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* Jorge Cádima
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Começa a dissipar-se a neblina com que Sócrates e a alta finança tentaram lançar novos mitos tais como os do «êxito português na Europa», da «visita respeitosa de Putin» ou do «desabar do BCP». A Igreja Católica, que tão activa esteve nas conspirações contra o socialismo soviético, na proclamação da «ética do capitalismo» ou na consolidação de uma «Europa capitalista e cristã», refugia-se no silêncio e na inocência do «espanto e incompreensão» quando se trata de denunciar e combater as constantes violações dos direitos do homem, particularmente quando o homem é um modesto trabalhador. Entretanto, beatifica os fascistas espanhóis. Não se trata de posições involuntárias, mais tarde corrigidas. Há uma linha de rumo da hierarquia religiosa, pensada e decidida, quando a luta de classes se agrava e o capital e o trabalho se confrontam. Não faltam, nessa área, exemplos actuais.
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Há dias, foram entrevistar o padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-pobreza da Pastoral Social, acerca da pobreza em Portugal. O sacerdote manifestou-se optimista: «A pobreza não é bem uma tragédia inevitável. Felizmente, a pobreza persistente é só uma parte do todo, senão estávamos perdidos!». Os desempregados podem «dar a volta» a essa situação, aprendendo e educando-se. Afirmou que, segundo as estatísticas (católicas), 49% dos pobres detectados conseguiram sair da miséria. A mesma tese foi defendida por outros altos responsáveis da Pastoral Social, designadamente pelo influente padre José Maia que agora preside à poderosa «Fundação Filos», do patriarcado de Lisboa. A pobreza só atinge aqueles que «caem no desespero» quando se confrontam com uma situação pessoal de desemprego, doença ou velhice. Pobre é só aquele que não sabe reagir ao infortúnio e entra em pânico. A pobreza é um «estado de espírito» e o seu principal culpado, o próprio pobre que não se auto-valoriza...
Novas faltas de vergonha
Chama também a atenção o virar costas da igreja católica a afirmações públicas de responsáveis políticos e financeiros que se dizem crentes. É o caso de um certo projecto capitalista menos falado – o «E-Government» - que está a ser desenvolvido a nível global. Em resumo, trata-se dos aparelhos de Estado, das direcções financeiras e da Sociedade Civil, praticarem uma «cumplicidade estratégica» que envolva «melhor Estado, eficiência global, racionalidade e transparência nas relações do poder político com os cidadãos». De um ponto de vista capitalista, é claro. Este padrão de «cumplicidade» promove aquilo a que chamam a «reinvenção electrónica do Estado», e se traduz na «coragem» dos políticos em destruírem o que está no presente tecido social por «aquilo que vier, seja o que-quer-que-for». É justamente isso que se está a passar em Portugal à custa da destruição dos postos de trabalho, do aumento do custo de vida, dos cortes salariais e de pensões ou da «flexiegurança». A direita declara-se «boa aluna» do capitalismo neoliberal. A Igreja tudo vê e tudo cala. Intimamente, só pode aplaudir. É certo que perde em dignidade e em aura popular. Mas está convicta de que, tal como recentemente afirmava em «caixa alta» um diário português de grande circulação, «a construção do Novo Estado não se pode fazer sem a Sociedade Civil». E a sociedade civil é a Igreja.
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Aqueles 49% de pobres «recuperados» a que aludiu o padre da Rede Anti-Pobreza são um embuste e ele sabe-o bem. Um jovem desempregado pobre inscreve-se nos «call centers» (centros de atendimento), recebe um contrato de 3 meses e, automaticamente, deixa de ser pobre. Os meses passam, o contrato caduca e o jovem volta a ser pobre. Mas foi apagado do registo de pobreza. A Estatística cumpriu as suas funções oficiais. E a Igreja calou-se, cumprindo a regra da «cumplicidade estratégica» que a liga aos seus parceiros. O grupo de trabalhadores precários que integram a pobreza em Portugal envolve, segundo se calcula, mais de 150 mil trabalhadores, 1,2 milhões de euros de salários e cresce a um ritmo anual de 10%.
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A historieta da «derrocada do BCP» é outro caso do cruzamento de intrigas e de interesses dos banqueiros de«chapéu alto». Toda a imensa massa de capitais em causa inclui uma gigantesca parcela de dinheiros eclesiásticos. A sugestão de «crise no BCP», apenas é um factor da intriga com que se oculta o projecto de fusão de capitais financeiros ibéricos, à escala da globalização, com a criação de um canibalesco super-banco concebido como um monopólio bancário. E recusemos a ideia de que há banca nacional, como mentirosamente nos dizem. O dinheiro não tem pátria, nem moral, nem cor.
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Pelo contrário valores monetários «cúmplices» desta ordem podem significar, se a operação for em frente, a venda da nacionalidade, a liquidação da democracia e a redução a cacos das Conquistas de Abril.
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in Avante 2007.11.08
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Há dias, foram entrevistar o padre Jardim Moreira, presidente da Rede Europeia Anti-pobreza da Pastoral Social, acerca da pobreza em Portugal. O sacerdote manifestou-se optimista: «A pobreza não é bem uma tragédia inevitável. Felizmente, a pobreza persistente é só uma parte do todo, senão estávamos perdidos!». Os desempregados podem «dar a volta» a essa situação, aprendendo e educando-se. Afirmou que, segundo as estatísticas (católicas), 49% dos pobres detectados conseguiram sair da miséria. A mesma tese foi defendida por outros altos responsáveis da Pastoral Social, designadamente pelo influente padre José Maia que agora preside à poderosa «Fundação Filos», do patriarcado de Lisboa. A pobreza só atinge aqueles que «caem no desespero» quando se confrontam com uma situação pessoal de desemprego, doença ou velhice. Pobre é só aquele que não sabe reagir ao infortúnio e entra em pânico. A pobreza é um «estado de espírito» e o seu principal culpado, o próprio pobre que não se auto-valoriza...
Novas faltas de vergonha
Chama também a atenção o virar costas da igreja católica a afirmações públicas de responsáveis políticos e financeiros que se dizem crentes. É o caso de um certo projecto capitalista menos falado – o «E-Government» - que está a ser desenvolvido a nível global. Em resumo, trata-se dos aparelhos de Estado, das direcções financeiras e da Sociedade Civil, praticarem uma «cumplicidade estratégica» que envolva «melhor Estado, eficiência global, racionalidade e transparência nas relações do poder político com os cidadãos». De um ponto de vista capitalista, é claro. Este padrão de «cumplicidade» promove aquilo a que chamam a «reinvenção electrónica do Estado», e se traduz na «coragem» dos políticos em destruírem o que está no presente tecido social por «aquilo que vier, seja o que-quer-que-for». É justamente isso que se está a passar em Portugal à custa da destruição dos postos de trabalho, do aumento do custo de vida, dos cortes salariais e de pensões ou da «flexiegurança». A direita declara-se «boa aluna» do capitalismo neoliberal. A Igreja tudo vê e tudo cala. Intimamente, só pode aplaudir. É certo que perde em dignidade e em aura popular. Mas está convicta de que, tal como recentemente afirmava em «caixa alta» um diário português de grande circulação, «a construção do Novo Estado não se pode fazer sem a Sociedade Civil». E a sociedade civil é a Igreja.
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Aqueles 49% de pobres «recuperados» a que aludiu o padre da Rede Anti-Pobreza são um embuste e ele sabe-o bem. Um jovem desempregado pobre inscreve-se nos «call centers» (centros de atendimento), recebe um contrato de 3 meses e, automaticamente, deixa de ser pobre. Os meses passam, o contrato caduca e o jovem volta a ser pobre. Mas foi apagado do registo de pobreza. A Estatística cumpriu as suas funções oficiais. E a Igreja calou-se, cumprindo a regra da «cumplicidade estratégica» que a liga aos seus parceiros. O grupo de trabalhadores precários que integram a pobreza em Portugal envolve, segundo se calcula, mais de 150 mil trabalhadores, 1,2 milhões de euros de salários e cresce a um ritmo anual de 10%.
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A historieta da «derrocada do BCP» é outro caso do cruzamento de intrigas e de interesses dos banqueiros de«chapéu alto». Toda a imensa massa de capitais em causa inclui uma gigantesca parcela de dinheiros eclesiásticos. A sugestão de «crise no BCP», apenas é um factor da intriga com que se oculta o projecto de fusão de capitais financeiros ibéricos, à escala da globalização, com a criação de um canibalesco super-banco concebido como um monopólio bancário. E recusemos a ideia de que há banca nacional, como mentirosamente nos dizem. O dinheiro não tem pátria, nem moral, nem cor.
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Pelo contrário valores monetários «cúmplices» desta ordem podem significar, se a operação for em frente, a venda da nacionalidade, a liquidação da democracia e a redução a cacos das Conquistas de Abril.
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in Avante 2007.11.08
1 comentário:
A igreja católica é o sempre foi: cúmplice de todos os poderes instutuídos!
O grnde traidor do Cristo assassinado não foi Judas, mas sim estes crápulas que esmagaram os cátaros, inventaram a Inquisição e ....
Saudações!
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