A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

domingo, outubro 28, 2007

Brasil - Tráfico de mulheres (1) -Traficantes usam rotas portuguesas




Brasília - Estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o tráfico internacional de mulheres movimente cerca de US$ 8 bilhões por ano. Delegado da PF desbaratou grupo que atuava na região do Triângulo Mineiro

A Conexão Ibérica, com base na Espanha e Portugal, tem vários braços no Brasil e países da América Latina como forma de sustentar, anualmente, o fôlego financeiro das redes de prostituição, estimado em US$ 8 bilhões.


A astronômica quantia é proveniente da renda de centenas de boates e prostíbulos. Embora se aplique o mesmo processo de aliciamento e atuando em vários estados brasileiros, os grupos que compõem a conexão se dividem em rotas para a execução do tráfico de mulheres. Esta divisão tem a clara intenção de dificultar as investigações da polícia e facilitar o trânsito das jovens sem levantar suspeitas.


A porta de entrada para a maioria destas mulheres é Lisboa, cujo sistema de controle de imigração, facilita a entrada de brasileiras pela capital portuguesa. Segundo uma fonte do comando da Polícia portuguesa, as recomendações são para se evitar constrangimentos e dificuldades ao acesso delas no país. ‘‘Não sabemos o que elas vêm fazer aqui. Entretanto, nada as impede de entrar’’, explica o policial.


Calcula-se que três mil brasileiras entram em Portugal todo o ano. A maioria toma o destino de outras nações européias, especialmente a Espanha, seguida da Itália, França, Alemanha e Holanda.


Nas fronteiras entre esses países não existem rigorosos métodos regulamentação de estrangeiros, facilitando o trânsito das pessoas. Uma vez concedida a permissão de entrada no Serviço de Migração Português, as mulheres podem se deslocar por toda a Europa, sem necessidade de passar por barreiras migratórias. Segundo Adelino Esteves, funcionário do Serviço de Estrangeiros do Aeroporto de Lisboa, ‘‘o acordo da Comunidade Européia desfez os dispositivos de fiscalização de estrangeiros em cada nação. Não há mais tanto rigor. Quem entra por um país, pode entrar em qualquer outro’’.


As quadrilhas de traficantes em Portugal têm estreitas ligações com os agenciadores espanhóis e até a truculenta Máfia Russa. São através desses dois elos, conforme as tímidas investigações da polícia portuguesa, que as jovens brasileiras são colocadas e exploradas brutalmente no mercado do sexo. De Lisboa elas são levadas para a chamada rota norte da Conexão Ibérica. Elas atravessam o país de trem ou carro até as cidades lusitanas do Porto, Braga, Chaves, Bragança, Valença do Minho e Viana de Castelo.


Na fronteira com a Espanha, na região da Galícia, elas são espalhadas para vários pontos de prostituição em Vigo, La Coruía, Gijón, Porriío, Oviedo e Pontevedra. Conforme dados do Ministério do Interior da Espanha, na autopista que liga Vigo a Madri estão instalados mais de 80 bares americanos, denominação técnica para os bordéis de beira de estrada. Em todos eles existem brasileiras e em alguns casos elas são maioria.


A rede Mississipi, por exemplo, possui cinco unidades nesta rodovia e emprega mais de 100 brasileiras. Somente na sua unidade em Madri, na autopista de Burgos, são 25 em regime de semiescravidão. A travessia dos rios Minho e Douro, que divide Portugal e Espanha pelo Norte, é a principal opção dos traficantes. Feita em embarcações de médio e pequeno porte, não enfrentam qualquer fiscalização das polícias dos dois países.


A chamada rota central é utilizada por outro grupo da Conexão Ibérica. Ela abastece toda a parte centro-oeste da Espanha. De Lisboa, as brasileiras viajam pouco mais de 100 quilômetros até a cidade espanhola de Badajoz, na fronteira com Portugal. Dessa cidade, as jovens são levadas para as dezenas de prostíbulos instalados na região de Extremadura. Esta é a rota preferida pelas irmãs Zenilde e Zenaide Borges.


Segundo investigações da Polícia Federal brasileira e da Interpol, iniciadas em 2000, elas são empregadas em bordéis de Mérida, Cáceres, Don Benito, Almendralejo, Zalamea, Zafra, Nalvillar de Pela, Montigo e Madri.


Os traficantes também fazem uso da rota direta Lisboa-Madri ou Brasil-Madri. Ela é ainda pouco conhecida e somente descoberta ano passado pelo delegado federal de Uberlândia, Eriosvaldo Renovato. (W.S)
.
Leia amanhã
.
Sobre a sangüinária Máfia Russa que já atua em Portugal e Espanha. Grupos da Conexão Ibérica começam a ser desmontados pela Polícia Federal.
.
Dívida vira prisão em portugal


A decretação do voto de silêncio, sob ameaça de morte, é o principal trunfo dos donos de prostíbulos para evitar denúncias e, conseqüentemente, investigações por parte da polícia.


Em Lisboa, nas três principais boates — Gallery, Hipopótamo e Elefante Branco — a maioria das prostitutas são brasileiras. Jéssica, uma piauiense de 22 anos, formada em balé clássico, foi recrutada no final do ano passado na porta da escola, em Teresina, por uma mulher que se dizia agente artística. ‘‘Ela me ofereceu um contrato para dançar em teatros de Lisboa. Me prometeu US$ 2 mil por mês, além de moradia e alimentação. Pagou minha passagem e me deu US$ 500’’. Em apenas 15 dias, Jéssica teve de enfrentar o constrangimento de atender o primeiro cliente, sob risco de tortura e corte na alimentação. ‘‘Não tive alternativa’’, diz a jovem loura enfiada num sumarissímo short.


O sonho é retornar ao Brasil, mas uma inexplicável dívida de US$ 10 mil com seu ‘‘agenciador’’ impede a volta. ‘‘Tenho de pagá-lo para ficar livre’’, diz.


A história da mineira A.J., de 22 anos, de Ipatinga, é semelhante. No entanto, há dois anos ela tenta livrar-se do aliciador. ‘‘Não consigo juntar dinheiro para quitar minha dívida. Temo ficar a vida inteira nas mãos dele’’. A.J. atende 15 horas por dia e fatura US$ 5 mil mensais. ‘‘Só 10% chegam às minhas mãos’’.


O desaparecimento da carioca Suzi Ribeiro, de 26 anos, foi o rastilho para a polícia portuguesa desmontar um dos braços da Conexão Ibérica no norte de Portugal.


Através de um comunicado expedido pela Polícia Federal e Interpol do Brasil, os policiais lusos foram informados da existência de uma gangue de traficantes, com base na Baixada Fluminense, no Rio, responsável pelo abastecimento de mulheres a bordéis portugueses. Policiais militares atuavam no grupo o recrutadores.


Tortura e morte na espanha


O braço mais poderoso da Conexão Ibérica está na Espanha. O tráfico de mulheres no país é tão intenso que o Ministério do Interior estima em 100 mil o número de prostitutas de várias partes do mundo em atividade no país.


A ‘‘contratação’’ de brasileiras para os prostíbulos espanhóis envolve centenas de pessoas e um enorme volume de dinheiro. O custo médio para traficar uma jovem fica em torno de US$ 5 mil. Os gastos desta operação exigem o pagamento do aliciador (R$ 2 mil), passagens (R$ 2 mil), adiantamento de salário (R$ 2 mil) e despesas com documentos e extras.


E.M.S, 23 anos, de Uruçu (GO), foi aliciada por telefone e custou à quadrilha R$ 9 mil. ‘‘Fui enviada para um lugar próximo a Lérida. Sofri maus tratos por parte do dono do prostíbulo, um tal de senhor Domingos, até quitar meu débito. Era obrigada a atender 15 clientes por dia, sob penas de ser espancada.’’


Um dos maiores traficantes do país e apontado como um dos gerentes da Conexão Ibérica, é o espanhol Mariano Ortin Martinez, o Jesus. Apesar de preso e condenado em novembro de 1998, em Goiânia, pelo delegado federal João Batista de Oliveira, ele continuou a agir em várias cidades de Goiás e no Triângulo Mineiro.


O trágico exemplo dessa escravidão foi a morte da carioca Marta. Empregada doméstica no Rio, ela aceitou uma oferta para se prostituir em Madri. As ex-amigas contam que ela entrou numa rotina brutal de atendimento a clientes, imposta pela boate.‘‘Ela transou várias vezes sem camisinha’’, lembra uma delas. Deprimida, Marta se drogava. No final do ano passado, soube que contraíra o vírus da Aids. Então denunciou o esquema para o Consulado Brasileiro em Madri. Dias depois, se matou ingerindo veneno.
.
.

Entrevista - Prostituta revela mundo do crime
.
Carla (nome fictício) tem 25 anos, loura, paranaense, parou de estudar no segundo do ano de direito. Chegou a Madri através de uma amiga e se considera ‘‘indepen-dente’’. Apesar disso, teme pela vida por causa da truculência de cafetões. ‘‘Tenho resistido’’, diz orgulhosa. As brasileiras se encontram diariamente no bar Bacar, onde trocam confidências sobre seus dramas. A seguir, um relato de Carla sobre a situação das brasileiras nos prostíbulos de Madri.
,
Correio — Por que vocês não denunciam as violências para a polícia ou para a Embaixada do Brasil?
.
Carla — Corremos o risco de sermos assassinadas. A boca miúda dizem que 10 brasileiras estão desaparecidas há um ano. Ninguém sabe, ninguém viu. Dizem que voltaram. Para mim, foram mortas.
.
Correio — Qual a razão de tanto terror?

Carla — Tudo é dinheiro. Basta um cliente sentar-se ao meu lado na boate e ele paga 5 mil pesetas (US$ 30). Com a rotatividade, o bordel ganha, no mínimo US$ 30 mil por noite. Isto apenas com bebida.
.
Correio — Fale sobre as formas de violência e exploração?
.
Carla — São muitos e nos causam espanto. Recentemente uma goiana me pediu socorro. Ela fora obrigada a sair com vários homens de uma só vez. Sofreu graves danos internos. Ninguém cuidava dela e, ainda por cima, a obrigavam a atender os clientes da rede Mississipi. Resolvemos pagar sua dívida com o agenciador, comprar uma passagem e mandá-la de volta ao Brasil.
.
Correio — Quem são os chefes desta máfia?
.
Carla — Não conheço nomes, mas os donos da rede Mississipi são perigosos. Surge, agora, a Máfia Russa. Ela surgiu com as ‘‘meninas’’ do leste europeu. Eles são violentos e já controlam boa parte da prostituição espanhola. Por medo e muita pressão, várias brasileiras são controladas por eles. Eles já se aproximaram de mim, através de um polaco, mas consegui escapar.
.
in Correio Brasiliense 2007.07.29
.
Foto - Máfia que trafica mulheres para o exterior falsifica documentos. Até menores de idade são aliciadas para trabalhar como escravas do sexo

Sem comentários: