A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

domingo, setembro 12, 2010

Fidel: Estamos em um momento excepcional da história humana

América Latina

Vermelho - 10 de Setembro de 2010 - 18h12
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Recentes declarações do líder da revolução cubana, Fidel Castro, ao jornalista Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic, foram fartamente interpretadas pela mídia capitalista como uma renúncia ao socialismo. Em sua última Reflexões, que o Vermelho reproduz abaixo, Fidel põe os pingos no i, reitera suas convicções revolucionárias e diz que o sistema capitalista, gerador de crises a cada dia mais graves, é que já não serve nem aos EUA nem ao mundo.


Por Fidel Castro*

“O fato é que a minha resposta significava exatamente o oposto do que os dois jornalistas americanos interpretaram sobre o modelo cubano”, esclareceu.

Leia abaixo a íntegra do artigo.

Por esses dias se esgotam os prazos concedidos pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para que o Irã cumpra as exigências, ditadas pelos Estados Unidos, relacionadas ao programa nuclear e de enriquecimento de urânio para fins medicinais e a produção de energia elétrica.

É a única coisa que se pode provar. O temor de que o Irã busca a produção de armas nucleares é tão somente uma suposição. Em torno do delicado problema, Estados Unidos e seus aliados ocidentais, incluindo as potências nucleares com direito a veto no Conselho de Segurança, França e Reino Unido, apoiados pelas potências capitalistas mais ricas, tem promovido um número crescente de sanções contra o Irã, um país de religião muçulmana rico em petróleo. Hoje, as medidas aprovadas incluem a inspeção de seu comércio e duríssimas sanções econômicas que conduzem ao estrangulamento de sua economia.

Tenho acompanhado de perto os graves perigos desta situação, uma vez que a ocorrência de um surto de guerra neste momento poderá se desdobrar rapidamente num conflito nuclear de consequências legais [letais ?] para o resto do planeta.

Não buscava publicidade ou sensacionalismo ao sinalizar esses riscos. Simplesmente quis alertar a opinião pública mundial com a esperança de que, advertida de tão grave perigo, possa contribuir para evitá-lo.

Ao menos, consegui atrair a atenção para um problema que nem mesmo era mencionado pelos grandes veículos de comunicação e formação de opinião no mundo.

Isso me obriga a usar uma parcela de tempo dedicada ao lançamento deste livro, em cuja publicação trabalhamos com afinco. Eu não queria que [o lançamento] coincidisse com os dias 7 e 9. No primeiro, cumprem-se os 90 dias definidos pelo Conselho de Segurança para saber se o Irã cumpriu ou com a exigência de permitir a inspeção do seu comércio. Na outra data, conclui-se o período de três meses previsto na Resolução de 9 de junho. 
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Até agora, só temos a insólita declaração do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o japonês Yukiya Amano, um homem dos ianques. Este jogou toda a madeira ao fogo e, como Pôncio Pilatos, lavou as mãos.

Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irã comenta com merecido desprezo sua declaração. Um despacho noticioso da agência EFE assinala que sua afirmação de que "'os nossos amigos não devem se preocupar porque não acreditamos que a nossa região está em posição para novas aventuras militares" e "o Irã está plenamente preparado para responder a qualquer invasão militar foi uma referência óbvia ao líder cubano Fidel Castro", que alertou para a possibilidade de um ataque nuclear israelense sobre o Irã com o apoio dos Estados Unidos.".

As notícias sobre o tema se sucedem e se mesclam com outras de notável repercussão.

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O jornalista Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic, já conhecido por nosso público, publica partes de uma longa entrevista realizada comigo. 
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"Havia muitas coisas estranhas durante a minha recente estadia em Havana – conta –mas o mais inusitado foi o nível de autocrítica de Fidel Castro [...] Mas que Castro estava disposto a admitir que havia cometido um erro em um momento crucial da Crise dos Mísseis em Cuba parecia algo verdadeiramente surpreendente […] que se arrependeu de ter pedido Khruchev para lançar mísseis nucleares contra os Estados Unidos. É certo que abordou o tema e me fez a pergunta. Textualmente, como ele expõe na primeira parte de sua reportagem, suas palavras foram: "Eu perguntei: Em um momento, parecia lógico que você recomendaria aos soviéticos bombardear os Estados Unidos. O que você recomendou ainda parece lógico neste momento?” Fidel respondeu: Depois de ver o que vi, não valia a pena em absoluto."

Eu tinha explicado bem, e consta por escrita, o conteúdo da mensagem "... se os Estados Unidos invadirem Cuba, um país com armas nucleares russas, em tais circunstâncias não devemos deixar dar o primeiro golpe como fez com a URSS, quando no dia 22 de junho de 1941, o exército alemão e outras forças da Europa atacaram a URSS."

Pode-se notar que, neste breve alusão ao assunto, a segunda parte da distribuição ao público dessa notícia, que "se os EUA invadirem Cuba, um país com armas nucleares russas", neste caso eu recomendo impedir que o inimigo desfira o primeiro golpe. Há uma grande ironia na minha resposta "... Se eu soubesse o que sei agora ...", que é uma referência óbvia à traição cometida por um presidente da Rússia que, saturado de álcool, entregou aos Estados Unidos os segredos militares mais importantes do país.

Em outro ponto da conversa Goldberg diz: "Eu perguntei se ele acreditava que o modelo cubano foi algo que ainda valia a pena exportar." É evidente que a pergunta reproduzia implicitamente a teoria de que Cuba estava exportando a revolução. Eu respondi: "O modelo cubano não funciona mais, mesmo para nós." Não expressei nenhuma preocupação ou amargura. Eu me divirto agora ao ver como ele interpretou ao pé da letra, e consultou, pelo que disse, Julia Sweig, analista do CFR que o acompanhava, e desenvolveu a teoria que expus. Mas o fato é que a minha resposta significava exatamente o oposto do que os dois jornalistas americanos interpretaram sobre o modelo cubano.

Minha idéia, como todos sabem, é que o sistema capitalista hoje já não serve nem para os Estados Unidos nem para o mundo, pois conduz de crises a crises, que são cada vez mais graves, globais e reiteradas, das quais não se pode escape. Como tal sistema poderia servir para um país socialista como Cuba?

Muitos amigos árabes, ao saber que eu me entrevistei com Goldberg, se preocuparam e enviaram mensagens indicando-o como "o maior apoiador do sionismo".

De tudo isto, podemos deduzir a grande confusão que existe no mundo. Espero, portanto, que o que eu digo sobre o meu pensamento seja útil.

As ideias expressas por mim estão contidos em 333 Reflexões, vejam que casualidade, e as 26 últimas se referem exclusivamente aos problemas ambientais e ao perigo iminente de um conflito nuclear.

Agora eu devo adicionar um breve resumo.

Eu sempre condenei o Holocausto. Nas Reflexões sobre "O discurso de Obama no Cairo" e "A opinião de um Especialista", eu expus com toda clareza.

Nunca fui um inimigo do povo hebreu, que eu admiro pela capacidade de resistir durante dois mil anos à dispersão e à perseguição. Muitos dos mais brilhantes talentos humanos, como Karl Marx e Albert Einstein, eram judeus, porque é uma nação em que os mais inteligentes sobrevivem em virtude de uma lei natural. Em nosso país, e no mundo, foram perseguidos e caluniados. Porém, isto é só um fragmento das ideias que defendo.

Eles não foram os únicos perseguidos e caluniados por suas crenças. Os muçulmanos também foram atacados e perseguidos por bem mais de 12 séculos pelos cristãos europeus, por causa de suas crenças, assim como os primeiros cristãos na antiga Roma antes do cristianismo se tornar a religião oficial do império. A história deve ser aceita e lembrado como ela é, com suas realidades trágicas e guerras ferozes. Disto falei e, por isto, com toda razão explico os perigos que a humanidade corre hoje, que se tornaram o maior risco de suicídio para a nossa frágil espécie.

Se somarmos a tudo isto uma guerra com o Irã, ainda que de caráter convencional, mais valeria aos Estados Unidos apagar a luz e se despedir. Como poderiam resistir a uma guerra contra 1,5 bilhão de muçulmanos?

Defender a paz não significa, para um verdadeiro revolucionário, renunciar aos princípios de justiça, sem os quais a vida humana e a sociedade não teria sentido.

Eu ainda acho que Goldberg é um grande jornalista, capaz de expor com amenidade e maestia seus pontos de vista, que exigem debate. No inventa frases, las transfiere y las interpreta. Ele não inventa frases, apenas reproduz e interpreta.

Não mencionarei o conteúdo de muitos outros aspectos de nossas conversas. Respeitarei a confidencialidade das questões que abordamos, enquanto espero com interesse seu extenso artigo.

As atuais notícias que chegam em torrentes, de todas as partes, me obrigam a cumprimentar sua apresentação com estas palavras, cujos germes estão contidos no livro “A contraofensiva estratégica”, que acabo de apresentar.

Considero que todos os povos têm direito à paz e gozo da propriedade e dos recursos naturais do planeta. É uma vergonha o que está acontecendo com o povo em muitos países da África, onde vivem milhões de crianças, mulheres e homens, entre os seus habitantes esqueléticos, por falta de comida, água e remédios. São assombrosas as notícias que chegam do Oriente Médio, onde os palestinos são privados de suas terras, suas casas são demolidas por equipamentos monstruosos e homens, mulheres e crianças, bombardeadas com fósforo branco e outros meios de destruição, assim como dantescas cenas de famílias dizimadas por bombas lançadas sobre aldeias afegãs e paquistaneses, por aviões sem piloto, e os iraquianos que morrem depois de anos de guerra, e mais de um milhão de vidas sacrificadas nesta guerra imposta por um presidente dos Estados Unidos.

A última coisa que se poderia esperar era a notícia da expulsão dos ciganos franceses, vítimas da crueldade da extrema direita francesa, que eleva a sete mil as vítimas de outra espécie de holocausto racial. É fundamental o enérgico protesto dos franceses, aos quais, simultaneamente, os milionários limitam o direito à aposentadoria, reduzindo ao mesmo tempo as oportunidades de emprego.

Dos Estados Unidos chegam notícias de um pastor do estado da Flórida, que pretende queimar em sua própria igreja o livro sagrado do Alcorão. Mesmo os chefes ianques e europeus líderes militares em missão de guerra punitiva estremeceram com a notícia que eles consideraram arriscada para seus soldados.

Walter Martinez, o renomado jornalista do programa Dossier Venezolana de Televisión, foi surpreendido com tal loucura.

Ontem, quinta-feira, 9 da noite, chegaram notícias de que o pastor havia desistido. Seria necessário saber o que lhe disseram os agentes do FBI que o visitaram "para persuadi-lo." Foi um grande show de mídia, um caos, coisas próprias de um império que se afunda.

Agradeço a todos pela atenção.

*Líder da revolução cubana
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