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Ricardo Antunes
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O país tem sido sacudido, uma vez mais neste mês de setembro, por greves desencadeadas em diversas categorias de trabalhadores: bancários, funcionários do judiciário, professores, metalúrgicos, petroleiros, dentre tantos que estão paralisados ou se preparam para os embates.
A recente paralisação do judiciário paulista, que teve a duração de 91 dias, queria reposição salarial num segmento onde os salários são baixos, ao contrários de altos escalões do Judiciário, que recebem salários cuja simples divulgação seria um acinte aos assalariados do país e que com a maior desenvoltura vociferam contra o movimento grevista.
A Ordem dos Advogados do Brasil, sob a batuta conservadora -- ao contrário de tantos préstimos que ofertou ao país no período recente -- chegou a fazer ato público pela ''volta da justiça'', isto é, pelo fim da greve. Há poucos meses, as universidades públicas paulistas fizeram mais de dois meses de paralisação contra a acintosa proposta de reajuste zero, como se a inflação não atingisse o corpo docente e funcional daquelas universidades públicas.
Agora, quando tantos diziam que os bancários não mais fariam greve, estamos vendo um belo movimento que paralisa mais de 200 mil homens e mulheres que laboram nos bancos, onde as máquinas falam e, quanto mais emitem som, mais parecem desempregar. A mesma financeirização da economia global que desmonta núcleos produtivos em diversas partes do planeta, controlando (e corrompendo) governos em quase todos os cantos do mundo. Que constrange as pífias políticas econômicas a viveram para o pagamento eterno de juros da dívida e que também nomeia ministros do trabalho para laborarem pelo capital. Essa mesma economia que realiza lucros acintosos, verdadeira ''fonte misteriosa'' onde dinheiro parece gerar cada vez mais dinheiro. E que, quanto mais os lucros acumulam, mais os bancos eliminam suas agências, mais reduzem seus trabalhadores e trabalhadoras.
No Brasil, estes que já foram quase 1 milhão, em meados de 1980, hoje reduzem-se a cerca de 400 mil. Cerca de 60% deles viraram suco.... Terceirizaram-se, precarizaram-se, desempregaram-se. Proliferam-se os call centers, as empresas de telemarketing cujas condições de trabalho estão quase sempre às escondidas. Basta dizer que em muitas destas empresas há baias que separam trabalhadoras para que elas não conversem, não dialoguem entre si, para não diminuírem os ritmos extenuantes de trabalho. Onde só há espaço para a LER (lesão por esforço repetitivo) que proliferam como praga no corpo que digita os números que fazem a riqueza compulsiva dos bancos.
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Sob o movimento rápido e ágil das maquinas informatizadas, estes homens e mulheres (é alta a feminização do trabalho nos bancos) realizam um conjunto infindável de operações de registro e transferência de valores. Transformam a misteriosa mercadoria-dinheiro em mais dinheiro, que voa lepidamente do Ocidente ao Oriente, do Norte ao Sul, em tempo virtual. E, quanto mais ''produzem'', mais bancários desempregam-se. Nos bancos públicos, que cada vez mais almejam o admirável mundo das privadas, depois de uma vida dedicada ao trabalho, os bancários são convidados a aderir aos famigerados PDVs, planos de demissão voluntária pela via compulsória.
Depois de anos de labor pesado, vendo os lucros chegarem aos céus, os bancários encontraram força e vitalidade para reivindicar a Enquanto os bancos lucraram bilhões, muitos bilhões. Tão modesta a somatória reivindicada que até alguns sindicatos acomodados tiveram que arregaçar as mangas. A banca reagiu. Onde já se viu bancário fazer greve no país da mamata financeira?
O governo ameaça cortar os dias paralisados nos bancos públicos. Espelha-se na banca privada. Talvez valesse a pena relembrar ao PT no poder que a palavra greve se originou das experiências da Place de Grève, local onde os operários parisienses reuniam-se, no Século XIX, quando estavam lutando por seus direitos. Desde então, a palavra greve passou a simbolizar o cessar coletivo e voluntário do trabalho visando a obter suas reivindicações. E este se tornou, então, um direito, um mecanismo decisivo de defesa do trabalho contra a destruição de suas conquistas e de sua dignidade. Como os bancos estão fazendo há muito tempo. E como os bancários agora recusam-se, na Praça da Greve.
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O país tem sido sacudido, uma vez mais neste mês de setembro, por greves desencadeadas em diversas categorias de trabalhadores: bancários, funcionários do judiciário, professores, metalúrgicos, petroleiros, dentre tantos que estão paralisados ou se preparam para os embates.
A recente paralisação do judiciário paulista, que teve a duração de 91 dias, queria reposição salarial num segmento onde os salários são baixos, ao contrários de altos escalões do Judiciário, que recebem salários cuja simples divulgação seria um acinte aos assalariados do país e que com a maior desenvoltura vociferam contra o movimento grevista.
A Ordem dos Advogados do Brasil, sob a batuta conservadora -- ao contrário de tantos préstimos que ofertou ao país no período recente -- chegou a fazer ato público pela ''volta da justiça'', isto é, pelo fim da greve. Há poucos meses, as universidades públicas paulistas fizeram mais de dois meses de paralisação contra a acintosa proposta de reajuste zero, como se a inflação não atingisse o corpo docente e funcional daquelas universidades públicas.
Agora, quando tantos diziam que os bancários não mais fariam greve, estamos vendo um belo movimento que paralisa mais de 200 mil homens e mulheres que laboram nos bancos, onde as máquinas falam e, quanto mais emitem som, mais parecem desempregar. A mesma financeirização da economia global que desmonta núcleos produtivos em diversas partes do planeta, controlando (e corrompendo) governos em quase todos os cantos do mundo. Que constrange as pífias políticas econômicas a viveram para o pagamento eterno de juros da dívida e que também nomeia ministros do trabalho para laborarem pelo capital. Essa mesma economia que realiza lucros acintosos, verdadeira ''fonte misteriosa'' onde dinheiro parece gerar cada vez mais dinheiro. E que, quanto mais os lucros acumulam, mais os bancos eliminam suas agências, mais reduzem seus trabalhadores e trabalhadoras.
No Brasil, estes que já foram quase 1 milhão, em meados de 1980, hoje reduzem-se a cerca de 400 mil. Cerca de 60% deles viraram suco.... Terceirizaram-se, precarizaram-se, desempregaram-se. Proliferam-se os call centers, as empresas de telemarketing cujas condições de trabalho estão quase sempre às escondidas. Basta dizer que em muitas destas empresas há baias que separam trabalhadoras para que elas não conversem, não dialoguem entre si, para não diminuírem os ritmos extenuantes de trabalho. Onde só há espaço para a LER (lesão por esforço repetitivo) que proliferam como praga no corpo que digita os números que fazem a riqueza compulsiva dos bancos.
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Sob o movimento rápido e ágil das maquinas informatizadas, estes homens e mulheres (é alta a feminização do trabalho nos bancos) realizam um conjunto infindável de operações de registro e transferência de valores. Transformam a misteriosa mercadoria-dinheiro em mais dinheiro, que voa lepidamente do Ocidente ao Oriente, do Norte ao Sul, em tempo virtual. E, quanto mais ''produzem'', mais bancários desempregam-se. Nos bancos públicos, que cada vez mais almejam o admirável mundo das privadas, depois de uma vida dedicada ao trabalho, os bancários são convidados a aderir aos famigerados PDVs, planos de demissão voluntária pela via compulsória.
Depois de anos de labor pesado, vendo os lucros chegarem aos céus, os bancários encontraram força e vitalidade para reivindicar a Enquanto os bancos lucraram bilhões, muitos bilhões. Tão modesta a somatória reivindicada que até alguns sindicatos acomodados tiveram que arregaçar as mangas. A banca reagiu. Onde já se viu bancário fazer greve no país da mamata financeira?
O governo ameaça cortar os dias paralisados nos bancos públicos. Espelha-se na banca privada. Talvez valesse a pena relembrar ao PT no poder que a palavra greve se originou das experiências da Place de Grève, local onde os operários parisienses reuniam-se, no Século XIX, quando estavam lutando por seus direitos. Desde então, a palavra greve passou a simbolizar o cessar coletivo e voluntário do trabalho visando a obter suas reivindicações. E este se tornou, então, um direito, um mecanismo decisivo de defesa do trabalho contra a destruição de suas conquistas e de sua dignidade. Como os bancos estão fazendo há muito tempo. E como os bancários agora recusam-se, na Praça da Greve.
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O original encontra-se no Jornal do Brasil de 30/Set/04.
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Este artigo encontra-se em http://resistir.info
O original encontra-se no Jornal do Brasil de 30/Set/04.
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Este artigo encontra-se em http://resistir.info
2004.10.02
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