* Eduardo Dâmaso,
Director-Adjunto
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Um dos mais prestigiados pensadores dos nossos tempos, George Steiner, disse há dias na Gulbenkian que não compreendia porque é que os pobres de todo o Mundo não se revoltam.
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E alinhou um conjunto de factos inquestionáveis para traçar o conteúdo de uma grande parte do pessimismo contemporâneo: o desemprego; a exploração do trabalho infantil; a prostituição de menores espalhados nas esquinas das grandes cidades europeias; as somas astronómicas de dinheiro que são movimentadas nos negócios da droga, da pornografia e no tráfico de pessoas. Steiner vai ao ponto de apontar as doenças infantis geradas pela subnutrição em Inglaterra e não em qualquer país do terceiro mundo, desenterrando dos baús das más memórias as narrativas impiedosas de Dickens sobre os anos da Revolução Industrial.
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O pessimismo de Steiner pode ser contrabalançado com indicadores positivos do desenvolvimento humano mas não tenhamos dúvidas de que ele aponta uma das realidades mais perturbadoras dos nossos tempos. Estamos a construir um mundo cada vez mais fracturado e sociedades cada vez mais indiferentes. Os muitos pobres têm agora já perto de si uma legião de novos pobres – da qual o sobreendividamente é um barómetro incontornável – que dão novo alcance e conteúdo àquilo que é hoje o conceito de pobreza. Daí não virá certamente a revolta social apregoada por Steiner, mas que andamos todos lá cada vez mais perto não tenhamos dúvidas.
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in Correio da Manhã 2007.11.01
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fotografia - autor não identificado» Comentários no CM on line
Quinta-feira, 1 Novembro
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- José Costa Os governantes, todos os dias reafirmam que vivemos no praíso.Como reagir? Quando vivemos na miséria, sem emprego nem esperança de dias melhores. Já chega de propaganda, venham os resultados. (Colares)
- Leandro Coutinho Excelente artigo.. mas também deveria ter referido os pobres de espírito e de vontade.. os que se encostam á sombra de subsidios e se deixam arrastar em vida-vidinha sem fazer nada para alterá-la..
- Leandro Coutinho Excelente artigo.. mas também deveria ter referido os pobres de espírito e de vontade.. os que se encostam á sombra de subsidios e se deixam arrastar em vida-vidinha sem fazer nada para alterá-la..
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