Vermelho - 21 de Setembro de 2010 - 14h03
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"Às vezes há quem fale com franqueza: 'a única surpresa é que ninguém se surpreende pela falta de contratos de trabalho no setor privado. Só no mundo da propaganda da Câmara de Comércio é que as empresas existem para criar postos de trabalho. No mundo real, as empresas existem para criar lucros para os acionistas e não empregos. Por isso é que se chama capitalismo e não empregadorismo".
Por Fred Goldstein, no Workers World
Os lucros das empresas estão a crescer, o bojo corporativo acumula, o comércio incrementa-se. Mas os empregos não vão regressar tão cedo para milhões de desempregados.
Este é o tema recorrente dos noticiários capitalistas. Demonstra a grande ansiedade face à nova etapa da economia capitalista e a forma como "a recuperação sem empregos" se apresenta.
Enquanto 30 milhões de trabalhadores continuam desempregados ou sub-empregados, os lucros das empresas aumentaram a uma taxa anual de 1,2 bilhões de dólares – mais altas que no apogeu da bolha. Grande parte deste dinheiro provém do despedimento de trabalhadores e do aumento da produtividade dos que restaram.
"É o resultado", escreveu Steven Pearlstein, no Washington Post de 30 de julho, "de as empresas terem encontrado formas de produzir tanto como sempre, mas com menos trabalhadores". Em consequência disso, o ano passado a produtividade por hora aumentou mais de 6%, ainda que os lucros médios por hora tenham aumentado menos de 2 por cento. O resto do aumento da produtividade foi diretamente para as empresas, criando uma massa recorde de dinheiro para as empresas.
"Parte do dinheiro foi usado para pagar dívidas ou recuperar ações", continua o artigo, "mas até agora uma coisa que as empresas não fizeram foi recontratar os empregados a tempo inteiro, preferindo contratar trabalhadores temporários ou aumentar as horas de trabalham dos trabalhadores que já têm".
Depois, Pearlstein fez uma observação muito sincera à imprensa: "a única surpresa é que ninguém se surpreende pela falta de contratos de trabalho no setor privado. Só no mundo da propaganda da Câmara de Comércio é que as empresas existem para criar postos de trabalho. No mundo real, as empresas existem para criar lucros para os acionistas e não empregos. Por isso é que se chama capitalismo e não empregadorismo".
Quando um porta-voz empresarial como o Washington Post permite este comentário anticapitalista é sinal da profunda preocupação sobre a permanência deste sistema econômico.
Em 26 de julho, o The New York Times descreveu a mesma tendência num artigo intitulado "Empresas estadunidenses obtém enormes lucros com a diminuição dos empregos". O título diz tudo.
O Times optou por se centrar na Harley Davidson, cujas vendas caíram nos últimos três anos. Mas apesar dessa seca", observou o Times, "os lucros da Harley estão a aumentar". De fato, dispararam. Há semanas, a Harley anunciou lucros de US$ 71 milhões no segundo trimestre, mais do triplo do que ganhou há um ano.
"Esta aparente contradição – queda de vendas com aumento dos lucros – é uma das razões por que em Wall Street há muito mais alegria que nas casas dos trabalhadores, onde o pessimismo é profundo e o desemprego mostra pouco sinais para diminuir".
Um futuro de contração econômica e demissões
De fato, o Times informa que a Harley demitiu 2.000 trabalhadores – um quinto da sua força de trabalho – e prevê demitir mais 1.400 a 1.600 até ao final do próximo ano. A Harley advertiu os seus empregados sindicalizados na sua fábrica de Millwaukee que mudaria a produção para outro lugar dos EUA se não aceitassem regras mais flexíveis de trabalho e muitas outras medidas de "poupança".
"A evolução da Harley é parte de uma mudança a longo prazo na indústria manufatureira", disse Rod Lache, analista do Deutsche Bank num artigo do Times. "Estas empresas decifraram a chave de uma alteração industrial vitoriosa. Estão a diminuir o negócio até um tamanho que é defensável, e a renascer a partir dessa pequena base".
"Em maior escala", continua o artigo, o faturamento da Ford reduziu-se US$ 20 bilhões desde 2005. Mas este ano, em vez de perda, espera anunciar um lucro de US$ 5 bilhões, em grande parte devido ao fato de "a Ford ter reduzido a sua força de trabalho na América do Norte em quase 50%, só nos últimos cinco anos".
"Quando a Alcoa anunciou uma recuperação dos lucros em agosto e um aumento de 22% dos proventos", acrescenta o Times, o seu presidente financeiro, Charles D. Mclane, assegurou aos investidores que não estava ansioso por recuperar os 37.000 trabalhadores demitidos desde finais de 2008. "Estamos estritamente centralizados sobre os gastos à medida que aumenta a atividade do mercado, operando com maior eficácia e minimizando recontratações tanto quanto possível", disse. Não só estamos sustentando os níveis de trabalhadores, como também estamos a executar a reestruturação deste trimestre de forma a terem lugar novas reduções".
Um porta-voz da Alcoa disse que a empresa "teve que ser redimensionada para se adaptar às realidades da crise".
Indústrias inteiras estão a ter com menos vendas mais lucros que nunca. Menos vendas refletem menor produção. E esta é uma condição permanente que surge da atual crise econômica.
Novos pedidos de seguro por desemprego e a recuperação
Desde finais de 2007 que estes chefes demitiram mais de 8 milhões de trabalhadores, na pior crise desde a Grande Depressão. A este número somam-se os 7 milhões já desempregados antes de a crise rebentar. Mais alguns milhões passaram a trabalhar a tempo parcial, sofreram demissões temporários obrigatórios, ou foram obrigados a trabalhar com redução dos seus salários e sob duras condições e aceleração do ritmo de produção.
Estima-se que são necessários 150.000 novos postos de trabalho só para contratar os jovens que chegam anualmente ao mercado de trabalho. Agora, muitos destes jovens não conseguem entrar no mercado de trabalho e nem sequer aparecem nas estatísticas.
A maioria dos demissões é definitiva. Os empregos não regressarão, apesar de, oficialmente, já estarmos no quarto trimestre consecutivo da chamada "recuperação".
As novas solicitações de acionamento do seguro de desemprego mantêm-se á volta das 450.000 por mês durante os oito meses de "recuperação". O mais recente relatório das novas solicitações de seguro de desemprego diminuiu cerca de 4.500 em quatro semanas. Esta descida representa uma baixa de 1% em quatro semanas. Esta descida representa uma baixa de 1%, o que é estatística e socialmente irrelevante para o quase meio milhão de trabalhadores que o solicitaram.
Que tipo de "recuperação" é esta quando o desemprego oficial se mantém nos 9,5%? Não há qualquer mistério na crise de desemprego. Foram os capitalistas que a provocaram. E agora, esses milionários e multimilionários agarram-se aos seus lucros e às suas reservas de dinheiro em vez de aliviarem o sofrimento massivo que causaram.
Empresas não financeiras estão sentadas em cima de US$ 1,8 bilhões de dólares em reservas em efetivo, aproximadamente mais 25% do no início da recessão. No entanto, recusam recontratar trabalhadores a tempo integral em número significativo, apesar da desesperada crise de emprego. As pessoas estão a perder as suas casas, estão a viver nos carros, duas e três famílias por casa, perdem o seu seguro de saúde e a dignidade humana, enquanto os ricaços que manejam o sistema de lucros procuram formas de reduzir ainda mais a força de trabalho.
Uma abordagem marxista da crise
Nós, marxistas, temos tanto uma análise da crise como uma estratégia de luta.
Do ponto de vista analítico, é evidente que o próprio capitalismo está num beco sem saída. O sistema não pode reiniciar de novo e já chegou a um ponto de crise histórico. Toda a tecnologia, todo o aumento da velocidade de produção de bens, a grande subida da produtividade – um outro nome para o enorme aumento da taxa de exploração da classe trabalhadora – trouxeram consigo as contradições do capitalismo para um novo nível.
Os trabalhadores devem ter empregos para viverem sob o sistema capitalista. Para que tenham empregos, a produção deve expandir-se constantemente. Para que a produção se expanda, os mercados devem expandir-se, sem o que os capitalistas não podem obter lucros na venda dos seus produtos. Mas os patrões estão a aumentar os seus lucros cortando os salários, deitindo permanentemente trabalhadores e diminuindo os horários de trabalho e a correspondente remuneração. Ao fazê-lo estão a destruir o poder de compra, de consumo dos trabalhadores.
A atual crise com sua "recuperação sem empregos", mostra que o capitalismo para a classe trabalhadora só reservou miséria, particularmente para os afro-americanos, os latinos, os imigrantes sem documentos, os jovens, as mulheres e todos os trabalhadores oprimidos que sofrem uma taxa maior de desemprego e recebem salários mais baixos. Os capitalistas estão a instalar uma tecnologia que há já três décadas destroi empregos até chegar a um momento crucial: O sistema é já tão produtivo que tem de reduzir a produção para continuar rentável.
Este é o ciclo vicioso do capitalismo que se agravará continuamente enquanto o sistema persistir.
Exigir um novo programa de emprego
Enquanto esta é uma análise marxista da situação, a resposta marxista de luta é contra os patrões que estão em greve de criação de empregos. Os trabalhadores devem lutar da forma que puderem para conseguir empregos. Devem lutar pela recriação dos postos de trabalho. Os trabalhadores demitidos devem lutar para voltar aos seus postos de trabalho entretanto extintos. Não há outra forma dos trabalhadores viverem em capitalismo. – a redução do direito ao trabalho reduz o direito á vida.
Os patrões têm US$ 1,8 bilhões de dólares em efetivo que podem usar para recontratar os demitidos se a isso forem forçados por uma mobilização massiva da classe trabalhadora e das suas comunidades em todo o país.
Mas para além dessas batalhas diretas com o patronato, o governo capitalista deve ser forçado a "dar a cada trabalhador que o necessite um salário digno e com direitos sociais. Na Depressão dos anos 30, a pressão de manifestações massivas obrigou a administração Roosevelt a lançar o programa da Administração de Progresso de Trabalho (WPA). Esse programa criou emprego para 8 milhões de trabalhadores.
A questão do emprego está a converter-se numa questão política utilizada pela direita para atacar os trabalhadores sem documentos e a administração Obama. Esta campanha tem o propósito de dividir a classe trabalhadora e envenenar o ambiente com racismo para impedir que os trabalhadores se unam contra o seu verdadeiro inimigo: os patrões e os banqueiros que brutalmente os lançam nas fileiras do desemprego e os despojam das suas casas.
O ataque da direita não exclui a exigência de um programa de empregos para todos. Mas o movimento dos trabalhadores, o movimento sindical e todas as organizações de massas devem unir-se à volta de um programa prático que tire os trilhões de dólares dos cofres dos bancos e das corporações, as centenas de bilhões de dólares dados ao Pentágono, os trilhões em baixas de impostos para os ricos, e usar esse dinheiro para empregar todos os trabalhadores.
A administração Obama fez muitas concessões e resgatou bancos e corporações, mas não é a responsável pela crise econômica. O responsável pela crise é o próprio capitalismo e a classe capitalista que procura sempre e apenas os seus lucros.
Este pequeno grupo de multimilionários é o dono e é quem controla a economia e a enorme riqueza criada pela classe trabalhadora, São eles quem controla o sistema global de produção de lucros. Em última instância, a economia deve ser retirada das suas mãos e entregue aos trabalhadores para que a produção possa ser planejada para solucionar as necessidades da maioria, e não para os lucros de uns poucos.
*Fred Goldstein é membro do secretariado do Comitê Central do Partido Worker’s World. Texto publicado no jornal Workers World (www.workers.org). Tradução de José Paulo Gascão para O Diário.Info.
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- Comentário feito por: Anónimo
- 22 Setembro 2010
É triste o artigo da Sra. Ministra do Trabalho, que tenho pena que nunca venha a conhecer o desemprego como empregada pública que é e com o cargo que ocupa, que concerteza não lhe foi atribuído por competência própria.