Carlos Gaspar
O momento imperial
Respublica | 1 | 1 | em preparação | |
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"I dread our
own power and our own ambition. I dread being too much dreaded | … | It is
ridiculous to say we are not men, and that, as men, we shall never wish to
agrandize ourselves in some way or other | … | We may say that we shall not
abuse this astounding and hitherto unheard of power. But every other nation
will think we shall abuse it. It is impossible but that, sooner or later, this
state of things must produce a combination against us that may end in our
ruin."
Edmund Burke.
Agradeço a João Marques de Almeida, com
quem debati o tema imperial no II Congresso da Associação Portuguesa de
Ciências Politicas, o ter lido e criticado o meu texto, por cujos defeitos sou
o único responsável.
Os massacres terroristas de 11 de Setembro
de 2001 não mudaram nada na estrutura de distribuição do poder que define o
sistema internacional desde o fim da União Soviética e da Guerra Fria.
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A posição dos Estados Unidos como a única
grande potência internacional sobrevivente da competição bipolar não variou
antes e depois dos atentados da Al-Qaida e, nesse sentido, para a escola
realista na teoria das relações internacionais, não obstante o horror provocado
pela barbaridade do terrorismo pan-islâmico, os seus ataques contra Nova York e
Washington não deviam ter consequências estratégicas relevantes.
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Porém, a demonstração da vulnerabilidade
territorial dos Estados Unidos perante a ameaça recorrente do terrorismo
catastrófico, vincada pela evocação repetida de Pearl Harbour, forçou a
comunidade politica norte-americana a voltar interessar-se pela politica
internacional, alterou a hierarquia das prioridades na politica externa da
administração republicana e tornou possível e imperativa a revisão da
estratégia internacional da última das grandes potências. Desde o 11 de
Setembro, a democracia norte-americana está em guerra contra o terrorismo
internacional.
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Esse processo marcou também o regresso das
controvérsias politicas e ideológicas em torno da posição dos Estados Unidos no
sistema internacional, a sua visão sobre o sentido da história e o destino da
primeira potência revolucionária post-colonial. Esse grande debate, que podia
ter sido travado logo no fim da guerra fria, é comparável aos que ocorreram na
Grande Guerra, na II Guerra mundial e nos primeiros anos da Guerra fria, todos
inseparáveis de viragens decisivas na estratégia norte-americana e
determinantes para a feitura dos modelos inovadores de ordenamento
internacional - os modelos complexos de institucionalização multilateral ou de
ordenamento constitucional de uma sociedade internacional, que são a marca
especifica dos Estados Unidos na politica internacional desde que o presidente
Woodrow Wilson decidiu pôr fim à tradição isolacionista para instaurar a paz
democrática universal - "to make the world safe for democracy"
- e começar a reprodução da ordem liberal à escala mundial.
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O grande debate do post-11 de Setembro
pode ser delimitado por três conceitos, todos difíceis de definir e, por regra,
impropriamente usados. O mais original dos três, o conceito de unipolaridade,
procura no léxico do realismo estruturalista a fórmula estratégica para
classificar uma situação imprevista de extremo desequilíbrio, sem precedentes
na história moderna, em que a preponderância dos Estados Unidos os qualifica
como uma grande potência internacional singular. Se essa anomalia não for mais
do que um momento breve de intervalo, não obriga a uma revisão da teoria das
relações internacionais, mas a sua duração implica, paradoxalmente, o fim do
sistema das grandes potências, por definição colectivo ou, em todo o caso,
plural, e pode até antecipar a transformação da natureza das unidades
constituivas do sistema internacional.
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O mais opaco, o conceito de hegemonia,
parte do sentido etimológico de comando militar para hesitar entre, por um
lado, uma metáfora convencional da preponderância internacional de uma grande
potência e, por outro lado, uma metafisica dos costumes, ou uma tendência para
a homogeneização total, onde o desaparecimento das fronteiras entre as
dimensões internas e as dimensões externas do sistema internacional pode pôr em
causa as próprias condições da sua existência, como um conjunto de entidades
autónomas soberanas e separadas que se reconhecem como tal.
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O mais antigo, o conceito de império e,
mais recentemente, o conceito paradoxal de república imperial, tem um
significado variável, consoante as definições, que vão desde a referência
trivial às extensas responsabilidades internacionais dos Estados Unidos, como deve
ser próprio de qualquer grande potência conservadora, até à representação
histórica de um imperialismo democrático e aos limites da unificação do sistema
internacional, onde se regressa aos mitos da monarquia universal.
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Os exercícios formais são os
exercícios do poder : se se encontrar uma chave para o enigma da relação entre
unipolaridade, hegemonia e império, talvez se possa compreender se a hegemonia
unipolar corresponde a um momento imperial ou a uma mudança radical na ordem
internacional.
A virtude unipolar
O conceito de unipolaridade é uma
originalidade na escola estruturalista da teoria das relações internacionais.
Com efeito, o enunciado canónico de Kenneth Waltz, que considera o número de
pólos de poder essencial para definir a estrutura do sistema internacional, não
admite a possibilidade da sua redução a um único pólo, formado por uma única
grande potência | 1 |. Para os neo-realistas waltzianos, como para uma boa
parte dos realistas tout-court, a anarquia internacional é
oligopolistica, um sistema de grandes potências onde existe mais do que um
centro de poder | 2 |.
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A negação da unipolaridade parte,
simultaneamente, de três pressupostos. Primeiro, resulta da constatação
empírica da sua longa ausência na história moderna, uma vez que, desde a
Renascença, nenhuma grande potência dominou, isoladamente, a politica
internacional. Depois, decorre de uma representação conservadora da estrutura
do sistema internacional, onde a multipolaridade é uma constante desde o fim do
império romano, interrompida uma só vez pela divisão bipolar da Guerra fria,
cujo fim anuncia o regresso irresistível à continuidade multipolar | 3 |.
Enfim, assume o principio do equilíbrio como o mecanismo essencial da
estabilidade do sistema internacional e, se este tem "horror ao poder
desequilibrado", tal como a natureza ao vazio | 4 |, a preponderância
solitária de uma grande potência não passa de uma ilusão e, no máximo, será uma
fase de transição, à espera de uma coligação contrária das outras potências
para restaurar a balança da normalidade. Por outras palavras, a unipolaridade
pode existir como um tempo ou um modo de transição, ou como um "momento
unipolar" | 5 |, mas não há lugar na regra estruturalista para a excepção
unipolar | 6 |.
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Todavia, um certo número de neo-realistas
| 7 | contrapõem ao dogma waltziano a persistência da excepção norte-americana.
Se a teoria das relações internacionais é praxeológica, deve submeter-se a essa
realidade empirica, cuja saliência parece indiscutível. Nesse quadro, o
conceito de unipolaridade define uma estrutura do sistema internacional em que
existe uma única grande potência que se constitui como um pólo na distribuição
internacional do poder e cuja preponderância não pode ser contrabalançada por
nenhuma outra potência ou coligação | 8 |.
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Esse estatuto único e sem precedentes
pertence aos Estados Unidos, que não só passaram a ser - por desistência da
União Soviética, não pelas suas conquistas ou por uma forma clássica de
expansão imperial norte-americana - a única grande potência internacional desde
o fim da competição bipolar. De facto, os Estados Unidos detêm uma vantagem
considerável sobre todas as outras potências nucleares de escala continental em
todas as outras dimensões relevantes - estratégicas e militares, económicas e
cientificas - tão impressionante que forçou um ministro francês dos Negócios
Estrangeiros a inventar a categoria de hiperpotência para uso exclusivo da
hegemonia norte-americana | 9 |.
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De resto, essa assimetria sem precedentes
corresponde a uma tendência constante do sistema internacional nos últimos cem
anos, em que uma parte cada vez maior do poder internacional está nas mãos de
um número cada vez mais pequeno de grandes potências | 10 | : se a Grande Guerra ainda opôs uma quantidade de potências equivalentes, na II Guerra Mundial já só existia uma relativa paridade entre a Alemanha, a União Soviética
e os Estados Unidos, a vitória dos dois últimos e o facto nuclear consolidou a
sua hegemonia bipolar, e o fim da Guerra Fria levou essa lógica de concentração
até ao limite.
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A superioridade norte-americana nas
principais dimensões que definem o estatuto de potência não é polémica no
debate estratégico, com ressalva dos defensores da importância da União
Europeia como potência económica | 11 |. Todavia, a questão fundamental está na
necessidade de mostrar que essa preponderância não se resume a uma passagem
conjuntural. Os defensores da tese da unipolaridade reconhecem a pertinência
das criticas que representam a unipolaridade como uma forma de desequilíbrio,
instável e precária, e os seus argumentos mais interessantes procuram,
justamente, demonstrar as condições de durabilidade da excepção norte-americana
e da ausência de uma coligação contra-hegemónica e as virtudes da unipolaridade
como um modelo de estabilidade internacional.
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Desde logo, a posição internacional dos
Estados Unidos tem uma certa qualidade histórica, pois o significado da sua
lenta emergência como a principal potência internacional só se revela quando
desaparecem todos os impérios da velha Europa | 12 |. A União Soviética, como
um totalitarismo falhado, não deixou de ser também o último desses antigos
impérios e, nesse sentido, há uma certa unidade no ciclo de guerras do século
XX. O fim desse processo dá lugar, senão a um mundo novo, pelo menos a uma nova
formação histórica, na conclusão de uma sequência longa iniciada pela revolução
fundadora da independência da União Americana. Os Estados Unidos são "the
first new world" também no sentido em que estão no principio e no fim
dessa mutação: o antigo regime internacional começou a desfazer-se com a
secessão das colónias americanas e os Estados Unidos acabam por ocupar a
primeira posição entre as potências num sistema internacional onde já não
existem os antigos impérios europeus.
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Por outro lado, a preponderância
norte-americana não resulta só da concentração das assimetrias, mas também da
geografia da unipolaridade. A identificação do lugar dos Estados Unidos como
uma ilha continental, protegida pelos oceanos dos pântanos da história e da
tirania, sinónimos da velha Europa, foi decisiva na construção da teoria
isolacionista norte-americana e, neste momento, aparece, paradoxalmente, como
fundamento da sua preponderância internacional. Na versão canónica, como os
Estados Unidos cedo deixaram de ter qualquer rival no seu hemisfério, a
fronteira marítima liberta a América dos dilemas de segurança que dominam a
existência das potências na Europa ou na Ásia, e faz com que os
norte-americanos não sejam obrigados a intervir, directa e imediatamente, nas
guerras sucessivas das outras margens. A versão aggiornataacrescenta
que a distância e o mar atenuam, substancialmente, as percepções externas da
ameaça da hegemonia norte-americana | 13 |. Embora a massa oceânica seja cada
vez menos um obstáculo à projecção de poder dos Estados Unidos, para as outras
potências, concentradas na Europa e na Ásia, essa ameaça torna-se
comparativamente remota perante outras mais próximas, que resultam da
competição local e regional. A conjunção desses factores deve poder assegurar
uma duração razoável ao predomínio unipolar : por um lado, é muito difícil
contrabalançar a grande potência norte-americana, por outro lado, são escassos
os incentivos para as outras potências, dispersas e rivais entre si, se mobilizarem
para formar uma coligação anti-hegemónica se os Estados Unidos não
representarem, ou não forem percepcionados como a principal ameaça à sua
posição de poder e ao seu estatuto regional ou internacional.
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Há duas condições adicionais para
consolidar o status quo unipolar, além da superioridade
estratégica e da geografia da unipolaridade, dos efeitos moderadores da
distância marítima e das percepções dos Estados Unidos como uma grande potência
benigna.
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A primeira condição, e a mais importante,
é a tendência de regionalização e a emergência paralela de complexos regionais
de segurança, nomeadamente na Europa, na Ásia Oriental e no Médio Oriente, pois
esse modo de divisão do sistema internacional representa uma vantagem crucial
para os Estados Unidos | 14 | e para a sua versão da estratégia de equilibração
externa | offshore balancing | da potência marítima | 15 |.
Por um lado, as outras potências têm de se concentrar em afirmar a sua posição
de poder relativa dentro do contexto dos equilíbrios estratégicos regionais na
Europa, na Ásia Oriental, no Médio Oriente, ou mesmo inter-regionais, no
perímetro euro-asiático. Por outro lado, a competição local, regional e
inter-regional entre as outras potências cria outras tantas oportunidades para
os Estados Unidos se constituírem como o garante externo e distante de um
modelo de equilíbrios regional, ou para definirem as estratégias de aliança
necessárias para conter qualquer grande potência emergente que possa ser um
desafio à hegemonia unipolar, ou para perpetuarem estados de desequilíbrio onde
esse método pode estabilizar a sua capacidade de sobre-determinar a balança
regional.
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Os Estados Unidos acumularam uma
experiência considerável em todos esses registos. A Aliança Atlântica é uma
forma inédita de institucionalizar a sua posição como garante da paz separada
entre as potências europeias - uma garantia importante enquanto as teses sobre
a paz democrática e o espírito kantiano não demonstrarem a sua eficácia. A
garantia nuclear norte-americana em que assenta a segurança estratégica do
Japão assegura o equilíbrio bipolar regional com a China e limita os riscos de
escalada entre as duas principais potências asiáticas. No Médio Oriente, a
instabilidade estável serve tanto para preservar a posição única dos Estados
Unidos, simultaneamente aliado de Israel e da maior parte dos Estados
muçulmanos, como para neutralizar os sucessivos candidatos à hegemonia regional
e à unificação pan-árabe ou pan-islâmica, desde o Egipto ao Iraque.
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Nesse sentido, a unipolaridade é mais
estável num sistema internacional dividido em complexos regionais de segurança,
onde a necessidade de manter a balança do poder regional tem precedência sobre
o ressentimento sistémico contra a grande potência internacional.
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A segunda condição depende da qualidade
das estratégias de aliança norte-americanas. A competição bipolar tinha a
virtude da simplicidade: todas as questões se podiam reduzir à lógica da
oposição entre os Estados Unidos e a União Soviética. O modelo unipolar, onde
se têm de enquadrar as variantes dos sistemas de equilíbrio dos complexos
regionais de segurança, é muito mais complicado e pode criar, rapidamente,
conflitos entre as prioridades e os alinhamentos estratégicos norte-americanos
| 16 |.
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Os casos mais evidentes são a expansão da
Aliança Atlântica e a garantia de defesa da Formosa. No primeiro, a necessidade
de consolidar a comunidade transatlântica e não deixar a União Europeia definir
sozinha as fronteiras da Europa no post-guerra fria provocou crises sucessivas
na relação entre os Estados Unidos e a Rússia, quando era igualmente crucial,
nos primeiros anos da transição, ultrapassar, senão inverter, a desconfiança
profunda entre os adversários da Guerra fria. No segundo, os compromissos com a
República da China, ainda mais importantes desde que Taiwan se transformou na
primeira democracia pluralista chinesa, representam um perturbador permanente
na relação entre os Estados Unidos e a República Popular da China, o único
competidor estratégico continental da grande potência marítima. Os próximos
casos não são menos difíceis. Se e quando o Iraque passar a ser o principal
aliado regional dos Estados Unidos, e ainda mais se a ocupação anglo-americana
conseguir impor aos iraquianos um regime democrático, a posição de Israel, o
aliado tradicional, torna-se insustentável e pode provocar uma inversão das
alianças no Médio Oriente. No outro extremo do "eixo do mal", a
necessidade de concertar com a China uma estratégia para desarmar a Coreia do
Norte - uma potência nuclear renegada particularmente perigosa - pode ter como
efeito criar uma dinâmica de unificação peninsular cuja condição seja a
retirada das forças militares norte-americanas, um objectivo permanente da
principal potência asiática, que pode substituir os Estados Unidos como o
garante da integridade coreana.
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A complexidade das alianças no sistema
unipolar, que seria um desafio para o próprio Bismarck, tem como alternativa
clássica o modelo de Castlereagh, que procurou consolidar a preeminência da
Grã-Bretanha pela concertação entre as grandes potências.
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A diplomacia das grandes potências,
ausente da politica internacional durante o século XX, regressou no fim da
Guerra fria e foi decisiva na unificação da Alemanha, na guerra do Golfo e nas
crises sucessivas de decomposição da União Soviética, bem como durante a década
de transição, designadamente nas guerras balcânicas, que puseram duramente à
prova as relações entre os Estados Unidos, a Rússia e a Alemanha. Depois do 11
de Setembro, a campanha contra o terrorismo internacional não só reclama o
empenho directo de todas as grandes potências, como revelou a existência de um
forte interesse de segurança comum entre os Estados Unidos, a Rússia, a China e
a Índia.
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A unipolaridade não representa uma
estrutura hierárquica, ou um sistema imperial, onde existe uma única grande
potência: a existência de um único pólo de poder resulta da preponderância
excepcional de uma grande potência, não exclui a existência de outras potências
| 17 |. Nesse quadro, a unipolaridade multi-regional é mais estável se puder
assentar um quadro, ou mesmo um regime de concertação entre a grande potência
internacional e as outras grandes potências, que são as principais potências
regionais.
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Naturalmente, os defensores da tese da
unipolaridade como um regime estável e virtuoso presumem que os Estados Unidos
são o seu garante indispensável e uma potência conservadora. A permanência do
estatuto unipolar depende da capacidade norte-americana para reproduzir o status
quo internacional que estabeleceu a preponderância da última grande
potência internacional. Porém, há sinais fortes de que os Estados Unidos podem
ceder a uma tentação revisionista.
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O impulso da resposta ao 11 de Setembro
revelou não só a forte determinação necessária para restaurar o prestígio
internacional e a segurança dos Estados Unidos, postos em causa pelo terrorismo
pan-islâmico, mas também uma vontade de mudar o sistema internacional. Ainda é
demasiado cedo para se poder dizer se essa vontade está circunscrita a um
circulo restrito de decisores, marcados pela ideologia do internacionalismo
democrático, ou se é mais profunda e já está inscrita numa estratégia de
segurança nacional e, portanto, deve ser tomada como uma orientação durável.
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No último caso, a percepção de que os
Estados Unidos se tornaram uma potência revisionista e têm uma estratégia de
mudança revolucionária dos equilíbrios internacionais e regionais, bem como a
determinação de recorrer ao emprego da força para impor essa linha, altera os
pressupostos da tese da estabilidade unipolar, assente no domínio tranquilo de
uma grande potência benevolente, relutante em intervir nos conflitos que não
constituam uma ameaça séria aos seus interesses estratégicos.
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Mas essa alteração radical pode ter
consequências opostas, ou um efeito debandwagoning, em que a estratégia
de mudança revolucionária dos Estados Unidos arrasta consigo um número
importante de Estados e fortalece a sua preeminência unipolar, ou um efeito
conservador de restauração da balança do poder, onde uma maioria das potências
relevantes, perante a ameaça à sobrevivência dos seus regimes políticos ou ao
seu estatuto internacional, tenta sobrepor-se ao revisionismo norte-americano.
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As duas possibilidades, de resto, apareceram
no processo que culminou com a invasão do Iraque. A tendência para
contrabalançar a posição dos Estados Unidos exprimiu-se, em Março de 2003,
quando a Alemanha, a França, a Rússia e a China se recusaram a legitimar
formalmente, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a decisão
norte-americana de lançar uma guerra preventiva contra o Iraque. Mas a oposição
dos quatro era variável e os Estados Unidos conseguiram desfazer o alinhamento,
seguindo a linha anunciada por Condoleezza Rice - "punish France,
forget Germany, forgive Russia" - e, seis meses depois, a Rússia já
tinha mudado de campo.
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Uma estratégia revisionista pode
consolidar, conjunturalmente, o estatuto unipolar da República norte-americana
mas as virtudes da unipolaridade só podem confirmar-se se os Estados Unidos
permanecerem como uma potência conservadora e se empenharem na defesa da
estabilidade.
A hegemonia constitucional
O conceito de hegemonia é mais fluido e
indeterminado do que o mapa ou a contabilidade dos pólos do sistema
internacional, muito embora tenha afinidades óbvias com o conceito de
unipolaridade.
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No sentido estrito, clássico e
etimológico, a hegemonia significa o comando da força militar. Nesse caso, os
Estados Unidos são, sem dúvida, a potência hegemónica, como o demonstraram
depois de Pearl Harbour e até ao fim da guerra fria e, uma vez mais, na
campanha anti-terrorista e na invasão do Iraque, aparentemente necessárias para
defender a reputação de invencibilidade das armas americanas. Dito isto, essa
hegemonia militar, evidente nas estatísticas e no campo de batalha, tem uma
tradução estratégica limitada, sobretudo pela presença de um certo número de
outras potências nucleares, entre as quais pelo menos uma, a Rússia, detém
ainda uma capacidade material de dissuasão estratégica nesse domínio crucial.
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No sentido lato, moderno e dialéctico, a
teoria da hegemonia marca um encontro entre as escolas neo-marxista, realista e
liberal-institucionalista das relações internacionais. Os marxistas gramscianos
e os realistas convergem na procura dos modos estáveis da metamorfose da força
em autoridade politica e reúnem-se ambos aos institucionalistas liberais para
definir os modelos de ordenamento que possam transformar as formas primitivas
de competição entre os Estados numa anarquia mais temperada e dar lugar a uma
sociedade internacional.
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Para os marxistas modernos, a hegemonia é
uma forma estável e duradoura de dominação, que depende da capacidade das
forças dominantes para evitar o exercício da violência pela prática do
compromisso, cujo pressuposto, na fórmula de Antonio Gramsci, é a
"passagem da estrutura para a esfera das super-estruturas", de modo a
garantir o controle dos aparelhos ideológicos que moldam os valores, as normas
e os comportamentos numa sociedade moderna ou no sistema internacional | 18 |.
Por outras palavras, num léxico mais weberiano, a hegemonia é uma forma de
poder cuja legitimidade é reconhecida, ou um sistema político onde, na frase de
Rousseau, a força se transforma em direito e a obediência se torna um dever.
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A teoria realista da hegemonia, segundo
Robert Gilpin | 19 |, descreve o ciclo de ascensão e declínio de uma grande
potência que, na sequência da vitória numa grande guerra, tem a oportunidade de
construir, à sua imagem e semelhança, um modelo de ordenamento internacional
para consolidar a sua posição no cimo da hierarquia internacional. A
estabilidade desse estatuto depende, sobretudo, do poder da potência
hegemónica, mas pode ser consolidada pelas qualidades politicas do seu modelo
de ordenamento, na medida em que este seja reconhecido como legitimo. A
Grã-Bretanha e os Estados Unidos são dois exemplos de potências vitoriosas que
impuseram uma ordem estável e duradoura, assente no direito e em instituições
multilaterais, que restringem o seu próprio poder para prolongar o ciclo
hegemónico.
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No caso norte-americano, esse ciclo foi
estranhamente dado por findo nas vésperas da sua vitória decisiva - a terceira
em menos de cem anos -, quando a União Soviética desistiu de ser um império |
20 |. Passada a surpresa, os representantes da escola liberal-institucionalista
decidiram que o fim da Guerra Fria demonstrava a vitória definitiva do modelo
de ordenamento edificado pelos Estados Unidos entre o fim da II Guerra mundial
e o principio da guerra fria.
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O "sistema americano", na versão
de John Ikenberry, resulta de dois exercícios paralelos de ordenamento
internacional: por um lado, uma estratégia clássica de contenção da União
Soviética, assente numa grande coligação anticomunista e, por outro lado, uma
estratégia inovadora de integração politica e económica para organizar as
relações entre as democracias ocidentais. Desse modo, a ordem dominante é dual
e as suas duas partes assentam em princípios opostos | 21 |. A parte realista
prolonga a Guerra fria e garante a segurança estratégica dos aliados europeus e
asiáticos dos Estados Unidos, bem como o seu acesso às universidades, às
tecnologias e aos mercados norte-americanos, em contrapartida os parceiros
prestam apoio diplomático, politico e económico à potência hegemónica. A parte
liberal prolonga Bretton Woods e o Plano Marshall e procura conter as
incertezas do poder dos Estados Unidos: os europeus e os asiáticos aceitam a
hegemonia norte-americana e o seu sistema estratégico, político e económico, em
contrapartida os Estados Unidos aceitam uma vinculação aos seus aliados, no
quadro de uma coligação institucionalizada onde se integram o conjunto das democracias
pluralistas.
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O modelo liberal pode responder à
necessidade de conter o poder da principal potência internacional por duas
ordens de razões. Por um lado, os Estados Unidos são um regime democrático e as
assimetrias de poder parecem ser menos ameaçadoras e desestabilizadoras nas
relações entre democracias: a abertura politica, a previsibilidade do processo
de decisão e a divisão de poderes no sistema politico norte-americano atenuam
os efeitos da incerteza acerca do comportamento da grande potência e asseguram
aos Estados menores uma certa capacidade de intervir no processo de tomada de
decisões norte-americano. Por outro lado, a hegemonia norte-americana está
inscrita numa arquitectura complexa de instituições multilaterais - inventadas
pela diplomacia norte-americana e que reproduzem o modelo politico dos Estados
Unidos -, cujas regras impõem limites consideráveis ao exercício da soberania
da principal potência e integrar o conjunto dos Estados na ordem liberal : a
Aliança Atlântica é o melhor exemplo da criatividade do "sistema
americano", que transformou uma aliança num quadro institucional
vinculativo onde se formou a comunidade politica das democracias ocidentais.
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A combinação entre a preponderância
unipolar de uma grande potência democrática e o seu modelo internacional de
ordenamento liberal fazem do "sistema americano" o caso exemplar da
hegemonia gramsciana : os Estados Unidos não têm rival no campo da força
estratégica militar, definem das regras e das instituições legítimas do sistema
internacional e não há nenhuma alternativa relevante à ordem liberal. Em termos
marxistas, é um paradigma da dominação orgânica estável, onde o controle dos
aparelhos ideológicos produtores de valores e normas representa um instrumento
decisivo de homogeneização politica, económica e social, essencial para a
reprodução sistémica.
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Os liberais-institucionalistas seguem por
esse caminho, quando completam a sua classificação dos tipos-ideais de
ordenamento internacional com o modelo constitucional. Trata-se de uma ordem
post-hegemónica, cuja estabilidade deixa de depender da demonstração da força
do poder, ou do exercício militar da supremacia estratégica da potência
dominante e resulta da natureza vinculativa das regras, das normas e das
instituições que subordinam o conjunto dos Estados, replicando no sistema
internacional o modelo constitucional dos sistemas políticos internos. A ordem
liberal do "sistema americano", que sobreviveu ao fim da guerra fria,
contra todas as previsões da escola realista, prefigura essa tendência para uma
forma de ordenamento constitucional do sistema internacional | 22 |.
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Essa ordem internacional emergente, uma
forma possível de hegemonia constitucional, entrou em crise no dia 11 de
Setembro.
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Desde logo, à surpresa do ataque
terrorista correspondeu a surpresa da resposta norte-americana : uma
administração republicana conservadora, notoriamente oposta ao intervencionismo
internacionalista dos seus predecessores democratas liberais, mudou de
estratégia, de um dia para o outro, e revelou-se disposta a travar uma guerra,
por todos os meios e em todos os terrenos, contra o terrorismo internacional,
com um número muito restrito de aliados, escolhidos por si, caso a caso, para
cada missão | 23 |. Quando as Nações Unidas proclamaram, no dia 12 de Setembro,
o direito de legitima defesa dos Estados Unidos para responder à agressão
terrorista, os norte-americanos disseram que esse direito lhes pertencia e não
precisava de ser reconhecido. Quando a Aliança Atlântica invocou solenemente,
pela primeira vez na sua história, o mecanismo legal da defesa colectiva para
se colocar ao lado dos Estados Unidos na luta contra a rede terrorista da Al
Qaeda, as autoridades norte-americanas responderam que não precisavam da
Organização do Tratado do Atlântico Norte. Quando a comunidade internacional se
declarou unanimemente pronta a apoiar a luta contra o terrorismo - embora sem
conseguir chegar a uma definição de terrorismo … - os Estados Unidos passaram
por cima desse coro e não hesitaram em dividir os seus aliados ao decidir uma
guerra preventiva contra o Iraque. Os princípios de previsibilidade, as regras
de consulta, o direito internacional e o multilateralismo ficaram todos
suspensos a beneficio de inventários futuros.
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Há três hipóteses que se devem colocar
para tentar compreender a natureza da crise do modelo liberal. Uma, saber se se
trata de um intervalo, imposto pela guerra contra o terrorismo, um estado de
necessidade em que prevalece um regime de excepção. Outra, se se trata de uma
estratégia de resposta a uma oportunidade irresistível de reconstituir o
sistema internacional para o adaptar ao regime da hegemonia unipolar. A última,
se se trata de uma mudança mais profunda, cujas raízes se devem procurar na
evolução interna da sociedade e do regime político norte-americano.
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A primeira hipótese não pode ser excluída.
O 11 de Setembro exige uma resposta decisiva para restaurar, sem margem de
dúvida, a reputação e o prestígio internacional dos Estados Unidos, sem os
quais a potência hegemónica não tem as condições para assegurar a estabilidade
o sistema internacional. Nesse sentido, a rudeza da campanha anti-terrorista, a
intervenção armada para destituir a teocracia afegã e a tirania iraquiana, ou a
violação continuada da legalidade no caso dos presos de Guantanamo, podem ser
interpretadas como meios de dissuasão indispensáveis para recuperar a segurança
interna e a credibilidade externa dos Estados Unidos, postas em causa quando o
terrorismo pan-islâmico atingiu as Twin Towers e o Pentágono. Por outras
palavras, se o 11 de Setembro se repetir, é provável que a ordem liberal não
sobreviva no sistema internacional, e se se impedir a sua repetição, o regresso
ao status quo ante não é impossível. No entanto, o regresso à
politica da força provoca uma crise de legitimidade do modelo liberal, como
resulta da divisão entre as democracias ocidentais e da grande mobilização
contra a guerra iraquiana num número importante de países europeus, cujos
efeitos podem persistir e prejudicar a credibilidade da hegemonia benigna dos Estados
Unidos | 24 |.
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A segunda hipótese parece a mais provável
| 25 |. Os institucionalistas liberais insistem no sucesso da permanência da
ordem da guerra fria depois do fim da competição bipolar, que atribuem às
qualidades excepcionais do "sistema americano". Essa narrativa,
porém, tem o defeito de não ter defeitos e pressupõe uma relação demasiado
linear entre a invenção do modelo liberal no fim da II Guerra mundial e a
vitória dos Estados Unidos contra a União Soviética. A versão liberal não reconhece
que as condições excepcionais do fim da guerra fria - um caso inédito de
mudança rápida e pacifica dos equilíbrios internacionais | 26 | - também podem
explicar a continuidade do modelo internacional. Primeiro, o método do fim da
guerra fria assentou na concertação entre os Estados Unidos e a União
Soviética, indispensável para impedir uma ruptura violenta, equivalente ao fim
de uma guerra convencional, mas sem a qual era difícil começar a edificar ex
novo outra ordem internacional. Segundo, as regras e as instituições
existentes serviram para garantir os acordos do fim da guerra fria, incluindo a
unificação da Alemanha. Terceiro, o facto de a primeira guerra contra o Iraque
ter sido travada sob a bandeira das Nações Unidas e sem oposição de nenhum dos
membros permanentes do Conselho de Segurança, também jogou a favor da
continuidade. Os Estados Unidos não tiveram nenhuma oportunidade para rever o
modelo de ordenamento internacional no fim da guerra fria.
.
Dito isto, a continuidade nem sempre foi
exemplar durante a década de transição do post-guerra fria. A concertação entre
as grandes potências, ausente do período da guerra fria, tornou-se corrente,
por exemplo nos acordos para o desarmamento nuclear da Ucrânia ou nas guerras
balcânicas, em quadros ad hoc, à margem das instituições
multilaterais. A intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico
Norte contra a Sérvia e no Kosovo, em resposta a uma emergência humanitária,
veio pôr em causa o principio da soberania interna dos Estados - um principio constitucional
da ordem liberal. Essa intervenção foi uma guerra preventiva, sem autorização
expressa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que a ratificou post
hoc. Em 1994, a administração democrata avaliou-se a necessidade de uma
guerra preventiva para desarmar a Coreia do Norte. Os Estados Unidos, nesses
bons tempos, só aceitavam o principio da subordinação às regras do direito
internacional quando tal coincidia com o interesse nacional norte-americano : a
divisa de Madeleine Albright era "multilateral when we can, unilateral
when we must". Nesses vários sentidos, os sinais de mudança
acumularam-se e prepararam a viragem do post-11 de Setembro | 27 |.
.
Não obstante, o 11 de Setembro criou as
condições internas e externas indispensáveis e irrepetíveis para a revisão
norte-americana do seu modelo de ordenamento. Essa estratégia de mudança,
todavia, não é obrigatoriamente uma estratégia revolucionária e imperialista
para destruir as Nações Unidas, desfazer a Aliança Atlântica e impor pela força
aos incréus a democracia pluralista de tipo ocidental. Pelo contrário, há
muitas coisas no modelo internacional que são indefensáveis e devem ser
emendadas, a começar pela composição dos membros permanentes do Conselho de
Segurança, um arcaísmo ridículo. A defesa intransigente da ordem liberal contra
os malefícios da administração republicana é um programa que só faz sentido
para os tenentes mais dogmáticos do "sistema americano", embora
tenham fundamento os argumentos que apontam para uma tendência revisionista e os
seus perigos: não é possível governar o sistema internacional sem alianças
estáveis, não há boas alternativas à institucionalização das relações entre as
grandes potências, não é sensato estabelecer a guerra preventiva como uma
doutrina de intervenção e não tem qualquer credibilidade uma estratégia de
destruição das tiranias | 28 |.
.
A terceira hipótese é a mais complicada.
Todos podem reconhecer que a tragédia do 11 de Setembro provocou um sobressalto
cívico admirável, onde a comunidade politica norte-americana mostrou as suas
melhores qualidades de confiança, coragem e solidariedade. A unidade nacional
na luta anti-terrorista e o apoio sustentado às invasões do Afeganistão e do
Iraque, não obstante um número crescente de baixas norte-americanas, são sinais
de uma forte coesão interna. A administração republicana continua a ter do seu
lado a maioria da opinião na campanha contra o terrorismo internacional, sem
que isso diminua em nada o pluralismo e a competição democrática nos Estados
Unidos, como mostram as sondagens sobre a próxima eleição presidencial, que
anunciam uma luta cerrada entre os candidatos democrata e republicano.
.
No entanto, persiste uma dúvida. No
princípio do "momento unipolar", o principal obstáculo a uma
estratégia mais intervencionista dos Estados Unidos foi o desinteresse da
opinião pública. Uma vez ganha a guerra fria, a politica internacional passou
para segundo plano nas prioridades da democracia norte-americana. Depois do 11
de Setembro, a situação voltou a mudar, mas num contexto ambíguo: na Guerra
fria, os Estados Unidos lutavam pela liberdade, em conjunto com todas as
democracias, contra uma grande potência totalitária detestável, mas agora os
norte-americanos podem perguntar, perante a agressão brutal do terrorismo
transnacional, por que razão não gostam de nós ? | 29 |.
.
Se a resposta se traduzir num
ensimesmamento, num recuo interior, isso pode implicar, a prazo, um
neo-isolacionismo, cujas consequências não serão menos radicais para a
sobrevivência da hegemonia constitucional e da ordem liberal do que as
tentações imperiais.
A ficção imperial
A questão imperial é a mais interessante.
Não havia um debate sobre este tema nos Estados Unidos, nem na Europa, desde a
guerra do Vietname e, tal como nos anos sessenta, há duas linhas principais
nesse debate. Por um lado, a indignação da esquerda e dos liberais contra o
"império da força" e a ameaça de destruição do próprio modelo
institucional de ordenamento liberal criado pelos Estados Unidos entre o fim da
II Guerra mundial e a Guerra fria | 30 |. Por outro lado, o entusiasmo da
direita e dos conservadores perante a possibilidade da República
norte-americana deixar de negar a sua natureza, ou a sua vocação original e
profunda, e assumir urbi et orbi as virtudes do
"imperialismo democrático" | 31 |. Raramente houve tanta unidade, só
levemente perturbada pela variação original de uma terceira força que explica
as estratégias imperiais dos Estados Unidos como uma irracionalidade típica do
declínio de uma grande potência | 32 |.
.
.
De facto, os Estados Unidos não são um
império tout court, não por serem excepcionais mas por não serem um
império. Desde logo, a sua preponderância resulta mais da fraqueza dos outros
do que da sua força - o regime comunista russo não se suicidou por causa da
expansão militar ou de uma invasão norte-americana, se as potências europeias
tivessem interpretado a sua vitória na guerra fria como uma ameaça não deviam
ter reduzido os seus orçamentos de defesa e acumulado atrasos irrecuperáveis
nas tecnologias militares. Por outro lado, a principal potência internacional
não domina os outros Estados, a começar pelos seus aliados e incluindo os mais
dependentes, como o demonstra a recusa da Turquia em participar ao lado dos
norte-americanos na guerra iraquiana. Por último, e sobretudo, a vontade
imperial da comunidade politica norte-americana continua por demonstrar e, para
se impor, teria de provocar uma mudança profunda do regime e da cultura
democrática dos Estados Unidos.
.
Há, porém, uma hipótese alternativa sobre
a ressurgência imperial que não repete os lugares comuns do debate convencional
sobre a política norte-americana. Nessa versão a ordem liberal é apresentada
como a restauração do imperium da república europeia
oitocentista e o império republicano do século XXI seria a reprodução da
república iluminista, a ordem kantiana que regressa, depois do fim de um ciclo
terrível de guerras e revoluções, protegida pela hegemonia internacional dos
Estados Unidos | 34 |. Por outras palavras, passe a ironia, a nova ordem
imperial é a velha Europa, o imperium republicano, com um
centro imperial e uma ordem constitucional que se estende a múltiplos
territórios, incluindo, certamente, o conjunto dos Estados onde reina a paz
separada das democracias liberais.
.
Essa formulação tem um problema dogmático.
Só há dois tipos-ideais de ordenamento internacional - a hierarquia e a
anarquia. O primeiro corresponde ao modelo do império, em que o centro impõe a
sua autoridade, com maior ou menor legitimidade, às outras unidades politicas
territoriais, cuja subordinação torna possível a unificação de um sistema
mundial. O segundo corresponde ao modelo do sistema internacional, fragmentado
em unidades separadas autónomas, mais ou menos soberanas. Entre os dois
extremos, existem múltiplas formas de ordenamento, passando por anarquias
variavelmente temperadas e outras sociedades internacionais lockeanas.
Consoante o tempo e o modo, os sistemas internacionais conhecidos correspondem
a essas fórmulas intermédias, mas no continuum que liga o pesadelo
da bestialidade hobbesiana à harmonia universal kantiana não há lugar para uma
ordem imperial formada por uma pluralidade de Estados independentes: a
soberania do império é, por definição, universal e exclusiva, a autonomia
soberana dos Estados implica uma fragmentação anárquica, incompatível, também
por definição, com a hierarquia imperial.
.
Nesse sentido, o velho imperium da
república europeia de Burke e Montesquieu é um não-império e o império liberal
norte-americano é uma ficção.
.
Tocqueville dizia que nas aristocracias
havia poucas palavras novas por haver poucas coisas novas e nas democracias se
usavam palavras velhas para as coisas novas: “Les peuples démocratiques, en
doublant ainsi le sens d’un mot, rendent quelquefois douteux celui qu’ils lui
laissent et celui qu’ils lui donnent” | 35 |. É possível que seja preciso
inventar um conceito novo para a preponderância internacional dos Estados
Unidos, mas quando se usa uma palavra velha para a classificar, o conceito de
império torna-se opaco.
.
Para lá do exercício das definições, que
nunca se deve considerar irrelevante, fica a impressão forte de um momento
imperial, imposta pelas palavras e pelos actos da administração
norte-americana, sobretudo desde o 11 de Setembro.
.
Desde logo, mau grado os sinais antecipadores
das mudanças, o contraste entre a comparativa contenção dos Estados Unidos na
primeira década do post-guerra e a dinâmica militante da campanha contra o
terrorismo internacional, incluindo as invasões do Afeganistão e do Iraque, com
ou sem consentimento do Conselho de Segurança das Nações Unidas, força o
reconhecimento de um momento imperial. Por certo, não é o primeiro na sua
história: a União Americana constituiu-se com a forte determinação de se
expandir, como o demonstraram a aquisição da Louisiana, em 1803, a guerra de
1812 e, mais tarde, as guerras contra o México. No mesmo sentido, o partido
imperial, com Theodore Roosevelt, comandou a politica norte-americana no final
do século XIX, entre a guerra contra a Espanha, a ocupação das Filipinas, a
construção do Canal do Panamá e a revisão da doutrina Monroe. Na Grande Guerra,
a tese internacionalista de Woodrow Wilson, que justificou a entrada na guerra
com o programa da paz democrática e a formação da Sociedade das Nações, revelou
uma concepção milenarista e universalista sobre a missão dos Estados Unidos.
Essa visão profunda reproduziu-se, no fim da II Guerra mundial, primeiro com
Franklin Roosevelt, a Carta do Atlântico, as instituições de Bretton Woods e a
Organização das Nações Unidas, depois com a doutrina Truman, no sentido em que
a estratégia de contenção da União Soviética assentava na união das democracias
ocidentais, bem como no fim da guerra fria, que confirmou o programa wilsoniano
como o modo de legitimação da crescente projecção e da hegemonia unipolar dos
Estados Unidos.
.
Há um padrão nessa sequência: uma vez
completada a demarcação do seu território no continente americano, os Estados
Unidos recuaram sempre perante a tentação imperial. Não quiseram receber Cuba,
nem colonizar as Filipinas, nem ocupar permanentemente nenhuma das repúblicas
latino-americanas onde se sentiam obrigados a intervir com regularidade, não
quiseram ficar na Europa no fim da Grande guerra, e só em circunstâncias
extremas foi possível impor a sua permanência militar nas linhas de demarcação
bipolar, durante a guerra fria, nos termos dos acordos multilaterais e
bilaterais que definem a sua relação com os aliados europeus, na frente
ocidental, e o Japão, a Coreia do Sul e a Formosa, na frente oriental. Mas não
há nenhuma garantia de que esse reflexo de contenção se repita sempre e em cada
caso.
.
Por outro lado, a nova doutrina de
segurança nacional | 36 | tem um enunciado imperial, quando declara uma
oposição incondicional dos Estados Unidos ao terrorismo e às tiranias. A tese
do internacionalismo democrático, proposta por um Presidente republicano e
conservador, evoca a visão liberal wilsoniana - um "wilsonisme botté",
um "wilsonismo de botas cardadas", na fórmula de Pierre Hassner -,
onde o fim definitivo da guerra, a paz democrática e o cumprimento da missão
internacional dos Estados Unidos formam um todo indissociável. Porém, a
tradução desse principio admirável num programa estratégico consequente
significaria uma revolução nas relações internacionais e um estado de guerra
permanente, típico de uma potência imperial revisionista e incompatível com as
responsabilidades de uma grande potência conservadora na garantia de um
ordenamento estável. No mesmo sentido, colocar a estratégia norte-americana de
neutralização dos programas de armas de destruição massiça no Iraque, no Irão e
na Coreia do Norte - um objectivo partilhado por todas as pessoas de bom senso
- sob o signo da luta contra o “Eixo do mal” implica transportar para o campo
das relações entre os Estados uma luta infinita entre o bem e o mal e,
portanto, recusar os limites impostos nas relações internacionais pela lógica
dos interesses nacionais. Naturalmente, a retórica politica, sobretudo nas
democracias, pode querer dizer exactamente o contrário do que está a dizer, mas
as palavras também têm consequências.
.
Por último, a doutrina da guerra
preventiva, que substitui a doutrina da dissuasão estratégica, completa a
anulação do principio da soberania westfaliana, já bastante perturbado pelos
exercícios jurídicos e militares de ingerência humanitária e de mudança dos
regimes políticos pela intervenção externa das grandes potências. Mais uma vez,
não se trata de negar a legitimidade da guerra preventiva, que pode ser uma
guerra justa e necessária, com ou sem ameaça terrorista e com ou sem o selo de
aprovação das Nações Unidas ou da Aliança Atlântica | 37 |. Porém, transformar
a excepção imposta pela necessidade em regra de intervenção contra os Estados
autocráticos, onde os suspeitos de desenvolver armas de destruição massiça são
a primeira etapa, pressupõe um sistema internacional onde o principio da
soberania só se aplica aos Estados com regimes democráticos e, mais
rigorosamente, se aplica só a quem puder decidir quais são os Estados realmente
democráticos.
.
No limite, a fronteira essencial entre o
domínio interno dos Estados e a politica internacional deixa de existir e,
desse modo, fica aberto o caminho para substituir a anarquia internacional por
uma hierarquia imperial | 38 |.
.
Há três tipos de obstáculos a essa deriva.
O primeiro é a resistência externa à lógica imperial de uma grande potência,
cujo sentido relevante se deve procurar na definição das fórmulas estratégicas
de equilíbrio, bem como das regras e das instituições internacionais
indispensáveis para limitar um poder excessivo e sem contrapesos. O segundo é o
entendimento racional dos limites do poder da hegemonia unipolar, de resto
muito incompleta na Ásia oriental, e que não pode dispensar sempre as fórmulas
da legitimidade necessárias para a estabilidade da ordem internacional. O
terceiro e o mais importante é a resiliência das instituições republicanas e da
comunidade politica norte-americana, que travou sempre, no passado, as derivas
imperiais dos Estados Unidos. De certo modo, essa inércia está inscrita na
fundação da união americana, que se constituiu contra o domínio imperial
externo e como uma forma de rejeição constitucional dos impérios, reconhecidos
pelos federalistas como os piores inimigos da liberdade. Se esse contexto não
perdeu validade, o “império da liberdade” norte-americano é e continuará a ser,
como a velha Europa, um não-império.
.
Na sua monografia americana, escrita para
o outro debate sobre o império americano, Raymond Aron explicou que a diferença
essencial entre a república e o império era o regime politico | 39 | e, se a
sua lição ainda for válida, enquanto a República imperial norte-americana for
uma democracia pode ser um quase-império, com um Presidente que é um
quase-imperador, mas não é um império, muito menos uma potência imperialista.
Se e quando o for, segundo a previsão de Montesquieu, não sobrevive a
democracia: "l'empire perdra la république".
.
Resta, pois, aos Estados Unidos e aos seus
aliados encontrar os modos mais avisados para definir um quadro de segurança e
de estabilidade onde se possa garantir a sobrevivência da comunidade das
democracias. Talvez os possam procurar nas fórmulas dos regimes mistos, onde
tenham lugar a unipolaridade norte-americana e a multipolaridade regional, a
hegemonia dos Estados Unidos e o concerto entre as grandes potências, a força
da principal potência internacional e a legitimidade da ordem liberal.
Notas
| 1 | Kenneth
Waltz (1979). Theory of
international politics. Nova York :
McGraw-Hill.
| 2 | Raymond Aron
(1962). Paix et guerre entre les nations. Paris :
Clamann-Levy. Hedley Bull (1977). The anarchical society. Nova York
: Columbia University Press.
| 3 | Kenneth
Waltz (1993). "The emerging structure of international politics".International
Security 18 | 2 | : 44-79.
| 4 | Kenneth
Waltz. Structural realism after the cold war in G.John
Ikenberry, editor (2002). America unrivaled. The future of the balance
of power : 52. Ithaca : Cornell University Press.
| 5 | Charles
Krauthammer (1990). "The unipolar moment". Foreign Affairs 70
: 23-33.
| 6 | Ver também
Christopher Layne (1993). "The unipolar illusion : why new great powers
will arise". International Security 21 | 4 | : 44-98.
| 7 | Michael
Mastanduno (1997). "Preserving the unipolar moment : realist theories and
U.S. grand strategy after the cold war". International Security 21
| 4 | : 44-79. William Wohlforth (1999). "The stability of the unipolar
world".International Security 24 | 1 | : 5-41.
| 8 | William
Wohlforth (1999). Ver também William Wohlforth. U.S. strategy in a unipolar
world in G.John Ikenberry, editor (2002) : 98-120.
| 9 | Sobre o conceito francês de
hiperpotência e os seus corolários, cf. Hubert Védrine, Dominique Moisi (2000). Les cartes de la France à l'heure de la mondialisation : 8-16. Paris : Fayard. As contas da
assimetria entre as grandes potências do post-guerra fria foram apresentadas,
entre outros, por G. John Ikenberry (2001). "Getting hegemony right". National Interest 1 :
17-18.
| 10 | Martin
Wight (1978, 1995). Power politics : 54. Londres : Leicester
University Press.
| 11 | David
Calleo (2001). Rethinking Europe's future. Princeton : Princeton
University Press. Ver também Charles Kupchan (2003). The end of the
American era. Nova York . Knopf.
| 12 | G. John
Ikenberry. American unipolarity : the sources of persistence and decline in G.
John Ikenberry, editor (2002) : 287-288.
| 13 | William
Wohlforth in G.John Ikenberry, editor (2002) : 107.
| 14 | A tendência de regionalização no
post-guerra fria começou por ser uma previsão de John Lewis Gaddis (1992). The United States and the end of the cold war : 193-215. Nova York : Oxford University Press. As
modernas teorias da regionalização do sistema internacional foram formuladas
por Barry Buzan. Ver, entre outros,
Barry Buzan, Ole Waever (2004). Regions and powers. Cambridge : Cambridge
University Press.
| 15 | O defensor mais consistente da
versão norte-americana da estratégia britânica de offshore balancing no
debate do post-guerra fria é Christopher Layne.Ver Christopher Layne (1998). "Rethinking American grand strategy". World
Policy Journal 15 | 2 | : 8-28. Christopher Layne (2002). “Offshore
balancing revisited”. Washington Quarterly 25 | 2 | : 233-248.
O enunciado original pertence a Nicholas John Spykman (1942). America's
strategy in world politics. Nova York : Harcourt, Brace and Company.
| 16 | Stephen
Walt (2002). "American primacy : its prospects and pitfalls". Naval War College Review LV | 2 | : 20
| 17 | William Wohlforth (1999) : 9.
| 18 | O primeiro exercicio de
transferência da teoria da hegemonia gramsciana para a teoria das relações internacionais
é de Robert Cox (1983). Gramsci, hegemony,
and international relations : an essay in method rp. in Robert
Cox, Timothy Sinclair (1995). Approaches to world order : VII
: 124-143. Cambridge : Cambridge University Press.
| 19 | Robert
Gilpin (1982). War and change in world politics. Cambridge : Cambridge
University Press.
| 20 | Paul Kennedy ficou famoso pela sua
tese do declinio dos Estados Unidos, publicada em 1988, no inicio da revolução
europeia que termina com o fim da União Soviética. Paul Kennedy (1989). The rise and fall of the
great powers.Londres : Fontana. No debate do post-11 de Setembro, ninguém
lhe fica atrás na re-avaliação da potência norte-americana. Ver inter alia Paul Kennedy (2002).
“The greatest superpower ever”. New Perspectives Quarterly 19
| 2 |.
| 21 | Sobre as duas estratégias, ver G.
John Ikenberry (1996). "The myth of
post-cold war chaos". Foreign Affairs 75 | 3 | : 79-91.
| 22 | Sobre os tipos-ideais de ordem
internacional, ver G. John Ikenberry (2000). After victory. Institutions, strategic restraint and the building of order
after major wars. : 21-49. Princeton : Princeton
University Press.
| 23 | Sobre a versão inicial da politica
externa da administração Bush ver Condoleezza Rice (2000). "Promoting the national interest". Foreign
Affairs 79 | 1 | : 45-62. Sobre a mudança dessa politica, ver Ivo
Daalder, James Lindsay (2003).America unbound. The Bush revolution in
foreign policy. Washington : Brookings Institution. Para acompanhar a evolução da
administração de George W. Bush depois dos atentados ver também Bob Woodward
(2002). Bush at war. Nova York : Simon&Schuster. A crónica da
crise entre os Estados Unidos e os aliados europeus foi feita, num primeiro
esboço, por William Shawcross (2004). Allies. The U.S., Britain, Europe, and the war in Iraq. Nova York : PublicAffairs.
| 24 | O tema é desenvolvido por Robert
Kagan na introdução da última edição dePower and weakness, cujo titulo
é, justamente, American power and the crisis of legitimacy. Robert Kagan (2004). Of paradise and power.
America and Europe in the new world order. Nova York : Vintage.
| 25 | Este tema está desenvolvido
em Carlos Gaspar (2003). A guerra fria acabaou duas vezes". Nação
e Defesa II | 105 | : 141-176. Pelo contrário, João Marques de
Almeida entende como mais plausivel o caso do estado de necessidade.
| 26 | Ponto sublinhado por Robert Jervis
(1997). Systems effects : complexity
in political and social life : 95. Princeton : Princeton
University Press.
| 27 | Vasco Rato defende o tema da
continuidade na politica externa norte-americana em Vasco Rato, João Marques de
Almeida (2004). A encruzilhada. Portugal, a Europa e os Estados Unidos.
Lisboa : Bertrand. Posteriormente, Robert Kagan apresentou os seus argumentos
no mesmo sentido, no prefácio citado à próxima edição de Power and
weakness.
| 28 | As posições criticas mais
estruturadas e interessantes são as de Pierre Hassner e G. John Ikenberry. Ver Pierre Hassner (2002). The United States :
the empire of force or the force of empire ? Paris : Chaillot Papers #
54. G. John Ikenberry (2002). “America’s imperial ambition”. Foreign
Affairs 81 | 5 | : 44-60.
| 29 | Stanley
Hoffmann. "Why don't they like us ?" American Prospect, 19 de Novembro de
2001.
| 30 | As posições liberais contra as
tentações imperiais, ou contra o império americano incluem, entre outros, além
de Pierre Hassner e G. John Ikenberry, Ivo Daalder, James Lindsay, Chalmers
Johnson, Michael Mann e Stanley Hoffmann. Outros liberais, como Michael Walzer
ou Joseph Nye são contra a tese imperial. Ver
Pierre Hassner, Justin Vaisse (2003). Washington et le monde. Paris
: Ceri-Autrement. G. John Ikenberry
(2002). Ivo Daalder, James Lindsay. "American empire ? Not 'if' but 'what
kind'", New York Times. 10 de Maio de 2003. Chalmers Johnson
(2004). The sorrows of empire. Militarism, secrecy and the end of the
Republic. Nova York : Metropolitan Books. Michael Mann (2004).Incoherent
Empire. Nova York : Verso. Stanley Hoffmann,
Frédéric Bozo (2003).L'Amérique vraiment impériale ? Paris :
Audibert. Ver ainda Joseph Nye (2001).The paradox of American power. Nova York :
Oxford University Press. Michael Walzer (2003). "American empire
?" Dissent.
| 31 | Entre os primeiros entusiastas do
império incluem-se Max Boot e Niall Ferguson, que estimularam o debate imperial
nas vésperas da invasão do Iraque. Mas uma parte dos neo-conservadores,
incluindo Robert Kagan e William Kristol, desistiram de teses anteriores sobre
o "império benigno" e passaram para o campo que nega a tendência
imperial. Robert Haass parece ter feito um percurso paralelo. Ver Max Boot. "American imperialism ? No need to run away from
a laber", USA Today, 6 de Março de 2003. Niall Ferguson.
"The empire that dare not speak its name", Sunday Times,
13 de Abril de 2003. Ver também Niall Ferguson (2004). Colossus. The
price of America's empire. Nova York : Penguin Books. A viragem de
Robert Kagan é clara no seu debate com Niall Ferguson no American Entreprise
Institute, em 17 de Julho. Ver a transcrição
do debate sobre o tema The United States is and should be an empire em www.aei.org/include/eventprint.asp?eventlD=428.
Ver também Robert Kagan. "America as a global hegemon", In
the National Interest, 23 de Julho de 2003.
| 32 | Emmanuel
Todd (2002). Après l'empire. Essai
sur la décomposition du système américain. Paris : Gallimard.
Immanuel Wallerstein e, de certa maneira, Charles Kupchan, vão no mesmo
sentido, mas sem uma veemência comparável.
| 33 | Por essa ordem, ver Martin Walker
(2002) "America's virtual empire" rp inAndrew Bacevich,
editor (2003). The imperial tense. : 134-145. Chicago : Ivan R.
Dee. Richard Haass. Imperial America. Atlanta
Conference, 11 de Novembro de 2000. Robert Kagan (1998). "The benevolent
empire". Foreign Policy 111 : 24-35. Robert Jervis
(2003). "The compulsive empire". Foreign Policy 4 :
83-87. Michael Mann (2004). Stanley Kurtz (2003). "Democratic
imperialism : a blue print".Policy Review 3 : 3-20. No
capítulo liberal, existem vários candidatos, incluindo Jedediah Purdy (2003). "Liberal empire : assessing the arguments". Ethics
and International Affairs 17 | 2 | ou David Rieff (1999). "A new
age of liberal imperialism" rp in Andrew Bacevich, editor
(2003) : 10-19. Naturalmente, a autoria da versão original do império liberal continua a
pertencer a Louis-Napoléon. Ver também, em geral, sobre o tema do
excepcionalismo norte-americano Stanley Hoffmann (2003). “La nouvelle version de l’exceptionalisme américain”. Esprit 292
: 6-20.
| 34 | A tese de João Marques de Almeida
foi apresentada no II Congresso da Associação Portuguesa de Ciências Politicas,
e recupera um tema desenvolvido na sua tese de doutoramento na London School of
Economics. Posteriormente, o tema do império tornou-se pretexto para uma troca
de cartas. Ver Carlos Gaspare João Marques de Almeida (2004). "A
ideia de império no post-guerra fria".Relações
Internacionais I | 1 | : 85-90.
| 35 | Alexis de
Tocqueville (1840). De la Démocratie en Amérique II : 8.
| 36 | As intervenções do Presidente dos
Estados Unidos que definem a nova doutrina de degurança nacional estão
acessiveis em www.whitehouse.org.Ver também Philip
Zelikow (2003). “The transformation of national security. Five redefinitions”. National
Interest 71 : 17-28. Ver ainda as análises criticas de Pierre Hassner
(2002). Ivo Daalder, James Lindsay (2003). François Heisbourg (2003). “A work in progress : the Bush doctrine and its
consequences”.Washington Quarterly 26 | 2 | : 75-88. Edward Rhodes
(2003). "The imperial logic of Bush's liberal agenda". Survival 45
| 1 | : 131-154. Robert Jervis (2003). "Understanding the Bush
doctrine". Political Science Quarterly 118 | 3 | :
365-388.Jean-Yves Haine (2004). Les Etats-Unis ont-ils
besoin d'alliés ? Paris . Payot.
| 37 | Mesmo à esquerda, essa legitimidade
é defendida, como no caso de Michael Walzer, em 1999, acerca de uma possivel
guerra contra o Iraque, enquanto do lado conservador há reservas firmes, como
as de Paul Schroeder. Ver Michael Walzer
(1999) "The Lone Ranger". American Prospect. Paul
Schroeder (2002). "Iraq : the case against preemptive war". The
American Conservative emwww.amconmag/10 21/Iraq.html.
| 38 | Pierre
Hassner (2002) .
| 39 | Raymon Aron
(1973). La République impériale. Les Etats-Unis et le monde (1945-1972) :
261. Paris : Calmann-Lévy.
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