A Internacional

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domingo, outubro 28, 2007

Tráfico de mulheres (2) - Máfia Russa ataca no Brasil




Neste segundo capítulo da série sobre o comércio de prostitutas brasileiras, documento secreto da polícia da Espanha indica que criminosos russos estão agindo no Brasil
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Wagner Seixas, Do Estado de Minas
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Dossiê de junho passado, feito pela polícia espanhola, aponta nomes de boates, que abrigariam brasileiras mantidas como escravas do sexo


Madri e Lisboa — A poderosa Máfia Russa, cuja fonte de renda é o tráfico de drogas, venda de armas e a prostituição, iniciou há dois anos uma invasão aos redutos da Conexão Ibérica de olho no faturamento anual de US$ 8 bilhões, aferidos em boates e prostíbulos. Aos poucos e de forma violenta, vai controlando o tráfico de prostitutas em Portugal e Espanha e, especialmente, os pontos e as redes de prostituição. Ainda de forma acanhada, a temida organização já estende seus tentáculos no Brasil, utilizando uma ponta para aliciar brasileiras em regiões não exploradas pelos grupos espanhóis. A estratégia é evitar os locais já saturados e que estão sob rigorosa investigação da polícia brasileira. ‘‘Eles agem em lugares de muito movimento ou em regiões insuspeitas’’, diz um agente federal.

A reportagem teve acesso a um documento secreto da polícia da Espanha, onde se confirma a entrada dos truculentos “russos’’ no tráfico internacional de mulheres, a partir do Brasil. O dossiê, datado de junho deste ano, aponta nomes de três espanhóis da região da Galícia — especialmente Vigo e Pontevedra — com estreitas ligações com um cidadão polaco conhecido como Zorak. Suas atividades têm sido investigadas pela polícia secreta espanhola, face ao número excessivo de viagens ao Brasil e suas relações com redes de prostituição no Brasil e na Espanha. Ao contrário dos integrantes da Conexão Ibérica que buscam em Goiás e o Triângulo Mineiro as jovens para abastecer seus bordéis, Zorak atua diretamente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Viagens ao Brasil

Na capital paulista, conforme o relatório secreto, o polaco tem a colaboração da brasileira B.M.R. conhecida por ‘‘Maria’’, e residente na periferia de São Paulo. Através dela, o polonês ‘‘contrata’’ as brasileiras para o mercado do sexo. Ainda de acordo com o informe confidencial, esta mesma mulher tem atendido os pedidos dos empresários José Lourenzo Rodriguez, proprietário do clube Barbarela, em Vigo, Roberto Vasquez Puzas, dono dos clubes ‘‘Vigo Noche’’, em Vigo, e ‘‘Garden’’, em Pontevedra, e Antônio Landin Rodriguez, administrador da boate ‘‘Cisne’’, em Porriío.

Os agentes espanhóis revelam que estes empresários têm ligações com Zorak, em função das coincidências nas datas em que o grupo visitou o Brasil, além das estreitas relações de negócio com a brasileira ‘‘Maria’’. A suspeita reforça a intervenção da Máfia Russa. De acordo com a estrutura da organização, os poloneses são utilizados em ‘‘serviços menores’’ e expostos a atividades de maior risco, como é o caso de Zorak. Embora as visitas à residência de ‘‘Maria’’ sejam constantes, apenas uma delas, em março deste ano, foi registrada pelos policiais espanhóis.

O nome de Zorak é lembrado pela paulista Sheila, da cidade de Franca, onde fazia ponto num prostíbulo. ‘‘Vim para a Espanha através dele. Primeiro trabalhei em Vigo e depois vim para Madri, pois ficou muito perigoso ter contato com os russos. Muitas meninas traficam pela manhã e se prostituem à noite, entre elas várias brasileiras. O Zorak é um rapaz novo, no máximo 35 anos, louro e alto. Há outras brasileiras que vieram comigo’’, diz Sheila citando o nome de outro russo,‘‘Vladi’’, responsável pelo recolhimento do dinheiro que ganhavam com o atendimento a clientes.






Entrevista / Zenaide Borges

‘‘No ano passado, creio ter sacado de lucro líquido mensal só para mim uns US$ 100 mil. Sem as meninas tenho mais de cem empregados’’

O escândalo do tráfico internacional de mulheres e as ilícitas atividades da Conexão Ibérica tiveram destaque na imprensa espanhola. Nesta entrevista, Zenaide Borges, de sua casa em Mérida, sudeste da Espanha, fala sobre o fato de ser apontada como uma das chefes da conexão espanhola. Nesta entrevista ela nega envolvimento com máfias e garante ter investido sozinha na construção de sua rede de prostituição. Veja os principais trechos

Correio — Como você chama seus negócios: bordéis, clubes, uisqueria, prostíbulos..?

Zenaide Borges —
São hotéis e bares. As meninas são clientes que pagam os quartos e os homens pagam a consumação delas. É uma empresa como outra qualquer.

Correio — Quantas prostitutas brasileiras estão empregadas em seus locais?

Zenaide —
Varia muito. Elas não vão todos os dias. Dependendo do clube, são 15, 20 e até 30. Nos dias de trabalho podem ser 6 ou 7 e no final de semana pode chegar a 40.

Correio — De onde elas vêm ?

Zenaide —
Às vezes não sei. Chamam-me pelo telefone e me pedem um quarto. Isto é um hotel. Não importa de onde elas vêm, ainda que a maioria seja procedente do estrangeiro. Praticamente todas me conhecem. Se me procuram é porque nunca tive problemas com elas. Tenho problemas é com a polícia.

Correio — Há uma semana, uma Rebeca (Zenaide usa este pseudônimo),dona de hotéis, foi vinculada à máfia de tráfico de mulheres.

Zenaide —
Me sinto muito mal porque quando vinculam Rebeca, vinculam meus negócios, e Rebecas existem muitas.

Correio — Você sabe da existência destas máfias que trazem brasileiras enganadas, ficam com seus documentos, aterrorizam e as obrigam a se prostituírem em locais semelhantes aos seus ?

Zenaide —
Eu não vim com nenhuma destas máfias. Vim contratada. Tinha amigas que estavam na Espanha. Vendi meu carro e vim para cá.

Correio — Pelos locais onde instalou suas casas, você deve ir bem nos negócios ?

Zenaide —
Faturo e pago impostos porque declaro por elas. No ano passado (2000), creio ter sacado de lucro líquido mensal só para mim uns 150 milhões de pesetas (US$ 100 mil). Sem as meninas tenho mais de cem empregados.

Brasileiras tipo exportação

O relatório secreto da polícia espanhola que aponta a ação da Máfia Russa no Brasil já está de posse da Polícia Federal que, de forma velada, tem investigado a participaçào de brasileiros no crime. Há fortes indícios de que o país seja um importante ponto de aliciamento de garotas para a Conexão Ibérica e Máfia Russa. No ofício, os agentes espanhóis citam, inclusive, o número do passaporte de brasileiros suspeitos. Os alvos dos ‘‘russos’’ são profissionais do sexo e as abordagens feitas em boates paulistas e cariocas. No entanto, não descartam investidas em ‘‘meninas’’ que nunca se prostituíram. Parte da investigação no Brasil é realizada pelo delegado federal Eriosvaldo Renovato, da PF.


O serviço secreto da Espanha revela uma tentativa de aliciamento de um polonês de nome Zorak na boate Barbarela, em Copacabana, Rio. Ele convenceu várias mulheres a embarcar para a trabalhar em bordéis espanhóis. Ainda de acordo com o documento, o tráfico é feito via Portugal, sempre num horário determinado e nunca pela companhia aérea portuguesa TAP.

Em Lisboa e Madri, as autoridades de segurança confirmam a atuação da Máfia Russa. Sua presença é assinalada pela forma violenta como administra seus ‘‘negócios’’. Em Portugal, especialmente no norte do país, há ocorrências de mortes e mutilações atribuídas à organização. Segundo um assessor da polícia lusa, ‘‘uma mulher teve o rosto marcado ao tentar romper o acordo com os russos’’. Além da prostituição, muitas brasileiras atuam no tráfico de cocaína e heroína.

A carioca M.T.A, 24 anos, levada para Portugal – ‘‘vim com mais 10 meninas’’ – disse estar sob controle dos russos há seis meses. ‘‘Eles aproveitam nossas carências, nos conquistam e depois passam a administrar nossas vidas. Comecei a namorar um deles e logo já estava nas mãos da quadrilha’’. M.T.A mostra sinais de violência pelo corpo e confessa ser viciada em cocaína. ‘‘Eles me aplicaram’’, diz desesperada. A carioca conhece outras brasileiras subordinadas à Máfia Russa. ‘‘São muitas. Umas entraram de gaiato, assim como eu, e outras pressionadas. Uma baiana ficou 10 dias presas num quartinho até concordar em trabalhar para eles. Todos temos medo deles.’’ A ucraniana Tati, uma loura de 19 anos, e com dificuldades com o idioma português, resume a tática dos russos. ‘‘Ou trabalhamos, ou morremos’’.

Em Madri, a Divisão Geral de Polícia da Espanha faz mistério sobre a presença da Máfia Russa. Porém, são vários os registros da atuação dos russos em território espanhol, especialmente no tráfico de drogas e mulheres, e controle das redes de prostituição. ‘‘Eles chegaram junto com as mulheres do Leste europeu’’, diz um assessor do Ministério do Interior.

A dominicana Emília, strip e prostituta em bordéis de Madri, resistiu à investida da Máfia Russa e se diz permanente ameaçada. ‘‘Minha vida vale pouco’’, prevê, diante dos vários sinais dos mafiosos contra as mulheres que não firmam acordo com eles. Emília cita o caso de uma ucraniana, Vetra, que teve o braço direito decepado. ‘‘Ela era minha amiga’’, conta.
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in Correio Brasiliense 2001.07.30

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