A Internacional

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domingo, fevereiro 12, 2012

Flávio Aguiar: Já pensou? FMI, BCE e UE no camburão...

11 DE FEVEREIRO DE 2012 - 12H20 

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É isso mesmo: os representantes da chamada “Troika”, FMI, Banco Central Europeu e Comissão Européia (a comissão executiva da U. E.) foram ameaçadas nesta sexta-feira de prisão pelo porta-voz do Sindicato dos Policiais da Grécia em Atenas. Acusações: “perturbação da ordem democrática”, “ameaça à soberania nacional” e “atentado contra o bem estar público”... 

Por Flávio Aguiar, em Carta Maior



 A proposta é de difícil execução, mas não deixa de ser suculenta...
Enquanto isso, o drama, o rondó de intermezzo, a tragédia e a comédia continuam. 

O drama.

A proposta do sindicato, além de razões trabalhistas, tem razões de, digamos, “salubridade no trabalho”. Enquanto a Troika supervisiona a aplicação das medidas draconianas contra a economia grega, 11 mil policiais estavam nas ruas a enfrentando a ferro e fogo as dezenas de milhares de manifestantes durante a greve geral de 48 horas convocada pelas organizações de trabalhadores.

Soberanamente pairando sobre tudo isso, os principais partidos políticos gregos anunciavam com pompa e circunstância terem chegado a um acordo para aceitar os cortes sanguinários impostos à economia do seu país, como condição para garantir os 130 bilhões de euros do próximo pacote de “ajuda”, inclusive os quase 15 bi que têm de chegar até meados de março para impedir a inadimplência imediata.

Ressalve-se: o LAOS, partido nacionalista de direita e membro integrante da frente governista, junto com o PASOK socialista e o Nova Democracia, de direita, declarou que não vai votar pela aprovação do pacote de medidas, que prevêem a demissão imediata de 15 mil funcionários públicos e um corte de 20 % nos salários.

Porém, a muitos quilômetros dali, as reações foram céticas. Em Bruxelas, os membros do “Grupo do Euro” disseram que só este anúncio não os satisfaria. “Seria preciso haver mais detalhes sobre a implementação do acordo”, foi o tom geral do comentário sobre a decisão grega. O Grupo de Bruxelas vai se reunir de novo na próxima 4a. feira, depois que o Parlamento Grego votar a matéria, e talvez “defini-la melhor”. 

Em Berlim, o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, também declarou que só o anúncio não era suficiente.

O rondó de intermezzo.

Antigamente o rondó era uma dança com movimentos repetidos. Depois passou a ser uma canção poética com estribilho constante. É o que está havendo em torno daquilo que parece ser o entrave principal de todo esse imbróglio: a negociação do governo grego com os credores privados sobre os “cortes voluntários” na dívida grega. Uma parte parece ter sido acordada, a referente à forma do “corte”: substituição das atuais letras por outras de prazo bem maior, sem aumento nos “yields” – as compensações fixas - que essas letras devem pagar. Ainda há uma outra parte a ser negociada sobre aquilo que será cortado mesmo, ou seja, perdoado à Grécia – ainda que eventualmente os bancos envolvidos venham a ser compensados por generosas operações em seus países de origem, ou seja, dinheiro dos contribuintes desses países. Mas o que vinha emperrando era a parte referente aos juros móveis, aqueles que são acumulados ano após ano, mês após mês... até segundo após segundo e da última vez que tive notícia a discussão girava em torno de 3 ou 4%.

Por seu turno, o Banco Central Europeu, que têm se recusado a abrir mão de um só centavo da sua parte na dívida grega, veio com uma proposta (quem a fez foi seu diretor-presidente, Mario Draghi) de fazer um “repasse” de seu possível lucro com as mesmas letras de Atenas. Ele (o BCE) comprou por 38 bilhões Letras do Tesouro no valor de 50 bi. Esses 12 bi que o banco teria de lucro, no fim de contas, seriam repassados à Grécia, não sei se sob a forma de novo empréstimo ou antecipação, o que, pelo menos, daria alguma liquidez a um governo que afunda como pedra.

A tragédia.

Aqui, se o resultado é duradouro, o pano é rápido porque a ação é violenta. 

Olhemos as fotos pela mídia. A mais impactante é a de um mendigo, envolto em velhos cobertores, com seu copo de papel estendido, debaixo de um grafite onde se lê: “Nós não devemos viver como escravos”.

Outra: na fachada do “Banco da Grécia”, a última palavra foi riscada em vermelho, e no seu lugar lê-se “de Berlim”.

O sentimento antialemão vem se multiplicando. Cartazes com suásticas pipocam em toda a Grécia. Apesar da responsabilidade da liderança de Berlim na progressiva débâcle grega, essa irrupção de velhos ressentimentos e ódios nacionais nada prenuncia de bom. Na Europa, tradicionalmente, isso joga água nos moinhos das direitas, não das esquerdas. É a crônica de tragédias já vividas e re-anunciadas, ao invés de renunciadas.

A comédia.

Ou melhor, a farsa. Não, leitora, ou leitor: a palavra não é minha. Está em muitos dos jornais de hoje de Berlim. Diante do quadro apocalíptico, catastrófico, da tragédia grega, com quase 21% de desemprego (quase 50% entre os jovens), uma recessão que já dura 5 anos e promete durar mais 5 ou 10 ou ninguém sabe quantos, diante de uma indústria sucateada, a maioria dos jornais berlinenses, da esquerda à direita, atravessaram o Rubicão e passaram a bradar que “a farsa” deve acabar. É preciso reanimar a economia grega para além dos planos de “austeridade”, que estão sufocando o país. Isso, dizem eles, significa investimento, e isto custa dinheiro, ora.

O tom é de quase desespero (procure a súmula de editoriais na matéria “The Word from Berlin – Without a new Beginning Athens is Lost”, em www.spiegel.de/international/ ).

Segundo esses editoriais, está mais do que claro que os atuais planos só têm feito a Grécia afundar mais e mais e aumentar o desespero do povo grego, com conseqüências sociais imprevisíveis.

Finale.

Adiantará o apelo dos editoriais? Tenho dúvidas. O Consenso de Bruxelas e seus sacerdotes parecem querer se suicidar com um tiro no pé. Até porque nos ouvidos já deram. 

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