A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, novembro 01, 2007

Al Gore – de senhor da guerra a Nobel da Paz


* Rui Namorado Rosa
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O antigo vice-presidente dos Estados Unidos da América, Albert Gore, Jr., foi galardoado com o prémio Nobel da Paz de 2007. No comunicado de imprensa, o Comité Nobel afirma: «Al Gore tem sido desde há muito tempo um dos líderes entre os políticos ambientalistas. Despertou desde cedo para os desafios climáticos que o mundo enfrenta. O seu forte comprometimento, mediante actividade política, lições, filmes e livros, reforçou a luta contra as mudanças climáticas. É provavelmente a única pessoa singular que mais fez para alargar a compreensão mundial das medidas que precisam ser tomadas.» Sobre a sua acção enquanto vice-presidente dos EUA nada.

Quando normalmente a atribuição de tal prémio suscita adesão e alegria, a presente atribuição merece apreciação demorada e crítica severa.
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Al Gore fez-se conhecer dentro e fora do seu país, desde que deixou a vice-presidência dos EUA, por via das campanhas sensacionalistas a propósito de uma causa que seria proteger a humanidade «contra» as Alterações Climáticas. Vejamos alguns casos recentes.
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O documentário «Uma verdade inconveniente» de sua autoria, combina alguma dose de climatologia, com alguns factos bem fundamentados e outros de fundamentação duvidosa, com que aterroriza a audiência, com propostas de acção canalizadas para o «comércio do carbono», o consumismo «responsável», a plantação de árvores, e outras coisas do género. Numa época em que argumentistas de Hollywood aconselham o Pentágono sobre cenários de terror e novelistas testemunham sobre climatologia perante o Congresso, não é surpresa que tais atitudes e procedimentos se reflictam e multipliquem na vida política. Uma mistura de histórias de horror, cepticismo ou fatalismo, tendo em vista anular o pensamento autónomo e fazer prevalecer uma versão sofisticada de «o negócio segue como de costume», facilita a aceitação de apelos confusos para acções mal entendidas. Ao preencher as consciências fazendo-as visualizar a deterioração extrema de condições ambientais, e hipotéticas ou reais catástrofes climatológicas, por essa via sinuosa se consegue mais facilmente obliterar a compreensão crítica da real regressão da organização económico-social e o colapso económico-financeiro em marcha.
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Al Gore quer revelar-se também como arquétipo de cidadão exemplar que procura influenciar a sociedade. Socorre-se para tal de um segmento de negócio agora em expansão, de que é activo promotor, que explora o comércio de licenças ou autorizações de emissão de carbono, para empresas e indivíduos que pretendem compensar as emissões por que são responsáveis. Para uma classe afluente de fachada ecológica, a compra de reduções de emissões para compensação de consumos extravagantes funciona por analogia a um mecanismo de «indulgências» a que só ricos têm acesso. Para grandes empresas, a preocupação em apagar a «pegada ecológica» é de bom-tom para promover a imagem de «responsabilidade social». Al Gore faz o mesmo para compensar os seus enormes consumos de bilionário e missionário itinerante, fingindo desta forma apagar a sua «pegada ecológica» ou ser ecologicamente «puro».

Caixeiro viajante de luxo

Al Gore tem feito périplos para propagar as suas crenças e a sua política nos EUA, na Europa e por todo o mundo.
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Em Outubro de 2006, o então ministro das Finanças britânico Gordon Brown designou Al Gore «conselheiro especial do seu governo para as Alterações Climáticas». Posteriormente, em Março de 2007, Al Gore foi a Edimburgo nessa capacidade, e também como presidente de um fundo de investimentos de risco, para convencer a Associação Britânica de Fundos de Pensões para apostar as pensões nacionais no comércio do carbono que ele, bem como o agora primeiro-ministro Gordon Brown e a City de Londres, tentam ansiosamente propulsionar, para ajudar a evitar o descalabro do sistema financeiro.
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Aquando do seu périplo pela Europa em Março de 2007, o jornal alemão conservador Die Welt publicou um alerta a propósito dos riscos a que tal propaganda pode conduzir. O editorialista escreveu: «a questão climática gera finalmente o tal estado de emergência que extremistas de direita e de esquerda, bem assim como amigos ecologistas de Carl Schmitt, gostariam de conseguir» [Carl Schmitt foi o jurista ideólogo e juiz supremo do regime nazi, cujos textos justificaram as «medidas de emergência» da ditadura de Hitler]. Pela mesma altura, o conservador Daily Telegraph relatava que a real mensagem de Al Gore era «o comércio de emissões é o mercado em expansão», e concluía «Al Gore é capaz de detectar uma tendência (…) e o comércio de carbono é a sua aposta mais forte».
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O comércio de emissões de carbono tem estado a ser preparado há uma década na União Europeia, desde a assinatura do Protocolo de Quioto, e entrou formalmente em vigor no Verão de 2005, sendo o mercado Londrino um dos seis centros Europeus dessa actividade financeira. Gordon Brown assumiu audaz, aquando do referido périplo de Al Gore, que pretende tornar Londres no centro do novo mercado mundial do carbono. Literalmente: «A minha ambição é construir um mercado do carbono global, fundado no Esquema de Transacção de Emissões da UE e centrado em Londres. Valendo hoje apenas US$ 9 biliões, esse comércio poderá crescer para 50 a 100 biliões. Assim, avançamos mediante uma conferência internacional acolhida em Londres, para discutirmos como articular os esquemas de comércio em diferentes países e como promover o comércio com países em desenvolvimento – a fim de transformar este sistema em crescimento numa força global para a mudança». China, Brasil, África do Sul, Índia, México e outros, seriam os alvos deste novo «império» ambientalista e Londres a sua capital.
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A 6 de Fevereiro de 2007 Al Gore fora recebido em Madrid pelo presidente do governo espanhol e, dois dias volvidos, em Lisboa pelo primeiro-ministro português. Na sua primeira conferência em Espanha, para propagandear a sua mensagem, para além dos ministros, só foi permitida a assistência àqueles que pagaram 470 € + IVA, sem direito a formular qualquer pergunta, mesmo sendo jornalista.

Manipulações estratégicas

As Alterações Climáticas, oficialmente atribuídas a emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa, têm sido manipuladas astuciosamente pelo capitalismo mundial. Uma estratégia consiste em desfigurar a questão climática e suprimir a sua compreensão, de modo que a reacção da opinião pública fique politicamente debilitada. Outra estratégia recorre a um manancial de soluções técnicas, assim procurando ultrapassar o debate sobre as questões de fundo, como a acessibilidade das fontes de energia fóssil ou as assimetrias entre países produtores e consumidores, do mesmo passo promovendo inovações que serão objecto de proveitosos lucros enquanto soluções técnicas «milagrosas».
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A campanha de Al Gore, apoiando-se na primeira estratégia, insere-se numa estratégia que privilegia as soluções oferecidas pelo mercado livre, procurando assegurar a continuidade da prevalência de direitos e de propriedade dos grandes consumidores de combustíveis fósseis, sobre a capacidade planetária de absorção das correspondentes emissões de carbono, enquanto criando novas oportunidades de lucro para as corporações e o capital financeiro, mediante o comércio do carbono.
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Mas mais grave, no caso de se tratar de premiar uma personalidade pelo que terá feito de bem a favor da Paz, é o currículo vitae de Al Gore como senhor da guerra. Que importa recordar, já que o comité Nobel estaria esquecido.
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Albert Gore, Jr. foi vice-presidente da administração norte-americana de 20 de Janeiro de 1993 a 20 de Janeiro de 2001 e nessa condição foi co-responsável por intervenções militares em diversos países, apoio a actos de violência bélica e de terrorismo.
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Em 1993-2001, no Iraque, a administração Clinton-Gore prosseguiu ininterruptamente o bombardeamento de «zonas de exclusão aérea» (com a colaboração da Grã-Bretanha e da França) e, paralelamente, manteve o embargo e sanções económicas que custaram a vida a milhão e meio de iraquianos, na maioria crianças.
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Na Jugoslávia, em 1992-94, a Administração Clinton-Gore impôs um bloqueio marítimo da NATO contra a Sérvia e Montenegro. Em 1993, estabeleceu uma zona de exclusão aérea patrulhada e bombardeou alvos civis na Bósnia-Herzegovina, abriu caminho às forças para-militares islâmicas UCK, designadas primeiro como terroristas para depois serem arvoradas em libertadoras, e fomentou a guerra civil de 1994-1995.
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A administração norte-americana teve grave responsabilidade no desencadeamento dessa guerra aparentemente incompreensível no seio da Jugoslávia, anteriormente um exemplo de convivência inter-étnica, ao interferir e alimentar as diferenças, invocando a autodeterminação étnica como pretexto para conflitos inter-étnicos e para, de seguida, invadir e ocupar territórios da Jugoslávia. A autodeterminação étnica é um princípio que desde então abusivamente tem sido evocado, à sombra ou a pretexto dos «direitos humanos», para conseguir o mesmo objectivo imperial de sempre: dividir e subjugar os povos para os tornar em protectorados os seus territórios.
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De Março a Junho de 1999, a NATO liderada pelos EUA bombardeou o Kosovo e a Sérvia, numa operação dita de intervenção humanitária, manipulando informação sobre reais e presumíveis massacres, explorando o fundamentalismo islâmico por um lado e a demonização dos sérvios por outro. Durante o ataque realizaram-se bombardeamentos maciços a objectivos civis, infra-estruturas, alvos industriais, e estações transmissoras de rádio e de televisão. Muitas instituições de saúde e educativas, monumentos e mosteiros também foram arrasados. Nesta agressão dos EUA e da NATO contra República Federal da Jugoslávia, em violação dos mandatos do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a organização do Estado sofreu profundas roturas e foi maciça a perda de vidas nessa catástrofe humanitária, económica, social e ambiental.

Crimes de guerra

Os EUA e a NATO admitiram oficialmente ter lançado no Kosovo, Sérvia e Montenegro dezenas de milhar de munições de urânio empobrecido. Só no território da província de Kosovo e Metohija foram disparadas munições no montante de 10 toneladas de urânio empobrecido. Estas munições são consideradas como «armas de destruição maciça» pela Subcomissão para a Protecção e Promoção dos Direitos Humanos da ONU, têm natureza de armas químicas, radiológicas e ambientais, e violam diversas convenções internacionais. Nos meses que se seguiram, até soldados dos contingentes da NATO adoeceram e alguns morreram com o «sindroma dos Balcãs». O balanço da guerra da Jugoslávia foi de 200 mil mortos e mais de um milhão de refugiados.
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Noutro «teatro» geo-estratégico, em 1998, foi imposto ao Sudão um embargo económico, e mais de uma dezena de mísseis Tomawak foram lançados sobre a única fábrica de medicamentos humanos e veterinários desse país, a pretexto de que fabricaria armas químicas para efeitos de acções terroristas, algo que não foi demonstrado e foi depois reconhecido tratar-se de um «erro». A consequência foi uma grande penúria dos medicamentos que eram produzidos e consumidos localmente, bem como a destruição da relativa autonomia farmacêutica do país relativamente às multinacionais farmacêuticas. Milhares de sudaneses e somalis morreram por não se poderem tratar com medicamentos eficazes para as doenças endémicas.
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Em 2000, sob o falso argumento da «guerra à droga», os EUA envolveram-se directamente no Plano Colômbia. A guerrilha de libertação nacional foi classificada de narcotraficante, ainda que, segundo o próprio administrador da Drug Enforcement Agency, «não se tenha chegado à conclusão de que as FARC e o ELN fossem entidades que se dedicassem ao tráfico de drogas». O Plano Colômbia é um programa de ajuda essencialmente militar destinado a apoiar o governo para eliminar a guerrilha, envolvendo guerra química, designadamente a fumigação das culturas nos territórios por ela controlados, com efeitos devastadores, nomeadamente milhares de mortos e muitos mais deslocados e refugiados, destruição duradoura dos ecossistemas, e tentativa de desarticulação da organização social.
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Em 1999, o governo dos EUA rejeitou assinar o Acordo Internacional para a proibição de utilização de minas antipessoal, cuja definição inclui também as bombas de fragmentação, que entrou em vigor em 1 de Março de 1999. Nesse mesmo ano foram lançadas na Jugoslávia 1100 bombas de fragmentação, cada uma das quais contém 2 centenas de «pequenas» granadas. A respectiva utilização viria a multiplicar-se depois no Afeganistão, no Iraque, e no Verão de 2006 no Líbano.
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Após o que o vice-presidente Al Gore cessou o seu mandato. E correndo a votos, ainda que sendo mais votado, foi preterido a favor do actual presidente George W. Bush.
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A 12 de Fevereiro de 2002, no seu primeiro discurso de fundo depois de George W. Bush ter sido declarado presidente eleito, Al Gore afirmou o seu pleno apoio aos anunciados planos da nova administração Bush em alargar os planos de guerra no Médio Oriente, e apelou mesmo ao ajuste de final contas com Saddam Hussein.
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Al Gore afirmou «É claro que desses governos um em particular representa uma ameaça virulenta de uma natureza à parte: o Iraque. Tanto quanto me diz respeito, deve estar em agenda um ajuste final de contas com esse governo. A meu ver, a questão não é o princípio da acção, mas sim assegurar que desta vez acabamos com o problema à nossa maneira. (…) Assim, desta vez, se usarmos a força, devemos absolutamente ter êxito. Deve ser uma acção iniciada cuidadosamente e baseada em princípios os mais realistas. O falhanço não pode ser uma opção, o que quer dizer que devemos estar preparados para ir até ao limite.»
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Al Gore adicionou que o Irão era «um desfio muito mais perigoso» que o Iraque em termos quer de suporte ao terrorismo quer de desenvolvimento de armas de destruição maciça. Não deduziu então que a guerra com o Irão fosse mais urgente que a guerra ao Iraque, mas insinuou claramente que tal guerra seria inevitável, a menos que o regime islâmico em Teerão fosse derrubado por dentro.
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Como se vê, mal havia deixado a Casa Branca e continuava ainda fixado na fúria guerreira que caracterizara o seu mandato, e logo se prontificou a transferir toda essa sua fúria em apoio aos desígnios bélicos de George W. Bush.
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Após o que se converteu em profeta climático, evangelizador ambientalista e negociante de créditos de carbono, tudo numa só pessoa.
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É profundamente lamentável o acto de verdadeira profanação da memória de muitos ilustres e dignos anteriores recipientes do Prémio Nobel da Paz que a presente atribuição configura.
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in Avante - Nº 1770 - 01.Novembro.2007

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