Crise Europeia
por Nuno Aguiar, Publicado em 05 de Junho de 2010 | Actualizado há 17 horas
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Governo brinca com o fogo com mensagens de consumo interno. Queimou-se e queimou o euro
A Hungria fez ontem a sua melhor imitação da Grécia, depois de o governo local ter admitido que o país dificilmente não enfrentaria uma crise de dívida igual à grega. O recém-eleito executivo argumenta que o estado das contas públicas é bem pior do que o anterior governo tinha revelado, admitindo mesmo um cenário de bancarrota.
Perante o pairar do fantasma grego, os mercados foram rápidos a reagir, seguiram-se fortes quedas nas bolsas europeias e a moeda única sofreu mais que nunca, chegando a cair para mínimos dos últimos quatro anos, em relação ao dólar - caiu para 1,19 dólares.
As atenções começaram a virar-se quinta-feira para o novo patinho feio da crise financeira europeia, quando Lajos Kosa, vice-presidente do Fidesz - novo partido no poder - afirmou que, devido à manipulação dos números operada pelo governo anterior, a Hungria tinha agora "poucas hipóteses de evitar uma situação como a grega". Ontem, confrontado com estas declarações, o porta-voz do primeiro-ministro não negou a possibilidade. "Foi o [antigo] primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany que falou sobre incumprimento. Mais que isso, ele disse orgulhosamente que a Hungria está próxima do incumprimento. Disse-o há um ano e meio [...] Nesse sentido, não me parece que [as declarações de Kosa] sejam exageradas", afirmou, apontando similaridades com a Grécia. "Na Hungria, o anterior governo falsificou informação. Na Grécia também falsificaram dados. Na Grécia chegou a hora da verdade. A Hungria ainda não chegou lá."
Contudo, não deverá faltar muito para o tal "momento da verdade". O governo húngaro anunciou que este fim-de-semana ou no início da próxima semana iria revelar a verdadeira situação económica do país, o que deve significar um défice orçamental bastante superior aos 3,8% acordados com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) na sequência da ajuda recebida em 2008. Divulgados esses números, o governo prometeu apresentar um plano de combate à crise no espaço das 72 horas seguintes.
As declarações dos representantes húngaros foram lidas pelos analistas como mensagens internas, feitas com o objectivo de gerir expectativas, seja para preparar o povo húngaro, seja para tentar renegociar o plano com o FMI. "Acreditamos que os comentários dramáticos foram feitos para consumo interno e usados para criar uma cortina de fumo que deixaria o Fidesz voltar atrás em grande parte das suas promessas durante a campanha eleitoral, continuando as mesmas medidas fiscais do anterior governo, ao mesmo tempo que prepara terreno para mais um ronda de negociações com o FMI", explicou à Reuters Magdalena Polan, do Goldman Sachs. Além disso, a dívida húngara, de 78% do PIB, está muito longe dos valores da Grécia.
No entanto, o governo está a entrar num jogo perigoso, mexendo com a confiança dos investidores. O dia de ontem foi um sinal disso mesmo. Os mercados reagiram violentamente, com as principais bolsas europeias a fecharem todas no vermelho, com o espanhol Ibex35 a liderar as perdas (-3,8%), enquanto o PSI 20 caiu 2,2%. O florim húngaro caiu 5,6% em relação ao euro, mas a moeda única teve também um dia muito negativo, chegando a estar a cotar abaixo dos 1,20 dólares, o valor mais baixo dos últimos quatro anos. A moeda única continua assim a coleccionar más notícias, depois de ter sido e continuar a ser muito penalizada com a crise da zona euro.
Apesar de a Hungria ser uma economia pequena e de não estar integrada na zona euro, existe potencial para causar problemas às outras economias europeias, devido à exposição dos bancos da zona euro. Quanto a Portugal, economistas como Mira Amaral e António Nogueira Leite consideram que a exposição portuguesa à dívida grega é residual. Não sendo um país com fortes interesses empresariais portugueses - longe do peso de países como Roménia, República Checa ou Polónia -, conta porém com algumas empresas lusas. A Mota-Engil, por exemplo, está presente em Budapeste, ainda que, ironicamente, está há 18 meses a encerrar a sua subsidiária. "Começou com uma situação interna complexa, mas também tem a ver com a situação económica do país. Ainda temos actividade na Hungria, mas estamos em desaceleração", afirmou ao i Jorge Coelho. "Mas apesar de me parecerem declarações muito para dentro do país, obviamente que afectam a actividade das empresas portuguesas.", comentou ao i sobre a situação húngara.
.Perante o pairar do fantasma grego, os mercados foram rápidos a reagir, seguiram-se fortes quedas nas bolsas europeias e a moeda única sofreu mais que nunca, chegando a cair para mínimos dos últimos quatro anos, em relação ao dólar - caiu para 1,19 dólares.
As atenções começaram a virar-se quinta-feira para o novo patinho feio da crise financeira europeia, quando Lajos Kosa, vice-presidente do Fidesz - novo partido no poder - afirmou que, devido à manipulação dos números operada pelo governo anterior, a Hungria tinha agora "poucas hipóteses de evitar uma situação como a grega". Ontem, confrontado com estas declarações, o porta-voz do primeiro-ministro não negou a possibilidade. "Foi o [antigo] primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany que falou sobre incumprimento. Mais que isso, ele disse orgulhosamente que a Hungria está próxima do incumprimento. Disse-o há um ano e meio [...] Nesse sentido, não me parece que [as declarações de Kosa] sejam exageradas", afirmou, apontando similaridades com a Grécia. "Na Hungria, o anterior governo falsificou informação. Na Grécia também falsificaram dados. Na Grécia chegou a hora da verdade. A Hungria ainda não chegou lá."
Contudo, não deverá faltar muito para o tal "momento da verdade". O governo húngaro anunciou que este fim-de-semana ou no início da próxima semana iria revelar a verdadeira situação económica do país, o que deve significar um défice orçamental bastante superior aos 3,8% acordados com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) na sequência da ajuda recebida em 2008. Divulgados esses números, o governo prometeu apresentar um plano de combate à crise no espaço das 72 horas seguintes.
As declarações dos representantes húngaros foram lidas pelos analistas como mensagens internas, feitas com o objectivo de gerir expectativas, seja para preparar o povo húngaro, seja para tentar renegociar o plano com o FMI. "Acreditamos que os comentários dramáticos foram feitos para consumo interno e usados para criar uma cortina de fumo que deixaria o Fidesz voltar atrás em grande parte das suas promessas durante a campanha eleitoral, continuando as mesmas medidas fiscais do anterior governo, ao mesmo tempo que prepara terreno para mais um ronda de negociações com o FMI", explicou à Reuters Magdalena Polan, do Goldman Sachs. Além disso, a dívida húngara, de 78% do PIB, está muito longe dos valores da Grécia.
No entanto, o governo está a entrar num jogo perigoso, mexendo com a confiança dos investidores. O dia de ontem foi um sinal disso mesmo. Os mercados reagiram violentamente, com as principais bolsas europeias a fecharem todas no vermelho, com o espanhol Ibex35 a liderar as perdas (-3,8%), enquanto o PSI 20 caiu 2,2%. O florim húngaro caiu 5,6% em relação ao euro, mas a moeda única teve também um dia muito negativo, chegando a estar a cotar abaixo dos 1,20 dólares, o valor mais baixo dos últimos quatro anos. A moeda única continua assim a coleccionar más notícias, depois de ter sido e continuar a ser muito penalizada com a crise da zona euro.
Apesar de a Hungria ser uma economia pequena e de não estar integrada na zona euro, existe potencial para causar problemas às outras economias europeias, devido à exposição dos bancos da zona euro. Quanto a Portugal, economistas como Mira Amaral e António Nogueira Leite consideram que a exposição portuguesa à dívida grega é residual. Não sendo um país com fortes interesses empresariais portugueses - longe do peso de países como Roménia, República Checa ou Polónia -, conta porém com algumas empresas lusas. A Mota-Engil, por exemplo, está presente em Budapeste, ainda que, ironicamente, está há 18 meses a encerrar a sua subsidiária. "Começou com uma situação interna complexa, mas também tem a ver com a situação económica do país. Ainda temos actividade na Hungria, mas estamos em desaceleração", afirmou ao i Jorge Coelho. "Mas apesar de me parecerem declarações muito para dentro do país, obviamente que afectam a actividade das empresas portuguesas.", comentou ao i sobre a situação húngara.
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Bolsa e divisa caem com temores de bancarrota da Hungria
por Agência Lusa, Publicado em 04 de Junho de 2010 A bolsa e a moeda da Hungria caíram hoje depois de o governo do país ter alertado que o défice das contas públicas é maior do que o esperado, mas analistas pedem cautela na análise da situação.
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A bolsa húngara perdeu hoje mais de três por cento enquanto o forint, a divisa húngara, desvalorizou em relação ao dólar e os prémios do risco da dívida pública do país subiram, com os investidores receosos de que o país esteja novamente à beira da falência.
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Já em outubro de 2008, pouco após o início da crise financeira internacional, a Hungria recebeu um empréstimo de 20 mil milhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI), da União Europeia (UE) e do Banco Mundial para salvar o país.
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O primeiro-ministro Viktor Orban, que assumiu o poder no mês passado, e o secretário de Estado Mihaly Varga, disseram que o défice público seria de 7,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, quase o dobro dos 3,8 por cento estimados pelo governo socialista anterior.
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O deputado Lajos Kosa, próximo do primeiro ministro, disse que a situação económica da Hungria é “muito crítica”.
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“O estado é comparável ao da Grécia, a falência do Estado está próxima”, reforçou.
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Os comentários dos responsáveis abalaram os mercados, receosos de que a crise da dívida e do défice grego poderia condenar a recuperação da economia tanto europeia como da zona euro.
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Alguns analistas internacionais, citados pela agência noticiosa France Press, pediram cautela, sugerindo que o novo executivo húngaro esteja a fazer estas declarações com o objetivo de convencer o país da necessidade de medidas drásticas na economia, depois de na campanha eleitoral ter prometido o corte dos impostos.
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Lee Hardman, economista da londrina Mitsubishi Tokyo UFJ Bank, disse à France Press que a situação na Hungria "não era diretamente comparável" à da Grécia.
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