* Jorge Messias
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Até lá, continuemos nós a falar.
Até lá, continuemos nós a falar.
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Com uma única excepção – a Carta Aberta dos «Cristãos sem Igreja» – tudo o que tem actualmente uma referência religiosa provém dos meios políticos, financeiros e comerciais, por entre um estendal imenso de demagogias, escândalos, duplicidades e corrupção. Mas a carta aberta dos teólogos espanhóis e latino-americanos do Terceiro Mundo é também vaga e confusa e faz recordar as utopias da Teologia da Libertação ao tentar reformar o Vaticano. Reformar o Vaticano é intenção ingénua que não tem pés nem cabeça. Seria como reformar o Opus Dei, a Igreja Catecumenal ou a mente do senhor George Bush. São instituições irreformáveis. E acenar com o abandono da Igreja para retornar à pureza do Cristianismo primitivo é coisa que já não convence ninguém. Seguramente que Ratzinger leu as propostas dos Cristãos sem Igreja, registou os nomes dos proponentes e atirou a carta para o caixote do lixo.
Com uma única excepção – a Carta Aberta dos «Cristãos sem Igreja» – tudo o que tem actualmente uma referência religiosa provém dos meios políticos, financeiros e comerciais, por entre um estendal imenso de demagogias, escândalos, duplicidades e corrupção. Mas a carta aberta dos teólogos espanhóis e latino-americanos do Terceiro Mundo é também vaga e confusa e faz recordar as utopias da Teologia da Libertação ao tentar reformar o Vaticano. Reformar o Vaticano é intenção ingénua que não tem pés nem cabeça. Seria como reformar o Opus Dei, a Igreja Catecumenal ou a mente do senhor George Bush. São instituições irreformáveis. E acenar com o abandono da Igreja para retornar à pureza do Cristianismo primitivo é coisa que já não convence ninguém. Seguramente que Ratzinger leu as propostas dos Cristãos sem Igreja, registou os nomes dos proponentes e atirou a carta para o caixote do lixo.
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No entanto, fica no ar a ideia de que entre os católicos nem tudo está perdido.
«Levante-se o réu!»
Pode dizer-se que o resto do noticiário sobre a igreja é rotineiro. Na Santa Sé só se fala em dinheiro. Este papa é extraordinário porque inventou a forma dos contribuintes católicos aumentarem os rendimentos da igreja. Só em 2006, o Vaticano recolheu mais 75 milhões de euros que em 2005. Isto, na coluna do «Haver». Na outra coluna, a do «Dever», lamenta-se a perda de 660 milhões de dólares pagos pela diocese de Boston às famílias de 500 crianças abusadas pelos padres norte-americanos. Foi caro mas calaram-se as más-línguas. Pague-se e passe-se adiante.
No entanto, fica no ar a ideia de que entre os católicos nem tudo está perdido.
«Levante-se o réu!»
Pode dizer-se que o resto do noticiário sobre a igreja é rotineiro. Na Santa Sé só se fala em dinheiro. Este papa é extraordinário porque inventou a forma dos contribuintes católicos aumentarem os rendimentos da igreja. Só em 2006, o Vaticano recolheu mais 75 milhões de euros que em 2005. Isto, na coluna do «Haver». Na outra coluna, a do «Dever», lamenta-se a perda de 660 milhões de dólares pagos pela diocese de Boston às famílias de 500 crianças abusadas pelos padres norte-americanos. Foi caro mas calaram-se as más-línguas. Pague-se e passe-se adiante.
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Por cá, pela calada, os bispos continuam a controlar a situação. Tanto mais que Sócrates revela possuir uma alma sensível em relação à Igreja. Repôs a Concordata de 1940, deu milhões às IPSS e, agora, imaginou a forma capitalista de hipotecar à Banca o futuro dos estudantes universitários e das suas famílias. Abrem-se linhas de crédito com o aval do Estado. O estudante, enquanto faz o seu curso, acumula dívidas. Quando alcança a licenciatura (se a alcançar ...), encontra-se atrelado ao carro do sistema e à Banca, à qual deve o que não pode pagar. Para mais, tem um ano para encontrar emprego. Sozinho, visto que o Estado não se compromete a empregá-lo. Generoso, «mãos rotas», Sócrates decretou que os novos financiamentos não se limitarão às escolas públicas. Abrangerão, também, as instituições do ensino privado o qual, como se sabe, é quase todo da igreja católica. Espera-se, agora, uma fuga maciça dos alunos do público para o privado, onde tudo é mais fácil. E de Portugal para Espanha, como já se verifica em Navarra e em Santiago de Compostela. «A Deus o que é de Deus e a César o que é de César».
Por cá, pela calada, os bispos continuam a controlar a situação. Tanto mais que Sócrates revela possuir uma alma sensível em relação à Igreja. Repôs a Concordata de 1940, deu milhões às IPSS e, agora, imaginou a forma capitalista de hipotecar à Banca o futuro dos estudantes universitários e das suas famílias. Abrem-se linhas de crédito com o aval do Estado. O estudante, enquanto faz o seu curso, acumula dívidas. Quando alcança a licenciatura (se a alcançar ...), encontra-se atrelado ao carro do sistema e à Banca, à qual deve o que não pode pagar. Para mais, tem um ano para encontrar emprego. Sozinho, visto que o Estado não se compromete a empregá-lo. Generoso, «mãos rotas», Sócrates decretou que os novos financiamentos não se limitarão às escolas públicas. Abrangerão, também, as instituições do ensino privado o qual, como se sabe, é quase todo da igreja católica. Espera-se, agora, uma fuga maciça dos alunos do público para o privado, onde tudo é mais fácil. E de Portugal para Espanha, como já se verifica em Navarra e em Santiago de Compostela. «A Deus o que é de Deus e a César o que é de César».
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O silêncio dos bispos tem um sentido lógico. É o preço considerado necessário à consolidação da teia de nervuras que liga o capital, o movimento católico, a sociedade civil ibérica e o grande e invisível poder mundial da globalização. O negócio compensa bem o sacrifício de uma ideologia teológica que, na prática, já nem sequer existe. Vale pois a pena, é compensador, fechar os olhos ao rápido esvaziamento dos vestígios de democracia e de justiça que sobrevivam na sociedade. Sem que a igreja se envolva claramente, é evidente. Segundo o sábio princípio jesuítico, «não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita».
O silêncio dos bispos tem um sentido lógico. É o preço considerado necessário à consolidação da teia de nervuras que liga o capital, o movimento católico, a sociedade civil ibérica e o grande e invisível poder mundial da globalização. O negócio compensa bem o sacrifício de uma ideologia teológica que, na prática, já nem sequer existe. Vale pois a pena, é compensador, fechar os olhos ao rápido esvaziamento dos vestígios de democracia e de justiça que sobrevivam na sociedade. Sem que a igreja se envolva claramente, é evidente. Segundo o sábio princípio jesuítico, «não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita».
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Mas virá o dia em que toda esta construção artificial desabará, arrastando os seus construtores. Sócrates joga com as palavras. A hierarquia católica manipula os silêncios. Parte do povo lamenta-se mas por aí se fica. A tenebrosa montanha dos pactos de sangue não deixa de crescer.
No fundo, a intriga política e o silêncio canónico revelam-nos angústias e fragilidades. Mais dia, menos dia, a verdade há-de revelar-se. Quando o povo a souber exigir. Quando estiver farto de tudo isto e grite bem alto, aos ouvidos de bispos e banqueiros: «Queremos a verdade. Levante-se o réu!».
Mas virá o dia em que toda esta construção artificial desabará, arrastando os seus construtores. Sócrates joga com as palavras. A hierarquia católica manipula os silêncios. Parte do povo lamenta-se mas por aí se fica. A tenebrosa montanha dos pactos de sangue não deixa de crescer.
No fundo, a intriga política e o silêncio canónico revelam-nos angústias e fragilidades. Mais dia, menos dia, a verdade há-de revelar-se. Quando o povo a souber exigir. Quando estiver farto de tudo isto e grite bem alto, aos ouvidos de bispos e banqueiros: «Queremos a verdade. Levante-se o réu!».
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in Avante 2007.09.06
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