta de electricidade afectou outros aspectos da produção agrícola, inclusive o processamento de alimentos. O transporte rural é baseado cada vez mais no andar a pé e em carroças de animais, reduzindo a quantidade tempo disponível para os trabalhadores dedicarem à produção agrícola. [35]
Para agravar as suas aflições, a Coreia do Norte foi fustigada por uma série de ruinosos desastres naturais ao longo de vários anos. Enormes faixas de terras agrícolas foram arruinadas por inundações em 1995 e 1996 varrendo a camada superior de solo das áreas elevadas e depositando lama e areia nas terras de níveis mais baixos. No primeiro ano das enchentes, mais de 400 mil hectares de terras agrícolas foram destruídas exactamente quando as colheitas deveriam ser efectuadas, deixando mais de cinco milhões de pessoas sem casas segundo fontes nortecoreanas. Ao todo, as inundações causaram US$ 15 mil milhões de danos só no primeiro anos, pois mais da metade da colheita foi arrasada. Foi a pior inundação a atingir a Coreia em um século. A inundação também destruiu muitas barragens de irrigação e canais, resultando numa redução das colheitas no ano seguinte. No fim de 1996, mais de 90 mil hectares de terra de arroz paddy jaziam enterradas sob a areia e os resíduos depositados pelas inundações, e a falta de combustível fazia com que a recuperação da terra representasse um esforço assombroso. A inundação também prejudicou o abastecimento de energia a muitas minas de carvão, inclusive muitas daquelas ao longo da costa que produzem a melhor qualidade de carvão, pois ficaram cheias de água. As linhas de transporte de electricidade foram danificadas pelas inundações, assim como turbinas nas centrais hidroeléctricas. Em 1996, as inundações atingiram a Coreia do Norte pela segundo ano consecutivo, arrasando 20 por cento da colheita. Antes que pudesse recuperar-se destes golpes devastadores, a Coreia do Norte sofreu uma severa seca em 1997 que destruiu 70 por cento da colheita de milho. Naquele mesmo ano uma grande tempestade destruiu um dique junto à costa ocidental, inundando centenas de milhares de hectares de campos de arroz e destruindo mais de 700 mil toneladas de arroz. As calamidades continuaram a assolar a Coreia do Norte, como a seca em 2000. A seca foi seguida em Agosto e Setembro do mesmo ano por outro desastre, quando tufões e grandes tempestades atravessaram a Coreia do Norte, causando deslizamentos de terras e arrasando 29 mil habitações. Segundo a Cruz Vermelha, as tempestades provocaram os piores danos em 30 anos, retalhando estradas e ferrovias e demolindo 1930 pontes. Mas havia mais para vir. Em 2001 esta nação acossada experimentou a mais longa seca na história coreana já registada, reduzindo as suas colheitas em 10 por cento e a produção nas restantes áreas caindo para a metade. Na medida em que a seca progredia, as raízes das plantas de arroz apodreceram e os reservatórios secaram, em resultado das paragens nas hidroeléctricas. Um correspondente da Kyodo New Agency afirmou que a seca provocara a pior escassez de água em um milhar de anos. Cha Du-Hyok, administrador chefe da cooperativa agrícola Takan relatou: "Houve uma seca contínua durante a estação da plantação de arroz e as mudas secaram. Temos de plantar arroz três vezes. Ainda não acabámos um terço dos campos (paddies) planeados para o plantio. A produção de arroz está em declínio. Produzia-se sete a oito toneladas de arroz por hectare de campos dez anos atrás. A produção caiu para um a dois em anos recentes, com uma produção de 500 kg no pior momento. Precisamos de bombas para obter água, mas as bombas precisam electricidade e não temos energia eléctrica". Ainda outra tempestade acompanhada de furacões ocorreu em Outubro de 2001, inundando milhares de hectares de campos de arroz e destruindo muito do alimento armazenado na província de Kangwon. Oitenta e uma pessoas foram mortas pelas tempestades e 27 desapareceram. Isto foi uma espantosa progressão de destruição para uma nação que já estava a sofrer com as sanções americanas. Inevitavelmente, a combinação de incríveis desastres naturais e de um embargo económico resultou na fome e desnutrição para milhões de pessoas. [36]
Nenhum país poderia emergir ileso de tais catástrofes, e a Coreia do Norte não foi excepção. O défice global de alimentos ultrapassou um milhão de toneladas em todos os anos desde 1995. Embora a Coreia do Norte comece a recuperar-se dos desastres naturais, a situação ainda é difícil, particularmente para a população urbana que deve dedicar 75 a 85 por cento dos seus rendimentos à compra de alimentos. Estima-se que este ano a Coreia do Norte experimentará o seu melhor nível de produção alimentar desde 1995-6, mas isto ainda manterá a produção de cereais abaixo das necessidades mínimas do país. Chuvas normais elevaram o volume de água nos reservatórios de irrigação do país para 59 por cento da capacidade normal, ainda bem abaixo dos níveis necessários. O terreno da Coreia do Norte é sobretudo montanhosa, e apenas 20 por cento da sua área total de terra é adequada para agricultura. Além disso, muitas áreas do país não dispõem de bastantes dias livres de geadas que lhes permitam duplas colheitas. Consequentemente, é essencial que os agricultores nortecoreanos tenham maior acesso a fertilizantes, pesticidas, peças sobressalentes e combustível a fim de elevar os níveis de produtividade, de todo impossível enquanto os EUA continuarem a impor sanções. Embora o governo fosse capaz de aumentar substancialmente o nível das rações de comida em 2002, isto ainda proporciona menos da metade das exigências mínimas diárias de energia. Colmatar este défice é particularmente difícil para trabalhadores no norte industrial e nordeste, onde há menos produtos disponíveis nos mercados locais e a terras é menos boa para plantar comida em terrenos e áreas urbanas, como se faz em outros lugares. [37]
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 13,2 milhões de pessoas na Coreia do Norte estão agora desnutridas. O Programa Alimentar Mundial (WFP) tem trabalhado para aliviar o sofrimento do povo nortecoreano, fornecendo um total de 2 milhões de toneladas de ajuda alimentar desde 1995, avaliada em US$ 500 milhões. A ajuda alimentar é destinada às crianças, aos mais velhos, grávidas e mães que amamentam. O WFP também está envolvido na renovação e operação de 18 fábricas locais de alimentos. [38] A redução de donativos obrigou o WFP a anunciar em Setembro de 2002 que iria cessar a distribuição de alimentos a três milhões de pessoas e que sem compromissos adicionais mais 1,5 milhão de pessoas seriam a seguir afastadas do programa. "Tais cortes generalizados causariam sofrimento agudo numa escala maciça", advertiu Rick Corsino, Director da WFP para a RDPC. "Como vamos para o duro Inverno nortecoreano, os afectados terão muita dificuldade em enfrentá-lo. Eles já estão no limite". O Japão, que contribuiu com mais da metade do financiamento das operações do WFP na RDPC em 2001, optou por nada contribuir em 2002. Outro factor que contribuiu para a evaporação do financiamento foi a publicidade que atraiu donativos para o Afeganistão a expensas de outras áreas. "Do nosso ponto de vista, as coisas não têm sido fáceis", disse o porta-voz do WFP Gerald Bourke. "As necessidades são enormes. E o perigo de uma grande crise alimentar, se não obtivermos aquilo que pedimos, é considerável". Em 03/Dez/2002, o Programa Alimentar Mundial emitiu um apelo por US$ 201 milhões para financiar seu programa na RDPC em 2003, advertindo que sem financiamento adicional pode ser obrigado a encerrar totalmente sua operação na Coreia do Norte [39]
Percebendo a oportunidade, a administração Bush respondeu quase imediatamente a este apelo do WFP. Em 6 de Dezembro, Washington anunciou que deixaria de doar ao programa a menos que a RDPC permitisse monitores para os 13 por cento de receptores que vivem em áreas em que monitores ocidentais não são actualmente permitidos. Condições adicionais especificavam que quaisquer donativos estariam dependentes da disponibilidade de stocks alimentares americanos e considerações de necessidades alimentares competidoras em outros países. O anúncio era com efeito a mensagem de que os EUA não dariam mais apoio às operações do WFP na RDPC. Só a Itália e a União Europeia responderam ao apelo do WFP. "Somente temos compromissos firmes para 35 mil toneladas", disse o porta-voz do WFP Gerald Bourke. "Isto estará acabado no princípio de Fevereiro e então podemos ter de fechar a loja". O consultor em agricultura Tom McCarthy, que visita frequentemente a Coreia do Norte, comenta: "Ninguém negou que a maior da ajuda alimentar tenha ido para populações vulneráveis. Os EUA parecem prontos para politizar a ajuda alimentar". O Japão também permaneceu rígido na sua rejeição de ajuda. "O Japão não está a considerar qualquer coisa seja quando for", declarou o secretário do Gabinete Shinzo Abe. [40]
"Deixe-me conversar acerca da Coreia do Norte", disse o presidente Bush durante uma reveladora discussão com o jornalista Bob Woodward em Agosto de 2002. "Eu odeio Kim Jong-II [presidente da Coreia do Norte]. Tenho uma reacção visceral a este tipo porque ele está a esfaimar o seu povo. Dizem-me que não precisamos mover-nos demasiado rapidamente [contra a Coreia do Norte] porque os encargos financeiros sobre o povo serão imensos se o tentarmos — se este tipo fosse derrubado. Quem tomaria conta — eu simplesmente não compro aquilo". [41]
Uma eleição crucial
Aproxima-se a eleição presidencial sulcoreana e o candidato favorito da administração Bush, Lee Hoi-Chang, estava ligeiramente mais atrás nas sondagens. Num último esforço para inclinar a eleição em seu favor, Washington conseguiu uma exibição de puro teatro. Durante várias semanas os EUA tinham estado a seguir a progressão do navio nortecoreano Sosan, a caminho do Médio Oriente. A poucos dias de distância da eleição, responsáveis militares americanos pediram à Armada espanhola para interceptar o navio. No dia 9 de Dezembro um navio espanhol aproximou-se do Sosan e disparou da sua proa. Quando o Sosan se recusou a ceder, o navio espanhol empurrou-o de lado, sua tripulação disparava tiros para o Sosan e forçou-o a parar. Atiradores espanhóis dispararam cabos para o Sosan, cortando-o, para abrir o caminho para a abordagem do ar. Chegaram helicópteros a seguir e quando eles pairavam sobre o Sosan, comandos desceram para o tombadilho, enquanto outros abordavam-no com um bote de alta velocidade. "Depois de ocupar a sala de máquinas e a sala do leme", relatou depois o capitão do Sosan, Kang Chol-Ryong, "eles dispararam milhares de balas de grande e pequeno calibre, ameaçando seriamente as vidas da tripulação e pondo o navio sob o seu total controle. Eles deram pontapés nos marinheiros e bateram-nos com a coronha de rifles". Os comandos "prenderam e amarraram 18 dos nossos marinheiros", relembrou Kan, e os prisioneiros foram então levados para um navio da Armada espanhola e posteriormente transferidos para um navio americano. Ao todo, disse Kang, "Cinco rolos de arame, outros materiais e correntes foram destruídos. Outras salas foram danificadas muito seriamente". Os comandos vasculharam a cabinas e roubaram valores a marinheiros nortecoreanos. Uma frota de navios de guerra americanos enxameou em torno do Sosan depois de 15 mísseis scud terem sido encontrados a bordo. "Eu nunca tentei esconder os mísseis", disse Kang: "Eles estavam regularmente armazenados sob placas de cobertura. Não é bom colocá-los em espaço aberto". Os mísseis eram destinados ao Yemen, que se queixou da captura, dizendo que haviam sido comprados legalmente. Não desejando hostilizar o Yemen, um aliado com que estava a contar, Washington permitiu ao Sosan que continuasse o seu caminho. "Não temos nenhuma escolha senão obedecer à lei internacional", admitiu o porta-voz da Casa Branca Ari Fleischer. Se o Yemen não fosse um aliado, os EUA nem mesmo teriam mencionado a lei internacional, a qual proíbe a captura de navios. [42]
Para a Coreia do Norte, a exportação de mísseis era virtualmente o único caminho para conseguir divisas estrangeiras. A administração Bush adoptou uma pose de ultraje em relação às exportações de mísseis nortecoreanos, uma posição irónica uma vez que os EUA detêm 45 por cento do comércio global de armamento. "Até parecia que queriam proteger o seu território de recém-chegados como a Coreia do Norte", destacou Bruce Campbell do Center for Policy Alternatives, de Ottawa. "É um duplo padrão. O ultraje é sobre direitos de propriedade e não sobre o que está realmente a ser vendido". Para Richard Sander, coordenador da Coalition to Oppose the Arms Trade, a posição americana era "assombrosa. Os EUA vendem o maior volume mundial de armas para mais países do que quaisquer outros juntos, eles têm 1,5 milhão de soldados estacionados por todo o mundo, gastam mais de US$ 500 mil milhões for ano com o orçamento militar" e "eles apenas combatem uma guerra contra o Afeganistão e estão prontos para bombardear o Iraque. Imagino que esta não é a espécie de ironia para rir". Bastante curiosamente, se os EUA estivessem verdadeiramente preocupados com as exportações de armas nortecoreanas poderia ter respondido ao acordo nortecoreano do fim de 2000 para congelar o seu programa de mísseis de alcance médio e longo e para cessar de exportar mísseis e cancelar contractos existentes. Mas o presidente Clinton em fim de mandato estava receoso de viajar a Pyongyang para assinar o acordo por temer o criticismo de quadrantes conservadores, passando tal responsabilidade para o vindouro presidente Bush, que não tinha intenção de discutir qualquer questão com a Coreia do Norte [43]
Segundo um porta-voz da Casa Azul (o palácio presidencial sulcoreano), falando sob condição de anonimato, "Não estamos em posição de comentar acerca deste evento, mas tendo em vista o facto de que a Coreia do Norte tem estado a exportar mísseis há algum tempo, não é claro porque os EUA adoptaram uma posição forte neste ponto do tempo". O porta-voz também desmentiu afirmações americanas de que havia notificado o presidente sulcoreano Kim Dae Jung antes da captura. [44] Vindo poucos dias antes da eleição presidencial na Coreia do Sul, era um tempo oportuno para uma captura. Contrabalançando o efeito do esforço americano para inclinar o voto em favor do conservador Lee Hoi-Chang, verificou-se o choque generalizado provocado pela absolvição por um Tribunal Militar dos EUA, em Novembro, de dois soldados americanos estacionados na Coreia do Sul. Cinco meses antes, duas garotas de 14 anos passeando numa estrada a caminho de uma festa de aniversário esmagadas até à morte pelo caminhão 50 toneladas usado na desmontagem de minas quando este acelerava nos arrabaldes de Seul. As absolvições serviram como pára-raios à raiva coreana por anos de abusos da tropa americana, e protestos em massa explodiram por toda a Coreia do Sul exigindo uma revisão do acordo que administra os 37 mil soldados americanos ali estacionados.
O presidente sulcoreano Kim Dae-Jung firmou a sua reputação na melhoria das relações entre as duas Coreias, no que denominou a "Política do Sol brilhante". Lee Hoi-Chang pertencia ao Grande Partido Nacional, o qual encara a política do Sol brilhante com considerável cepticismo, e ele promete adoptar uma linha dura contra a Coreia do Norte se for eleito. O presidente Bush estava a guardar as suas acções mais cruéis para o período pós-eleitoral, apostando numa vitória de Lee que proporcionaria apoio mais entusiástico para medidas punitivas contra a Coreia do Norte. O seu opositor Roh Moo-Hyun pertencia ao Partido Democrático Milénio, no poder, e comprometera-se a continuar a política do Sol brilhante. Como destacou um analista americano bem antes da eleição, "Washington pode muito bem esperar os próximos quatro meses e combinar um acordo novo com o próximo governo em Seul". Um analisa sulcoreano comentou acerca de uma visita pré-eleitoral de uma delegação do Grande Partido Nacional (GPN) a Washington. "Estou bastante seguro que a mensagem da delegação do GPN para os responsáveis da administração Bush teriam sido 'Não balouce o barco' ", e que "quaisquer acções significativas prejudicariam Lee na corrida presidencial". Lee não só era favorável a uma atitude dura para com a Coreia do Norte como também agradava a administração Bush por advogar um maior avanço nas privatizações. Em contraste, os EUA estavam pouco à vontade com o passado de Roh como advogado trabalhista na década de 1980, quando defendeu estudantes e activistas sindicais presos pelo governo apoiado pelos militares americanos. Quando a eleição se aproximava, Roh advertiu: "Se aqueles poderes que desejam que uma Guerra Fria ganhe o poder nesta eleição presidencial, o estado de coisas na península coreana retornará à antiga condição de nações poderosas controlarem a península". [45] Na véspera da eleição, Roh prometeu que "se os EUA e a Coreia do Norte começarem uma guerra, nós a travaremos". Para consternação de Washington, quando os votos da eleição de 19 de Dezembro foram contados, o progressistas Roh emergiu como vencedor, prometendo trabalhar tanto com os EUA como com a Coreia do Norte. "Devemos ter diálogo com o Norte e com os EUA", anunciou. "Deste modo devemos assegurar que a disputa Norte-EUA não escalará numa guerra". "Isto é um voto pró-Coreia", observou Donald Gregg, presidente da Korea Society, em Nova York. "Os coreanos estão a cavalgar no topo da autoconfiança, e eles têm de decidir que a coisa mais importante para eles é a outra metade do seu país". Esta pode ter sido a mais importante eleição da história coreana, uma afirmação dos direitos dos coreanos a determinarem o seu próprio futuro e a terem uma palavra na resolução da disputa EUA-Norte. É mesmo possível que o resultado possa significar a diferença entre paz e guerra na península coreana, como a administração estava bem consciente. "Há um sentido real de luto aqui", revelou um responsável militar americano ao comentar o resultado da eleição. [46]
Escalando o conflito
Longe de procurar acalmar os temores nortecoreanos, em 10/Dez/2002 a administração Bush divulgou um novo documento de estratégia apelando a ataques preventivos e acção encoberta contra nações que possuíssem armas nucleares, biológicas e químicas. Num anexo secreto do relatório, a Coreia do Norte era listada entre as nações a que a estratégia era destinada. Era dada alta prioridade a travagem de embarques de componentes de armas tanto para dentro como para fora das nações alvo, e o documento reenfatizava o compromisso dos EUA em relação à utilização de armas nucleares como uma opção viável em qualquer conflito. "Os Estados Unidos continuarão a tornar claro que se reservam o direito de responder com força esmagadora — incluindo o recurso a todas as nossas opções — ao uso de WMD [weapons of mass destruction] contra os Estados Unidos, nos forças no exterior, e amigo e aliados". Segundo um não nomeado responsável americano, a porção classificada do documento era construída sobre a premissa de que "a não proliferação tradicional falhou, e agora estamos a ir para a interdição activa. Interdição activa é física — é interrupção, é destruição sob qualquer forma, quer cinética quer ciber". Outro responsável ilustrou o novo plano dando o exemplo de um navio baseado nas Filipinas com um ponto de transbordo para armas especiais destinadas à Líbia, uma das nações que o documento coloca na mesma categoria da Coreia do Norte. "Estamos indo interditar ou destruir ou interromper aquele carregamento ou, durante o processo de transbordo, ela pode misteriosamente desaparecer". [47]
Para os nortecoreanos, o último documento estratégico foi mais uma bofetada na cara, e eles não estavam inclinados a desempenhar um papel passivo. Os Estados Unidos violaram todas as disposições da Estrutura do Acordo e estavam claramente a apontar para o congelamento e a fome a fim de submeter a RDPC. Apesar de o trabalho nos reactores de água leve continuar oficialmente, era óbvio para todos que o ocidente não tinha intenção de permitir que o projecto fosse completado. Já em 24/Out/2002 o Parlamento da União Europeia votou pelo cancelamento da sua contribuição de US$ 20 milhões para o projecto em 2003, e os EUA estavam a fazer lobby junto a outros membros do KEDO para encerrar a construção dos reactores. "É extremamente improvável que ambos os reactores de água leve venham a ser produzidos", observou Robert Einhom, do Center for Strategic and International Studies. "Ninguém anunciará o desligamento real porque isso apenas encorajaria uma provocação nortecoreana como resposta". [48]
Dois dias depois de a administração Bush revelar o seu último documento estratégico, a Coreia do Norte anunciou a sua intenção de retomar a construção e operação dos seus reactores moderados a grafite. Uma declaração emitida pelo ministro do Exterior da RDPC afirmava: "A oferta de óleo pesado à RDPC não era nem ajuda nem cooperação mas a obrigação americana para compensar pela perda de electricidade em consequência do congelamento de centrais nucleares em operação e construção. O real abandono pelos EUA das suas obrigações levou a que a produção de electricidade da RDPC sofra agora de uma perda certa. Se a RDPC recongela ou não as suas instalações nucleares depende da atitude dos EUA" [49] O anúncio foi ouvido como músico pelos ouvidos da administração Bush, pois sabiam que haviam forçado a Coreia do Norte a tomar essa atitude. "O governo sulcoreano não gosta de dizer isso em público, mas eles culpam os americanos pelo que está a acontecer", revelou Moon Chung-In, um especialista em Coreia do Norte da Universidade Yonsei. "A administração Bush criou uma situação em que os nortecoreanos foram empurrados para um canto. E o seu mau comportamento tornou-se uma profecia auto-cumprida que permite à administração Bush dizer: 'Bem lhe disse' ". Suh Dae-Sook, um perito em Coreia do Norte da Universidade de Hawaii, sentiu que o anúncio nortecoreano foi uma tentativa de levar Washington a negociar. "Suponho que eles estão prontos a negociar", afirmou. "Esta é a única arma que têm, ou alternativa que têm". [50]
Era o momento que o presidente Bush estava à espera. Dentro de poucos dias ordenou às Forças Armadas dos EUA que instalasse os primeiros 10 mísseis de um sistema de defesa contra mísseis em Fort Greeley, Alasca, em 2004, e outros 10 mísseis na Vandenberg Air Force Base, na Califórnia, em 2005. Incluídas na instalação haverá seis radares, o que eleva o custo inicial para US$ 30 mil milhões. Os planos para o escudo de defesa anti-míssil finalmente chegarão a 250 mísseis, 15 radares e até 30 satélites. Este movimento seguiu-se à anulação por Washington do Tratado de Mísseis Anti-Balísticos no princípio de 2002, e a administração Bush sentiu que este era o momento certo para lançar o programa, esperando que o barulho dos media sobre a Coreia do Norte silenciaria as críticas. [51] Os críticos da couraça anti-míssil que argumentam que os teste não mostraram a validade do conceito não percebem o ponto essencial. O programa anti-míssil funcionará muito efectivamente para canalizar centenas de milhares de milhões de dólares para contratistas da defesa. Uma segunda vantagem do programa anti-míssil é o seu valor propagandístico, pois ajuda a aliviar preocupações apresentando a aparência de invulnerabilidade. Tal imagem poderia ajudar futuros responsáveis americanos a ganharem apoio público se optarem por travar guerra contra uma nação bem armada como a China.
Para a Coreia do Norte, a situação era simplesmente insustentável. Os responsáveis nortecoreanos consideraram correctamente que o KEDO não tinha intenção de completar o trabalho dos reactores de água leve, e eles ressentem a expectativa de serem obrigados a continuar a aderir aos termos da Estrutura do Acordo enquanto a outra parte não honrava nem uma única disposição. Enquanto se procedesse assim, o povo nortecoreano continuaria no frio e com fome. Em Pyongyang um porta-voz do Comité para a Reunificação Pacífica da Pátria Mãe emitiu uma declaração a dizer que a retomada do trabalho dos reactores moderados a grafite destinava-se "compensar a perda de electricidade causada pela cessão unilateral dos EUA no fornecimento de óleo pesado". Além disso, acrescentou, sob a Estrutura do Acordo, "sofremos uma grande perda de electricidade e o consequente dano feito à economia. Se as nossas instalações nucleares devessem ser acusadas, então todas as centrais electronucleares em outras regiões e países deveriam ser postas em causa. É ridículo asseverar que nossas bases energéticas nucleares apresentam uma ameaça enquanto centrais nucleares em outras regiões e países não levantam problemas". [52] A situação era desesperada mesmo antes do corte do óleo pesado, e uma vez que o projecto do reactor de água leve estava destinado a ser encerrado, era uma tarefa urgente para a Coreia do Norte desenvolver as suas próprias centrais nucleares. "Obviamente eles têm uma enorme crise de energia", salientou um operário ajudante que frequentemente trabalha na Coreia do Norte. "Lá você conduz pelos campos após o escurecer, ou em enormes cidades além de Pyongyang, e não vê nem uma lâmpada". [53] A resposta nortecoreana era previsível, dada a sua propensão para responder na mesma moeda: negociar quando abordada diplomaticamente e apresentar uma posição rígida quando ameaçada ou intimidada. Ainda assim, o movimento pode ter sido uma asneira. Os EUA não têm claramente qualquer interesse em diálogo ou diplomacia, mas uma abertura para uma solução negociada pode apresentar-se depois de o recém-eleito presidente Roh Moo-Hyn tomar posse em 23/Fev/2003. A retirada nortecoreana da Estrutura do Acordo constrange severamente as opções de Roh e irá colocá-lo numa posição difícil quando negociar com os EUA.
Depois de se retirar da Estrutura do Acordo, a Coreia do Norte procedeu à remoção dos selos e do equipamento de monitorização da AIEA nas suas instalações de Yongbyon, cobrindo as lentes das câmeras de monitorização, e exigindo que a AIEA monitorizasse a partida do pessoal até ao fim de Dezembro. A quantidade de desinformação relativa à retomada pela Coreia do Norte do seu desenvolvimento nuclear é monumental. O reactor de investigação de 5 megawatt de Yongbyon pode gerar 20-25 megawatts de potência térmica. É repetidamente salientado que este reactor é incapaz de proporcionar uma fonte significativa de potência para a Coreia do Norte. O que estas críticas muito repetidas ignoram é aquilo que os nortecoreanos dizem pretender. Segundo Ri Je-Son, director-geral do Departamento Geral da Agência de Energia Atómica [nortecoreana], a Coreia do Norte "retomará a construção interrompida das centrais de energia nuclear e preparar-se-á para operar o laboratório radioquímico a fim de garantir a armazenagem segura das grandes quantidades de varetas de combustível gasto que serão produzidas quando estas centrais estiverem em operação. É para esta finalidade que dentro em breve estaremos a preparar a operação do laboratório radioquímico". [54] Em Yongbyon, a Coreia do Norte está interessada basicamente e retomar a operação do laboratório radioquímico e a instalação de armazenagem para varetas de combustível, como preparação para o término da construção de centrais nucleares não acabadas. Além do reactor de 5 MW, existe também um reactor de 50 MW em Yongbyon, o qual exigirá pelo menos um ano de trabalho a fim de acabar a construção. Além disso, a Coreia do Norte planeia retomar a construção do seu reactor de 200 MW em Taechon, capaz de gerar 800 MW de potência térmica. Estima-se que este projecto levará dois anos para acabar. Não haverá qualquer alívio imediato para o défice energético da Coreia do Norte, mas espera-se que a conclusão dos dois reactores ajudará a elevar a oferta de energia no futuro relativamente próximo.
Outra acusação dúbia é de que a Coreia do Norte posiciona-se para desenvolver armas nucleares. Vários responsáveis sulcoreanos salientam que a remoção dos selos das instalações de Yongbyon não indica necessariamente que a Coreia do Norte reprocessará o combustível armazenado e que é incerto que as varetas possam mesmo ser reprocessadas para serem convertidas em material adequado para armas. Os peritos nucleares sulcoreanos também dizem que, mesmo que a Coreia do Norte retomasse as operações no seu reactor de 5 MW de Yongbyon, levaria mais de um ano antes de que o combustível gasto contido nas varetas pudesse ser extraído. O reactor teria de trabalhar a plena potência 75 por cento do tempo durante quatro anos a fim de produzir suficiente plutónio para uma única arma nuclear. [55] O analista russo de segurança nuclear Sergei Kazenov relata que "converter o átomo pacífico para o uso militar é um problema especial" e que "faltam à Coreia do Norte os componentes necessários, incluindo os sistemas de detonação e alguns outros". Aleksandr Rumyantsev, ministro da Energia Atómica da Rússia, concorda: "A criação industrial de materiais nucleares para fins militares é um processo complicado e a Coreia do Norte por enquanto não pode permitir-se isso". Além disso, acrescentou, a Coreia do Norte é "industrialmente subdesenvolvida" [56] A opinião pública mundial está a ser alimentada com uma mentira, destinada a manter a economia da Coreia do Norte amarrada a sanções e a negar-lhe o direito de desenvolver fontes de energia, com a esperança de que o seu sistema entre em colapso.
Os EUA encorajaram a AIEA a actuar como seu procurador e apresentaram a questão diante do Conselho de Segurança da ONU para assim evitar a impressão de actuar directamente e, por isso, antagonizar países já ofendidos com a política americana em relação ao Iraque. Os EUA esperam ganhar a aprovação do Conselho de Segurança para a imposição de sanções da ONU contra a Coreia do Norte. Responsáveis americanos planeiam abordar países vizinhos da Coreia do Norte e pressionam-nos no sentido de cortar ou reduzir as relações económicas. Numa política a que chamam "contenção sob medida" ("tailored containment") , os responsáveis americanos pretendem pressionar outros países a juntarem-se ao bloqueio económico. "Isto significa provocar tensão política e tensão económica", declarou um responsável [57] O assunto pode chegar ao ponto crítico em Março de 2003, o prazo final que a AIEA impôs à Coreia do Norte para submeter uma declaração do seu programa de armas nucleares não existente. O director da AIEA, Mohammed ElBaradei, disse que a sua agência levaria o assunto ao Conselho de Segurança da ONU se a Coreia do Norte não cumprisse. A falta da Coreia do Norte em declarar armas nucleares que não possui poderia então disparar sanções ou possivelmente medidas mesmo mais severas dos EUA. Contudo, a administração Bush preferiria não esperar esse tempo e está a pressionar o Conselho de Segurança da ONU no sentido de tratar do assunto em Janeiro. Fontes da ONU indicam que a AIEA também pode levar a questão perante o Conselho de Segurança ainda em Janeiro. As ameaças americanas e o movimento para impor sanções e pressionar países a restringir ligações económicas foi encarado com alarme em Seul. "Não podemos deixar-nos levar para a guerra com os nortecoreanos nem podemos permitir uma outra confrontação de Guerra Fria ou outras medidas extremas", anunciou o presidente sulcoreano Kim Dae-Jung. "Tudo deveria ser resolvido através do diálogo pacífico". O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte instou novamente os EUA a entabularem o diálogo. "É bastante auto-evidente que o diálogo é impossível sem sentar frente a frente e uma regulação pacífica da questão seria impensável sem diálogo" [58]
Tal como em relação ao Iraque, emergiram da Casa Branca mensagens conflitantes a respeito de acção militar, mas deveria ser recordado que no fim é a opção militar que geralmente prevalece. Um perito asiático recentemente declarou que nenhum dos responsáveis superiores americanos com que ele se encontrou afastou a acção militar contra a Coreia do Norte. [59] Richard Perle, presidente do Pentagon Defense Policy Board, painel de conselheiros, afirma que "o perigo a sermos expostos pelo desenvolvimento nuclear da Coreia do Norte é tão grande que resultará numa quarentena de abrangência sem precedentes" e que a opção militar "não deveria ser eliminada na negociação com a Coreia do Norte" [60] A indicação mais aberta de que era contemplada a força militar ocorreu em 23/Dez/2002, quando o secretário da Defesa Donald Rumsfeld declarou em resposta a uma pergunta sobre a Coreia do Norte: "Somos capazes de combater em dois grandes conflitos regionais. Somos capazes de vencer decisivamente num e rapidamente no outro. E não há dúvida nenhuma sobre isto" [61] O próprio presidente Bush sugeriu que os EUA podem considerar acções "não diplomáticas" contra a Coreia do Norte. [62]
A Rússia reagiu com horror à postura impaciente de Washington. O vice-ministro do Exterior Georgi Mamedov declarou: "A expressão 'eixo do mal' é muito infeliz, mesmo inflamatória... Imagine o que significa para um pequeno Estado dizerem-lhe que é virtualmente parte das forças bíblicas do mal, as quais devem ser combatidas até à destruição total. Os países incluídos no dito 'eixo do mal' provavelmente não permanecerão passivos". Mamedov rejeitou a abordagem americana. "Utilizar a difícil situação económica da Coreia do Norte para fazer chantagem é contraproducente e perigoso". [63] Outro vice-ministro russo do Exterior, Alexander Losyukov, concordou, declarando: "Você não pode conseguir o que quer que seja por meio de acusações, pressões ou exigências duras, para não mencionar ameaças. Isto só tornará as coisas piores".
Os EUA nunca honraram a Estrutura do Acordo, sem considerar a abordagem adoptada pela Coreia do Norte. A melhor opção para a Coreia do Norte é evitar inflamar a situação e esperar que as negociações com a Coreia do Sul resultem em arranjos alternativos que aliviem sua escassez de energia. Sem a obstrução dos EUA, talvez a conclusão dos reactores de água leve sob a égide sulcorena, com apoio da Rússia e da China, sejam possíveis. Enquanto os EUA se opuserem a uma solução, somente os coreanos poderão alcançar um acordo. Progressos substanciais entre as duas Coreias já se verificaram, pois eles trabalharam em conjunto para religar estradas e ferrovias, apesar da interferência dos EUA no processo. Há planos prontos para criar um complexo industrial de firmas sulcoreanas na província nortecoreana de Kaesong, 45 milhas a norte de Seul. O presidente eleito Roh Moo-Hyun instou a Coreia do Norte a "não tomar novos passos que agravassem a situação" e limita o papel que o novo governo possa desempenhar. Enquanto isso, a administração a ser empossada de Roh estabeleceu contactos com a Coreia do Norte "para descobrir o que ela realmente quer" [65] Como Washington mantém uma postura agressiva e ameaçadora em relação à Coreia do Norte, a Coreia do Sul está a procurar uma abertura diplomática. A fim de prevenir a ameaça de paz colocada pelas iniciativas sulcoreanas, os EUA planeiam internacionalizar a disputa obtendo autorização do Conselho de Segurança da ONU para medidas mais agressivas. Seja como for que a disputa seja resolvida, é o povo coreano que será afectado, e é o povo coreano que deveria ser central para descobri uma solução. Jeon Hyun-Joon, do Instituto Coreano de Unificação Nacional, exprimiu os sentimentos de muita gente na Coreia do Sul quando declarou: "Tanto a Coreia do Norte como os EUA estão num jogo duro de cabo-de-guerra, praticamente apelando a uma terceira parte para mediar a luta. Quem pode desempenhar melhor esse papel senão a Coreia do Sul?" [66]
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NOTAS
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© Greg Elich 2002. For fair use only / pour usage équitable seulement. Tradução de J. Figueiredo.
31/Dez/2002
A URL do original deste artigo é: http://globalresearch.ca/articles/EL212A.html
Mais informações sobre a Coreia em:
Jornal The People's Korea : http://www.korea-np.co.jp/pk/
Rádio da RDPC: http://www.kcna.co.jp/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info
12/Jan/03
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