O governo húngaro de centro-direita prometeu na segunda-feira que conteria seu déficit orçamentário e reduziria gastos, enquanto continuava a recuar de suas recentes sugestões de que o país estava em risco de uma crise em estilo grego e poderia decretar moratória sobre sua dívida pública.
"O que decidimos é que faremos todo o possível para seguir o caminho planejado quanto ao déficit", disse Mihaly Varga, chefe de gabinete do primeiro-ministro Viktor Orban, em Lovasbereny, um subúrbio na região sudoeste de Budapeste no qual o gabinete húngaro estava realizando uma reunião de emergência sobre a economia.
A Hungria está entre os países da Europa Oriental que mais sofreram com a crise financeira internacional. No final de 2008, foi forçada a solicitar US$ 25 bilhões em assistência urgente junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e à União Europeia.
O ministro da Economia, Gyorgy Matolcsy, disse em entrevista à rede de notícias norte-americana CNBC que o governo manteria uma meta de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para o déficit orçamentário de 2010. Ele reconheceu que o governo, liderado pelo partido Fidesz, havia cometido uma série de gafes verbais nos últimos dias, e disse que "evidentemente a Hungria não é a Grécia". Varga disse que o governo estava debatendo a possibilidade de uma alíquota única de 15% a 20% para o imposto de renda pessoal. Outros funcionários do governo afirmaram que a possibilidade de um imposto sobre os bancos também está em debate. Orban deve anunciar novas medidas ao Legislativo na terça-feira.
A Hungria abalou os mercados mundiais na semana passada e causou medo de que a crise de crédito estivesse chegando ao Danúbio depois que um importante funcionário do governo húngaro anunciou que a administração anterior havia manipulado os números do orçamento e mentido sobre a situação da economia. A declaração - assustadoramente parecida com comentários feitos por alguns funcionários do governo grego nas semanas precedentes à crise - causou queda na cotação mundial da moeda húngara, o forint, e ajudou a derrubar o euro à sua mais baixa cotação em quatro anos.
Na segunda-feira, a União Europeia e o FMI rejeitaram veementemente as especulações de que a Hungria estava em risco de decretar moratória sobre sua dívida. Olli Rehn, comissário de Economia e Assuntos Monetários da União Europeia, disse que esses rumores eram "absurdos exageros", e o diretor executivo do FMI, Dominique Strauss-Kahn, declarou em Luxemburgo que não havia "elemento de medo" com relação ao país.
Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo e anfitrião de uma reunião entre os ministros das Finanças da zona do euro, foi igualmente taxativo: "Não vejo qualquer problema com a Hungria", declarou. "Só vejo um problema de tagarelice da parte dos políticos húngaros".
O forint subiu e os preços dos títulos públicos mostraram alta na tarde de segunda-feira, o que sugere que os mercados assustados se acalmaram ao menos um pouco. Mas economistas alertaram que os planos do governo húngaro continuam imprecisos demais para inspirar confiança em longo prazo.
"O governo parece estar correndo para apaziguar os mercados financeiros mas sem apresentar um plano econômico consistente e coerente", disse Peter Rona, economista de Budapeste. "Estão chutando para todo lado".
O governo húngaro nos últimos dias vem batalhando freneticamente para recuar ante as declarações alarmistas da semana passada, que analistas atribuíram a uma tentativa mal calculada de Orban para preparar a opinião pública antes de possíveis medidas de austeridade, e ao mesmo tempo melhorar a posição de negociação da Hungria diante da União Europeia e do FMI.
As raízes dos problemas econômicos húngaros podem ser traçadas a dezembro, quando Orban, então líder da oposição, criticou o governo socialista do primeiro-ministro Gordon Banaj, alegando que sua meta para o déficit público de 2010, 3.,8% do PIB, era irrealista e insistindo em que o déficit provavelmente chegaria aos 7%.
Com a aproximação das eleições legislativas de abril, Orban reforçou sua oratória, prometendo que um governo do Fidesz evitaria as medidas de aperto de cintos dos socialistas, que conseguiram reduzir o déficit orçamentário do país de 9,3% do PIB em 2006 a 4% no ano passado, mas ao fazê-lo perderam o apoio do eleitorado. Orban fez campanha declarando que a Hungria precisava reduzir acentuadamente os impostos a fim de criar empregos e aumentar o crescimento.
Mas depois de conquistar uma vitória arrasadora em abril, Orban logo se viu apanhado entre as exigências dos credores internacionais e as dos eleitores, a quem havia prometido proteger contra novas dores econômicas. Quando o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, rejeitou os apelos de Orban por uma política monetária mais frouxa, na quinta-feira, analistas e assessores disseram que membros importantes do governo rebateram com a invocação da catastrófica possibilidade de uma nova crise em modo grego, a fim de rebaixar as expectativas do eleitorado quanto à economia.
"O governo cometeu um imenso erro político", disse Kornelia Magyar, diretora do Instituto Progressista, uma organização de pesquisa em Budapeste. "Pensou que estivesse falando apenas aos eleitores húngaros, e se esqueceu de que os mercados financeiros também estavam ouvindo".
No entanto, economistas afirmaram que a economia húngara é bem mais resistente que a da Grécia. "A alegação de que o país está à beira de uma moratória sobre sua dívida soberana e corre o risco de seguir o mesmo caminho que a Grécia não encontra sustentação nos fatos", escreveram os analistas do Goldman Sachs em um relatório recente. "A Hungria já enfrentou sua crise, e solicitou assistência do FMI e União Europeia no final de 2008. Nesse contexto, a Hungria na verdade está 18 meses adiante da Grécia".
O economista Rona apontou que a dívida externa húngara era equivalente à metade da grega, e que o país estava fora da zona do euro e portanto não vivia sujeito à sua política monetária inflexível, o que oferece ao banco central húngaro mais flexibilidade para responder aos altos e baixos da economia.
Apesar de todas as vantagens relativas da Hungria com relação à Grécia, porém, economistas alertaram que a economia do país continua vulnerável. Nos últimos anos, os consumidores húngaros recorreram pesadamente aos bancos nacionais e internacionais em busca de empréstimos, denominados em euros e francos suíços, para comprar carros e casas. Agora, estão expostos a pagamentos de dívida cada vez mais altos, diante da queda do forint com relação ao euro e franco suíço.
De acordo com especialistas econômicos, cerca de um milhão de húngaros vivem em domicílios sobrecarregados por empréstimos denominados em moedas estrangeiras. "As execuções hipotecárias estão crescendo explosivamente na Hungria e isso acarreta o risco de grandes problemas econômicos e sociais, capazes de prejudicar a recuperação econômica porque as pessoas não estão conseguindo pagar seus empréstimos", disse Rona.
Renata Bakonyi, 38, assistente social e mãe de três crianças, entre as quais um menino nascido três dias atrás, recordou na segunda-feira uma visita à Áustria em companhia do marido, em 2006, para obter um empréstimo de 24 mil euros (US$ 29 mil) usado para bancar a reforma da casa da família. Na época, as prestações do empréstimo com 15 anos de prazo eram de 230 euros - termos muito melhores que os oferecidos pelo banco que o casal usava na Hungria.
Dois anos mais tarde, porém, o marido de Bakonyi, soldador, perdeu o emprego quando a crise financeira derrubou o setor de construção, e ela havia deixado o trabalho para cuidar das crianças e de uma avó adoentada. Diante da queda do forint com relação ao euro, ela diz que a família não tem como pagar os 32 mil euros que ainda deve ao banco. E contou que a eletricidade foi recentemente cortada no imóvel.
"Não faço ideia do que vai acontecer", disse, pelo telefone, de seu leito em uma maternidade perto de sua casa em Letenye, sudoeste da Hungria. "O risco é de que nos arruinemos e tenhamos de enfrentar o colapso".
Dan Bilefsky, do The New York Times
.A Hungria está entre os países da Europa Oriental que mais sofreram com a crise financeira internacional. No final de 2008, foi forçada a solicitar US$ 25 bilhões em assistência urgente junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e à União Europeia.
O ministro da Economia, Gyorgy Matolcsy, disse em entrevista à rede de notícias norte-americana CNBC que o governo manteria uma meta de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para o déficit orçamentário de 2010. Ele reconheceu que o governo, liderado pelo partido Fidesz, havia cometido uma série de gafes verbais nos últimos dias, e disse que "evidentemente a Hungria não é a Grécia". Varga disse que o governo estava debatendo a possibilidade de uma alíquota única de 15% a 20% para o imposto de renda pessoal. Outros funcionários do governo afirmaram que a possibilidade de um imposto sobre os bancos também está em debate. Orban deve anunciar novas medidas ao Legislativo na terça-feira.
A Hungria abalou os mercados mundiais na semana passada e causou medo de que a crise de crédito estivesse chegando ao Danúbio depois que um importante funcionário do governo húngaro anunciou que a administração anterior havia manipulado os números do orçamento e mentido sobre a situação da economia. A declaração - assustadoramente parecida com comentários feitos por alguns funcionários do governo grego nas semanas precedentes à crise - causou queda na cotação mundial da moeda húngara, o forint, e ajudou a derrubar o euro à sua mais baixa cotação em quatro anos.
Na segunda-feira, a União Europeia e o FMI rejeitaram veementemente as especulações de que a Hungria estava em risco de decretar moratória sobre sua dívida. Olli Rehn, comissário de Economia e Assuntos Monetários da União Europeia, disse que esses rumores eram "absurdos exageros", e o diretor executivo do FMI, Dominique Strauss-Kahn, declarou em Luxemburgo que não havia "elemento de medo" com relação ao país.
Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo e anfitrião de uma reunião entre os ministros das Finanças da zona do euro, foi igualmente taxativo: "Não vejo qualquer problema com a Hungria", declarou. "Só vejo um problema de tagarelice da parte dos políticos húngaros".
O forint subiu e os preços dos títulos públicos mostraram alta na tarde de segunda-feira, o que sugere que os mercados assustados se acalmaram ao menos um pouco. Mas economistas alertaram que os planos do governo húngaro continuam imprecisos demais para inspirar confiança em longo prazo.
"O governo parece estar correndo para apaziguar os mercados financeiros mas sem apresentar um plano econômico consistente e coerente", disse Peter Rona, economista de Budapeste. "Estão chutando para todo lado".
O governo húngaro nos últimos dias vem batalhando freneticamente para recuar ante as declarações alarmistas da semana passada, que analistas atribuíram a uma tentativa mal calculada de Orban para preparar a opinião pública antes de possíveis medidas de austeridade, e ao mesmo tempo melhorar a posição de negociação da Hungria diante da União Europeia e do FMI.
As raízes dos problemas econômicos húngaros podem ser traçadas a dezembro, quando Orban, então líder da oposição, criticou o governo socialista do primeiro-ministro Gordon Banaj, alegando que sua meta para o déficit público de 2010, 3.,8% do PIB, era irrealista e insistindo em que o déficit provavelmente chegaria aos 7%.
Com a aproximação das eleições legislativas de abril, Orban reforçou sua oratória, prometendo que um governo do Fidesz evitaria as medidas de aperto de cintos dos socialistas, que conseguiram reduzir o déficit orçamentário do país de 9,3% do PIB em 2006 a 4% no ano passado, mas ao fazê-lo perderam o apoio do eleitorado. Orban fez campanha declarando que a Hungria precisava reduzir acentuadamente os impostos a fim de criar empregos e aumentar o crescimento.
Mas depois de conquistar uma vitória arrasadora em abril, Orban logo se viu apanhado entre as exigências dos credores internacionais e as dos eleitores, a quem havia prometido proteger contra novas dores econômicas. Quando o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, rejeitou os apelos de Orban por uma política monetária mais frouxa, na quinta-feira, analistas e assessores disseram que membros importantes do governo rebateram com a invocação da catastrófica possibilidade de uma nova crise em modo grego, a fim de rebaixar as expectativas do eleitorado quanto à economia.
"O governo cometeu um imenso erro político", disse Kornelia Magyar, diretora do Instituto Progressista, uma organização de pesquisa em Budapeste. "Pensou que estivesse falando apenas aos eleitores húngaros, e se esqueceu de que os mercados financeiros também estavam ouvindo".
No entanto, economistas afirmaram que a economia húngara é bem mais resistente que a da Grécia. "A alegação de que o país está à beira de uma moratória sobre sua dívida soberana e corre o risco de seguir o mesmo caminho que a Grécia não encontra sustentação nos fatos", escreveram os analistas do Goldman Sachs em um relatório recente. "A Hungria já enfrentou sua crise, e solicitou assistência do FMI e União Europeia no final de 2008. Nesse contexto, a Hungria na verdade está 18 meses adiante da Grécia".
O economista Rona apontou que a dívida externa húngara era equivalente à metade da grega, e que o país estava fora da zona do euro e portanto não vivia sujeito à sua política monetária inflexível, o que oferece ao banco central húngaro mais flexibilidade para responder aos altos e baixos da economia.
Apesar de todas as vantagens relativas da Hungria com relação à Grécia, porém, economistas alertaram que a economia do país continua vulnerável. Nos últimos anos, os consumidores húngaros recorreram pesadamente aos bancos nacionais e internacionais em busca de empréstimos, denominados em euros e francos suíços, para comprar carros e casas. Agora, estão expostos a pagamentos de dívida cada vez mais altos, diante da queda do forint com relação ao euro e franco suíço.
De acordo com especialistas econômicos, cerca de um milhão de húngaros vivem em domicílios sobrecarregados por empréstimos denominados em moedas estrangeiras. "As execuções hipotecárias estão crescendo explosivamente na Hungria e isso acarreta o risco de grandes problemas econômicos e sociais, capazes de prejudicar a recuperação econômica porque as pessoas não estão conseguindo pagar seus empréstimos", disse Rona.
Renata Bakonyi, 38, assistente social e mãe de três crianças, entre as quais um menino nascido três dias atrás, recordou na segunda-feira uma visita à Áustria em companhia do marido, em 2006, para obter um empréstimo de 24 mil euros (US$ 29 mil) usado para bancar a reforma da casa da família. Na época, as prestações do empréstimo com 15 anos de prazo eram de 230 euros - termos muito melhores que os oferecidos pelo banco que o casal usava na Hungria.
Dois anos mais tarde, porém, o marido de Bakonyi, soldador, perdeu o emprego quando a crise financeira derrubou o setor de construção, e ela havia deixado o trabalho para cuidar das crianças e de uma avó adoentada. Diante da queda do forint com relação ao euro, ela diz que a família não tem como pagar os 32 mil euros que ainda deve ao banco. E contou que a eletricidade foi recentemente cortada no imóvel.
"Não faço ideia do que vai acontecer", disse, pelo telefone, de seu leito em uma maternidade perto de sua casa em Letenye, sudoeste da Hungria. "O risco é de que nos arruinemos e tenhamos de enfrentar o colapso".
Dan Bilefsky, do The New York Times
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